Falemos, hoje, do episódio piloto de “Jornada nas Estrelas, a Nova Geração”, intitulado “Encontro em Farpoint”, miseravelmente traduzido para cá como “Encontro em Longínqua”. Confesso que fica mais elegante “Farpoint” na minha cabeça. É uma história escrita por Dorothy Fontana e Gene Roddenberry.
O episódio começa com Picard em seu diário de bordo, onde ele diz que vai para Deneb IV, mais especificamente na localidade de Farpoint, uma base estelar construída pela civilização de Deneb IV. Ele está recentemente comandando a Enterprise –D e ainda não conhece bem a sua tripulação. Ainda não há um Primeiro Oficial, mas um tal de William Riker se juntará à tripulação. Uma espécie de grade sólida cerca a nave. Uma espécie alienígena invade a ponte com um traje terrestre antigo e diz que a espécie humana já adentrou demais pela galáxia e deve retornar imediatamente. Ele se intitula Q e congela um oficial da ponte que aponta uma arma para ele. Picard disse que o phaser estava na posição de tonteio e Q responde que sabe como os humanos agem e se gostaria de ser capturado indefeso por eles, já mostrando sua posição crítica contra a espécie humana. Q continua mudando seu traje para um militar americano do século 20 e Picard retruca dizendo que a raça humana fez mais progressos depois disso. Q insiste mostrando os defeitos da raça humana, Picard retruca dizendo que vê raças (como a do Q) que acusam e julgam aquilo que não entendem e toleram. Q disse que julgar é uma boa ideia e que vai retornar. Worf recomenda lutar. Tasha Yar recomenda lutar e fugir. Picard pergunta a Troi o que ela achou de Q. Ela disse que sua mente é muito poderosa e recomenda evitar contato. Picard decide colocar a nave em máxima aceleração. A grade anda mais rápido que eles e Picard decide separar a seção disco, deixando-a sob o comando de Worf. Picard vai para a ponte de combate. Cabe ressaltar aqui que a ideia de separar a seção disco do restante da nave já existia desde a série clássica, mas não foi realizada por falta de recursos na época. Assim, na década de 80, quando essa separação já era possível, vemos a mesma sendo usada já no episódio piloto de TNG. Um detalhe hilário aqui é que vemos civis sendo transferidos de uma parte a outra da nave (a seção disco) e podemos testemunhar já neste episódio como eram ridículas as roupas dos mesmos nas séries de Jornada nas Estrelas pós-TOS, sendo muito coloridas e espalhafatosas, com o detalhe especial de um homem vestido de saias. Lembra um pouco o casal civil que vimos em “The Cage”. Picard estã na ponte de batalha e temos a visão de Chefe O’Brien na ponte. Antes da separação da seção disco, foram dados tiros de torpedos fotônicos contra a grade. A separação é feita (lembrando que nunca uma separação havia sido feita em dobra e em velocidade tão alta, cerca de dobra 9,5) e o restante da nave se virou contra a grade. Os torpedos foram detonados e Picard ordenou colocar a nave em parada total e esperar. Tasha sugeriu uma estratégia de ataque e Picard a cortou perguntando se ela estava sugerindo lutar contra uma raça tão desenvolvida e que ele queria sua sugestão, diante de uma Tasha emudecida. Tasha responde que falou sem pensar e que a prioridade deles é defender o disco. A grade se aproxima e Picard lança uma ordem onde deve-se enviar uma comunicação de que eles se rendem sem condições. A nave é cercada pela grade e os oficiais mais graduados vão parar numa simulação de julgamento da Terra no século 21 depois de uma Terceira Guerra Mundial, onde Q é o juiz. Picard pergunta se eles terão um julgamento justo e Q diz que sim. Mas eles serão acusados pelas atrocidades da raça humana. Data diz que em 2036, acusações sobre atrocidades humanas foram abolidas, mas Q retruca dizendo que o presente tribunal é de 2079, onde essa lei caiu. Tasha diz que viveu num mundo onde tais tribunais existiam e que foram pessoas da Federação que a salvaram. E que Tanto Q quanto as pessoas que assistiam ao julgamento deveriam se curvar para a Federação. Q a congelou. Picard protesta e lança um desafio a Q dizendo que este não conseguirá condenar os humanos se houver um julgamento justo. E atacar os acusados não é um julgamento justo. Q diz que a corte é misericordiosa e descongela Tasha. Picard diz que reconhece esse tipo de tribunal, que ele é do tipo “a pessoa é culpada até que ela prove a sua inocência”, e cita Shakespeare (ator shakesperiano que Patrick Stewart é), “matem todos os advogados”, ao que Q respondeu “e foram mortos”. Q exige que Picard leia as acusações. Picard as lê e diz que não vê nenhuma acusação ali. Q ameaça a vida de Troi e Data com seguranças armados. Picard se declara culpado para salvar a sua tripulação, mas provisoriamente. Q quer escutar as condições de Picard. Este comenta que o tribunal não respeita as próprias regras que cria, mas Q não dá muita atenção a esse argumento. Picard, então, parte para oura estratégia: diz que o tribunal tem provas suficientes para confirmar a selvageria dos humanos no passado, mas sugere que os humanos sejam testados agora, o que desperta a atenção de Q. Este diz que a missão em Farpoint dará condições para muitos testes e coloca o tribunal em recesso. Os oficiais mais graduados retornam à ponte de combate, que está com a rota traçada para Farpoint.
Em Farpoint, um Riker ainda sem barba aguarda a Enterprise-D. Ele conversa com o responsável pela estação, Groppler e percebe como a mesma tem uma boa reserva de energia e uma estação tão bem adequada às necessidades humanas. Groppler desconversa e oferece frutas da Terra a Riker e ele quer uma maçã. Na tigela, não havia maçãs, mas subitamente aparece uma outra tigela de maçãs em cima da mesa. Riker deixa a sala e Groppler começa a falar para alguém que ele não devia ter feito isso (a aparição da maçã), pois levanta suspeitas e que esse alguém será punido se forem levantadas as suspeitas.
Riker se encontra com a Dra. Crusher e seu filho Wesley. Ele tenta contar a ela a história da maçã enquanto a Dra. tenta comprar um tecido, mas não há o tecido da cor que ela quer. Subitamente, surge um tecido da cor que ela quer comprar, assim como ocorreu com a maçã. O tenente La Forge se apresenta a Riker e diz que a Enterprise chegou, só que sem a seção disco. Riker decide subir para conhecer Picard. O Primeiro Oficial vai à ponte e é recebido friamente pelo capitão, que ordena a Tasha que deixe Riker a par da situação de Q. Quando Riker vai conversar com Picard, este secamente ordena que o Primeiro Oficial atraque manualmente a seção disco, que tinha chegado. Riker faz a atracação sem maiores problemas. Riker e Picard conversam novamente e vemos como o Primeiro Oficial preza demais a vida de seus capitães, uma característica básica em Riker. Picard ainda pede que Riker o ajude a ser popular com as crianças, já que ele não possui família. E recebe amistosamente seu novo Primeiro Oficial.
Na enfermaria, a Dra. Crusher e La Forge conversam sobre seu dispositivo óptico que o ajuda a enxergar em várias frequências, embora isso lhe cause alguma dor. Todas as opções que a doutora dá a La Forge prejudicariam sua visão e ele se nega. Sentimos muito nesse episódio piloto a apresentação dos personagens e suas principais características, aparecendo detalhes deles aqui e ali.
Riker chega à ponte e procura Data. Worf diz que ele está numa nave auxiliar para transportar um almirante que se recusa a usar teletransporte. Esse almirante é o Dr. McCoy e temos aqui o melhor momento de todo o episódio, que é a conversa entre McCoy e Data. McCoy reclama que Data quer os átomos do Dr. espalhados pelo espaço. Data diz que não e somente quer uma viagem mais confortável para a idade dele. McCoy pergunta a Data qual é a idade do Dr. e ele responde que são cento e trinta e sete anos. McCoy pergunta como ele sabe disso e percebe que Data não tem orelhas pontudas. McCoy diz que Data fala como um vulcano, e Data retruca que é um andróide, ao que McCoy diz: é quase tão ruim quanto. Data não entende, pois a raça vulcana sempre foi muito honrada e avançada. McCoy diz que sim, mas que também pode ser muito irritante. McCoy diz a Data que esta é uma nave nova mas tem o nome certo, que ela deve ser tratada como uma dama e assim, ela sempre o levará para casa.
Picard está na ponte e Q está na tela, dizendo que eles têm somente mais vinte quatro horas para fazer o teste. Picard diz a Riker que eles continuarão a fazer o que têm que fazer.
Riker e Picard conversam sobre a estranha característica de Farpoint de ter uma fonte geotérmica e as coisas aparecerem como que por milagre para agradar aos humannos. Picard não dá muita bola para isso, à despeito da preocupação de Riker, embora queira conhecer Groppler (creio que aqui Picard teria que ficar mais esperto em virtude do que foi dito por Q sobre Farpoint). Riker encontra Troi e fica claro o passado dos dois. Picard percebe que os dois se conheciam, mas não a querela amorosa mal resolvida.
Picard, Riker e Troi vão conversar com Groppler. O habitante do planeta frisa que quer fazer acordo com a Federação mas que não quer outra estação dela lá. Troi sente muita dor, solidão e desespero de algo próximo. Perguntado por Picard sobre esses sentimentos, Groppler desconversa e reage fortemente dizendo que não vê utilidade em tudo aquilo, mostrando claramente que esconde algo. Picard encerra a discussão e a deixa para uma outra hora, cozinhando Groppler em banho-maria.
Riker se encontra com Data pela primeira vez num holodeck (é, também, a primeira vez que um holodeck é mostrado na série) e diz que precisa do andróide para investigar Farpoint. Riker mostra o seu desconforto em se relacionar com um andróide e Data diz que o preconceito é normal entre os humanos. Riker pergunta se Data se acha superior aos humanos e o andróide responde que sim, em vários aspectos, mas que trocaria tudo isso para ser humano. Riker faz uma brincadeira e o chama de Pinóquio. O andróide não entende a piada e diz que é “intrigante”. Os dois saem andando onde percebemos que Riker gostou de Data. Wesley se encontra com os dois e cai no lago. Data corre para tirá-lo da água e o ergue de uma vez, para sabermos que o robô tem grande força. Os três saem do holodeck e se encontram com Picard, que vê um Wesley molhado com ar de reprovação.
Na enfermaria, Wesley pede à mãe para ir à ponte e diz que Picard é um chato. A mãe retruca dizendo que seu pai gostava dele. A Dra. Crusher diz que vai tentar levar Wesley á ponte. Os dois vão para a ponte e Picard se reencontra com Crusher. Assim que ele sabe que Wesley é o filho dela, ele deixa o menino ir para a ponte, desde que não toque em nada. Na cadeira do capitão, Wesley sabe de todos os comandos e botões. Mas são convidados a se retirar por Picard, já que uma nave desconhecida está chegando. Picaard contacta Groppler e pergunta sobre a nave desconhecida, mas este diz que nada sabe sobre ela. A gigantesca nave sonda a Enterprise.
Uma equipe da Enterprise investiga Farpoint para descobrir o que acontece de errado. São encontrados corredores subterrâneos de um material desconhecido e Troi sente novamente uma forte dor e desespero de uma espécie que ela sente que é diferente da humana. Troi percebe que a coisa que ela sente não quer que eles contactem a Enterprise (os comunicadores estão bloqueados). Eles sobem à superfície.
A nave atira na cidade velha ao lado de Farpoint. Groppler pede socorro à Enterprise. Picard pede a Riker e Data que tragam Groppler para a Enterprise. Para defender os bandis (a espécie de Groppler), Picard ordena que os phasers sejam travados na nave. Nessa hora, Q aparece e diz que isso é típico dos humanos: formas de vida selvagens não seguem as próprias regras, devolvendo na cara de Picard o que ele disse a Q no Tribunal (yess!). Picard fica irritadinho e ordena Q a sair da ponte. Q diz para Picard usar suas armas. Picard retruca que a ordem de travar os phasers foi uma precaução de segurança de rotina, já que a espécie é desconhecida. Q diz que o significado da nave desconhecida é bem simples. E ainda pergunta o que a tripulação está fazendo sobre as mortes na superfície, já que os humanos se consideram civilizados. Picard responde com uma ordem à Dra. Crusher de atender aos feridos. Picard diz a Q que a Frota Estelar é treinada para dar assistência e Q interrompe dizendo que a Frota não é treinada para pensar com clareza. Picard retruca dizendo que Q considera os humanos selvagens, mas sabia que as pessoas iam ser mortas com seu ataque da nave espacial. Isso sim é ser selvagem. Picard ordena a Worf a posicionar a Enterprise entre a nave e a cidade, mas os controles não respondem.
Riker e Data encontram um desesperado Groppler nos escombros pedindo ajuda para cessar o ataque, mas ele se recusa a dizer aos oficiais quem está atacando. Quando Riker Data fazem menção de ir embora, Groppler abre o jogo e quando vai dizer algo, desaparece. Riker comunica isso a Picard e Q se delicia dizendo que os humanos não têm a menor ideia de quem transportou Groppler ou quem são os alienígenas da nave, e que o tempo da Enterprise está acabando. Troi diz que sente uma satisfação muito grande, não da entidade do planeta, mas de algo mais próximo. Q parabeniza Troi e diz que Picard é muito burro, zoando geral. Picard se emputece de vez e fala para Q sair da ponte ou destruí-los logo de uma vez. Q diz que só está querendo ajudar. Q diz que Picard tem que enviar um grupo avançado para a nave alienígena, pois a resposta do enigma está lá e Picard já deveria saber disso. Riker se oferece para descer e diz a Q que os humanos não são mais selvagens. Q retruca dizendo que eles vão ter que provar isso e desaparece.
Picard vai à enfermaria e pergunta a Crusher se ela não quer ser sua médica–chefe, à despeito do problema entre os dois e o marido da médica. Cruhser diz que isso em nada afetará o fato dela estar na nave sob as ordens de Picard e aceita o posto. Eu sei que nesse episódio-piloto, tivemos algumas sequências para apresentar melhor os personagens. Mas, do jeito que essa sequência específica de Picard e Crusher foi colocada, ou seja, num momento importante do desenlace de uma das tramas principais, deu-se a impressão de algo totalmente fora do contexto. Isso deveria ter sido colocado mais lá trás, de preferência colado ao momento em que Crusher e Wesley foram á ponte (a chegada da nave alienígena poderia ser depois de tudo isso, por exemplo).
Riker lidera um grupo avançado à nave alienígena. Chegando lá, encontram os mesmos túneis vistos no planeta. Troi sente uma enorme raiva contra a cidade velha. Eles encontram Groppler num campo de força implorando para sair de lá. Troi sente um alienígena na sala. Riker e Data atiram com phasers no campo e libertam Groppler. A nave muda de configuração e Picard ordena o transporte imediato do grupo avançado. Nessa hora, Q aparece na ponte, vestido de capitão, dizendo que o tempo terminou e cortando as comunicações do capitão com a sala de transporte. Picard pede (por favor) para Q permitir que ele salve seu grupo e que fará o que ele disser. Q transporta o grupo avançado e Groppler à ponte. Troi diz que, na verdade foi a nave que os transportou, que ela é uma entidade viva e que Q nada tem a ver com isso. Q instiga Picard a atacar a nave, mas ele se recusa, mesmo sob os protestos de Groppler, que teve a sua cidade destruída. Picard percebe o que aconteceu e mandou um feixe de energia para Farpoint. Havia um ser vivo que convertia energia em matéria que chegou ferido à cidade velha e Groppler o aprisionou, fazendo Farpoint ser uma espécie de ilusão. Esse ser vivo (uma espécie de água-viva gigante) era a entidade que sentia medo e dor. E a nave sentia raiva por causa de seu par aprisionado sob a falsa Fairpoint. Picard, assim, liberta a forma de vida sob Farpoint, se unindo à forma de vida que está em órbita. Troi sente alegria e gratidão de ambos os seres.
Picard pergunta a Q por que ele usa criaturas vivas como seus brinquedos e ordena que ele saia da nave. Q diz que vai sair, mas deixa explícito que vai voltar. Picard consegue fazer um acordo com os bandis para reconstruir farpoint e a Enterprise vai embora em dobra, com o tradicional “engage” de Picard. Fim do episódio.
O que podemos falar desse episódio piloto (duplo) de TNG? Em primeiro lugar, ele é dividido em três núcleos principais: o núcleo de Q e da discussão filosófica entre essa entidade praticamente onipotente e Picard sobre a raça humana, núcleo esse que poderia ficar muito pesado se não houvesse a fina ironia de Q (podemos colocar esse núcleo como o mais interessante do episódio e que rendeu outros ótimos episódios ao longo da série); o segundo núcleo era o responsável por apresentar os personagens da série, um núcleo que foi responsável por dar um andamento desigual no roteiro e que ajudou a tornar o episódio um pouco mais enfadonho; e o terceiro núcleo, que abordava os problemas dos bandi com a espécie alienígena que era aprisionada por Groppler. A divisão da história nesses três núcleos tornou a trama muito heterogênea e contribuiu para prejudicar o ritmo do episódio, fazendo a coisa ficar um pouco chata em alguns momentos. Essa apresentação dos personagens talvez fosse melhor se ficasse mais diluída ao longo dos episódios. A querela entre Riker e Troi, por exemplo, merecia ser tratada mais detalhadamente num episódio, assim como a situação entre Picard e Crusher. Talvez uma rápida apresentação dos personagens no episódio piloto não quebrasse tanto o ritmo. O tempo gasto com a apresentação dos personagens poderia ser mais aproveitado nos diálogos entre Q e Picard, por exemplo, pois esse é o núcleo que tinha a reflexão mais pertinente, a ponto do núcleo de Farpoint servir de apoio para o núcleo de Q. Temos que fazer toda uma menção especial a John de Lancie aqui, pois sua atuação como Q foi formidável, onde ele faz troça com o capitão da Enterprise, dando oportunidade para a série rir de si mesma, como víamos na série clássica, que tinha uma grande carga de humor, um humor que não dispensa a reflexão. O mais contundente em Q é a gente constatar que ele tem uma certa razão com os humanos até quando nos referimos a humanidade mais “civilizada” do século 24. A rabugice de Picard é um atalho pavimentado para a arrogância humana ainda estar presente nessa sociedade utópica do futuro. E Q não perdoa qualquer brecha de defeito que o ser humano dê para ele apontar, o que ele aproveita com um sarcasmo para lá de delicioso.
Com relação ao núcleo de Farpoint, a coisa que mais chamava a atenção era a atitude torpe de Groppler em manter uma espécie aprisionada para atender aos seus interesses mesquinhos. Mas esse núcleo realmente funciona mais como uma escada ao núcleo de Q e é a oportunidade de ouro de Picard mostrar ao ser onipotente como a raça humana progrediu ao longo dos séculos.
Olhando de forma retrospectiva, a apresentação de personagens incomodou em alguns pontos. Troi parecia extremamente frágil em sua sensitividade, assim como Picard era extremamente rabugento, uma rabugice talvez deslocada para o século 24. Por incrível que pareça gostei de Riker, o personagem mais provável a cair nos exageros de uma diplomacia de cowboy naqueles primeiros dias. Mesmo que ele ressaltasse sua devoção à preservação da segurança do capitão, a ponto de passar por cima da hierarquia e do protocolo para isso, Riker sempre teve atitudes mais ponderadas do que impetuosas, pedindo autorização do capitão para se manifestar e caindo nas graças de seu superior rapidamente. O mais curioso é que não tive uma boa impressão de Riker quando o vi pela primeira vez lá na já longínqua (sem trocadilhos) década de 80. Confesso que a barba ajudou muito na simpatia do personagem e isso foi um golaço do Roddenberry que falou para Riker manter a barba na volta das férias para a gravação da segunda temporada. Ainda, rolava na época uma história que Riker também passou a ter barba, pois ele era muito parecido com Kirk.
Dessa forma, “Encontro em Farpoint” serviu como o cartão de visitas de TNG e foi uma boa história que sofreu com a ambição excessiva em apresentar pequenos núcleos de muitos personagens de uma vez só, o que atrapalhou o ritmo do episódio e tirou espaço do núcleo principal, que era o de Q e a questão do ser humano ser civilizado ou não. A partir desse conteúdo original, TNG foi sendo trabalhado ao longo dos episódios e temporadas, onde algumas arestas foram aparadas e a série foi se desenvolvendo e melhorando.