Dentro de nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas Lower Decks, chegamos ao nono episódio intitulado Crisis Point. Lembrando que os spoilers estão liberados.
Qual é o plot? Mariner está num planeta onde uma espécie roedora tem o hábito de devorar uma espécie reptilóide (elas foram vistas em TNG). A alferes consegue acabar com essa prática, mas a capitã Freeman diz que ela está violando a Primeira Diretriz e que precisa mudar os hábitos fazendo terapia. Mariner volta a ser extremamente agressiva e desrespeitosa, mostrando que precisa mesmo de terapia. Quando está com o terapeuta, Mariner é agressiva em contrapartida ao terapeuta, que é bem calmo para lidar com a situação. Enquanto isso, Boimler fará uma entrevista com a capitã para conseguir ir a um workshop de diplomacia avançada. Ele está treinando o que irá dizer na entrevista e fez um programa de holodeck para interagir com ela e a tripulação da nave. Mariner tem uma ideia e faz alterações no programa para ele virar uma espécie de filme cheio de referências aos longas da série clássica e a “Generations”, com o objetivo de, ela mesma, fazer a sua “terapia”. O filme trata de uma nave impostora que fez o segundo contato com uma espécie alienígena e a Cerritos precisa investigar. Quando a tripulação sênior, juntamente com Boimler estão na nave auxiliar para se acoplar à Cerritos, temos a paródia de Kirk e Scott chegando à Enterprise em “The Motion Picture”, com todos emocionados vendo a Cerritos (o chefe de engenharia Billups inclusive chora, numa zoação com os fãs que gostam muito dessa cena; sei que a série é para rir e iconoclasta, mas…). Ao chegarem ao planeta do falso segundo contato, aparece uma espécie de ave de rapina klingon liderada por Vindicta, uma personagem criada por Mariner para se vingar da capitã Freeman. Tendi e Rutherford fazem parte da tripulação também interpretando personagens malignos. Mas, na verdade a Cerritos vê uma gravação enquanto Vindicta invade a Cerritos com Tendi e Rutherford, desintegrando todos os tripulantes que vê pela frente. No meio do tiroteio, Boimler busca mais informações sobre a capitã Freeman para sua entrevista e sabe que ela gosta de biscoitos, mas ela é alérgica a um sabor. Só que Boimler não consegue saber, pois Ransom morre antes de dizer a ele. Rutherford, por sua vez, vai atrás de seu chefe, o engenheiro Billups e, ao invés de matá-lo, o elogia e o ajuda a estabilizar a Engenharia. Os dois ficam amigos.
Tendi se cansa da violência explícita de Mariner e abandona a simulação. Vindicta invade a ponte e diz a capitã que quer que ela a pare de tratar como a pessoa má o tempo todo. A capitã diz que Vindicta é a pessoa má e não a conhece. Vindicta explode sua nave e a explosão atinge a Cerritos, que cai na superfície do planeta da mesma forma que a Enterprise em “Generations”. Rutherford conseguiu transportar boa parte da tripulação, pois num filme isso é possível. Já Freeman e Vindicta lutam dentro da ponte destruída. Quando Vindicta domina Freeman e vai matá-la, Mariner aparece e transporta a mãe. Mariner e Vindicta lutam e a primeira é lançada de uma grande altura. Na superfície do planeta, Boimler tenta dar biscoitos de chocolate para Freeman, mas ela é alérgica. Um tripulante rende Boimler. Quando Vindicta vai matar Mariner, esta diz que não odeia a nave, que está com seus amigos nela e que gosta de sua mãe, pois ela a está protegendo mantendo-a na Cerritos para não estar acabada na Frota Estelar. E reconhece que é um pé no saco. Vindicta diz que a única pessoa em que Mariner pensa é nela própria. Mas Mariner distraiu Vindicta para dar tempo de todos fugirem do disco da Cerritos e ela acionar a autodestruição. O disco explode com as duas dentro. Boimler, jogado de um penhasco, vê o programa ser encerrado e cair a uma pequena altura do chão do holodeck. Vindicta, na verdade a Mariner real, ficou espantada de receber um chute na bunda de si mesma e concluiu que a terapia que criou para si própria funcionou.
No bar, Rutherford quer falar com o Billups real, mas não consegue, por achá-lo forte como uma pedra. Mas vemos que Billups é bem frágil emocionalmente. Mariner pede desculpas a Tendi por tudo o que aconteceu no holodeck. Tendi aceita as desculpas e as duas mais Rutherford vão rindo assistir ao núcleo de dobra, passando por Freeman. Mariner aproveita a ocasião para pedir desculpas à mãe. Esta, ressabiada, vai à terapia e acha que a filha está tramando algo, exigindo informações do terapeuta que, pela ética da profissão, não pode revelar nada, o que deixa Freeman furiosa.
Boimler volta ao programa um pouco antes de sua entrevista real com a capitã para descobrir mais alguma coisa dela e vê a capitã lamentando a morte da filha no disco e diz que não queria que as pessoas soubessem que Mariner era a sua filha, querendo levá-las até a corte marcial se soubessem disso. Boimler fica apavorado com a informação. A entrevista é um fracasso total e Boimler sai correndo dela, apavorado. Freeman diz no padd que Boimler não se preparou para a entrevista. Na superfície do planeta, Vindicta aparece de um torpedo fotônico, tal como a urna funerária de Spock, falando “vingança”, mas é desintegrada por um Leonardo da Vinci holográfico. As assinaturas dos Lower Decks aparecem tal como no final de “A Terra Desconhecida”. Fim do episódio.
O que podemos falar do episódio “Crisis Point”? Em primeiro lugar, tivemos mais um bom episódio que parece que redimiu Mariner. Se ela foi extremamente insuportável no início da série, depois a personagem deixou de ser muito agressiva em quatro episódios seguidos, para voltar a ser extremamente agressiva nesse episódio, pois foi obrigada a fazer a terapia. Mas Mariner vai purgar seus próprios demônios depois de reconfigurar um programa de holodeck de Boimler, que mais uma vez foi tratado como alívio cômico e saco de pancadas nesse episódio. Ao fazer o papel de Vindicta, ela colocou toda a sua violência para fora, num episódio que ficou extremamente violento, e só não foi de mau gosto por causa da desculpa da simulação no holodeck. Essa simulação ficou com cara de longas da série clássica e de TNG, sendo que fez um pouco de chacota com os fãs mais antigos, sobretudo nas lágrimas vertidas por Billups ao ver a Cerritos. De qualquer forma, não podemos esquecer que a animação faz as coisas em tom de brincadeira. O problema é que não é a primeira vez que o fandom mais antigo foi zoado nessa animação. Mas o pulo do gato no episódio é que Mariner não reescreveu o programa todo e o computador preencheu lacunas, dando oportunidade para surgir uma Mariner que era o seu lado bom, gostando da mãe, seus amigos e da nave, sendo que as duas lutaram trocando socos, mas também diálogos, o que acabou sendo a terapia da Mariner real, travestida de Vindicta. Importante também foi ver Tendi abrir mão de continuar na simulação de Mariner quando a viu purgando aquela violência toda e advertindo a amiga que aquela Vindicta não era a Mariner real. Essa atitude de Tendi também serviu como parte da terapia de Mariner, sendo que depois esta até pediu desculpas à mocinha verde que, na minha modesta opinião, é a melhor personagem de Lower Decks. Ver Mariner abraçada com Tendi e Rutherford no fim do episódio foi a coisa mais bacana e até um certo alívio. Só lamento do fim de Boimler, completamente desesperado na entrevista e metendo os pés pelas mãos. Além de ter seu programa surrupiado por Mariner, o que também não pegou muito bem, ele ainda foi mal na entrevista. Que tivesse, pelo menos sido bem sucedido. É chato ver ele se dando mal praticamente a série inteira.
Dessa forma, “Crisis Point” é um bom episódio de “Lower Decks’, pois parece que aqui a personagem Mariner foi redimida, mas ainda há o problema de Boimler ser tratado de forma ridícula, como vimos na maioria dos episódios. Ainda, o tom de zoação com os fãs mais antigos fica parecendo sempre uma piadinha forçada de mau gosto. Falta somente um episódio para o desfecho da temporada. Vamos ver o que vem por aí.