Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard (Episódio 6), A Caixa Impossível. Encontro de Núcleos.

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Traumas do passado…

O sexto episódio de “Jornada nas Estrelas Picard” intitulado “A Caixa Impossivel” pode ser considerado como um ponto de virada da série, pois ele finalmente marcou o encontro dos dois núcleos da série, ou seja, o de Picard e sua trupe e o do cubo borg. E foi um episódio que deu um indício de que, finalmente, as coisas estão se ajeitando e os problemas estão diminuindo, ainda que haja algo mais esquisito aqui ou ali. Para podermos falar sobre o episódio, vamos precisar de spoilers.

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Sem vontade de entrar no cubo…

O episódio começa com Soji tendo um sonho (ou seria um pesadelo?) onde ela vê o seu pai numa cozinha atrás de flores. Repentinamente, ela acorda e Narek, que está na cama com ela, pergunta o que aconteceu e ela disse que teve um sonho. Ai começa toda aquela balela de conversa desse casal extremamente chato que confia desconfiando um do outro. Soji diz que os romulanos são muito desconfiados, qual é o verdadeiro nome do Narek, que o Narek acha que ela é uma impostora, etc., etc., numa DR torturante que parece não ter fim.

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Alucinações…

Na nave de Picard, Jurati procura manter o seu disfarce e diz para o almirante que não foi possível salvar a vida de Maddox. Elnor entra na conversa e os três discutem sobre Soji, sobre ir ao cubo borg e sobre o passado de Picard como Locutus, o que abala esse último e mostra sua posição intolerante sobre os borgs. Mas a melhor coisa dessa parte é que Elnor nota que Jurati também está atormentada com algo, o que revolta a médica, ou seja, o romulano deslocado que era mais um segurança privado do Picard começa a ter alguma importância na série. No holodeck simulando a vinícola, Picard, ainda atormentado pelo passado de Locutus, faz uma pesquisa no computador sobre os borgs e acha a imagem de Hugh, tanto do passado quanto do presente, e, depois vê sua imagem de Locutus, ficando ainda mais atormentado.

Passada a abertura, vemos Rios fazendo umas embaixadinhas com uma bola de futebol (pelo menos é melhor do que fumar um charuto e tomar um goró) quando Jurati aparece. Ela se faz de coitadinha, joga uma conversa ao estilo da Tilly, ele oferece um goró (como não podia deixar de ser) e rola uma pegação entre eles. Ou seja, está parecendo que Jurati faz isso com a nítida intenção de seduzir Rios e ficar com o dono da nave nas mãos.

De volta ao cubo borg, Rizzo brinca com um cubo mágico do Narek (nada mais conveniente inclusive, brincar com um cubo mágico dentro de um cubo borg) e Narek fica todo enciumado dizendo que o cubo não é um brinquedo, mas uma ferramenta que o ajuda a pensar. Ele diz, também, que está fazendo progressos com Soji, falando do sonho recorrente da moça e se perguntando por que ela foi programada para sonhar. Narek diz que o sonho ajuda Soji a se ver como humana e a bloqueia a procurar a sua realidade como andróide, sendo o sonho uma espécie de conciliação entre sua vertente humana e mecânica que esconde dela essa última. E, através de seus sonhos, Narek pode acessá-la sem acionar a sub-rotina de autodefesa e saber onde fica seu planeta natal, que é a informação que ele e Rizzo buscam. Ou seja, uma tecnobabble para justificar o ato de Narek acessar a informação que quer sem ser detonado por Soji.

Na nave, eles estão chegando a espaço romulano e Picard, já sabendo da presença de Hugh no cubo como o diretor do Projeto de Recuperação Borg, que é independente por tratado, diz que precisa somente de uma autorização da Federação para entrar no cubo. Para conseguir a autorização, ele vai precisar da ajuda de… Raffi!!! Mas a mulher está um caco, completamente deprimida e bêbada depois do contato desastroso com o filho. Mais uma vez estão tentando esculhambar essa personagem que apresentou uma considerável melhora do penúltimo episódio para cá. É perfeitamente compreensível esse estado depressivo de Raffi, mas colocá-la bêbada com uma garrafa de goró nas mãos e fumando suas florzinhas alucinógenas (o que, inclusive, constrangeu o próprio Picard) beirou o caricato e caiu muito mal para a série e para a personagem. Se foi um alívio cômico, foi uma piada de péssimo gosto. Se foi para aumentar a dramaticidade da personagem, foi um tiro de caricatura que nem a atriz nem a personagem mereciam. Mas, pelo menos, Raffi usou de toda a sua persuasão e inteligência para conseguir a autorização para Picard, que respirou aliviado. Se isso foi um ponto para Raffi, poderia ter sido uma oportunidade para o próprio Picard, com sua lábia, diplomacia e inteligência, conseguir a autorização para si com ele mesmo negociando toda a questão. Alguns poderiam argumentar que Picard estaria com  o filme muito queimado para isso, mas Raffi também não estaria? Pois bem, a justificativa era que Raffi conhecia uns podres da membro da Federação que poderia arrumar a autorização. Mas aí, Picard também poderia saber desses podres e chantagear a membro da Federação. Mas como Picard é o único membro imaculado da Federação, talvez ficasse mal ele chantagear. Enfim… Um problema aqui é que a membro da Federação inicialmente não queria ajudar Raffi alegando que os romulanos estariam de mal humor há 250 anos. E a aliança entre a Federação e os romulanos na guerra do Dominium em DS9? Se esqueceram completamente? Ou os roteiristas de Picard não fizeram o dever de casa e não assistiram todos os mais de setecentos episódios da franquia, o que era o mínimo que tinham que ter feito? Bom, pelo menos algumas coisas ficaram legais nessa sequência: Raffi sendo aplaudida por Picard e depois ela sendo amparada por Rios até seus aposentos (dando uma oportnidade para os dois compartilharem suas dores do passado), além de vermos uma Jurati irada com o êxito de Picard conseguir acesso ao cubo borg.

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Raffi, a decadente…

No cubo borg, Soji diz a Narek que teve o mesmo sonho e que falou com a mãe, adormecendo quando fala com ela. Narek disse então que todas as comunicações do cubo são monitoradas e que todas as comunicações de Soji com a mãe duram exatamente 70 segundos, num sinal de que Narek está jogando para manipular Soji futuramente. De qualquer forma, Soji novamente se comunica com a mãe que sugere que ela vá dormir pois está muito cansada do trabalho e Soji mais uma vez cai no sono, sendo “desativada”. Quando Soji acorda, ela pega todas as suas lembranças (objetos pessoais, bichinhos de pelúcia, fotografias, etc.) e, depois de um scan, ela descobre que tudo tem uma idade aproximada de 37 meses, ou seja, mais replicante Blade Runner impossível. Quer dizer, ela descobre que é andróide. E por que não acionou sua rotina de autodefesa? Saber de algo que escondiam dela já não é motivo suficiente para ela se sentir ameaçada e acionar sua rotina de autodefesa?

A nave chega ao cubo e Picard vai sozinho para lá, apesar dos protestos de Elnor. Picard volta a ser atormentado por sua lembrança de Locutus. Ele quase cai de uma espécie de passarela, mas é amparado por dois “ex-assimilados” no último momento, quando encontra Hugh. E aí, tivemos o melhor momento da série até agora, onde Hugh, todo elegante, educado e fraternal, dá um baita de um abraço em Picard, onde finalmente vemos o almirante recebendo um tratamento à altura da lenda que é e não sendo esculhambado como havia sendo por outros personagens. Aliás, se pararmos para pensar um pouco, Hugh é o personagem mais virtuoso da série, num fim de século 24 onde as pessoas bebem, fumam, falam palavrão e se comportam num meio totalmente distópico. Hugh é a utopia e o espírito original da Federação em pessoa. Sei não, mas os fãs deveriam começar uma campanha para Hugh acumular os cargos de presidente da Federação e comandante em chefe da Frota Estelar. Quem sabe um spin-off do Hugh? Mais fofo ainda foi o Hugh falar do projeto de desassimilação, onde os ex-borgs recebem um nome novo e isso pode ser um passo para uma nova vida, tendo ele mesmo Hugh aprendido isso na Enterprise anos atrás. Esse é o fan service que queremos!!!

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Picard e Hugh, o grande momento da série até agora…

Picard fala a Hugh que está lá pela Soji e Hugh diz que suspeita que ela corre grande perigo pela aparição de Narek e de Picard atrás dela. Soji, por sua vez, conta toda a coisa dos seus objetos pessoais terem 37 meses de idade a Narek, ou seja, ela conta seu segredo mais íntimo se abrindo totalmente a uma pessoa que ela confia desconfiando. Definitivamente, é muito estranho esse relacionamento entre os dois, pois eles confiam desconfiando o tempo todo mas Soji entrega o ouro da forma mais inocente possível. Narek a manipula e diz que alguém pode estar implantando memórias falsas nela para que ela realize, de forma manipulada, uma missão sem saber. E Narek oferece ajuda para descobrir o que está acontecendo, atraindo Soji para a sua armadilha, que é uma espécie de meditação ou macumba romulana mesmo.

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Não vamos nos esquecer desse abraço por muito tempo…

Hugh mostra a Picard o projeto de desassimilação e o almirante fica impressionado com a escala do projeto, passando a ver os borgs de outra forma, acabando com seu preconceito e amenizando seu trauma. Hugh, por sua vez, acha que o projeto não é perfeito e que os ex-borgs continuam escravos, só que agora dos romulanos, e de como seria o máximo ver Picard lutando pela liberdade desses ex-borgs. Dessa parte, só tenho duas perguntas: seria isso um gancho para uma segunda temporada? E onde tem action figure do Hugh para vender? O único medo aqui é que haja um plot twist incomensurável e o Hugh se revele um verdadeiro traíra. Mas vou torcer muito para que isso não aconteça.

Narek e Soji vão para uma sala que mais parece um jogo de gamão gigante. Ele diz seu nome verdadeiro a ela para conquistar sua confiança e eles começam o ritual romulano doido. Soji começa a se lembrar do seu sonho com uns flashes que mais parecem extraídos de “O Chamado”, dando um quê de filme de terror a uma série de que diz de ficção científica. Numa outra sala, Rizzo rastreia os sinais vitais de Soji e escuta a conversa entre os dois. Já Picard e Hugh entram nos aposentos de Soji  e o encontram todo revirado. Picard suspeita que Soji esteja descobrindo quem realmente é e pede a Hugh que a localize no cubo borg, mas ele não a acha. Os dois suspeitam que ela está sendo escondida dentro do cubo.

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O fim de um casal chatérrimo???

Quando Soji entra no laboratório do pai e avança, ela se vê em pedaços em cima de uma mesa e, ao olhar para a clarabóia (sempre sob as ordens de Narek), vê raios com dois planetas vermelhos pairando no firmamento. Rizzo, entendendo que essa é a localização do planeta dos sintéticos, vai procurar mais detalhadamente. Narek diz a uma Soji confusa que ela não é real e a abandona com um beijo e lágrimas nos olhos (que triste!) não sem antes acionar seu cubo mágico que se abre e libera uma radiação letal. Trancada, Soji tem finalmente a sua rotina de autodefesa acionada (acho que ela não foi acionada antes, pois ela foi monga o suficiente para não perceber o que estava acontecendo) e destrói o chão de madeira para escapar. A melhor coisa que restou dessa sequência foi o fim desse malfadado relacionamento que, além de chatíssimo, era muito estranho com um casal cheio de dúvidas um com relação ao outro, mas trocando uma confiança que podia ser considerada muito infantil, dadas as circunstâncias.

Quando Soji caiu pelo buraco que ela abriu no chão, a moça apareceu no rastreador de Hugh e Picard percebeu, pela velocidade dela nos sensores, que ela tinha sido ativada. Os dois saem correndo atrás da moça, não sem um alivio cômico: Picard e Hugh passam por um ex-borg que pergunta ao almirante se ele é Locutus. Eles encontram Soji destruindo o teto de um deck. Picard conta a Soji a história de sua irmã e implora que a siga para salvá-la. Soji, sem opção, o acompanha, já que ela está sendo perseguida por um monte de romulanos a ordem de Narek. Hugh os leva para os aposentos da rainha borg, onde há um portal de fuga para a rainha que lembra muito o guardião da eternidade, pois ele pode transportá-los para um outro lugar com alcance de 40 mil anos-luz. Picard entra em contato com a nave e marca um ponto de encontro em Nepenthe (espero que Nepenthe não esteja a 40 mil anos-luz, pois a Vovager demoraria 70 anos para viajar 70 mil anos-luz no espaço; será que os roteiristas de Picard também não sabem disso? Acho que não). Mas Elnor não está mais na nave e aparece nos aposentos da rainha trucidando os três romulanos que já rendiam Picard, Hugh e Soji. Picard e Soji atravessam o portal e Hugh Elnor ficam para defendê-los, apesar dos protestos de Picard na permanência de Elnor. O episódio termina com romulanos cercando os dois e Elnor pedindo que estes “escolham viver”. Esse fim de episódio foi regado a muita ação com pouquíssimas lutas coreografadas (somente Elnor que matou uns três romulanos ali), sendo uma sequência de ação mais aceitável, baseada na tensão da fuga dos personagens.

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Encarando o passado…

Analisado o episódio, podemos fazer um levantamento dos pontos positivos. O encontro dos dois núcleos paralelos (o de Picard e o de Soji), que vai dar uma nova cara à série a partir de diante (ou, pelo menos, é o que eu espero). O reencontro de Hugh com Picard, que foi a melhor coisa da série até agora. A sequência de ação mais baseada no suspense da fuga do que em lutinhas bobas. O poder de persuasão de Raffi ao conseguir as credenciais para Picard. A cara torcida de Jurati ao ver que Elnor conseguia perceber o que a moça sentia e quando Picard consegue autorização para entrar no cubo. Os traumas de Picard com o passado de Locutus e sua redenção ao ver o programa de ex-assimilação dirigido por Hugh. A tentativa bem sucedida de sedução de Jurati para cima de Rios. E os pontos negativos? A forma caricata da depressão de Raffi com direito a garrafa de goró e cigarrinho eletrônico com florzinhas alucinógenas. Toda a parte de Soji com Narek, num relacionamento chato e sem pé nem cabeça em virtude do ato de confiar desconfiando. Ou seja, foi um episódio, a meu ver, com mais pontos positivos do que negativos. Esperemos agora que os quatro episódios finais dessa serie sejam mais instigantes e sem problemas do que este. Mas creio que houve uma melhora deste episódio com relação aos últimos.

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Despedaçada…