Mais um filme de Fritz Lang. “Maldição” foi realizado em 1950, logo após “O Segredo da Porta Fechada” e segue a mesma pegada “Noir” e expressionista. Entretanto, aqui vemos uma história que pega mais para o policial e o suspense não sem usar o drama psicológico, tão caro ao subjetivismo do cinema expressionista. Para podermos falar desse filme, vamos lançar mão de spoilers de setenta anos.
O plot gira em torno do escritor Stephen Byrne (interpretado por Louis Hayward), um homem de pouquíssimo caráter que vai investir sexualmente contra Emily (interpretada por Dorothy Patrick), a serviçal de sua casa, que começa a gritar. Para silenciá-la, Stephen estrangula a moça até matá-la. Pouco depois que acontece o crime, chega o irmão de Stephen, John Byrne (interpretado por Lee Bowman), que descobre todo o ocorrido e, depois de alguma relutância, ajuda o irmão a esconder o corpo. Eles vão colocar o corpo da moça num saco para colocar lenha e vão jogá-lo no rio, amarrado a uma âncora. É claro que a relação entre os irmãos não vai ficar a mesma depois disso. Stephen, em todo o seu mau caratismo, vai conseguir escrever um grande romance sobre assassinato, totalmente baseado no seu crime e terá muitas vendas. Entretanto, a imagem de um peixe pulando no rio na hora em que eles ocultam o corpo irá atormentá-lo. Já John fica num descontrole emocional por ter participado da ocultação do cadáver. Para piorar a situação, o corpo se soltou da âncora, apareceu boiando no rio e o saco tinha o nome de John, já que ele o tinha emprestado ao irmão. O corpo foi descoberto pela polícia e houve um julgamento onde não havia provas para incriminar os irmãos, mas a opinião pública havia escolhido um culpado: John. Entre os dois irmãos estava Marjorie (interpretada por Jane Wyatt, a Amanda de “Jornada Para Babel” da série clássica de Jornada nas Estrelas; isso mesmo, caro leitor, a mãe do Spock fez um filme com o Lang em 1950!!!). esposa de Stephen, mas apaixonada por John, pois o mau caratismo do marido e a displicência com o irmão que era uma pessoa digna e correta, atraiu a moça cada vez mais para o cunhado. Isso desperta uma raiva em Stephen, que vai tomar uma atitude drástica para encobrir ainda mais a sua participação no crime. Mas…
Se fizermos uma comparação desta película com “O Segredo da Porta Fechada”, vemos que “Maldição” trabalha menos a questão do claro/escuro, mas ainda assim, ele está lá, principalmente nas cenas de interiores da casa e nas cenas noturnas do rio, onde a coisa era bem mais fantasmagórica. O psicológico também é bem menos trabalhado em “Maldição” mas ele vai ter um papel crucial no desfecho do filme, sendo as alucinações de Stephen o seu verdadeiro castigo para todo o seu mau caratismo. Esse é um filme onde o suspense policial toma contornos maiores, pois há um assassinato, uma ocultação de cadáver, uma investigação policial e até um julgamento. Mas crio que um dos elementos mais interessantes do filme foi a construção dos personagens dos irmãos, ligados ao crime, mas muito diferentes em caráter, com a personagem de Marjorie transitando entre eles. Os relacionamentos eram notadamente mais intensos e marcantes, o chamou muito a atenção para o talento dos atores principais que correspondeu à exigência dos papéis.
Dessa forma, “Maldição” é mais outro “Noir” expressionista de Fritz Lang que chama muito a atenção. Um filme onde claros/escuros e dramas psicológicos foram menos intensos do que em “O ASegredo da Porta Fechada”, mas que foram compensados pela pegada policial e pelos personagens bem construídos. Vale a pena uma visita.