Mais um livro do Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas” lançado pela Aleph. “Sombras do Império” se passa entre “O Império Contra-Ataca” e “O Retorno de Jedi”. Esse livro da série “Legends”, escrito por Steve Perry, busca preencher a lacuna deixada ao final do Episódio V, quando Lando e Chewie vão à busca de Han Solo, sob olhares esperançosos de Luke e Leia num exílio fora da galáxia. A pista é seguir os passos de Boba Fett e tentar resgatar Solo antes que ele fique em poder de Jabba, o Hutt. Mas Luke e Leia não ficarão apenas no aguardo do sucesso de Lando e partem em sua ajuda. O jovem cavaleiro jedi ainda está em treinamento e não domina todas as técnicas. Leia, por sua vez, mal sabe de suas habilidades e ainda as tateia.
Do lado do Império, Vader e o Imperador maquinam planos para capturar Luke vivo e trazê-lo para o lado sombrio, já que seu poder é imenso e Vader quer moldá-lo aos seus desejos. Mas um elemento novo será adicionado a essa trama: a organização criminosa Sol Negro, comandada pelo Príncipe Xizor, da espécie Falleen, cujos ancestrais haviam sido reptilianos. Xizor é uma figura extremamente poderosa e sua influência se estende por vários pontos da Galáxia, numa rede de negociatas e corrupções. Nosso amigo do Sol Negro é extremamente convencido e arrogante, e na sua luta por mais poder e influência, faz um perigoso jogo com o Imperador, o que desperta a ira de Vader. Como há um interesse em Luke por parte do Imperador e Vader, Xizor também vai querer capturá-lo e matá-lo, principalmente para tripudiar com Vader, que percebe seus joguetes. Assim, o grande atrativo do livro é esse duelo entre Xizor e Vader.
Mas há outras curiosidades interessantes. Han Solo estava congelado na carbonita? Tudo bem, foi criado um personagem praticamente à imagem e semelhança de Solo, Dash Rendar, um mercenário altamente convencido e divertido, que inclusive colocava Lando em várias saias justas. E outro detalhe muito instigante. Como Luke Skywalker perdeu seu sabre de luz (e a mão) em “O Império Contra Ataca”, podemos ver no livro todos os detalhes da construção do novo sabre pelo jovem cavaleiro Jedi, um processo que era meticuloso e passível de vários riscos, inclusive fatais. Para quem tem curiosidade de saber como um sabre de luz é construído, esse livro é uma peça fundamental.
Entretanto, o livro tem problemas. Ele está muito centrado no personagem de Xizor, o que chega a ser irritante, dada toda a sua marra. O homem se acha o gostosão não somente em seu poder econômico e até, de uma certa forma, político, mas também na arte da conquista das mulheres, já que ele exala irresistíveis feromônios. E aí o príncipe verdinho vai querer conquistar Leia, que busca contato com o Sol Negro para negociar informações que levem ao paradeiro de Han Solo. Essa atenção excessiva foi deliberada por parte do autor para tornar Xizor tão odioso que a gente chega até a torcer por Vader nesse duelo particular. Todo um detalhamento da vida de Xizor foi feito e, quanto mais sabíamos dele, mais insuportáveis ficavam sua autoconfiança e arrogância. Sabemos que esse foco explícito em Xizor também se deu para tornar o personagem muito conhecido e alavancar suas vendas em “action figures”. À propósito, “Sombras do Império” foi um projeto multimídia lançado pela Lucasfilm em 1996 que tinha, além do livro, quadrinhos e jogos de videogame e só conhecemos detalhadamente a história se tomarmos contato com essas três mídias.
O desfecho do livro foi pirotécnico, interessante por ser cheio de ação e combates espaciais. Mas “Sombras do Império” não foi um dos melhores livros do Universo Expandido. Talvez as melhores partes dele sejam as que se refiram a Vader, onde há uma passagem em que fica bem claro a aversão do senhor sombrio à hipocrisia nas disputas pelo poder. Vader se sentia muito mais à vontade na sinceridade da agressividade do guerreiro do que na falsidade dos joguetes políticos. E isso somente aumentava seu ódio por Xizor, que era um mestre em demagogias e manipulações. E parecia estar manipulando o Imperador em busca de seus interesses. Parecia…
Outros elementos alusivos à Vader são dignos de destaque. Suas técnicas jedi para curar suas lesões, o uso da raiva para sobreviver por um curto período de tempo fora da proteção de sua roupa e de sua câmara, a dor que ele sentia ao sorrir (ou seja, ao estar alegre) quando pensava em Luke. Desse ponto de vista, o livro valeu, e muito. Mas tinha aquele lagartão metido à besta que era o Xizor. Esqueci de falar ainda da androide Guri, o braço direito de Xizor, em formato de mulher loura altamente sensual, mas extremamente perigosa e fria. Fazer uma memória visual dessa personagem foi uma experiência bem agradável e foi uma interessante personagem, pois ela sempre buscava colocar Xizor nos prumos quando ele ficava excessivamente excitado, principalmente por Leia. Era um misto de ciúme e protocolos de sua programação.
Dessa forma, se “Sombras do Império” não chega a ser um grande livro do Universo Expandido, por ter sido desproporcional na atenção dispensada ao personagem Xizor, ainda assim sua leitura é recomendável, principalmente quando o livro se refere a Vader, seus desejos, alegrias e ódios. Mais uma leitura curiosa que a Aleph trouxe para a gente.