Mais um curioso filme. “O Pintassilgo” é um longa dramático que consegue trabalhar com maestria, e de forma muito bem conectada, o amor pela arte, um trauma motivado por uma perda trágica, e uma vida cheia de percalços motivados pela falta de afeto e pouquíssimos portos seguros. Uma história longa (o filme tem 149 minutos de duração) e envolvente. Para que a gente possa fazer uma análise um pouco mais aprofundada, spoilers serão necessários aqui.
O plot gira em torno da vida de Theo Decker (interpretado na sua fase adulta por Ansel Elgort), um menino que tem um severo trauma em sua vida: ele perdeu a mãe depois de um atentado a bomba em um museu. O menino se sente culpado pela perda da mãe, ao passo que o pai desapareceu de sua vida. Sem ter onde ficar, ele passará uns tempos numa família extremamente tradicional que logo busca se desfazer dele, localizando o pai e sua nova esposa. O menino não se adapta à nova vida, pois o pai é alcoólatra e tem dívidas de jogo, ao passo que Theo adora antiguidades, principalmente depois da explosão no museu, onde ele roubou uma obra de arte raríssima intitulada “O Pintassilgo” e a mantém escondida, levando-a consigo para onde quer que vá.
O filme é um rosário das etapas de vida de Theo, onde a carência afetiva e a relação com os poucos amigos que mantêm na vida ditam o tom. O grande problema aqui é que ele, na fase adulta, ainda mantém o quadro “O Pintassilgo” em seu poder, e trabalha para o dono de antiquário Hobie (interpretado por Jeffrey Wright), e manter uma obra rara roubada num antiquário não é, definitivamente, um motivo para uma boa reputação, muito pelo contrário até.
Não fosse pelo quadro, que é um personagem à parte nesse filme, a película giraria apenas em torno dos problemas pessoais de Theo que, em virtude da perda da mãe, teve sua vida muito bagunçada e com uma carência afetiva enorme, onde ele se amparava emocionalmente em seus poucos amigos de um jeito muito forte. Sua vida complicada também o fez mergulhar no mundo das drogas, viciando-se desde muito cedo. Boa parte do filme é dedicada ao drama pessoal de Theo, o que faz com que o protagonista acabe sendo o personagem mais bem construído do filme, o que deu um espaço menor para o desenvolvimento dos personagens que o cercavam, tornando a coisa um pouco desproporcional no quesito da construção dos personagens.
Entretanto, o quadro também tem um papel central no filme, se destacando mais em sua parte final, quando temos um plot twist que tira a atenção total do drama de Theo para a questão da obra de arte que não está em seu lugar de direito, um museu onde ela possa se perpetuar para as gerações futuras. Na cena final da película, vemos a ligação entre o drama pessoal de Theo e a obra de arte em si, mas não darei esse spoiler para não estragar a surpresa. De qualquer forma, foi um desfecho, digamos, muito afetivo e até prosaico. Podemos, assim, dizer que tivemos um bom roteiro aqui, deixando a história bem cativante, o que é difícil quando temos uma película de duração um pouco maior que a média.
Dessa forma, “O Pintassilgo” é uma boa curiosidade que merece a atenção do espectador que gosta de uma boa história contada, até porque o elenco não conta com atores de muito peso (além de Egort, temos uma presença relativamente pequena de Nicole Kidman). Vale a pena dar uma conferida nessa película.