O sexto episódio de Jornada nas Estrelas Lower Decks, “Terminal Provocations”, me surpreendeu, pois, pela primeira vez, senti um clima bem mais leve entre Mariner e Boimler. E, confesso que até ri mais aqui. Para podermos falar um pouco sobre esse episódio, vamos liberar os spoilers.
O episódio começa novamente com um teaser onde os alferes ficam imitando o som que as naves fazem quando estão em dobra, até que Boimler é rendido por Ransom, que acha aquilo tudo estranho. Ou seja, voltamos a ter uma piada destacada do resto do episódio.
A Cerritos está num impasse diplomático com uma espécie alienígena que quer pegar lixo de naves da Frota Estelar. A capitã Freeman não pode levar a coisa para a guerra e o capitão da nave alienígena está bem intolerante. As duas naves disputam um pedaço de lixo espacial com seus raios tratores. Enquanto isso, no refeitório, Mariner esbarra sem querer na doutora, uma oficial sênior, que começa a maltratá-la. Fletcher, um tripulante, coloca panos quentes na situação. Boimler diz que Fletcher o ajudava a sair de situações complicadas na Academia da Frota Estelar e, parece que Fletcher vai ser um grande amigo do peito dos dois. Já Rutherford e Tendi discutem sobre a possibilidade deles fazerem uma caminhada espacial depois do impasse com a nave alienígena para catalogar todo o lixo espacial. Tendi diz que não fez treinamento de caminhada espacial na Academia e Rutherford lhe oferece a possibilidade de fazer um treinamento de caminhada espacial com seu programa de holodeck para impressionar a moça. Por sua vez, Mariner, Boimler e Fletcher estão com uma carga de trabalho muito pesada e nossos dois protagonistas lamentam não poder participar de uma festa na nave para isso. Fletcher, mostrando ser um cara legal, fala para eles irem à festa enquanto ele faz o trabalho dos três.
No holodeck, Rutherford e Tendi iniciam o programa e uma espécie de avatar de símbolo delta aparece para ensinar o tutorial do treinamento. Seu nome é Badgey. A simulação começa e os dois estão no espaço, fazendo uma caminhada, Rutherford pede a Badgey que ele insira o lixo espacial na simulação, mas o avatar trava. Depois de alguns chutes que Rutherford dá em Badgey, o lixo aparece, mas há realmente algo de errado com o avatar.
Boimler e Mariner retornam da festa e encontram Fletcher desacordado. Ele disse que foi atacado com um phaser. Um núcleo que tem ligação com os escudos da nave desapareceu. Boimler e Mariner desconfiam de um ataque de um grupo de alferes intitulado delta shift, mas esses dizem que nada fizeram e, inclusive, estavam na tal festa de Boimler e Mariner. Enquanto os dois grupos discutiam, Fletcher mostrou um descontrole total e quase partiu para a agressão.
A nave alienígena começa a usar o raio trator para jogar lixo espacial na Cerritos e os escudos não aguentam ao ataque de forma satisfatória. No holodeck, a simulação começa a falhar e Badgey começa a ficar agressivo. Os protocolos de segurança estão desativados e Rutherford não consegue ativá-los, o que torna Badgey perigoso. Rutherford troca para a simulação de um mercado bajoriano e os dois alferes continuam a ser perseguidos por Badgey.
O núcleo estava na cama de Fletcher. Boimler e Mariner percebem que Fletcher é um grande mentiroso e ele diz o que aconteceu. Ele plugou o núcleo na própria cabeça para ficar mais esperto e fazer o trabalho mais rápido, mas ele estragou o núcleo. Boimler atenta para o perigo de Fletcher falar mentiras e Fletcher chora. Mariner e Boimler vão tentar ajudá-lo (afinal, eles são a starfleet!). mas o núcleo adquire vida e começa a atacá-los. O núcleo quer aumentar a sua inteligência e começa a tentar assimilar todo o tipo de aparelho. E captura Boimler e Mariner. Eles pedem para Fletcher comunicar tudo a capitã, mas este tem medo de perder seu emprego. Fletcher cobra ajuda de Mariner e a chantageia dizendo vai espalhar que tudo foi culpa dela caso ela não o ajude. Mariner diz que isso não é ser starfleet. Fletcher retruca dizendo que Mariner quebra as regras o tempo todo e Mariner finalmente diz por que desrespeita as regras. Ela diz que desrespeita as regras que ela considera idiotas e que a impedem de fazer seu trabalho.
Rutherford e Tendi sobem uma enorme escadaria e percebem que Badgey cansa. Rutherford muda novamente a simulação para um lugar com muita neve e gelo para ver se Badgey congela também.
Fletcher continua sugerindo mentiras para se livrar do problema que criou. Mariner e Boimler se cansam disso e amarram Fletcher. Mariner diz que não gosta de Fletcher, mas que está gostando de trabalhar em equipe com Boimler. Eles tentam enviar o núcleo para um teletransporte, mas não conseguem. E expelem o núcleo pela comporta de ar que, caprichosamente gruda na nave alienígena e a desabilita.
Rutherford e Tendi andam na neve. O primeiro percebe que Badgey está exausto e ainda tenta falar com ele, mas o avatar continua a fazer ameaças de morte. Os dois começam uma luta muito violenta, enquanto a simulação vai falhando. A luta termina com Rutherford “quebrando o pescoço” de Badgey. A energia da nave é restaurada e o avatar é reiniciado, de forma fofinha novamente. Rutherford e Tendi desconversam e saem do holodeck.
Mariner solta Fletcher e ele continua ameaçando os dois, num sentimento de autopreservação. Quando Ransom pede explicações sobre o que aconteceu, Mariner conta uma mentira descarada de que Fletcher salvou o dia, o que lhe rendeu uma promoção e uma transferência para a Titan. Ela justificou a mentira dizendo que há de se manter os amigos por perto e os inimigos em outro lugar. Boimler achou que talvez a transferência fizesse bem a Fletcher, com novos deveres e responsabilidades, mas seis dias depois, Fletcher foi expulso da Titan. Ele pede ajuda aos dois mas, fingindo estática, desligam a comunicação. Fim do episódio.
O que podemos falar do episódio “Terminal Provocations”? Em primeiro lugar, como eu disse acima, foi um episódio onde finamente vimos um bom entendimento entre Boimler e Mariner. Isso pode parecer pouco para a gente dizer que foi um bom episódio? Para alguns, talvez sim. Mas devo confessar que a arrogância de Mariner e Boimler ser tratado como um saco de pancadas idiota era algo que estava incomodando tanto, mas tanto, que ver os dois se darem bem já foi grande coisa na minha modesta opinião. Até por que os dois tiveram um antagonista em comum, que foi Fletcher, um mentiroso de marca maior que pensava somente em si (não sendo um “starfleet”) e ainda ameaçava os outros com suas mentiras. Ou seja, era vital para Boimler e Mariner darem um jeito em Fletcher, pois ele era muito mais prejudicial do que as briguinhas dos dois. E o ato deles se unirem para consertarem os problemas que Fletcher provocava, além de darem um jeito de se livrarem dele foi a grande coisa do episódio. Alguns reclamaram que foi inventada toda uma mentira no final do filme para salvar a pele de Fletcher, mas eu vejo essa grande mentira do final do episódio como um artifício para se livrar do alferes. Boimler e Mariner, no transcorrer do episódio, falaram a Fletcher que ele devia dizer toda a verdade à capitã, mas o senso de autopreservação dele o impedia. Assim, a mentira inventada por eles salvando a pele de Fletcher foi, mais do que nunca, uma estratégia para se livrar dele, no melhor espírito “a mentira tem perna curta” e, cedo ou tarde, Fletcher ia se queimar sozinho, o que realmente aconteceu.
Já a história de Rutherford e Tendi teve contornos de filme de terror dessa vez, com um avatar psicótico em virtude de um bug. A coisa foi realmente violenta e a luta final entre Rutherford e o avatar meio que estourou as escalas. Quando Rutherford quebra o pescoço do avatar ficou impossível não se lembrar do filme “O Homem de Aço”, onde o Superman quebra o pescoço do General Zod aos gritos de lamento, como Rutherford fez com seu “filho” avatar, só para tornar a coisa mais psicótica. Foi realmente pesado e incomodou mais que as mentiras da História A, a meu ver.
E a História C? Há um pouco de exagero aqui com a diplomacia de Jornada nas Estrelas. A era Kurtzman, nas suas tentativas tresloucadas de ridicularizar o que o fandom mais antigo gosta, dá a falsa impressão de que, em nome da diplomacia, a Frota Estelar jamais ataca seus inimigos, por mais belicosos que eles fossem. E sabemos que isso não é verdade. Para que serviriam os bancos phasers e torpedos fotônicos das naves então? Mas isso é conversa para quem viu os mais de setecentos episódios dos cinquenta e quatro anos de série, não para os roteiristas e showrunners atuais.
Dessa forma, apesar dos problemas que semprem aparecem, atrevo-me a dizer que esse foi o melhor episódio de Jornada nas Estrelas Lower Decks que vi até agora. Ainda acho que a série vai trilhar um bom caminho se trabalhar o relacionamento dos personagens protagonistas, sobretudo os pares Boimler-Mariner e Rutherford-Tendi. É só continuar nesse feijão com arroz básico.