E finalmente chegamos ao décimo e último episódio da primeira temporada de Lower Decks, “No Small Parts”. Esse foi um episódio que deu um desfecho interessante à série, embora tenha repetido alguns vícios do que vimos nos episódios anteriores. E apresentou, também, um easter egg gigante, com algum grau de ineditismo. Lembrando que os spoilers estão liberados.
Qual é o plot? A Cerritos está em Beta III, planeta onde Kirk havia desmascarado Landru, que era um computador, mas as pessoas voltaram a adorar o mesmo. Freeman tenta convencer as pessoas e parece que consegue. Ela volta a ponte com Ransom, mas recebe o comunicado de que ainda há tripulantes na superfície do planeta. São Mariner e Boimler, que estão quebrando o protocolo e distribuindo material de pintura e desenho para as crianças, para dissuadi-las de obedecer a Landru. Eles tentam se comunicar com os dois, mas os alferes não percebem que o comunicador ligou. Nisso, Boimler diz que descobriu o segredo de Mariner, que ela é filha de Freeman, deixando-a furiosa. O pior é que toda a ponte está escutando a conversa e também descobre esse fato, para desespero de Freeman. Os dois são transportados para a ponte e descobrem que o segredo de Mariner foi revelado a todos.
A Solvang, nave que tem a antiga tripulação da Rubidoux, é atacada por uma gigantesca nave, formada pelos pedaços de outras naves. Uma garra mecânica se prende na nacele da Solvang e a capitã manda a nave entrar em dobra, o que provoca a explosão da mesma e a morte de toda a tripulação, algo bem pesado, diga-se de passagem.
Na Cerritos, Tendi está muito alegre, pois vai ser a orientadora de um novo recruta, um robô exocomp. Mariner e Freeman discutem sobre o segredo que as duas mantinham da tripulação. Ransom entra no escritório da capitã e já começa a tratar Mariner de forma diferenciada por ela ser a filha da capitã, o que irrita as duas. Mariner sai da sala e anda pela nave, com todos agora querendo bajulá-la. Até Boimler pede que ela assine uma carta de recomendação para uma transferência para outra nave. Mariner pega essa ideia e decide se tornar uma tripulante exemplar para ela mesma conseguir a transferência para a nave e voltar a ser um “ninguém”. Os dois disputam a promoção e se estranham, com Mariner lembrando que foi Boimler quem espalhou a informação de que Mariner é a filha da capitã, quando Boimler a acusou de nepotismo. Aí eu me pergunto? Haveria nepotismo no século 24? Até que ponto o século 24 tem cara de século 21?
Na ponte, é detectado um pedido de socorro da Solvang. Freeman ordena que a nave se dirija para onde está a Solvang
Tendi acha que a exocomp não conseguirá se adequar à nave, mas ela consegue trabalhar muito bem na enfermaria.
A Cerritos chega onde a Solvang estava e é atacada pela mesma nave que destruiu a Solvang. Um raio trator e duas garras prendem a Cerritos e Freeman ordena que se desligue todos os motores, contrariando a ordem de Ransom para entrar em dobra. Freeman conseguiu perceber a tempo o que tinha acontecido com a Solvang. Uma das naceles da Cerritos é arrancada. A nave é aprisionada novamente para ser fatiada em pedaços e anexada à nave alienígena. Boimler e Mariner correm para a ponte e Freeman exige da filha uma solução fora dos protocolos da Federação, como Mariner sabe fazer bem. Mariner então ordena Rutherford a inserir um vírus no sistema da nave alienígena. Só que Rutherford entra no holodeck e pede esse vírus a Badgey, o avatar que tentou matá-lo há alguns episódios. Badgey diz que só pode fazer isso se os protocolos de segurança forem desabilitados. Rutherford desabilita esses protocolos e Badgey diz que os vírus somente podem ser instalados na nave com alguém indo lá.
Os alienígenas invadem a nave e Mariner abre compartimentos cheios de armamentos contrabandeados. Na luta com os alienígenas, Boimler diz que não quer que ela vá embora da nave, pois ela é sua amiga e ele gosta dela, o que faz Mariner ter um leve sorriso maroto. Freeman é atingida e levada para a enfermaria. Rutherford aparece e diz que tem um vírus e que ele precisa ser levado para a nave alienígena. A exocomp seria a alternativa perfeita, mas a robô não quer fazer isso, dizendo que não transfere vírus e que estava na Frota Estelar somente para contrariar o pai. Ela se transporta para o espaço, deixando todo mundo na mão. Rutherford e o chefe de segurança Shaxs vão então para a nave alienígena numa nave auxiliar. Rutherford tenta baixar o vírus, mas quando faltava pouco, aparece Badgey no sistema dizendo que o vírus somente será totalmente baixado quando os alienígenas matarem Rutherford, pois Rutherford lhe quebrou o pescoço no outro episódio. Shaxs arranca o implante de Rutherford, pois Badgey o colocou para explodir, e atira o alferes na nave auxiliar, salvando-o da explosão. O chefe de segurança morre junto com os alienígenas com os quais lutava. A Cerritos está prestes a fugir quando três naves alienígenas aparecem e capturam novamente a nave. Mas, eis que surge a Titan, comandada por Riker e Troi, atacando as três naves alienígenas e colocando-as para correr.
Na doca espacial, Tendi fica com seu amigo Rutherford na enfermaria. O alferes recobra a consciência, mas não se lembra de nada, pois teve seu implante arrancado. Tendi, sempre otimista, diz que eles podem voltar a ser melhores amigos de novo. Enquanto isso, o funeral de Shaxs é feito. Depois disso, Mariner e Freeman fazem um acordo onde a capitã seguirá os protocolos da Federação e a filha realizará tudo referente à queda de protocolo. Elas concluíram que a destruição da Sovang, que a volta da idolatria à Landru e a ameaça da espécie alienígena que monta naves com pedaços de outras são tudo consequência de atitudes mais lentas da Federação e, por isso, fazem esse acordo.
O episódio termina com Mariner revoltada da vida, pois Riker requisitou a transferência de Boimler para a Titan, deixando-a sozinha na Cerritos.
O que podemos dizer do episódio final “No Small Parts”? Em primeiro lugar, foi um bom desfecho para a série, com Boimler finalmente se dando bem, pois ele foi para a Titan com Riker e Troi, os dois grandes easter eggs do episódio. Esse episódio também ficará marcado como o único em que vimos Riker como capitão da Titan. Ponto para Lower Decks como cânon, algo um tanto controverso. Outro ponto digno de destaque é a revelação a toda a nave e sem querer, por parte de Boimler, de que Mariner é filha de Freeman. Essa descoberta mais a situação em que as duas tiveram que lutar juntas contra uma grande ameaça à Cerritos levaram mãe e filha a finalmente trabalharem em equipe, algo que as duas muito rechaçavam. Enquanto a mãe seguirá todos os protocolos da Federação, a filha terá carta branca da capitã para desrespeitá-los quando necessário, abrindo a porta para uma resolução mais fácil de problemas. Embora a coisa do desrespeito aos protocolos da Federação incomode e soe como uma crítica ao Universo de Jornada nas Estrelas, essa foi a forma que mãe e filha encontraram para superar suas diferenças e trabalharem juntas.
Algumas coisas incomodaram no episódio. Em primeiro lugar, o nepotismo do século 24, onde nos perguntamos se tal defeito humano ainda existirá no futuro. Não querendo ser repetitivo, mas já sendo, se há algo que incomoda nas produções da Era Kurtzman é o século 24 com cara de século 21. E Lower Decks mostrou isso novamente, não somente no caso do nepotismo em si como dos oficiais seniores arrogantes por toda a temporada, lembrando sempre que a animação é iconoclasta e de humor. Mas que incomoda, isso incomoda. A violência do episódio foi muito marcante, pois toda a antiga tripulação da Rubidoux foi morta, assim como o chefe de segurança Shaxs. É a Era Kurtzman novamente fazendo suas vítimas. Sempre alguém tem que morrer. Ainda, Mariner se aproxima da mãe e é mais tratável no episódio. Mas ainda há algumas reações da moça, arrogantes e malcriadas, de antes de sua terapia. Não seria uma boa que isso continuasse assim de forma tão explícita.
De qualquer forma, fica uma expectativa para a segunda temporada: como ficará o reencontro de Boimler e Mariner, agora que o primeiro está na Titan? Mais participações de Jonathan Frakes e Marina Sirtis? Esperemos que sim. Uma coisa é certa: dentre as séries novas de Jornada nas Estrelas, Lower Decks foi a que acertou mais a mão, da sua segunda metade para a frente. Esperemos que ela mantenha a sua pegada na segunda temporada e até a melhore.