Uma boa cinebiografia brasileira. “Rogéria, Senhor Astolfo Barroso Pinto”, é o primeiro documentário sobre a famosa artista depois de sua morte em 2017. Por meio de imagens de arquivo e muitas entrevistas, ou seja, um documentário feito de uma forma bem tradicional, com direito a algumas dramatizações que dão um tom artístico à coisa, a película consegue dar uma boa ideia da trajetória de Astolfo Barroso Pinto, um cabeleireiro e maquiador que ficou conhecido de muitas atrizes, inclusive globais, mas que tinha o sonho do estrelato, tornando-se um artista, acima de tudo, e nas suas próprias palavras. Rogéria, extremamente carismática, não abre mão de Astolfo Barroso Pinto, e a atriz só é influente e forte pois tem Astolfo em sua retaguarda. Para podermos analisar um pouco mais o documentário, vamos precisar lançar mão de spoilers.
O documentário nos dá a grande oportunidade de conhecer os familiares de Rogéria, sobretudo seus irmãos e irmãs, além de relatos de arquivo de sua mãe, o que nos ajudam a reconstituir a personalidade da personagem. Indo desde a infância, passando pelas primeiras experiências como maquiador, indo até o início de sua carreira artística e o estrelato, com direito a dramatizações rápidas que nos ajudam a ter uma ideia de todo o contexto, o documentário faz um interessante mapeamento da vida de Rogéria. Seu famoso acidente automobilístico que quase acabou com sua carreira é citado, num momento em que a artista ficou muito fragilizada mas conseguiu dar a volta por cima, graças à ajuda de figuras como Ivo Pitanguy e Agildo Ribeiro, que lhe deu a oportunidade de fazer o primeiro número musical depois do acidente, em seu programa televisivo “Estúdio Agildo”.
O documentário também tem vários depoimentos da própria Rogéria, que não podiam faltar. De personalidade extremamente magnética e simpática, Rogéria faz jus ao título que dá a si mesma de “o travesti da família brasileira”, pois é impossível não gostar dela, seno uma contribuição inestimável à luta contra a homofobia. O desfecho do documentário é emocionante, onde é mostrada uma gravação de celular onde Rogéria canta no leito do hospital, pouco tempo antes de sua morte, o que mostra toda a energia da figura humana que ela era. Vemos, também, praticamente todos os entrevistados, com lágrimas nos olhos, escutando a gravação e dando seus depoimentos, o que foi muito intenso para o desfecho de um documentário que foi uma homenagem à altura.
Assim, “Rogéria, Senhor Astolfo Barroso Pinto” é uma justa homenagem a uma figura humana incomparável. Um documentário bem simples e tradicional, mas feito com bastante carinho e uma boa lembrança de uma pessoa que deixa muita saudade até hoje. Programa imperdível.