O nono episódio de Jornada nas Estrelas Discovery, Terra Firme, será dividido em duas partes e traz de volta à série uma fórmula que vimos na primeira temporada, que é o Universo Espelho. Confesso que gostei daquela sequência de episódios referentes ao Universo Espelho na primeira temporada e vejo com bons olhos que ela tenha retornado agora, pois traz alguma coisa de diferente para essa terceira temporada, que teve episódios muito repetitivos. Pode-se até dizer que a coisa destoou muito da história principal, que é a Combustão e suas causas. Mas a situação de Georgiou tinha que ser elucidada e isso começou a ser feito nesse episódio. Para podermos fazer uma análise mais aprofundada, precisaremos dos spoilers de sempre. O episódio foi escrito por Bo Yeon Kim, Erika Lippoldt e Alan McElroy.
O episódio começa com Culber conversando com Kovich (o personagem de David Cronenberg) sobre a doença de Georgiou. Kovich fala de um tenente-comandante de nome Yor, falecido, pois era um soldado do tempo da época da Guerra Temporal. Ele morreu pois fez muitas viagens no tempo, o que deteriorou suas moléculas, que estão acostumadas a viver em sua época original. O mesmo acontece com Georgiou, que ainda tem o agravante de ser de outro Universo. Culber pede uma solução para o problema de Georgiou ao computador, que diz que há uma. Enquanto isso, Georgiou procura pegar uma taça de vinho, mas sua mão se “esfarela” ao se aproximar da taça. Tilly se aproxima para falar com Georgiou e ela começa a disparar aquelas falas insuportáveis que vimos nos últimos episódios. Tilly oferece ajuda a Georgiou em virtude dos problemas que ela passa com sua mão. Georgiou então diz que sua mão está bem e atira um prato de comida na roupa de Tilly que fica toda suja (obviamente, ela não será presa, pois em Discovery, violar a hierarquia militar não significa nada e você pode jogar um prato de comida em sua Primeira Oficial numa boa). Burnham intervém para dizer que Culber quer conversar com Georgiou. O Doutor diz que a cura, segundo a esfera, está num determinado planeta. Seria mais uma vez os dados da esfera ajudando a tripulação da Discovery. Saru se opõe a levar Georgiou ao planeta, pois a Corrente Esmeralda faz exercícios militares próximos a alguns planetas. Mas Vence decide que a Discovery está autorizada a ir. Vence ainda pergunta se Michael está disposta a deixar Georgiou ir, já que as chances de vida dela são mínimas e, na segunda temporada, ela colocou muito em jogo ao não querer deixar Airiam morrer. Burnham diz que não vai repetir esse erro de novo. Todos são dispensados e Vence conversa com Saru em particular, dizendo que quando um tripulante se afoga, você não deve deixar que isso aconteça, pois sua tripulação não o verá mais do mesmo jeito, assim como você próprio não se olhará mais do mesmo jeito. Saru agradece o conselho.
Georgiou, estressada como ela só, não gosta da ideia de ir a um planeta e está na academia da Discovery dando uns soquinhos. Burnham vai falar com ela, mas Philippa está mais estressada que o normal, e tenta dar umas porradas em Burnham, que se esquiva dos ataques. E diz a Georgiou que essa atitude de querer dar umas porradas é a saída do covarde. Burnham diz que não machucaria Georgiou, que dá um tapão na cara de Burnham. Philippa diz que a Burnham do Universo Espelho a teria matado de uma forma honrosa. E Burnham diz que isso não vai acontecer nesse Universo. Georgiou diz que Burnham não é muito diferente da Burnham do Universo Espelho. As duas têm a mesma necessidade de curvar as pessoas à sua vontade. A única diferença é que Burnham mente sobre isso para si mesma. No final das contas, Georgiou aceita ir, dizendo para o “Anjo Michael” a levá-la para a sua morte. Burnham bota no pulso de Georgiou uma espécie de monitor que lê suas funções vitais, não podendo ficar no vermelho, ou a vida de Georgiou ficará por um fio.
Ao chegarem ao planeta, Georgiou e Burnham, antes de descer à superfície, recebem a visita de Saru e Tilly, que se despedem amistosamente de Georgiou. Tilly, pasmem, chega a abraçar Georgiou. E isso depois de Georgiou humilhar sistematicamente os dois por episódios e episódios. Sei que tanto Saru quanto Tilly tomaram a atitude certa de não demonstrar rancor com Georgiou, mas a coisa não precisava ser tão humilhante. As duas chegam à superfície do planeta, muito gelado. Burnham abre sua holografia e vê a direção em que precisam ir.
Na Engenharia, Adira tem problemas para fazer o algoritmo e Stamets acha os problemas que impedem a realização do algoritmo e acha que a moça (ou eles, sei lá) está esgotada mentalmente de tanto trabalhar. Stamets ainda acha que Adira sente falta do namoradinho do cabelo azul. Ela diz que não e Stamets acha que o namoradinho está dando um tempo para Adira poder interagir mais com as pessoas. Mas ela não concorda com esse procedimento. O algoritmo termina de funcionar e Stamets percebe que há algo de novo ali sobre a Combustão. Ele pede que Adira chame Saru.
Book vai falar com Saru e diz que quer ajudar, que tem informações sobre a Corrente Esmeralda. Saru, desdenhando de uma informação que pode ser valiosa, diz que tudo deve ser feito ao seu tempo. Ou seja, uma pequena fala para o personagem de Book aparecer no episódio que, a princípio, ficou muito solta. Espero que na segunda parte do episódio essa participação do Book tenha alguma razão de ser.
No planeta, Burnham e Georgiou chegam onde a holografia indicou e encontram um velhinho sentado num banco lendo um jornal e uma porta. A manchete do jornal fala que Georgiou tem uma morte dolorosa. O velhinho, cheio das metáforas, diz que Georgiou deve atravessar a porta, que é uma espécie de portal (eu particularmente gostei dessa parte meio doida do episódio, pois as duas, bem dentro do espírito imediatista millenium, queriam respostas rápidas para resolver o problema de Philippa, mas o velhinho meio que usou e abusou das metáforas, deixando as duas um tanto confusas). Georgiou decide atravessar o portal, pois vê aí a chance que o computador apontou. Burnham não quer que ela atravesse e Georgiou fala para Michael saber quando tem que calar a boca. E atravessa o portal.
Na Discovery, Saru vê os dados que Stamets e Adira conseguiram, que é uma mensagem de uma kelpiana que diz que a Dra. Issa da nave Khi’eth, dizendo que está presa e, seis meses antes, uma outra nave estava a caminho para resgate. A mensagem, segundo Stamets, tem mais de cem anos, de alguns anos antes da Combustão. Tilly diz que eles estavam investigando uma região de dilítio dentro da nebulosa de Verudin. A nave Khi’eth ainda transmite o sinal de socorro. Saru pede que investiguem sinais do interior da nave.
Ao atravessar o portal, Georgiou está de volta ao Universo Espelho e é recepcionada por Killy, a versão maligna de Tilly. Conversando um pouquinho com Killy, Georgiou percebe que está no dia em que Lorca a traiu. E a Burnham do Universo Espelho também está de conluio com Lorca para matar Georgiou. As duas irão se encontrar e Georgiou, até porque passou tanto tempo em outro Universo, estranha as maldades de Burnham e a forma como os kelpianos são tratados. Georgiou consegue levar o Saru para seus aposentos e pergunta sobre um amigo dele, que está passando o vahar’ai, quando os kelpianos perdem os gânglios de medo e podem até ficar agressivos. Eles são mortos antes disso, sob a alegação de que ficarão loucos. Ela pergunta a Saru porque Michael a trai e ele diz que tanto Lorca quanto Michael temem que Georgiou tenha mudado e que tenha ficado fraca. Georgiou incumbe Saru de ser os olhos e ouvidos dela. Saru coloca o manto e a coroa em Georgiou e esta fica parecendo mais a Virgem Maria do que uma Imperatriz do Mal.
Numa cerimônia de homenagem à Imperatriz e à fundação da nave Charon, Georgiou discursa e Stamets faz menção de atacá-la com uma faca, mas Goergiou é mais rápida e o mata, também com uma faca. Michael fica surpresa e com cara de tacho. Georgiou fala de uma conspiração e que não vai permitir isso. Burnham faz uma salva de vida longa à Imperatriz e sai da cerimônia. Num dos corredores, Killy a espera e a sua traição é desmascarada, com Georgiou e muitos guardas armados em volta. Georgiou pede para Michael confessar sua traição para poupar sua vida. Michael diz que sempre ficou à sombra da Imperatriz, mas que Lorca a honra pelo que ela é (pareceu que ela ia chorar aqui). Ela confessa que traiu a “mãe” e pede que seja executada. Philippa pega uma espada e, na hora de cortar o pescoço de Michael, para a lâmina e diz que isso seria muito fácil, e sabe como a história termina, ou seja, as duas morrem. E diz que o futuro das duas ainda não está escrito, ordenando que Burnham seja levada para o agonizador. Killy dá uma pezada na testa de Burnham. Fim do episódio.
O que podemos dizer do episódio “Terra Firme, Parte 1”? Em primeiro lugar, confesso que esse foi mais um episódio de que gostei, pois mais uma vez a Burnham do nosso Universo teve uma atuação mais periférica na história. Esse é um episódio de Philippa Georgiou, acima de tudo. A coisa parecia que ia começar de forma bem desagradável, pois Georgiou estava novamente com aquelas falas muito irritantes e estava estressada além da conta, chegando a jogar comida na Primeira Oficial mais submissa de toda a franquia e de partir para cima de Michael. Mas sua participação no episódio melhorou bastante quando ela estava em seu habitat natural, que é o Universo Espelho. É claro que um tempo no nosso Universo deu uma amolecida em Philippa, pois ela estranhou um pouco a maldade da Burnham espelho e salvou Saru da janta. Mas a não execução da Michael Espelho obviamente não foi uma amolecida da Imperatriz, pois ela precisa salvar a própria vida e reescrever seu futuro e manter a Michael Espelho viva tem alguma ligação com isso. Todo o núcleo do Universo Espelho chamou a atenção até por ser bem caricato. Carregou-se muito nas tintas da maldade das pessoas, com direito a muitas expressões diabólicas e lápis no olho para tornar as pessoas mais, digamos, fatais. Os ornamentos foram exagerados como a Coroa de Virgem Maria da Georgiou, mas eu vi a coisa de uma forma um tanto divertida e quebrou as repetições que a gente viu nos episódios anteriores. A Michael caricata do Universo Espelho foi bem mais interessante e tresloucada que a chatice da Michael de nosso Universo. Só lamento que a Michael do Universo Espelho também tenha ensaiado um choro na hora em que sua traição é descoberta. Aliás, falando em Michael, esse é um episódio em que nossa protagonista foi zoada mais uma vez. Um tapão na cara dado por Georgiou, um velhinho a zoando com um monte de metáforas, Georgiou mandando ela calar a boca, uma pezada na testa que sua versão do Universo Espelho tomou de Killy. Ou seja, Michael, seja nesse Universo, seja no Universo Espelho, passou por alguns maus bocados dessa vez. Já disse uma vez que isso é bom para a personagem, pois faz parte da sua construção ela nem sempre ser levada a sério.
Houve uma pequena História B, onde mais um passo na elucidação da Combustão foi dado. Uma kelpiana entrou na história, onde a mesma estava na nave perdida na nebulosa Verudin. Infelizmente, isso não foi mais desenvolvido e só podemos dizer que a presença da kelpiana só aumentou ainda mais a vontade de Saru de buscar resolver esse mistério.
Dessa forma, “Terra Firme, Parte 1” é um episódio de Discovery que chama a atenção, pois ele traz de volta o Universo Espelho, bem carregado nas tintas, com um tom exagerado e caricato que ficou até divertido por ter saído demais de algumas fórmulas repetitivas que apareceram nos episódios anteriores. Foi um bom episódio para Georgiou, tivemos uma Michael Espelho caricata que mais chamou a atenção do que a Michael dos dreads e houve mais um pequeno avanço no mistério da Combustão. Só devemos nos lembrar de que esse episódio ainda não acabou e há uma segunda parte, onde o mistério em volta de Georgiou ainda precisa ser resolvido.