Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas Discovery, chegamos ao décimo episódio da terceira temporada, “Terra Firma, Parte 2”. Um episódio que marca a despedida de Georgiou e dá mais um passinho na questão da Combustão. Lembrando que o episódio foi escrito por Bo Yeon Kim, Erika Lippoldt e Alan McElroy. Ainda, que os spoilers estão liberados aqui.
O episódio começa com Michael sendo levada a uma cela, implorando por sua morte, o que seria uma honra (me pergunto, é Universo Espelho ou Império Klingon?). Michael diz a Georgiou que a Imperatriz está ficando fraca e é isso que estimula as pessoas a tramarem contra ela. Georgiou diz que os súditos devem ter algo para viver, caso contrário eles sempre se revoltarão. Michael diz que Georgiou prometeu espólios e não há espólios na paz. Michael ainda menciona que uma coligação está sendo construída por vários planetas contra o Império Terrano. Mas a Michael tresloucada é colocada no agonizador e berra, berra, berra…
Georgiou está em seus aposentos, assistindo a Michael pela TV quando Killy aparece, perguntando por que a Michael ainda está viva e lembra da necessidade de procurar os cúmplices dela. Georgiou diz que é melhor uma Michael viva e destruída, tornando-se uma súdita leal, do que morta, para ela ser um exemplo para os cúmplices. E pede que Killy, especialista em interrogatórios sob tortura, faça isso com Michael. É o que Killy vai fazer. Depois de muitas torturas, Detmer (que é uma das cúmplices de Michael) diz que Lorca não vai voltar e não faz sentido Michael morrer na prisão. E pede para Michael voltar para Georgiou, que acredita que sua filha pode mudar como Georgiou mudou. Georgiou, perto de uma Michael adormecida na cela, fala de infância da moça e de seu sonambulismo, quando ela foi parar num campo de vaga-lumes que a acalmou. Georgiou, então, deixa uma bola de vidro cheia de vaga-lumes do lado de Michael e sai da prisão. Michael acorda, vê os vaga-lumes e, como que por encanto, se torna mais dócil para a mãe. Michael jura lealdade e que vai caçar seus cúmplices, matando-os. E assim ela o faz, com o compromisso de mostrar sua lealdade. Depois disso, Georgiou incumbe Michael de procurar Lorca para matá-lo. Numa conversa com Saru, Georgiou abre o jogo sobre o vahar’ai e diz que os kelpianos não enlouquecem com a transformação, pois ela viu um kelpiano que passou pelo processo que ficou vivo e se modificou, sendo um capitão de nave estelar, num outro tempo e lugar, tornando-se mais forte. Georgiou ainda fala para Saru passar essa informação para outros kelpianos e sobreviver. Saru diz que ela não é uma terrana e precisa voltar de onde veio ou a matarão se ela não fizer o que as pessoas querem. Mas Georgiou diz que está em seu lar.
Um capanga de Lorca, Duggan, é localizado numa nave orbitando em Risa. Sua nave é neutralizada e Duggan é levado para a prisão da Discovery. Michael, Georgiou e mais alguns tripulantes vão falar com ele. Mas Michael o mata com um phaser e aponta o mesmo para Georgiou, junto com os demais tripulantes, traindo a Imperatriz novamente. Entretanto, um grupo fiel a Imperatriz liderado por Killy e kelpianos pós-vahar’ai tresloucados entra no recinto, abrindo fogo. Um tiroteio começa e Michael e Georgiou terminam num duelo de facas. Georgiou ainda tenta convencer a Michael Espelho, pior do que cão chupando manga, a ser boazinha. As duas acabam feridas no chão e Michael morre (de novo) na frente de Georgiou. A Imperatriz morre nos braços de Saru e volta para onde estava a Michael dos dreads e o velhinho metafórico e zoador, que por sinal se chama Carl (definitivamente, esse velhinho me representa!). É claro que Carl vai dar mais umas zoadinhas até ele se revelar como O Guardião da Eternidade da série clássica. Carl explica o que é o Guardião da Eternidade, e que se afastou de seu lugar original depois das guerras temporais. Burnham percebe que somente os dados da esfera, querendo ajudar a tripulação da Discovery, poderiam localizar o Guardião da Eternidade. Georgiou continua “morrendo” e Carl diz que ela foi mandada para o Universo Espelho para ser avaliada, para se verificar se ela faria escolhas diferentes de quando era do Universo Espelho e se descobrir qual seria o seu destino. Georgiou acha que falhou, pois a Michael morreu de novo. Mas Carl diz que não, que ela tentou mudar as coisas, mesmo que não tenha tido sucesso. E ela salvou um kelpiano (Saru Espelho), que vai salvar outros (Michael começa a chorar). Carl diz que vai mandá-la para um tempo onde os dois Universos ainda estavam alinhados (um dos poucos homens brancos bonzinhos da série). Depois de uma choradeira básica (e de Georgiou sugerir que Burnham pode ser capitã, argh!!!), a Imperatriz atravessa o portal.
Na Discovery, Adira e Stamets têm dificuldades para entrar no sistema da nave desaparecida dos kelpianos. Mas eis que surge Book com uma espécie de amplificador de sinal da Corrente Esmeralda, que ele conseguiu numa troca, para ajudar no rastreio da nave kelpiana. Numa comunicação de Vence com Saru, o primeiro gosta de saber da localização da nave kelpiana, embora condene o uso de um dispositivo da Corrente Esmeralda, pois ele pode afetar a Discovery. Book, que já usou o dispositivo em sua nave, confirma que ele é seguro. Vence autoriza o uso do dispositivo e quer informações atualizadas da nave kelpiana quando elas estiverem disponíveis.
Michael volta à Discovery e diz que Georgiou não voltará mais. O episódio termina com a tripulação fazendo uma homenagem estranha a uma tripulante que dava coices e coices em todo mundo.
O que podemos dizer do episódio “Terra Firma, Parte 2”? Em primeiro lugar, esse é um episódio que encerra o ciclo de Philippa Georgiou na temporada (ou pelo menos é o que parece). A parte do Universo Espelho do episódio continuou um tanto tresloucada e caricata, embora com menos lápis no olho e uma Michael mais loucona ainda. A história não se desenvolveu muito, pois ficava naquela coisa de um conspirar contra o outro e a matança generalizada. Só vale destacar que tivemos boas atuações da Yeoh, que buscou redimir sua Michael Espelho, a Sonequa Martin-Green continuou, mais do que nunca, carregando nas tintas, sendo melhor que a Michael dos dreads, e confesso que gostei da atuação da Mary Wiseman, sendo bem perversa e não sendo a Tilly bocó que conhecemos. Então, apesar do núcleo do Universo Espelho não desenvolver muito uma história em si, tivemos essa diversão das caricaturas e a chance de ver alguns atores saindo da mesmice de seus personagens. Fiquei curioso com essa história dos kelpianos do Universo Espelho sobreviverem ao vahar’ai e provocarem mudanças. Fico imaginando uns kelpianos muito agressivos tocando o terror para cima dos terranos, o que daria um spin-off no mínimo curioso. Mas o melhor desse episódio foi o Easter Egg de Carl como O Guardião da Eternidade, onde ainda temos o velhinho metafórico e sacana, que, depois que se revela, se torna doce e terno, algo que tem que ser mencionado quando se trata de um personagem interpretado por um homem branco em Discovery. Suas falas sábias deram um sabor especial para a coisa e ajudaram a aguentar um pouco melhor a dose de melodrama da despedida entre Burnham e Georgiou.
Tivemos uma História B, onde mais um passinho na questão da Combustão foi dado, agora com a ajuda de Book que, para não passar a temporada como um personagem inútil (até se faz piada com isso), ele ajuda na localização da nave kelpiana. Mas essa História B foi tão curtinha e rápida que, pelo menos a gente espera que os próximos três últimos episódios foquem mais na questão da Combustão, agora que a série está na reta final. Só não vale a gente ver mais outras histórias destacadas da trama principal serem contadas e toda a questão da Combustão ser rapidamente resolvida no último episódio, como a gente tem visto nas últimas produções da Secret Hideout.
Uma coisa que foi complicada e que soou muito artificial foi a despedida que a tripulação fez para a Georgiou, como se ela fosse uma grande pessoa, quando ela, na verdade, foi uma tremenda duma mala sem alça com muita gente. Uma cerimônia simples, de poucas palavras, com a Michael falando mais por ser mais próxima, seria de tom melhor. Do jeito que a bajularam, parecia que Georgiou era uma amigona do peito de todo mundo, o que não foi verdade.
Dessa forma, “Terra Firma, Parte 2” foi um episódio um tanto mediano de Discovery, mas que pelo menos deu um desfecho digno a Georgiou, que vai agora viver sua vida num Universo Híbrido. Um Universo Espelho caricato e tresloucado (o que foi bom) com uma história pouco desenvolvida (o que foi ruim). Uma História B que mais foi um caco de roteiro e um Guardião da Eternidade que foi legal. Nada mais do que isso.