Um filme francês com gosto de comédia romântica. “Encontros” vai falar de dois vizinhos que se esbarram o tempo todo, mas não se encontram nunca. Eles podem ter mais coisas em comum do que parece, mas também não. Um filme com direito a redes sociais e muita terapia. Para a gente poder compreender esse filme melhor, vamos lançar mão de spoilers aqui.
Quem são esses vizinhos? O rapaz é Rémy (interpretado por François Civil), um cara que tem crises e crises de insônia e um sentimento de culpa por simplesmente dar sorte às vezes em determinadas situações, como no caso em que conseguiu manter o seu emprego numa fábrica depois de uma política de demissões em massa. A moça é Mélanie (interpretada por Ana Girardot), que dorme compulsivamente, trabalha num laboratório e precisa apresentar sua pesquisa num prazo considerado por ela apertado, onde os resultados de sua palestra serão determinantes para o sucesso da empresa para a qual trabalha. Rémy e Mélanie sofrem de depressão, amargam uma solidão pesada e fazem terapia. Cada um leva a sua neura à sua maneira, onde vemos pontos em comum e pontos discordantes. Mélanie lança mão das redes sociais e tem aventuras esporádicas, que não têm sucesso no tocante a encontrar uma relação mais duradoura.
Rémy é um sujeito isolado do mundo e com medo de se arriscar e de viver, sempre se culpando por tudo. O mais irônico é que um mora ao lado do outro e eles sempre se esbarram, seja andando na calçada da rua, sendo indo ao mercado do bairro, de propriedade de um árabe que acaba sendo uma espécie de alívio cômico do filme, sejam os dois praticamente ficando lado a lado nas sacadas de seus apartamentos. Há um erro crasso de continuidade no filme, pois a entrada do prédio de Mélanie fica à direita da entrada do prédio de Rémy, enquanto que as sacadas dos apartamentos ficam justamente na posição oposta.
A coisa é tão descarada que a gente até suspeita que foi feita de propósito, como se as posições invertidas de portarias e sacadas fossem uma manifestação dos encontros e desencontros dos personagens. É curioso notar que o filme, apesar da temática um tanto pesada, consegue fazer rir em alguns momentos e mostra a superação dos personagens à medida em que suas terapias avançam. O encontro derradeiro dos dois se dá apenas ao final da película, quando o casal finalmente se encontra na aula de dança recomendada pelo árabe que é dono do mercado que os nossos protagonistas frequentam, optando-se pelo happy end.
Uma coisa que chama muito a atenção é a semelhança dessa película com o filme argentino “Medianeras, Buenos Aires da Era do Amor Virtual”, de 2011, que também falava de um casal com problemas psicológicos que nunca se encontrava e eles somente se encontram ao final da película, de uma forma um tanto quanto inusitada (o rapaz estava vestido de Wally, perdido na multidão e é encontrado pela moça). No caso argentino, a temática do amor virtual também se fazia presente, embora não houvesse muito espaço para terapia como vemos aqui em “Encontros”, além de, no caso argentino, haver uma aproximação maior com a comédia romântica. “Encontros” pode até ser um pouco mais tenso, mas não é menos simpático por causa disso e tem também uma história envolvente, embora eu confesse que tenha gostado mais de “Medianeras”. Pelo menos em “Encontros” se deu um destaque para a questão da terapia, ajudando a desmistificá-la, pois há pessoas (principalmente aqui no Brasil) que ainda acham que ir ao psicólogo é coisa “de maluco” e o filme ajuda a derrubar esse preconceito.
Dessa forma, “Encontros” é um filme que tem uma história cativante, personagens bem construídos interpretados por bons atores, um leve arremedo de comédia romântica e um filme de muita, muita terapia. Vale a pena dar uma conferida.