Essa música é literalmente uma viagem…
Mês: maio 2020
Batata Arts – Olha Só! (9)
Olhando mais uma vez…
Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (S01 – Ep 01), “O Guardião”.
Dando sequência às análises de episódios de Jornada nas Estrelas, falemos hoje do piloto da série “Voyager”, intitulado “O Guardião”. Esse é mais um episódio de cerca de noventa minutos que inicia a série da nave que vai precisar fazer uma viagem de setenta mil anos-luz para voltar para casa, atravessando sozinha o desconhecido e perigoso quadrante delta.
O plot começa com a querela dos maquis, colonos da Federação, que estão situados próximos à fronteira cardassiana e foram obrigados a se retirar depois de um tratado. Mas eles se negaram a isso e são combatidos tanto pela Federação quanto pelos cardassianos, que os consideram foras da lei. Vemos uma nave maqui liderada por Chakotay, que ainda conta com a presença de Tuvok e B’Elanna Torres sendo atacada por uma nave cardassiana. Os maquis conseguem entrar numa região de tempestades e se livram dos cardassianos, que são atingidos pelas intempéries. Mas uma onda de energia desconhecida os atinge e a nave desaparece.
Após a abertura do episódio, estamos numa colônia penal da Federação na Nova Zelândia. Janeway procura Tom Paris, que está na ilha como detento, para conversar. Ela chegou a servir com o pai de Paris, um almirante como oficial de ciências. Janeway irá procurar a nave maqui desaparecida, pois Tuvok é um agente infiltrado para investigar os maquis e Janeway quer a experiência de Paris coma região onde a nave desapareceu (ele pertenceu aos maquis). Sabemos, na conversa entre Janeway e Paris, que Chakotay também foi oficial da Frota Estelar antes de se juntar aos maquis. Sabemos, também, das desavenças entre Chakotay e Paris (o primeiro, mais idealista, achava que o segundo era mercenário). Paris aceita, mas irá apenas como observador, a seu desgosto, pois se considera um grande piloto.
Na Estação Espacial de DS9, Paris chega numa nave auxiliar e a Voyager, uma nave classe intrepid com dobra 9,975 está ancorada. A nave tem quinze decks e tripulação de 141 pessoas. Ela também tem circuitos bioneurais. (pacotes de gel com celular bioneurais que organizam as informações mais eficientemente, acelerando a resposta dos circuitos). Seu número de série é NCC-74656. No bar do Quark, o ferengi tenta enrolar o alferes Harry Kim numa transação, mas um atento Paris consegue salvar o colega de Frota. E assim, os dois se conhecem, sendo amigos próximos pela série inteira. Na Voyager, Kim e Paris se apresentam à enfermaria e fica claro que Paris tem uma antiga querela com o médico, que não foi contada no momento. Depois, os dois se apresentam à Janeway, que os leva para a ponte. A Voyager deixa a estação.
Ficamos sabendo que Paris cometeu um erro que provocou a morte de três pessoas e a expulsão dele da Frota, para depois ele se aliar aos maquis, sendo preso na primeira operação. Por isso, ele é malvisto pelo médico e por alguns tripulantes. Ele confessa tudo a Kim, que fica sabendo do passado de Paris por terceiros. Há um leve arremedo de desentendimento entre Paris e Kim, mas este último dá a entender que não irá descartar a amizade por causa disso. Os dois são chamados à ponte por Janeway, pois a nave está próxima às badlands, a região de tempestades onde a nave maqui desapareceu. A Voyager acabou sendo atingida pelo mesmo raio de tétrions que atingiu a nave maqui. Alguns tripulantes da Voyager morrem e eles estão em frente a uma espécie de estação que emite um pulso de energia. Kim lê os sensores e diz que eles estão a setenta mil anos-luz de onde estavam, situando-se agora do outro lado da galáxia. Mas a Voyager está cheia de problemas. O reator de dobra está em risco de ruptura. Na enfermaria, o médico morreu e a unidade médica de emergência foi acionada. A estranha estação sonda a nave e os tripulantes vão desaparecendo, um a um, ficando apenas o doutor holográfico. Os tripulantes aparecem no quintal de uma fazenda, onde uma doce velhinha serve guloseimas para eles, mas Janeway, com seu tricorder, constata que eles estão dentro da estação e tudo aquilo parece ser uma projeção holográfica. Outras pessoas chegam à fazenda e uma festa começa, para a perplexidade dos tripulantes da Voyager. Janeway manda Paris e Kim sondarem a região com os tricorders e eles encontram formas de vida humanóides dentro de um celeiro (um vulcano e alguns humanos). Uma moça que estava com eles obstrui o caminho e diz que não está pronta para eles. Um cachorro faz menção de atacá-los. Paris chama Janeway pelo comunicador e é agredido pela moça. Vários habitantes da fazenda se materializam no celeiro quando Janeway chega com outros membros da tripulação. A parede do celeiro se materializa num corredor da estação e lá estão Torres, Chakotay e Tuvok inconscientes. Logo, todos os tripulantes estão presos e recebendo uma agulhada no peito. Mas eles aparecem em seguida na Voyager recobrando a consciência e descobrem que ficaram três dias na estação. Kim está desaparecido. Janeway sonda a nave maqui, que estava ao lado da estação e com sua tripulação. Janeway fala a Chakotay do desaparecimento de Kim e Chakotay diz que Torres também está desaparecida. Janeway propõe uma aliança para encontrar os tripulantes desaparecidos. Chakotay e Tuvok se transportam para a ponte da Voyager e Tuvok confessa que era um agente infiltrado para Chakotay, que também se reencontra com Paris de forma áspera. Janeway dá uma trava no show de testosterona explícita e se lembra do trabalho em equipe para recuperar Kim e Torres. Eles retornam à estação, com Tuvok tendo a missão de extrair o máximo de informações da mesma para ver se eles conseguem retornar os setenta mil anos-luz tão rapidamente quanto vieram., enquanto que Janeway, Chakotay e Paris procuram por Kim e Torres. De volta à fazenda, eles conversam com um velhinho que diz que eles não importam mais (exceto Kim e Torres) e que está sem tempo para pagar uma dívida, mandando todos de volta à Voyager. Kim e Torres acordam numa enfermaria cheios de feridas e Torres reage de forma mais agressiva, sendo dominada. Os pulsos de energia vão para um planeta e Janeway acredita que Kim e Torres estejam lá. Tuvok percebe que a freqüência dos pulsos aumenta e Janeway percebe que o planeta é de classe M mas é um deserto sem qualquer chuva. Janeway fala a Tuvok (seu chefe de segurança) que a mãe de Kim diz que ele esqueceu sua clarineta (isso já é dito no episódio piloto da série; veremos Kim tocando clarineta ao longo da série), mas Janeway disse que não dava mais tempo do alferes pegar seu instrumento musical. Janeway se arrepende de não conhecer melhor a sua tripulação. Aqui deve ser feito um parênteses. Janeway é primeira capitã que vemos em Jornada nas Estrelas, e até então ela tinha uma postura extremamente dura, como o cargo lhe exige. O problema é que a coisa ia de um jeito que a capitã parecia até um pouco masculinizada. Esse momento em que ela se arrepende de não conhecer melhor sua tripulação serve para colocar um pouco mais de ternura na personagem e tirar esse estigma masculinizado dela. Essa sequência também mostra a proximidade de Janeway com Tuvok, o que seria um ponto muito interessante da série. Janeway deixa explícita a sua preocupação de levar toda a sua tripulação de volta para casa.
A Voyager e a nave maqui encontram uma pequena nave tripulada num campo de destroços de naves. Nesta nave está Neelix, que se diz um bom conhecedor da região onde estão. Janeway pergunta sobre a estação e Neelix pergunta se eles foram trazidos de outro lugar da galáxia e tiveram seus tripulantes raptados, pelo guardião, que vive no quinto planeta. Janeway diz que sim e Neelix diz que o guardião vive fazendo isso e que leva os prisioneiros para os ocampas. Janeway pede ajuda a Neelix para localizar os ocampas e ele aceita. Neelix chega à Voyager e já mostra que será o alívio cômico da série justamente com Tuvok.
Na enfermaria onde estão aprisionados, Kim e Torres começam a conversar. Esta última é muito agressiva por sua descendência klingon. Entra um homem que diz que eles são convidados de honra enviados pelo guardião. O homem leva Torres e Kim para conhecer a cidade deles, que é subterrânea há quinhentas gerações, desde que o planeta se desertificou. Então, o guardião os colocou para viver sob a terra e provê tudo o que eles precisam para viver. Por terem sido enviados pelo guardião, Kim e Torres despertam a curiosidade dos moradores locais. Já as feridas pelo corpo dos dois ainda não têm explicação. O homem diz que o Guardião separa esses doentes e os leva para o planeta para que sejam tratados (cabe ressaltar aqui que o guardião nunca se comunicou com os habitantes do planeta e estes especulam o que o Guardião quer dizer para eles). Mas a doença é grave, eles não sabem como tratá-la e as outras pessoas doentes morreram.
A Voyager chega ao planeta e Neelix indica uma vila para eles entrarem em contato com a população local. Mas aqueles não eram ocampas, e sim agressivos kazons. Neelix oferece água em troca da localização dos ocampas. O chefe kazon mostra uma ocampa que eles mantêm como prisioneira, justamente a Kes. O kazon disse que os ocampas vivem nos subterrâneos, mas não há como chegar até eles em virtude de uma barreira intransponível, que os separa da superfície e mantém a única água do planeta com eles, deixando os kazons à míngua. Entretanto, Kes conseguiu chegar à superfície. Neelix propõe trocar a água por Kes, mas o chefe kazon quer a tecnologia para obter água do nada. Janeway diz que será difícil, pois a tecnologia está integrada à nave. Neelix faz então o chefe ocampa de refém e eles pegam Kes, se transportando para a Voyager. Na nave, eles descobrem que Kes é a esposa de Neelix.
Na cidade dos ocampas, Kim e Torres conhecem uma mulher que diz que alguns ocampas conseguem fugir para a superfície em falhas na barreira, pois eles não aceitam as ordens do Guardião. Este estaria estranho por fornecer mais energia à cidade que o esperado. Kim e Torres pedem a ajuda da mulher para poder ir à superfície. Na Voyager, Kes se compromete a ajudar a tripulação a encontrar falhas na barreira para ser possível o resgate de Kim e Torres. Eles descem à cidade subterrânea e Kes entra em choque com os líderes locais dizendo que eles sempre dependeram demais do Guardião e que é hora de acabar com isso. Ainda, ela fará de tudo para Janeway reaver Kim e Torres. Estes, por sua vez, estão tentando fugir para a superfície. Os pulsos ficam cada vez mais rápidos e, de repente, eles param, com a estação se realinhando para outra posição. A estação começa então a atirar no planeta, para selar os ocampas definitivamente de seus inimigos. Tuvok supõe que o Guardião esteja morrendo, pois proveu energia suficiente por cinco anos para os ocampas e agora os sela do exterior. Paris, Kes e Neelix vão atrás de Kim e Torres sob a orientação de Kes. Janeway tenta subir à Voyager, mas a radiação dos bombardeios do Guardião impede o transporte de achar falhas na barreira e funcionar. Janeway vai atrás de Paris, Kes e Neelix. Kes encontra uma brecha na barreira e eles atravessam. Paris e Neelix abrem um buraco na rocha com os seus phasers e todos chegam à superfície, exceto Janeway, Chakotay e Tuvok, que ficam presos no túnel, depois de uma explosão de um dos raios enviados pelo Guardião. Paris e Neelix retornam para ajudá-los. Paris acaba salvando Chakotay da morte, o que vai ajudar nas pazes dos dois.
Na Voyager, os kazons atacam a estação e são agressivos com a Voyager (Janeway quer voltar à estação para descobrir uma forma rápida de retornar para o quadrante alfa, mas os kazons querem impedir, pois não querem pessoas com a tecnologia da Voyager interagindo com a estação). Começa uma batalha e Janeway se transporta para a estação com Tuvok enquanto isso. Janeway encontra o velhinho (o Guardião), que diz que é um explorador de outra galáxia que, por acidente, provocou sérios danos à atmosfera do planeta e, por isso, cuidava dos ocampas, mas que agora ele está morrendo. Quanto a trazer outras espécies que adoeciam, foi pelo fato do guardião tentar se reproduzir para continuar a proteger os ocampas mas as espécies que traziam eram incompatíveis na reprodução, adoecendo. Janeway diz ao Guardião que é melhor que os ocampas aprendam a viver por si mesmos, sem qualquer forma de proteção, para se desenvolverem como espécie. Uma gigantesca nave kazon aparece e Chakotay coloca sua nave maqui em rota de colisão, preparando sua tripulação para se transportar para a Voyager. A nave kazon é atingida, enquanto que o Guardião inicia a sequência de autodestruição da estação para impedir dos kazons terem acesso a aquela tecnologia. A nave kazon atinge uma parte da estação e a ilusão da fazenda começa a desaparecer. A sequência de autodestruição é interrompida e o Guardião (agora uma massa disforme) pede a Janeway para destruir a estação para os kazons não descobrirem sua tecnologia e destruírem os ocampas. O Guardião morre. Tuvok se lembra da Primeira Diretriz e Janeway diz que, mesmo que a tripulação da Voyager não tenha pedido para se envolver em toda aquela querela entre kazons e ocampas eles estavam envolvidos. Janeway retorna à Voyager e ordena a destruição da estação, protegendo os ocampas dos kazons, mas também acabando com a única chance deles retornarem rapidamente ao quadrante alfa. Os kazons entram em contato e dizem que a Voyager fez um inimigo.
Janeway chama Paris para conversar e diz que os maquis serão integrados à tripulação, com Paris como tenente e Chakotay como Primeiro Oficial, com este dizendo que seria responsável por proteger Paris, já que teve a sua vida salva por ele. Já Neelix e Kes pedem para ir com a Voyager, pois têm conhecimento do quadrante delta, podendo prover informações valiosas, no que Janeway aceita. O episódio termina com Janeway falando à tripulação que, em dobra máxima, a Voyager demoraria setenta e cinco anos para retornar para o quadrante alfa, mas que ela quer encontrar meios de retornar mais rápido, seja por buracos de minhoca ou por tecnologias como a do Guardião e manda Paris traçar um curso para casa. Fim do episódio.
O que podemos falar desse episódio piloto “O Guardião”? Em primeiro lugar, essa é uma série que vai também seguir uma linha razoavelmente distópica, assim como havia ocorrido em Deep Space Nine. Senão vejamos: o episódio já começa com a querela dos maquis, que é um grupo de colonos que não teve seus interesses levados em conta pela Federação no tratado com os cardassianos e resolveram se rebelar. Será o sumiço de uma nave maqui que vai levar a Voyager a fazer a sua missão de localização. Para isso, um dos tripulantes será justamente um prisioneiro, que podemos colocar em discussão até onde ele seria um preso político ou não, que é Tom Paris. É curioso notar a posição de Tuvok no contexto, pois ele é um agente da Federação infiltrado no grupo maqui de Chakotay, assim como a rixa desse com Paris, pois Chakotay vê Paris mais como um mau caráter mercenário. Ao final do episódio, a tripulação da Voyager contará com membros da Federação e maquis sendo obrigado a trabalharem juntos. Essa rivalidade poderia ser mais bem trabalhada ao longo das temporadas, é verdade, mas sentimos um clima pesado entre os personagens nesse episódio piloto. A distopia, contudo, encontraria mais espaço ao longo da série, pelo fato da Voyager ter que atravessar o desconhecido quadrante delta, um espaço com várias regiões sob domínio borg, e a capitã teria que lançar mão de expedientes pouco virtuosos em várias situações.
Com relação ao roteiro, creio que, se o compararmos com os roteiros dos demais episódios pilotos, ele foi muito bem. Se em TNG e DS9 anotamos algumas descontinuidades, aqui a história fluiu muito bem, inserindo bem a apresentação dos personagens na trama, sem direito a barrigas. A ideia de uma civilização avançada que se sente responsável por tutelar outra, pois seu planeta sofreu um sério acidente ecológico por culpa da primeira civilização trouxe elementos a se questionar. Ocampas que eram tratados com todos os recursos, enquanto que os kazons ficavam à míngua. A gente se pergunta até que ponto isto é justo ou não. E também a gente se pergunta até onde os kazons ficaram mais agressivos por viverem em tais condições inóspitas. No fim das contas, Janeway opta por novamente tutelar os ocampas, destruindo a estação do guardião, impedindo que os kazons tivessem acesso à tecnologia, o que poderia destruir os ocampas. Toda essa interferência de Janeway ia radicalmente contra a Primeira Diretriz, mas a capitã justifica sua atitude dizendo a Tuvok que eles já estavam envolvidos demais naquela questão entre essas duas espécies e não havia como ficar neutra. Nada como estar a setenta mil anos-luz da Federação para, mais uma vez, atropelar a Primeira Diretriz. Pelo menos, a capitã buscou retomar o tom solene e utópico da Federação ao fim do episódio, dizendo à sua tripulação que, na viagem de volta, o espírito de exploração continuaria, embora agora haja uma causa maior, que é a de se buscar meios para voltar para casa. Pelo menos, na violação da Primeira Diretriz, houve uma causa nobre, que foi se sacrificar a volta mais rápida para casa para salvar os ocampas. Mas sempre fica aqui a pergunta: os kazons também não têm direito a uma qualidade de vida melhor? O roteiro diz que não, usando o fácil expediente de demonizar toda essa espécie. Fica uma certa sensação de frustração, pois essa questão poderia ter sido mais bem relativizada. Entretanto, optou-se por se criar um inimigo para a tripulação da Voyager, que seria seu antagonista por vários episódios vindouros das primeiras temporadas.
Dessa forma, “O Guardião”, a uma primeira vista, parece ser um bom episódio piloto para Voyager. Uma história que flui bem, apresenta seus personagens sem criar barrigas no episódio, e coloca de cara uma questão acerca da Primeira Diretriz. Tudo isso num ambiente em que a distopia novamente poderá destilar suas cores. Resta a gente analisar, nos próximos episódios da série, até onde a utopia aparece também.
Batata Jukebox – She Bop (Cyndi Lauper)
Uma música dos primórdios de Cyndi Lauper, em sua fase bem louquinha…
Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Deep Space Nine (S01, Ep01), O Emissário. O Lado Negro De Jornada Nas Estrelas.
Dando continuidade às nossas análises de episódios de “Jornada nas Estrelas”, falemos hoje do episódio piloto de “Deep Space Nine”, intitulado “O Emissário”. Essa nova série é considerada “o lado negro de Jornada nas Estrelas. Para podermos entender isso, vamos analisar o plot desse episódio duplo de cerca de noventa minutos.
O episódio começa com a Batalha de Wolf 359, onde Locutus ataca as forças da Frota Estelar, provocando um grande estrago. Nessa batalha, a esposa de Benjamin Sisko, Jennifer, acaba morta, algo que Sisko não vai conseguir perdoar em Picard. É uma sequência inicial bem angustiante e nos dá a medida exata do que Sisko sofreu em Wolf 359.
Três anos depois, o Comandante Sisko e seu filho Jake conversam na beira de um lago. O pai tenta convencer o menino a viver com ele numa estação espacial perto de Bajor. Jake reluta, mas Sisko consegue convencê-lo. Na verdade, eles estão num holodeck e a nave já está próxima à estação, que é vista pela escotilha. Só para lembrarmos, essa era uma estação cardassiana, que está sendo ocupada pela Federação, que servirá como mediadora entre Cardassia e Bajor depois de quarenta anos de guerra, onde os primeiros subjugaram os segundos. Caberá a Sisko comandar a estação, onde ele contará com a ajuda de Miles O’Brien. Os cardassianos, antes de saírem da estação, praticamente a depenaram e mataram os bajorianos que lá estavam. Sisko se depara com um bajoriano que o convida a conhecer os profetas, ao passo que o Comandante declina, dizendo que pode fazer isso em outra hora. A Enterprise está atracada à estação e O’Brien diz a Sisko que Picard quer vê-lo. Jake fica incomodado com o estado da estação e Sisko retruca dizendo que até que tudo se ajeite, eles vão ficar em desconforto mesmo.
Sisko conhece a representante de Bajor na estação, a Major Kira, e percebe que ela tem um temperamento muito forte, dizendo que não quer a Federação lá, pois os cardassianos ficaram por lá 60 anos e agora é a vez da Federação. Sisko diz que fez questão de que seu primeiro oficial fosse de Bajor, mas a conversa foi interrompida por um alerta de invasão que Kira teve que ir resolver. Sisko vai junto e temos um furto em progresso, feito por um jovem ferengi e um alienígena. Os ladrões são rendidos com a ajuda de Sisko, onde ele vai conhecer o chefe de segurança Odo. O jovem ferengi é Nog e Quark aparece para tentar tirar o sobrinho daquela enrascada, mas Sisko ordena a prisão de Nog. Kira disse que o menino devia estar seguindo as ordens de Quark e Sisko disse que vai usar Nog como moeda de troca com Quark, de acordo com a tradição ferengi. A Enterprise insiste na chamada de Sisko e ele se encaminha para lá. Picard recebe Sisko cheio de formalidades e este diz que os dois já se conhecem, pois Sisko estava na Saratoga em Wolf 359, para espanto de Picard, que se emudece sobre a questão e começa a falar da querela entre os cardassianos e bajorianos, onde os primeiros roubaram os recursos dos segundos. Picard disse que quer que os bajorianos entrem para a Federação, mas que há várias facções, algumas ainda atacando os cardassianos. A missão de Sisko será preparar os bajorianos para se fliarem à Federação, mas sem descumprir a Primeira Diretriz. Picard disse que se informou da oposição de Sisko a essa missão e que depois de passar alguns anos em Utopia Planitia, que ele estivesse mais preparado para assumir a missão. Sisko retruca que precisa criar seu filho sozinho e que seu filho não está num ambiente ideal. Picard lamenta que os oficiais da Frota nem sempre estejam numa situação ideal e Sisko diz que sabe disso e está pensando em voltar à Terra como civil. Picard diz que vai procurar um substituto. Sisko retruca dizendo que nesse meio tempo fará o seu melhor para cumprir a missão. Picard dispensa Sisko depois dessa conversa muito tensa.
Sisko quer que Quark permaneça na estação com o seu negócio, para manter um comércio (honesto) e seja uma espécie de “líder comunitário”. O ferengi quer ir embora, mas Sisko o chantageia dando a entender que Nog ficará muito tempo na prisão se isso acontecer. Odo se delicia com a saia justa de Quark.
Sisko conversa com Kira sobre o governo provisório bajoriano e ela não acredita que ele continue de pé nem que a Federação permanecerá lá, dando lugar a uma guerra civil. Só quem pode impedir isso seria Kai Opaka, a líder espiitual de Bajor, pois somente a religião une o povo de Bajor. Kai Opaka geralmente vive reclusa. Sisko recebe novamente a visita do bajoriano do início do episódio, dizendo que “está na hora”. Sisko vai a Bajor e é recebido por Kai Opaka, que pergunta se Sisko já explorou seu pagh, sua força de vida (uma vida espiritual), e que ele era muito aguardado. O pagh seria reabastecido pelos profetas. Opaka leva Sisko a uma espécie de gruta e lhe apresenta a “lágrima do profeta” (na verdade, a orbe dos profetas). Ele acaba indo para uma espécie de alucinação onde ele está no dia em que conhece sua esposa na praia. De repente, a alucinação desaparece, e Opaka diz que há nove orbes daquele tipo que apareceram no céu nos últimos dez mil anos e que os cardassianos pegaram as outras. Será tarefa de Sisko achar o templo celestial antes dos cardassianos. As orbes foram enviadas pelos profetas para ensinar a teologia dos bajorianos e os cardassianos fazem de tudo para decifrar os poderes das orbes. Se o cardassianos descobrirem o templo celestial, eles podem destruí-lo. Opaka entrega a orbe para Sisko achar o templo celestial, e ele fará isso pelo seu pagh, que é uma coisa para a qual ela já está destinado há muito tempo, para a perplexidade do Comandante.
Sisko é chamado por Kira ao Promenade e lá o Comandante vê Quark e seu bar com os jogos de azar. Numa conversa entre Sisko e Quark, este último dá uma alfinetada no Comandante no que se refere a chantagem de Sisko usando Nog. A Enterprise deixará a estação e, ao mesmo tempo, chegam o oficial de ciências e o médico. São, respectivamente, Jadzia Dax e Julian Bashir. Como todos sabemos, Dax é uma trill que tem um simbionte que é um amigo de velha data de Sisko. Por isso mesmo, ele vive chamando a bela Jadzia de “meu velho”, pois antes o simbionte estava no corpo de Curzon Dax, um respeitável senhor. Já Bashir estava impressionado com as más condições do local e era isso mesmo que ele queria: um lugar complicado e selvagem, onde está a aventura e a oportunidade de se tornar um herói, um lugar selvagem. Kira, que estava com ele, retruca dizendo que “aquele lugar selvagem era seu lar”, deixando Bashir muito sem graça. Confesso que não gostei muito dessa apresentação de Bashir, um personagem que gosto muito. Ele pareceu infantil, tentando paquerar Dax toda hora, e esse comportamento de ver regiões de fronteira como “selvagens” não parece se enquadrar muito numa mentalidade avançada de século 24.
Sisko dá a Dax o trabalho de analisar a orbe, quando deveria ser ele a fazer isso. Dax, ao tocar na orbe, é remetida à alucinação do dia em que ela recebeu o simbionte de Curzon Dax, para entendermos melhor a personagem. Já O’Brien se despede de Picard na Enterprise e volta para a estação, com a nave deixando a atracação e indo embora.
Chega Gul Dukat, o cardassiano responsável por governar Bajor durante a ocupação. Dukat diz a Sisko que não queria ter saído de sua sala, agora ocupada por Sisko, e o comandante diz, ironicamente (a ironia é a tônica dessa série, praticamente um personagem à parte) que ele pode voltar quando quiser para matar a saudade. Dukat disse que quer ajudar nesse momento difícil, mas dá a entender que pode atacar a Federação e Bajor quando quiser. Sisko diz que vai manter o “cão fora do seu quintal”. Dukat pergunta sobre o encontro de Sisko com Opaka e a orbe que está em poder dele. Dukat quer trocar informações sobre a orbe. Sisko desconversa. Dax, ao investigar dados históricos, encontrou uma região do espaço provável onde possa estar o templo celestial (relatos de naves que viram o “céu abrir”), mas os cardassianos estão por perto para Sisko investigar isso.
Kira fecha o estabelecimento de Quark, onde muitos cardassianos estão ganhando barras de ouro paralatinum. Os cardassianos esconderam todo o dinheiro numa parede de um dos corredores. O saco onde estava o dinheiro na verdade era um disfarce de Odo.
Sisko e Dax vão para o espaço a bordo da nave auxiliar Rio Grande para investigar a região do espaço encontrada na pesquisa histórica da orbe. Eles partem em segurança, pois Odo sabotou as redes de energia, comunicação e detecção dos cardassianos. Chegando à região de destino, Sisko e Dax entram numa enorme fenda espacial (ou buraco de minhoca. Eles saíram a setenta mil anos-luz de Bajor, no quadrante gama. Sisko suspeita que os orbes chegaram a Bajor por esse buraco de minhoca que deve estar ativo há dez mil anos. Então, eles concluíram que descobriram o primeiro buraco de minhoca estável conhecido. De volta ao buraco e minhoca, a velocidade da nave diminuiu e eles pousaram em algo. Sisko sai da nave e vê um ambiente estéril e com tempestades elétricas. Já Dax vê uma bela paisagem verdejante. Uma sonda de energia os escaneia e, quando Sisko tenta fazer contato, é bombardeado, juntamente com Dax, por uma forte energia da sonda, que aprisiona Dax. Sisko fica na fenda, enquanto que a sonda sai dela. O’Brien e Kira teletransportam a sonda e Dax aparece. Já Sisko começa toda uma discussão metafísica sobre tempo com os profetas, que são a espécie alienígena que mora no buraco de minhoca e que são venerados como deuses pelos bajorianos.
Kira pretende mover a estação para próxima do buraco de minhoca por questões estratégicas. Dax acredita que o buraco de minhoca foi construído artificialmente. Odo tem interesse em ir à região do buraco de minhoca, pois ele foi achado lá e não há outros da espécie dele. Odo acredita que o buraco de minhoca pode dar as respostas sobre sua origem. Ele se junta a equipe que irá resgatar Sisko. Mas a nave auxiliar já encontra os cardassianos indo para o buraco de minhoca. Eles pedem a Gul Dukat que não vá, mas este se nega e continua a se dirigir para o buraco de minhoca.
A conversa filosófica de Sisko com os profetas é interrompida pela passagem da nave cardassiana pelo buraco de minhoca. Os profetas acham que as espécies alienígenas que trafegam pelo buraco de minhoca são uma ameaça. Sisko argumenta com eles que os humanos não são uma ameaça e a discussão filosófica continua, falando da linearidade do tempo, da busca do homem pelo desconhecido, etc. Para a nave auxiliar, o buraco de minhoca desapareceu, assim como os cardassianos. Mas a estação já está próxima às coordenadas onde o buraco de minhoca apareceu. Naves cardassianas chegam à estação e não acreditam na história do buraco de minhoca, ameaçando explodir a estação. Mas dão uma hora para Kira provar que não foi a estação que destruiu a nave cardassiana desaparecida. Kira decide ir para o ataque e começa uma batalha entre a estação e os cardassianos.
Sisko, ao conversar com os profetas, é remetido às suas lembranças do passado e ele recorrentemente se depara com a morte da esposa em Wolf 359. Ele não entende por que tem que passar por tudo aquilo de novo e os profetas dizem que ele existe lá, ou seja, ele não consegue purgar sua forte dor do passado. Os profetas dizem que essa escolha de Sisko em ficar preso ao passado não é linear como o tempo que Sisko falou para eles.
Quando a batalha parecia perdida, Dax detecta o buraco de minhoca se formando e Sisko aparece com a Rio Grande puxando a nave de Gul Dukat com o raio trator (o cardassiano teve alguns problemas no quadrante gama, segundo Sisko). Dukat exige que os cardassianos parem de atacar a estação. De volta a estação, Sisko a encontra semi-destruída com treze feridos. Mas, pelo menos, os profetas permitiram o livre trânsito de naves pelo buraco de minhoca.
A Enterprise retorna à estação, o que faz com que os cardassianos se afastem. Sisko e Picard se reencontram e este último fala que o comandante conseguiu colocar Bajor numa posição de destaque com o buraco de minhoca, pois Bajor vai se tornar um grande entreposto comercial. Sisko pede para não mais ser substituído e consegue se conciliar com Picard, pois tirou das costas o peso do passado depois do encontro com os profetas. O episódio termina com várias situações cotidianas que a estação irá enfrentar.
O que podemos falar desse episódio piloto? Em primeiro lugar, o clima pesado e mais distópico, algo que era um pouco estranho à Jornada nas Estrelas até então. A batalha sangrenta em Wolf 359 contra Locutus e a perda severa de Sisko são o cartão de visitas para essa série mais sombria de Jornada nas Estrelas. O tom pesado continua quando Sisko recebe uma estação espacial totalmente caótica e entra em contato com personagens fortes como Kira, Odo e Quark. O comandante percebe que, para sobreviver nesse meio, precisa também ser duro. E já começa chantageando o ferengi Quark, usando seu sobrinho Nog como moeda de troca para colocar a estação em ordem e dar uma vida social ao novo ambiente. Mas esse não será o único gesto distópico do comandante. A conversa dele com Gul Dukat também já apresenta no episódio piloto um personagem à parte que será a tônica da série: a ironia, o sarcasmo. Os diálogos irônicos permeiam todas as temporadas e, se foram responsáveis por deliciosos momentos ao longo de toda série, também provocaram uma inquietação, pois a uma certa altura das temporadas, parecia que todos os personagens eram eivados daquela ironia e cinismo, forçando-nos a se perguntar se todo aquele sarcasmo era mesmo característica dos personagens ou dos roteiristas.
Outro detalhe interessante e que também nunca havia entrado com tanta força em Jornada nas Estelas: a questão da religiosidade. Totalmente purgada por Gene Roddenberry, a religião entrou como tema para discussão com força total nessa nova série, a ponto de o protagonista principal ser pintado em tons messiânicos pelos bajorianos. Sisko como o emissário entrará em contato com os profetas no buraco de minhoca, além de ter sido ciceroneado por Kai Opaka, a líder religiosa suprema de Bajor, que vivia reclusa para a maioria dos bajorianos. É claro que essa religião é relativizada na série e os profetas, que seriam os deuses bajorianos, nada mais são do que uma espécie alienígena que habita o buraco de minhoca. No contato de Sisko com os profetas, tivemos os debates filosóficos do episódio, onde foi discutida a linearidade do tempo, a busca dos humanos para elucidar o desconhecido, etc. Tal discussão ficou um pouquinho enfadonha a meu ver, e foi responsável pela descontinuidade no roteiro do episódio. Mas, pelo menos, ela serviu para purgar os tormentos de Sisko, que ficava preso ao seu passado da perda da esposa e o tornava uma pessoa desanimada a prosseguir com sua missão, além de ter sido muito ríspido com Picard, outra sequência pesada do episódio.
Dessa forma, esse foi um bom piloto para “Deep Space Nine”, principalmente pela então nova proposta de contexto distópico de espaço profundo numa região de fronteira recentemente saída de uma guerra, que propunha algo diferente em Jornada nas Estrelas até então, lembrando sempre que essa distopia se passava bem distante da Federação e de suas ideologias utópicas, preservando-as. A questão da discussão da religiosidade foi outro elemento novo introduzido em Jornada nas Estrelas. Mas creio que o grande trunfo desse episódio foi a variação de personagens de características fortes como Kira, Gul Dukat, Odo, Quark e O’Brien. Num primeiro momento, Dax e o Dr. Bashir pareciam um pouco fora de contexto, sendo personagens mais brandos e menos carismáticos. Mas, com o tempo, vimos que esses dois personagens também se integraram bem na série. DS9 se tornaria uma das séries mais amadas de Jornada nas Estrelas para muitos fãs.
Batata Arts – Olha Só! (8)
Mais uma olhada…
Batata Séries – Jornada Nas Estrelas A Nova Geração (S01 – Eps 01 e 02), Encontro Em Far Point.
Falemos, hoje, do episódio piloto de “Jornada nas Estrelas, a Nova Geração”, intitulado “Encontro em Farpoint”, miseravelmente traduzido para cá como “Encontro em Longínqua”. Confesso que fica mais elegante “Farpoint” na minha cabeça. É uma história escrita por Dorothy Fontana e Gene Roddenberry.
O episódio começa com Picard em seu diário de bordo, onde ele diz que vai para Deneb IV, mais especificamente na localidade de Farpoint, uma base estelar construída pela civilização de Deneb IV. Ele está recentemente comandando a Enterprise –D e ainda não conhece bem a sua tripulação. Ainda não há um Primeiro Oficial, mas um tal de William Riker se juntará à tripulação. Uma espécie de grade sólida cerca a nave. Uma espécie alienígena invade a ponte com um traje terrestre antigo e diz que a espécie humana já adentrou demais pela galáxia e deve retornar imediatamente. Ele se intitula Q e congela um oficial da ponte que aponta uma arma para ele. Picard disse que o phaser estava na posição de tonteio e Q responde que sabe como os humanos agem e se gostaria de ser capturado indefeso por eles, já mostrando sua posição crítica contra a espécie humana. Q continua mudando seu traje para um militar americano do século 20 e Picard retruca dizendo que a raça humana fez mais progressos depois disso. Q insiste mostrando os defeitos da raça humana, Picard retruca dizendo que vê raças (como a do Q) que acusam e julgam aquilo que não entendem e toleram. Q disse que julgar é uma boa ideia e que vai retornar. Worf recomenda lutar. Tasha Yar recomenda lutar e fugir. Picard pergunta a Troi o que ela achou de Q. Ela disse que sua mente é muito poderosa e recomenda evitar contato. Picard decide colocar a nave em máxima aceleração. A grade anda mais rápido que eles e Picard decide separar a seção disco, deixando-a sob o comando de Worf. Picard vai para a ponte de combate. Cabe ressaltar aqui que a ideia de separar a seção disco do restante da nave já existia desde a série clássica, mas não foi realizada por falta de recursos na época. Assim, na década de 80, quando essa separação já era possível, vemos a mesma sendo usada já no episódio piloto de TNG. Um detalhe hilário aqui é que vemos civis sendo transferidos de uma parte a outra da nave (a seção disco) e podemos testemunhar já neste episódio como eram ridículas as roupas dos mesmos nas séries de Jornada nas Estrelas pós-TOS, sendo muito coloridas e espalhafatosas, com o detalhe especial de um homem vestido de saias. Lembra um pouco o casal civil que vimos em “The Cage”. Picard estã na ponte de batalha e temos a visão de Chefe O’Brien na ponte. Antes da separação da seção disco, foram dados tiros de torpedos fotônicos contra a grade. A separação é feita (lembrando que nunca uma separação havia sido feita em dobra e em velocidade tão alta, cerca de dobra 9,5) e o restante da nave se virou contra a grade. Os torpedos foram detonados e Picard ordenou colocar a nave em parada total e esperar. Tasha sugeriu uma estratégia de ataque e Picard a cortou perguntando se ela estava sugerindo lutar contra uma raça tão desenvolvida e que ele queria sua sugestão, diante de uma Tasha emudecida. Tasha responde que falou sem pensar e que a prioridade deles é defender o disco. A grade se aproxima e Picard lança uma ordem onde deve-se enviar uma comunicação de que eles se rendem sem condições. A nave é cercada pela grade e os oficiais mais graduados vão parar numa simulação de julgamento da Terra no século 21 depois de uma Terceira Guerra Mundial, onde Q é o juiz. Picard pergunta se eles terão um julgamento justo e Q diz que sim. Mas eles serão acusados pelas atrocidades da raça humana. Data diz que em 2036, acusações sobre atrocidades humanas foram abolidas, mas Q retruca dizendo que o presente tribunal é de 2079, onde essa lei caiu. Tasha diz que viveu num mundo onde tais tribunais existiam e que foram pessoas da Federação que a salvaram. E que Tanto Q quanto as pessoas que assistiam ao julgamento deveriam se curvar para a Federação. Q a congelou. Picard protesta e lança um desafio a Q dizendo que este não conseguirá condenar os humanos se houver um julgamento justo. E atacar os acusados não é um julgamento justo. Q diz que a corte é misericordiosa e descongela Tasha. Picard diz que reconhece esse tipo de tribunal, que ele é do tipo “a pessoa é culpada até que ela prove a sua inocência”, e cita Shakespeare (ator shakesperiano que Patrick Stewart é), “matem todos os advogados”, ao que Q respondeu “e foram mortos”. Q exige que Picard leia as acusações. Picard as lê e diz que não vê nenhuma acusação ali. Q ameaça a vida de Troi e Data com seguranças armados. Picard se declara culpado para salvar a sua tripulação, mas provisoriamente. Q quer escutar as condições de Picard. Este comenta que o tribunal não respeita as próprias regras que cria, mas Q não dá muita atenção a esse argumento. Picard, então, parte para oura estratégia: diz que o tribunal tem provas suficientes para confirmar a selvageria dos humanos no passado, mas sugere que os humanos sejam testados agora, o que desperta a atenção de Q. Este diz que a missão em Farpoint dará condições para muitos testes e coloca o tribunal em recesso. Os oficiais mais graduados retornam à ponte de combate, que está com a rota traçada para Farpoint.
Em Farpoint, um Riker ainda sem barba aguarda a Enterprise-D. Ele conversa com o responsável pela estação, Groppler e percebe como a mesma tem uma boa reserva de energia e uma estação tão bem adequada às necessidades humanas. Groppler desconversa e oferece frutas da Terra a Riker e ele quer uma maçã. Na tigela, não havia maçãs, mas subitamente aparece uma outra tigela de maçãs em cima da mesa. Riker deixa a sala e Groppler começa a falar para alguém que ele não devia ter feito isso (a aparição da maçã), pois levanta suspeitas e que esse alguém será punido se forem levantadas as suspeitas.
Riker se encontra com a Dra. Crusher e seu filho Wesley. Ele tenta contar a ela a história da maçã enquanto a Dra. tenta comprar um tecido, mas não há o tecido da cor que ela quer. Subitamente, surge um tecido da cor que ela quer comprar, assim como ocorreu com a maçã. O tenente La Forge se apresenta a Riker e diz que a Enterprise chegou, só que sem a seção disco. Riker decide subir para conhecer Picard. O Primeiro Oficial vai à ponte e é recebido friamente pelo capitão, que ordena a Tasha que deixe Riker a par da situação de Q. Quando Riker vai conversar com Picard, este secamente ordena que o Primeiro Oficial atraque manualmente a seção disco, que tinha chegado. Riker faz a atracação sem maiores problemas. Riker e Picard conversam novamente e vemos como o Primeiro Oficial preza demais a vida de seus capitães, uma característica básica em Riker. Picard ainda pede que Riker o ajude a ser popular com as crianças, já que ele não possui família. E recebe amistosamente seu novo Primeiro Oficial.
Na enfermaria, a Dra. Crusher e La Forge conversam sobre seu dispositivo óptico que o ajuda a enxergar em várias frequências, embora isso lhe cause alguma dor. Todas as opções que a doutora dá a La Forge prejudicariam sua visão e ele se nega. Sentimos muito nesse episódio piloto a apresentação dos personagens e suas principais características, aparecendo detalhes deles aqui e ali.
Riker chega à ponte e procura Data. Worf diz que ele está numa nave auxiliar para transportar um almirante que se recusa a usar teletransporte. Esse almirante é o Dr. McCoy e temos aqui o melhor momento de todo o episódio, que é a conversa entre McCoy e Data. McCoy reclama que Data quer os átomos do Dr. espalhados pelo espaço. Data diz que não e somente quer uma viagem mais confortável para a idade dele. McCoy pergunta a Data qual é a idade do Dr. e ele responde que são cento e trinta e sete anos. McCoy pergunta como ele sabe disso e percebe que Data não tem orelhas pontudas. McCoy diz que Data fala como um vulcano, e Data retruca que é um andróide, ao que McCoy diz: é quase tão ruim quanto. Data não entende, pois a raça vulcana sempre foi muito honrada e avançada. McCoy diz que sim, mas que também pode ser muito irritante. McCoy diz a Data que esta é uma nave nova mas tem o nome certo, que ela deve ser tratada como uma dama e assim, ela sempre o levará para casa.
Picard está na ponte e Q está na tela, dizendo que eles têm somente mais vinte quatro horas para fazer o teste. Picard diz a Riker que eles continuarão a fazer o que têm que fazer.
Riker e Picard conversam sobre a estranha característica de Farpoint de ter uma fonte geotérmica e as coisas aparecerem como que por milagre para agradar aos humannos. Picard não dá muita bola para isso, à despeito da preocupação de Riker, embora queira conhecer Groppler (creio que aqui Picard teria que ficar mais esperto em virtude do que foi dito por Q sobre Farpoint). Riker encontra Troi e fica claro o passado dos dois. Picard percebe que os dois se conheciam, mas não a querela amorosa mal resolvida.
Picard, Riker e Troi vão conversar com Groppler. O habitante do planeta frisa que quer fazer acordo com a Federação mas que não quer outra estação dela lá. Troi sente muita dor, solidão e desespero de algo próximo. Perguntado por Picard sobre esses sentimentos, Groppler desconversa e reage fortemente dizendo que não vê utilidade em tudo aquilo, mostrando claramente que esconde algo. Picard encerra a discussão e a deixa para uma outra hora, cozinhando Groppler em banho-maria.
Riker se encontra com Data pela primeira vez num holodeck (é, também, a primeira vez que um holodeck é mostrado na série) e diz que precisa do andróide para investigar Farpoint. Riker mostra o seu desconforto em se relacionar com um andróide e Data diz que o preconceito é normal entre os humanos. Riker pergunta se Data se acha superior aos humanos e o andróide responde que sim, em vários aspectos, mas que trocaria tudo isso para ser humano. Riker faz uma brincadeira e o chama de Pinóquio. O andróide não entende a piada e diz que é “intrigante”. Os dois saem andando onde percebemos que Riker gostou de Data. Wesley se encontra com os dois e cai no lago. Data corre para tirá-lo da água e o ergue de uma vez, para sabermos que o robô tem grande força. Os três saem do holodeck e se encontram com Picard, que vê um Wesley molhado com ar de reprovação.
Na enfermaria, Wesley pede à mãe para ir à ponte e diz que Picard é um chato. A mãe retruca dizendo que seu pai gostava dele. A Dra. Crusher diz que vai tentar levar Wesley á ponte. Os dois vão para a ponte e Picard se reencontra com Crusher. Assim que ele sabe que Wesley é o filho dela, ele deixa o menino ir para a ponte, desde que não toque em nada. Na cadeira do capitão, Wesley sabe de todos os comandos e botões. Mas são convidados a se retirar por Picard, já que uma nave desconhecida está chegando. Picaard contacta Groppler e pergunta sobre a nave desconhecida, mas este diz que nada sabe sobre ela. A gigantesca nave sonda a Enterprise.
Uma equipe da Enterprise investiga Farpoint para descobrir o que acontece de errado. São encontrados corredores subterrâneos de um material desconhecido e Troi sente novamente uma forte dor e desespero de uma espécie que ela sente que é diferente da humana. Troi percebe que a coisa que ela sente não quer que eles contactem a Enterprise (os comunicadores estão bloqueados). Eles sobem à superfície.
A nave atira na cidade velha ao lado de Farpoint. Groppler pede socorro à Enterprise. Picard pede a Riker e Data que tragam Groppler para a Enterprise. Para defender os bandis (a espécie de Groppler), Picard ordena que os phasers sejam travados na nave. Nessa hora, Q aparece e diz que isso é típico dos humanos: formas de vida selvagens não seguem as próprias regras, devolvendo na cara de Picard o que ele disse a Q no Tribunal (yess!). Picard fica irritadinho e ordena Q a sair da ponte. Q diz para Picard usar suas armas. Picard retruca que a ordem de travar os phasers foi uma precaução de segurança de rotina, já que a espécie é desconhecida. Q diz que o significado da nave desconhecida é bem simples. E ainda pergunta o que a tripulação está fazendo sobre as mortes na superfície, já que os humanos se consideram civilizados. Picard responde com uma ordem à Dra. Crusher de atender aos feridos. Picard diz a Q que a Frota Estelar é treinada para dar assistência e Q interrompe dizendo que a Frota não é treinada para pensar com clareza. Picard retruca dizendo que Q considera os humanos selvagens, mas sabia que as pessoas iam ser mortas com seu ataque da nave espacial. Isso sim é ser selvagem. Picard ordena a Worf a posicionar a Enterprise entre a nave e a cidade, mas os controles não respondem.
Riker e Data encontram um desesperado Groppler nos escombros pedindo ajuda para cessar o ataque, mas ele se recusa a dizer aos oficiais quem está atacando. Quando Riker Data fazem menção de ir embora, Groppler abre o jogo e quando vai dizer algo, desaparece. Riker comunica isso a Picard e Q se delicia dizendo que os humanos não têm a menor ideia de quem transportou Groppler ou quem são os alienígenas da nave, e que o tempo da Enterprise está acabando. Troi diz que sente uma satisfação muito grande, não da entidade do planeta, mas de algo mais próximo. Q parabeniza Troi e diz que Picard é muito burro, zoando geral. Picard se emputece de vez e fala para Q sair da ponte ou destruí-los logo de uma vez. Q diz que só está querendo ajudar. Q diz que Picard tem que enviar um grupo avançado para a nave alienígena, pois a resposta do enigma está lá e Picard já deveria saber disso. Riker se oferece para descer e diz a Q que os humanos não são mais selvagens. Q retruca dizendo que eles vão ter que provar isso e desaparece.
Picard vai à enfermaria e pergunta a Crusher se ela não quer ser sua médica–chefe, à despeito do problema entre os dois e o marido da médica. Cruhser diz que isso em nada afetará o fato dela estar na nave sob as ordens de Picard e aceita o posto. Eu sei que nesse episódio-piloto, tivemos algumas sequências para apresentar melhor os personagens. Mas, do jeito que essa sequência específica de Picard e Crusher foi colocada, ou seja, num momento importante do desenlace de uma das tramas principais, deu-se a impressão de algo totalmente fora do contexto. Isso deveria ter sido colocado mais lá trás, de preferência colado ao momento em que Crusher e Wesley foram á ponte (a chegada da nave alienígena poderia ser depois de tudo isso, por exemplo).
Riker lidera um grupo avançado à nave alienígena. Chegando lá, encontram os mesmos túneis vistos no planeta. Troi sente uma enorme raiva contra a cidade velha. Eles encontram Groppler num campo de força implorando para sair de lá. Troi sente um alienígena na sala. Riker e Data atiram com phasers no campo e libertam Groppler. A nave muda de configuração e Picard ordena o transporte imediato do grupo avançado. Nessa hora, Q aparece na ponte, vestido de capitão, dizendo que o tempo terminou e cortando as comunicações do capitão com a sala de transporte. Picard pede (por favor) para Q permitir que ele salve seu grupo e que fará o que ele disser. Q transporta o grupo avançado e Groppler à ponte. Troi diz que, na verdade foi a nave que os transportou, que ela é uma entidade viva e que Q nada tem a ver com isso. Q instiga Picard a atacar a nave, mas ele se recusa, mesmo sob os protestos de Groppler, que teve a sua cidade destruída. Picard percebe o que aconteceu e mandou um feixe de energia para Farpoint. Havia um ser vivo que convertia energia em matéria que chegou ferido à cidade velha e Groppler o aprisionou, fazendo Farpoint ser uma espécie de ilusão. Esse ser vivo (uma espécie de água-viva gigante) era a entidade que sentia medo e dor. E a nave sentia raiva por causa de seu par aprisionado sob a falsa Fairpoint. Picard, assim, liberta a forma de vida sob Farpoint, se unindo à forma de vida que está em órbita. Troi sente alegria e gratidão de ambos os seres.
Picard pergunta a Q por que ele usa criaturas vivas como seus brinquedos e ordena que ele saia da nave. Q diz que vai sair, mas deixa explícito que vai voltar. Picard consegue fazer um acordo com os bandis para reconstruir farpoint e a Enterprise vai embora em dobra, com o tradicional “engage” de Picard. Fim do episódio.
O que podemos falar desse episódio piloto (duplo) de TNG? Em primeiro lugar, ele é dividido em três núcleos principais: o núcleo de Q e da discussão filosófica entre essa entidade praticamente onipotente e Picard sobre a raça humana, núcleo esse que poderia ficar muito pesado se não houvesse a fina ironia de Q (podemos colocar esse núcleo como o mais interessante do episódio e que rendeu outros ótimos episódios ao longo da série); o segundo núcleo era o responsável por apresentar os personagens da série, um núcleo que foi responsável por dar um andamento desigual no roteiro e que ajudou a tornar o episódio um pouco mais enfadonho; e o terceiro núcleo, que abordava os problemas dos bandi com a espécie alienígena que era aprisionada por Groppler. A divisão da história nesses três núcleos tornou a trama muito heterogênea e contribuiu para prejudicar o ritmo do episódio, fazendo a coisa ficar um pouco chata em alguns momentos. Essa apresentação dos personagens talvez fosse melhor se ficasse mais diluída ao longo dos episódios. A querela entre Riker e Troi, por exemplo, merecia ser tratada mais detalhadamente num episódio, assim como a situação entre Picard e Crusher. Talvez uma rápida apresentação dos personagens no episódio piloto não quebrasse tanto o ritmo. O tempo gasto com a apresentação dos personagens poderia ser mais aproveitado nos diálogos entre Q e Picard, por exemplo, pois esse é o núcleo que tinha a reflexão mais pertinente, a ponto do núcleo de Farpoint servir de apoio para o núcleo de Q. Temos que fazer toda uma menção especial a John de Lancie aqui, pois sua atuação como Q foi formidável, onde ele faz troça com o capitão da Enterprise, dando oportunidade para a série rir de si mesma, como víamos na série clássica, que tinha uma grande carga de humor, um humor que não dispensa a reflexão. O mais contundente em Q é a gente constatar que ele tem uma certa razão com os humanos até quando nos referimos a humanidade mais “civilizada” do século 24. A rabugice de Picard é um atalho pavimentado para a arrogância humana ainda estar presente nessa sociedade utópica do futuro. E Q não perdoa qualquer brecha de defeito que o ser humano dê para ele apontar, o que ele aproveita com um sarcasmo para lá de delicioso.
Com relação ao núcleo de Farpoint, a coisa que mais chamava a atenção era a atitude torpe de Groppler em manter uma espécie aprisionada para atender aos seus interesses mesquinhos. Mas esse núcleo realmente funciona mais como uma escada ao núcleo de Q e é a oportunidade de ouro de Picard mostrar ao ser onipotente como a raça humana progrediu ao longo dos séculos.
Olhando de forma retrospectiva, a apresentação de personagens incomodou em alguns pontos. Troi parecia extremamente frágil em sua sensitividade, assim como Picard era extremamente rabugento, uma rabugice talvez deslocada para o século 24. Por incrível que pareça gostei de Riker, o personagem mais provável a cair nos exageros de uma diplomacia de cowboy naqueles primeiros dias. Mesmo que ele ressaltasse sua devoção à preservação da segurança do capitão, a ponto de passar por cima da hierarquia e do protocolo para isso, Riker sempre teve atitudes mais ponderadas do que impetuosas, pedindo autorização do capitão para se manifestar e caindo nas graças de seu superior rapidamente. O mais curioso é que não tive uma boa impressão de Riker quando o vi pela primeira vez lá na já longínqua (sem trocadilhos) década de 80. Confesso que a barba ajudou muito na simpatia do personagem e isso foi um golaço do Roddenberry que falou para Riker manter a barba na volta das férias para a gravação da segunda temporada. Ainda, rolava na época uma história que Riker também passou a ter barba, pois ele era muito parecido com Kirk.
Dessa forma, “Encontro em Farpoint” serviu como o cartão de visitas de TNG e foi uma boa história que sofreu com a ambição excessiva em apresentar pequenos núcleos de muitos personagens de uma vez só, o que atrapalhou o ritmo do episódio e tirou espaço do núcleo principal, que era o de Q e a questão do ser humano ser civilizado ou não. A partir desse conteúdo original, TNG foi sendo trabalhado ao longo dos episódios e temporadas, onde algumas arestas foram aparadas e a série foi se desenvolvendo e melhorando.
Batata Arts – Olha Só! (7)
Continuemos com o olhar…