Mais um filme que concorre ao Oscar. “Um Lindo Dia Na Vizinhaça” concorre a uma estatueta para Melhor Ator Coadjuvante com Tom Hanks. Esse é um daqueles filmes que costumam chamar a atenção para como o espectador leva a sua vida e o seu relacionamento com as pessoas que o cercam. Um daqueles filmes que nos fazem refletir, e muito. Um filme baseado numa história real e que, para podermos compreendê-lo melhor, vamos precisar de spoilers.
O plot gira em torno de Fred Rogers (interpretado por Hanks), um apresentador de programas infantis, digamos, muito zen. Seu show de TV é algo extremamente delicado e lúdico, sendo muito amado por seus telespectadores. O jornalista Lloyd Vogel (interpretado por Matthew Rhys) é convocado pela revista em que trabalha para entrevistar Rogers. Vogel inicialmente estranha muito a forma como Rogers trabalha, dando uma grande atenção a todos os seus fãs a ponto de atrasar muito o cronograma de seu programa de TV. Por ser uma pessoa muito solicitada e solícita, Rogers faz com que a entrevista que ele dá para Vogel seja em doses homeopáticas, onde os dois se conhecem cada vez mais e estabelecem uma amizade. Vogel é conhecido por ser agressivo naquilo que escreve sobre seus entrevistados, mas a experiência com Rogers será bem diferente, onde o apresentador acaba entrando muito na vida pessoal do jornalista, que tem um relacionamento extremamente conturbado com o pai, devido a fortes traumas do passado (sua mãe morreu quando Vogel ainda era criança e o pai havia abandonado a família). Com o tempo, Vogel percebe, com a ajuda do relacionamento entre ele e Rogers, que é necessário rever seus conceitos e convicções sobre a vida e encarar os rancores e mágoas para superá-los e recuperar o tempo perdido nas relações com o seu pai e até com sua esposa e filho pequeno.
Esse é um filme que pode se definir em uma palavra: o lúdico. Ele se passa num ambiente todo infantil baseado no programa de Rogers, onde a paisagem é construída a partir de cenários que mais parecem uma cidade de brinquedo. Isso, aliado a uma trilha sonora muito suave, faz com que o filme tenha toda uma leveza especial, chegando aos limites do etéreo. Mas o que ajuda muito no clima suave do filme é, sem dúvida, a atuação de Tom Hanks. Seu Fred Rogers é a delicadeza em pessoa e nem uma suposta sequência constrangedora com os fantoches de seu programa numa conversa com Vogel estragam o clima. Na verdade, parece mesmo é que Vogel se comporta como um peixe fora d’água na situação. Hanks comprova mais uma vez o seu enorme talento, mostrando sua face para lá de camaleônica, onde vemos muito mais o personagem do que o ator atuando, sendo um deleite para os olhos. Aliás, Hanks é o típico ator que nos leva para o cinema, independente do tipo de filme (eu confesso que não tinha a menor idéia do plot do filme antes de chegar ao cinema e tudo se mostrou uma grata surpresa). Infelizmente a disputa para ator coadjuvante foi muito forte esse ano e Hanks não levou o prêmio, mas a indicação já foi algo de muito válido para um filme com um plot dessa natureza altamente lúdica.
Assim, “Um Lindo Dia Na Vizinhança” é um filme que chama a atenção pelo clima suave e lúdico contido nele, onde as miniaturas que representam a cidade dão um clima infantil para o filme. Mas a leveza se ampara muito na atuação de Tom Hanks que faz jus à indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Além disso, é um filme que nos faz refletir como levamos nossas vidas e como nos relacionamos com o próximo. Vale muito a pena a experiência.