Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas Lower Decks, vamos ao quarto episódio intitulado “Moist Vessel”. Spoilers liberados.
O plot é o seguinte. A Cerritos vai rebocar, junto com a nave Merced, uma antiga nave alienígena com a sua tripulação em estase e com reservatórios de líquidos inorgânicos que conseguem fazer terraformação. Enquanto a capitã Freeman conversa com seus oficiais seniores e com o capitão da Merced, Durango, um telarita, Mariner boceja de forma altamente inconveniente e provocativa, numa piada que não tem a menor graça. Esse teaser inicial tem relação com o resto da história, não sendo uma piada destacada.
A capitã e sua filha discutem no escritório da capitã e Mariner sai com atitudes muito debochadas. Ransom entra e sugere à capitã para colocar a filha fazendo somente atividades que sejam desagradáveis para a própria Mariner pedir para sair da Cerritos.
Os alferes veem suas tarefas e Mariner tem a triste notícia, enquanto que Tendi está toda feliz da vida, pois vai fazer uma espécie de ascensão espiritual. Mas ela destrói sem querer a mandala de areia do guru que fica irritadíssimo com ela. Tendi tenta reparar seu erro mas o sujeito a trata muito mal. Já Mariner começa a fazer suas tarefas mais complicadas e ela arruma uma forma de se divertir com elas, para o desespero da capitã. Mas Freeman tem outra ideia: ela promove a filha a tenente, algo que ela não vai suportar, pois ela vai ter que conviver com todos os oficiais seniores e fazer as mesmas coisas que eles, como reuniões sem sentido, jogar pôquer, fazer treinamento de gestão, etc. (um deboche de quem escreveu o episódio com os fãs mais antigos, habituados a acompanhar a rotina dos oficiais seniores nas séries mais antigas). Boimler, que estava limpando as vidraças da janela (lembrando que as janelas não têm vidro em virtude do campo de força, mas quem escreve os roteiros dessa animação não sabe disso) fica desesperado ao ver que a colega (e rival) tem uma promoção, num comportamento um tanto destrutivo para pessoas que vivem no século 24.
Enquanto isso, Tendi continua a tentar ajudar o guru que a repele constantemente chegar a ascensão. Já Boimler, ao descobrir que Mariner continuou quebrando as regras e, mesmo assim ganhou a promoção, pensa em estratégias para quebrar as regras e também ganhar uma promoção para ele.
O capitão Durango, competindo com Freeman, manda mudar de posição a sua nave com relação à Cerritos (ambas as naves estão rebocando a nave alienígena com o raio trator). E isso acaba causando um acidente, onde toda a matéria inorgânica passa a ser atraída pelo raio trator e provocar terraformação nas duas naves. Nesse momento, Boimler entra na ponte e, propositalmente joga café em Ransom que praticamente o pega pelo pescoço. Mas a terraformação é um problema muito mais urgente. No meio de toda a confusão, Tendi começa a discutir com o guru e diz que não está interessada na ascensão dele, mas sim no fato de que ele não gosta dela, que ela fica muito mal quando alguém não gosta dela. E o tal guru disse que a ascensão era algo falso e que ele fazia isso para conseguir atenção. Como a ascensão não vinha e ocorreu o acidente com a mandala, ele passou a culpar Tendi para se esconder atrás disso. Ela então diz que os dois são idiotas, pois mentiram para que alguém gostasse deles.
Enquanto isso, Freeman e Mariner quebram rochas com outros pedaços de rochas e ficam batendo boca, mostrando que são iguais no comportamento. Elas resolvem o problema da terraformação juntas (Mariner parece levar o crédito, mas ela leu o relatório da missão da mãe). Já Tendi vê o seu amigo finalmente ascender, depois que ele a salva de morrer esmagada por uma rocha.
A Merced está praticamente destruída e Freeman, juntamente com Mariner, teletransportam a tripulação da nave semi-destruída para a nave que está sendo rebocada. As duas se abraçam, mas logo se afastam uma da outra em teimosia mútua.
Depois de toda a crise contornada, as duas vão receber os cumprimentos de um almirante. Freeman diz que gostou de trabalhar com a filha, e Mariner diz que também gostou de trabalhar com a mãe. A capitã vislumbrou a possibilidade das duas trabalharem juntas, mas Mariner não gostou muito da ideia. Tanto que debochou da forma como o almirante falava a palavra “sensor” e voltou a bocejar, para ser rebaixada de propósito e não trabalhar com a mãe. Já Tendi, apesar de perceber que a vida é muito curta para dar importância ao que as pessoas pensam dela, continua preocupada com isso. O episódio termina com Mariner e Boimler conversando, com ela dizendo que “se rebaixou”, para desespero de Boimler que nunca consegue o que Mariner consegue. A moça lhe dá então um cartão que dá acesso aos replicadores de comida dos oficiais seniores. Fim do episódio.
O que podemos falar do episódio “Moist Vessel”? Em primeiro lugar, foi um episódio que seguiu um pouco a linha do anterior, ou seja, o conflito entre Mariner e os oficiais seniores. Aqui vimos até algo que era esperado, ou seja, como a moça se relaciona com a sua mãe, que é a capitã da nave. Mas, ainda assim, a coisa é muito tensa, pois a alferes não quer de jeito nenhum ficar entre os oficiais seniores e, principalmente, sua mãe, voltando sempre para os lower decks. Aliás, tem sido um pouco irritante ver como os oficiais seniores são vistos como idiotas na série. Tudo aquilo que víamos nas séries antigas, como o jogo de pôquer e as reuniões, é sumariamente ridicularizado aqui, como se houvesse uma espécie de desrespeito com os fãs mais antigos. Tudo bem que temos uma animação de humor, mas esse humor tem estado em baixa nos últimos episódios, dando lugar a uma tensão entre os tripulantes dos lower decks e os oficiais seniores e, quando o humor aparece, parece que ele faz uma chacota com os fãs mais antigos, algo que está aborrecendo, e muito.
Algo que está ficando recorrente nos episódios é o fato de que sempre a Cerritos encara uma tragédia de grandes proporções, bem ao estilo de “qual é o desastre da semana”. Isso parece refletir um pouco a falta de criatividade de quem está escrevendo esses episódios. Não seria possível uma trama envolvente sem uma catástrofe repetitiva?
Pelo menos, esse episódio teve uma coisa boa, que foi a História B. Estou começando a achar que a Tendi é o que Lower Decks tem de melhor. Sua insegurança e preocupação com o que os outros pensam dela não chega a ser algo agressivo (embora ela dê uma chave de braço em Rutherford no final do episódio) e muitas pessoas devem se identificar com ela por causa disso. Mesmo com essa insegurança, Tendi está sempre preparada para encarar experiências novas para se engrandecer como indivíduo. Confesso que Tendi é a personagem que mais me agrada, enquanto que Boimler e, principalmente, Rutherford, ainda não disseram ao que veio. E já estamos quase na metade da temporada.
Assim, “Most Vessel” é um episódio que repete as tensões entre personagens do último e que não trabalha o humor como esperado, sendo que, quando o faz, parece ser para fazer piadas de mau gosto com os fãs mais antigos de uma forma agressiva. Está parecendo que Mariner vai ser outra personagem mala sem alça da era Kurtzman. Mas, pelo menos, tem a Tendi, com sua simpática insegurança e hiperatividade. Abençoada seja Órion!