A Batata Espacial, em sua sessão Batata Séries, começa hoje a fazer pequenos artigos sobre personagens de Jornada nas Estrelas. Vamos começar com o mitológico Jean-Luc Picard.
Jean-Luc Picard é sempre lembrado como o capitão da Enterprise D. Quando ele apareceu em “Encontro em Far Point”, o episódio piloto de TNG, as comparações com o Capitão Kirk logo se tornaram inevitáveis. Podemos dizer que os dois capitães tiveram trajetórias distintas. Kirk, por exemplo, era o aluno certinho da Academia da Frota Estelar, tornando-se o homem impetuoso e aventureiro enquanto capitão da Enterprise. Já Picard foi exatamente o oposto. Era um aluno impetuoso e indisciplinado na Academia da Frota Estelar a ponto de ter um coração mecânico, pois se envolveu numa briga com nausicanos, sendo esfaqueado por isso. Mas quando assumiu o comando de naves estelares, Picard mostrou-se como profundamente moral, lógico e muito inteligente, sendo um mestre da diplomacia e do debate, que resolve problemas aparentemente insolúveis entre múltiplas partes. Picard, por exemplo, é um profundo conhecedor da cultura klingon, com sua presença sendo indispensável em questões de ordem diplomática entre a Federação e o Império Klingon. Apesar de tais resoluções serem geralmente pacíficas, Picard também é mostrado usando suas notáveis habilidades táticas em algumas situações, quando elas são requeridas. Ele gosta de histórias de detetives, interpretando Dixon Hill nos holodecks, dramas shakespearianos, cavalgadas e chá Earl Grey. Picard fez o primeiro contato com cerca de 27 espécies, incluindo ferengis e borgs.
Jean-Luc Picard nasceu em La Barre, França, filho de Maurice Picard e Yvette Gessard, a 13 de julho de 2305, e sempre sonhou em entrar na Frota Estelar, contra a vontade do pai. Havia atritos entre Jean Luc e seu irmão Robert, por questão de ciúmes do irmão mais velho. Ele não conseguiu passar em sua primeira prova para entrar na Academia da Frota Estelar, porém subsequentemente foi admitido e se tornou o primeiro calouro a vencer a maratona da Academia. Ele era um cadete imaturo e atribuiu ao zelador Boothby chegar a um comportamento mais maduro. Seu treinamento acadêmico em arqueologia é mencionado várias vezes no decorrer da série e ele continua a buscar a tecnologia como um passatempo; ele também afirma que uma vez foi reprovado em química orgânica. Pouco depois de se formar, Picard foi esfaqueado no coração por um nausicano, deixando o orgão irreparável e requerindo substituição por um implante partenogênico. Picard inicialmente foi para a U.S.S. Reliant como alferes. Mais tarde, serviu como primeiro oficial a bordo da USS Stargazer, tornando-se posteriormente seu capitão, após a morte do capitão titular. Durante esse período, ele inventou uma tática de escape/ataque com a nave que ficou conhecida como a Manobra Picard.
Star Trek: The Next Generation mostra Picard no comando da USS Enterprise (NCC-1701-D). O episódio piloto da série mostra a missão da nave de investigar um problema na Estação de Far Point, desviando-se quando a entidade Q faz de Picard um “representante” em um julgamento acusando a humanidade de ser uma “raça infantil perigosamente selvagem”.Picard persuade Q a testar a humanidade, com a entidade escolhendo julgar a performance da tripulação em Far Point. O julgamento “termina” sete anos depois (quando Q lembra Picard que ele nunca foi encerrado), no episódio final da série, quando a humanidade é absolvida pela demonstração de Picard de que a espécie tem a capacidade de explorar as “possibilidades da existência”.
O último episódio da terceira temporada, “The Best of Both Worlds“, mostra Picard sendo assimilado pelos Borg, tornando-se Locutus, para servir como um ponte entre a humanidade e os Borg; sua assimilação e recuperação são pontos críticos do desenvolvimento do personagem, dando o pano de fundo para o filme Star Trek: First Contact e o desenvolvimento de Benjamin Sisko, o protagonista de Star Trek: Deep Space Nine. Stewart pedia à Gene Roddenberry para manter Picard como um Borg por alguns episódios a mais além do final da terceira temporada, já que ele achou que seria mais interessante do que restaurar Picard na Parte II. É mais tarde revelado em First Contact que apesar de todos os maquinários Borg terem sido removidos de seu corpo, ele ainda possui lembranças traumáticas e sofre pesadelos de sua assimilação. Aliás, vale mencionar aqui que o Picard visto na série é diferente do Picard visto nos longas. Na série, ele mantém suas características originais, de ser uma pessoa moral, diplomática e capaz de resolver conflitos na base da conversa. Já o Picard dos longas está mais levado pelo espetáculo da ação, lembrando o Capitão Kirk e sua impetuosidade.
O episódio “Family”, da quarta temporada, revela que Picard tem um irmão, Robert, que assumiu as vinícolas da família em La Barre depois que Jean-Luc se juntou a Frota Estelar. Robert e sua esposa Marie tem um filho, René, sobrinho de Jean-Luc. Durante Star Trek Generations, Ele descobre que Robert e René morreram em um incêndio. Picard ficou muito abalado com essas perdas, pois além da perda dos entes queridos, muito lhe atormentou o fato de que a linhagem da família seria interrompida, já que ele não tinha filhos.
Picard junta forças com o lendário James T. Kirk em Generations para derrotar o Dr. Tolian Soran. Comandando a nova USS Enterprise-E, Picard novamente confronta os Borg em First Contact. Seus traumas originários da assimilação em Best of Both Worlds vão interferir em suas decisões e ele se recusa a destruir a Enterprise E que está tomada pelos borgs. Picard chegará ao disparate de chamar Worf de covarde. Mas ele será redirecionado a um comportamento mais ponderado depois que toma uma baita bronca de Lily, sua amiga do século 21. Mais tarde ele luta contra a relocação forçada dos Ba’ku em Star Trek: Insurrection, onde descobrimos que ele é um bom dançarino de Salsa, e encontra Shinzon, um clone romulano feito com seu próprio DNA, em Star Trek Nemesis. Tal situação de ter um antagonista que é a versão mais jovem de si próprio novamente colocará nosso capitão em conflito, onde ele tenta usar a diplomacia para salvar seu eu mais impetuoso, pois passou uma infância da humilhações nas minas remianas.
Depois do sucesso dos filmes de Star Trek com a tripulação da série clássica, uma nova série de televisão com um novo elenco foi anunciada em 10 de outubro de 1986. O criador de Star Trek ,Gene Roddenberry, nomeou Picard em homenagem a um ou ambos os irmãos Auguste Piccard e Jean Felix Piccard, cientistas suíços do século XX Auguste Pìccard foi um físico que inventou o batiscafo, uma espécie de submarino projetado para navegar a grandes profundidades. Auguste, juntamente com seu irmão Jean também eram balonistas. O filho de Auguste, Jacques Piccard, desceu no oceano para explorar a Fossa das Marianas. A descendência francesa de Jean Luc Picard é também uma homenagem direta ao explorador Jacques Cousteau.
Patrick Stewart, que havia atuado no teatro pela Royal Shakespeare Company, foi originalmente considerado para o papel de Data. Stewart disse que ele não ficaria interessado em assumir um papel de coadjuvante “para ficar sentado”. Roddenberry não queria Stewart como Picard, todavia; ele tinha imaginado um ator que era “masculino, viril e com muito cabelo”. A primeira escolha de Roddenberry era Stephen Macht, levando “semanas de discussão” com Robert Justman, Rick Berman e o diretor de elenco para convencê-lo de que “Stewart era a pessoa que eles estavam procurando para sentar na cadeira do capitão”; Roddenberry concordou depois de fazer testes com todos os outros candidatos para o papel. O próprio Stewart estava incerto dos motivos que influenciaram os produtores a escolher “um ator britânico, shakesperiano, careca e de meia idade” como capitão da Enterprise. Ele teve sua peruca vinda de Londres para se encontrar com os executivos da Paramount Pictures, porém Roddenberry mandou Stewart retirar a peruca “horrível”. Sua voz estentórica impressionou os executivos, que imediatamente aprovaram sua contratação. Roddenberry enviou à Stewart alguns livros de Horatio Hornblower, de C. S. Forrester, dizendo que Picard era baseado em Hornblower, porém o ator já estava familiarizado com o personagem, tendo lido os livros quando criança. Podemos ver esse personagem no filme O Falcão dos Mares, protagonizado por Gregory Peck. Hornblower é um capitão da marinha britânica que se comporta como uma espécie de cavaleiro introspectivo.
Enquanto a série progredia, Stewart exerceu mais controle sobre o desenvolvimento do personagem. Quando a produção do primeiro filme da The Next Generation começou, “era impossível de se dizer onde Jean-Luc começou e Patrick Stewart terminou”. As filmagens da primeira temporada de TNG foram um caos, mas Stewart foi fiel a seu trabalho e desenvolveu cada vez mais o personagem.
Stewart afirmou que, “Um dos prazeres de ter feito a série e interpretado este papel é que as pessoas são tão atraídas pela ideia de Star Trek… vários anos depois do fim da série… eu gosto de ouvir quanto as pessoas gostaram de meu trabalho… é sempre gratificante para mim que esse inglês, careca e de meia idade parece se conectar com eles”.O ator também comentou que seu papel ajudou abrir Shakespeare para os fãs de ficção científica. Ele já notou uma “presença regular de trekkers na platéia” sempre que ele se apresenta no teatro, e adicionou que “Eu encontro essas pessoas depois, recebo cartas deles e os vejo nos bastidores… E eles dizem ‘Nunca vi Shakespeare antes, achei que não iria entender, porém foi maravilhoso e mal possa esperar para voltar'”.
A volta de Picard na série produzida para a CBS All Acess no ano de 2020 trouxe reações díspares no fandom. Enquanto algumas pessoas gostaram do agora aposentado almirante, enfraquecido por uma doença degenerativa, mas obcecado em salvar a vida da andróide Soji, pois ela seria um resquício de seu amigo Data, que se sacrificou para salvar a vida de Picard em “Nemesis”, por outro lado há fãs que criticam a nova série, por ser distópica em demasia, abordar em demasia temas como o suicídio e a melancolia, além de novos personagens tratarem muito mal o protagonista da série. Ainda, causou muita estranheza a consciência do almirante ser trasladada para o corpo de um andróide.
Poderia se falar muito mais de Picard aqui, mas podemos ver uma descrição mais completa do personagem no site Memory Alpha. Para isso, segue o link
https://memory-alpha.fandom.com/wiki/Jean-Luc_Picard
Por hoje ficamos por aqui. Num futuro próximo, falaremos de outros personagens de Jornada nas Estrelas. Até lá!!!