Mais um filme de Fritz Lang, agora em sua volta à Alemanha, depois de anos nos Estados Unidos. “Sepulcro Indiano” (“Das Indische Grbamal”, 1959) é a continuação de “O Tigre de Bengala” (“Der Tiger Von Eschnapur”), a partir de uma ideia conceciba conjuntamente por Fritz Lang e sua esposa Thea Von Harbou, cuja parceria rendeu, na década de 20, filmes como “Os Nibelungos” e o próprio “Metrópolis”, indo bem na vibe da paixão de Lang pelas chamadas culturas “primitivas” do Oriente. Para podermos falar sobre essa película, vamos liberar spoilers de sessenta e um anos.
Bem, “Sepulcro Indiano” começa dando um pequeno resumo de “O Tigre de Bengala” para contextualizar o espectador. O plot fala de um arquiteto, Harold Berger (interpretado por Paul Hubschmid) que chega à Índia para fazer obras para um marajá local, Chandra (interpretado por Walter Reyer). À caminho do castelo, Berger salva a dançarina Seetha (interpretada por Debra Paget) do ataque de um tigre. Os dois se apaixonam, mas Seetha já está prometida ao marajá. Os dois fogem, sendo perseguidos pelos homens do marajá, Paralelamente, o irmão do marajá pretende tomar seu trono e inicia uma conspiração.
É um filme muito imerso na cultura indiana e que tem tons de uma produção bem cara. Há todo um ritual para a deusa Shiva, onde a sequência em que Seetha dança perante uma serpente, um tanto risível, impressiona, entretanto, por todo o contexto. Uma gigantesca estátua da deusa ornamenta o cenário. E o ritual, assistido pelos sacerdotes, que procura atestar a fidelidade da moça perante o marajá, mas também a toda a cultura local, mostra um verdadeiro conflito de poder entre o marajá e os sacerdotes, onde o primeiro está cego de ódio pela traição, colocando seus interesses particulares sobre os da coletividade. Ao final, quando o marajá se vê diante de um golpe arquitetado pelo seu irmão, mas recupera o poder depois, ele pode testemunhar as atitudes louváveis de Berger e abre mão de seu poder, tornando-se o assistente do ancião e sábio local, que já o havia alertado que a única atitude que o marajá poderia tomar perante o caso de Seetha era a humildade e resignação. No mais, temos um bom filme de ação, onde cenas de luta e perseguição tornam o filme até bem contemporâneo aos olhos das gerações de porrada, bomba e tiro. Lembrando sempre que temos aqui cenários e figurinos simplesmente esplêndidos, que nos dão a boa impressão de uma produção feita com muito cuidado e tato. Fica aqui a curiosidade de ver uma história desse naipe sob a óptica do cinema expressionista alemão, já que foi uma ideia concebida originalmente por Lang e Harbou.
Dessa forma, se a gente não consegue ter uma ideia inicial do que é a obra completa “O Tigre de Bengala/Sepulcro Indiano” (lembremos que estamos inicialmente, nessa mostra de Fritz Lang na Batata Espacial, garimpando todos os filmes de Lang legendados ou dublados em português no Youtube, e não achamos “Tigre de Bengala”), pelo menos a análise de “Sepulcro Indiano” nos dá uma boa impressão dessa produção alemã que segue muito a linha dos filmes de ação, mas com uma roupagem das culturas consideradas “exóticas” pelos europeus, de que Lang tanto gosta e que ele muitas vezes menciona em seus filmes. É de se notar o respeito do diretor por essas culturas ao ver o desfecho do marajá que aceita as palavras serenas e coerentes do ancião local. Vale a pena uma olhada na película na íntegra abaixo, mostrando a versatilidade desse diretor cuja obra permeia boa parte da História do Cinema.