Começa com uma gotinha
Depois outra
E mais outra
E mais outra
E o aguaceiro está formado
Elas se depositam nas poças das ruas
Prontas para serem esguichadas em nós
Por motoristas incautos e safados
Ou se depositam delicadamente
Nas folhas das árvores
Transparentes, doces
Refletindo todo o mundo
Num agregado de moléculas de água
Algumas ainda não vieram
Estão lá no céu
Em meio ao azul esbranquiçado
Mas quando são muitas delas
O firmamento se fecha em trevas
Cruas e frias como a noite
Que te desampara
Elas podem vir leves
Quase flutuando à nossa frente
Ou cair pesadas, rápidas e fortes
A ponto de nos machucar
Quando a natureza faz das suas
Elas vêm sólidas, espinhosas
E aí, você precisa sair correndo
O sábio ancestral dizia
Que a água é a essência da vida
Mas é muito curioso perceber
Quantas vidas a água pode tomar
Se uma enchente ela vai provocar
Essa é a chuva
De muitas formas
De muitas caras
Brinca com a vida
Mas também com a morte
E nada podemos fazer
Sempre estamos à mercê dela
Até que encontremos a próxima marquise
Ou não tenhamos esquecido o guarda-chuva…