Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (S03, Ep 13), Minha Esperança É Você, Parte 2. Ou A Apoteose De Michael Burnham.

Star Trek: Discovery season 3, episode 13 review: "An anti-climax" |  GamesRadar+
Um História A com muita ação, porém menos interessante…

E finalmente chegamos ao último episódio da terceira temporada de Jornada nas Estrelas Discovery, com o título “Minha Esperança É Você, Parte 2”, que confirmou algo que sempre ficou perambulando ali pelo ar, mas que alguns queriam que não acontecesse até pelo bem da série: Michael Burnham se torna a capitã da Discovery. Por que isso não foi bom para a série, a meu ver? Porque confirmou a sacralização da personagem, e a certeza absoluta de tudo o que ela faz é certo, dando-lhe uma aura de onipotência e infalibilidade, estando muito acima dos demais personagens. Seria mais crível e interessante que seus defeitos (que existem) fossem mais explorados, como o foram ao longo dessa terceira temporada, em comparação com as demais temporadas de Discovery. Mas vamos analisar o plot do episódio, com os spoilers de sempre, episódio esse escrito por Michelle Paradise.

STAR TREK DISCOVERY 3x13 Promo Season 3 Episode 13 "Outside" S03E13. -- Season  Finale -- - YouTube
Book sendo torturado…

O plot começa na História B, onde Saru ainda tenta convencer Su’Kal de que ele deve sair de seu mundo imaginário do holodeck e encarar o mundo lá fora. Culber diz que a radiação deve ter aumentado, pois o casco da nave deve ter sido rompido depois de um ataque de medo de Su’Kal. Saru não sabe mais o que dizer sem amedrontar Su’Kal e provocar uma nova Combustão. Culber, sempre mandando os outros dizerem o que deve ser dito (e ele nunca faz isso, justamente o cara que tem mais jeito ali), fala que Saru deve dizer que é kelpiano para buscar uma identificação com Su’Kal e aí falar que existem outras perspectivas. De repente, surge Adira, com seu rosto todo modificado pelo holodeck, parecendo um destaque de escola de samba. Ela dá os remédios aos dois,o que vai dar mais algumas horas para eles. O namoradinho do cabelo azul aparece também nesse mundo de holodeck, com cara de vulcano. Saru e Culber podem ver o menino, por causa do holodeck e Culber dá um abraço fraterno nele, no momento fofo do episódio final (a aparição do menino foi para que esse abraço acontecesse, num momento de melodrama).

Star Trek: Discovery Season 3 Finale Recap, Episode 3
História B, a saga de Su’Kal…

Já na História A, a Viridian ataca a sede da Federação. Vence organiza um contraataque, inclusive contra a Discovery. A Federação estará acabada se Osyraa conseguir o motor de esporos. Osyraa ordena que Aurelio use o soro da verdade em Book. Enquanto isso, a tripulação da Discovery avança contra a ponte sob tiroteio cerrado. O problema é que Osyraa ordena o desligamento do suporte de vida onde a tripulação da Discovery está. Na sede da Federação, Stamets pede a Vence que a Discovery não seja destruída e ele quer ir com a nave para a nebulosa salvar Culber, Adira e Saru. Mas Vence diz que Michael fez a coisa certa afastando Stamets da Discovery e ordena que o Chefe de Engenharia fique bem longe dali para o motor de esporos não ser acionado, para o desespero de Stamets. A Discovery consegue abrir uma brecha nos escudos da sede da Federação, mas os vulcanos mandam naves para ajudar a Federação contra a Corrente Esmeralda. Osyraa ordena que se use pesticidas nas naves vulcanas. Mas Michael convence Osyraa a entrar em contato com a Federação e deixar a Discovery e Viridian irem embora, com o objetivo de evitar a matança dos vulcanos. Vence aceita, meio contrariado. A Discovery, Viridian e as naves vulcanas entram em dobra. Na Enfermaria, o efeito do soro da verdade demora para acontecer em Book, mas Osyraa não quer esperar e pretende torturá-lo, a menos que Michael o faça falar a verdade. Aurelio não quer que se use de violência, mas Osyraa finalmente mostra seu lado perverso a ele, estrangulando-o até fazê-lo dormir e começa a torturar Book. Depois de ver Book sendo muito torturado, Michael finalmente cede e vai pedir a Book para entregar o caminho para o dilítio da nebulosa. Mas num movimento mirabolante, Michael liga um conveniente campo de força de quarentena dentro da Enfermaria que a isola de Osyraa e Zareh e a moça foge com Book por uma porta lateral. Michael passa uma mensagem em código para Tilly (ela também teve tempo de roubar um comunicador), que diz que a tripulação deve tentar danificar uma nacele para tirar a Discovery da dobra. Mas a tripulação já não consegue respirar com a exceção de Owo, que consegue manter a respiração presa por mais tempo que os demais. Já Michael e Book se trancam num turbo elevador sob fogo cruzado. Zareh e seus capangas abrem a porta do elevador, mas Book e Michael estão do lado de fora do elevador com aquela visão ridícula do interior da Discovery, que parece fazer a nave ter três vezes o seu tamanho. O tiroteio recomeça. Michael se joga em outro elevador e vai até o núcleo de dados da nave, onde está Osyraa. As duas trocam tiros e porradas ao mesmo tempo. Já Book sai no braço com Zareh no elevador. Owo consegue danificar a nacele e a Discovery sai de dobra. Um robozinho vai salvá-la, pois ela já está quase que totalmente sufocada. Osyraa ordena que a Viridian puxe a Discovery para dentro de si. No elevador, Zareh sacaneia a gata de Book e ele fica puto da vida, jogando Zareh lá embaixo (inacreditável). Osyraa enfia Michael numa parece cheia de cubinhos, mas a heroína sai e, com dois tiros bestas, mata a vilã (eu esperava algo mais apoteótico aqui). Burnham dá um boot na Discovery e recupera os sistemas de suporte de vida, além de, literalmente, mandar os capangas de Osyraa para o espaço. E pede que, quem estiver ouvindo, se apresente a ponte (já age como capitã). Owo acorda e percebe que foi salva pelo robozinho, que pifa. Os demais tripulantes estão vivos e vão para a ponte se encontrar com Michael, onde Tilly praticamente entrega o posto de capitão de mãos beijadas para a protagonista. Burnham pretende ejetar o núcleo de dobra para explodir a Viridian e libertar a Discovery. Mas, como fazer com que a Discovery não exploda junto? Seria acionando o motor de esporos. E aí, num passe de mágica para a conveniência do roteiro, Aurelio diz que Book é de uma espécie empática e que ele poderia acionar o motor de esporos como Stamets. O núcleo de dobra é ejetado, mas a Discovery não salta com o motor de esporos. O reator de dobra, sobrecarregado, na iminência de explodir, e a Discovery não salta. De repente, vemos a Viridian explodir.

Star Trek: Discovery Season 3 Finale Preview Photos Released
Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Adira…

Na História B, Saru começa a conversar de seu passado em Kaminar com Su’Kal. E abre o jogo, dizendo que é kelpiano como Su’Kal. Saru volta a mencionar o mundo exterior, mas Su’Kal não gosta disso porque ele menciona que os hologramas falaram a ele que a Federação o iria buscar, mas isso nunca aconteceu. Saru então fala que isso não aconteceu por causa da Combustão, que incapacitou as naves. Mas o importante é que a Federação está lá agora, graças à mãe de Su’Kal que fez contato e que criou esse mundo para proteger o filho. Su’Kal pede para Saru esperar e atravessa uma porta onde estaria o mundo dos kelpianos na simulação. Depois de algum tempo, Su’Kal retorna e diz que Kaminar não mais está lá. Saru, com muito jeito, continua a explicar que Su’Kal deve sair daquele mundo holográfico e encarar o mundo exterior, mas a criatura holográfica que o persegue aparece e ele fica cheio de medo. Saru diz que essa criatura o está ajudando a encarar seus medos. Já Culber, Adira e seu namoradinho estão procurando uma forma de contato e chegaram a um ponto onde a radiação é crítica. Como o namoradinho não é corpóreo ele vai até esse ponto e atravessa os limites do holograma, vendo que há mesmo um rombo no casco por onde entra a radiação, com a nave se desfazendo perigosamente. Aí, fica a pergunta: com esse rombo, a radiação não invadiria todo o holodeck e o tornaria crítico em todo o seu interior? Por que a radiação fica mais concentrada perto do rombo? Bom, como a série parece não ter consultor científico e seus roteiristas parecem estar mais preocupados com a fantasia ao invés da ficção científica… Falando nisso, Culber explica para Adira como Su’Kal foi responsável pela Combustão, confirmando o que vimos há dois episódios, só que desta vez a tecnobabble ficou ainda mais viajante. Ou seja, para dar algum arremedo de ficção científica a essa situação fantasiosa, a explicação ficou tão esdrúxula que é melhor a série se assumir como de fantasia de uma vez. Voltando a Saru e Su’Kal, o primeiro, finalmente com a ajuda de Culber, convence o kelpiano medroso a atravessar a porta que sempre foi vista como algo perigoso para Su’Kal. Essa porta dá para a nave. Su’Kal diz que não vai nesse lugar desde criança. O namoradinho fica chateado porque quando o holograma desligar, ele vai ficar somente visível para Adira novamente. Mas  Culber diz que eles vão procurar um jeito de tornar o menino visível para todos novamente. Su’Kal desliga a holografia e agora a nave se mostra toda, com corpos cobertos por plásticos e um corpo decomposto descoberto. É sua mãe. Su’Kal pede ao computador para mostrar o que ele viu ali quando criança, para que ele possa se libertar de seu trauma. Vemos um Su’Kal ainda criança conversando com sua mãe agonizante. Ela cai morta na frente do filho, que grita e provoca a Combustão. O Su’Kal adulto olha para o corpo decomposto da mãe. Saru, já como kelpiano, fala que a mãe de Su’Kal não gostaria de vê-la morta. Su’Kal diz que estava sozinho. Saru responde dizendo que ele não mais está sozinho. Su’Kal se vira e vê Saru como kelpiano. Eles tentam se comunicar com a Discovery, sem sucesso.  A mãe de Su’Kal ainda deixa uma mensagem de agradecimento para os que resgataram seu filho e pede que ele seja levado para sua família em Kaminar. Su’Kal percebe que foi ele que causou a Combustão e quer reparar o erro. Saru diz que não foi culpa dele, que Su’Kal não tinha como saber que foi ele. Saru ainda diz que vai ajudar Su’Kal, ou seja, são os roteiristas encontrando uma saída muito conveniente para tirar Saru do caminho de Michael para essa assumir a Discovery como capitã. E isso, pois lembramos o quanto Saru era comprometido com a tripulação, a nave e os ideais da Federação. Mas bastou um kelpiano assustado para ele jogar tudo isso no lixo. Uma conveniência de roteiro forçadíssima para favorecer a Michael.

Star Trek: Discovery Season 3 Finale Easter Eggs & References | Den of Geek
Pelo menos, não mataram o Aurelio…

A nave em que estão tem falha estrutural iminente. Culber ainda tenta, sem sucesso, contactar a Discovery. Mas eis que Michael surge com a cavalaria e salva todo mundo.

Season finale da 3ª temporada de 'Star Trek Discovery' ganha imagens
Zareh. Morte mais cinematográfica que a de Osyraa…

Michael faz um discurso exaltando a conexão entre as pessoas, num século 32 onde todos não estavam muito conectados. No meio do discurso, fica clara a frieza de Stamets para com Michael, algo que pode dar um bom gancho para uma quarta temporada, embora já possamos até especular o que vai acontecer, dado o grau de previsibilidade da série. A Corrente Esmeralda, que tinha um parlamento, institutos de pesquisa e toda uma estrutura como vimos no episódio anterior, num passe de mágica acabou sem Osyraa e a Federação está se reconstruindo. Os trills voltaram e os vulcanos cogitam voltar. Vence pede para conversar com Burnham e começa uma conversa mole de como a filha dele não queria obedecê-lo, sendo que depois ele concluiu que ela estava certa. É a deixa para ele dizer o mesmo de Burnham e querer que ela seja a capitã da Discovery. O episódio termina com uma Michael apoteótica comandando a Enterprise, uma citação de Gene Roddenberry (que foi sacaneado na temporada) sobre comunicação e a música original de Jornada nas Estrelas, depois da temporada apagar vários elementos de Jornada nas Estrelas, e, volta e meia, lançar uns easter eggs para manter a atenção dos fãs mais antigos.

Star Trek: Discovery season 3, episode 13 recap – the ending explained
Doug Jones, de cara limpa, caiu como uma luva no melodrama…

O que podemos dizer do episódio final “Minha Esperança É Você, Parte 2”? Em primeiro lugar, Discovery se mostrou cada vez mais Discovery, sendo uma série já com três temporadas e formando todo um Universo próprio, se desligando cada vez mais da ficção científica e de Jornada nas Estrelas. Tudo bem, é um direito que os produtores têm. Só me soa um pouco desonesto eles lançarem mão da marca de Jornada nas Estrelas para buscarem audiência dos fãs. Tivemos uma História A que foi regada a muitas cenas de ação, onde Burnham tomou mais as rédeas da coisa, se compararmos com  o episódio anterior, enquanto a participação da tripulação na resolução da crise ficou um pouco mais ofuscada, ou seja, eles somente agiram por uma sugestão de Burnham e somente Owo chegou à nacele para danificá-la. Eu ainda acho que gostaria de ver uma participação maior da tripulação (por exemplo, ao invés de Zareh ser morto por um Book que ficou revoltado porque o vilão falou mal da gata dele – isso foi ridículo, caramba, que infantilidade da Paradise!!! – eu preferia que Zareh fosse morto por Tilly com um diálogo bem escrito). O uso dos elevadores da Discovery deslizando numa nave que internamente parece ter o tamanho da Estrela da Morte também foi algo complicado, que já havia sido criticado em temporadas anteriores. A luta entre Osyraa e Michael, onde elas não sabiam se davam tiro uma na outra ou porrada mesmo, foi também uma forçada de barra, não menor que a morte de Osyraa, uma vilã que até teve uma boa atuação ao longo da temporada, que morreu com dois tirinhos muito bestas. Até a morte de Zareh foi melhor. Por fim, o desfecho óbvio de Michael como capitã, já mencionado aqui. Foi uma pena esse desfecho, pois finalmente tivemos uma temporada em que as atitudes de Michael foram questionadas, o que soava como algo bom para o desenvolvimento da personagem. Só que, ao fim, todo mundo disse que ela estava certa de novo e ainda foi agraciada com o posto de capitã. Uma pena. Eu achava que a série teria a ganhar mais com esse conflito interno de Burnham. Quando isso foi trabalhado nessa temporada, tivemos bons momentos, e com a Michael. Já a História B me parece até mais interessante que a História A, pois teve duas coisas que Discovery gosta de trabalhar bem, embora isso a afaste muito da ficção científica e de Jornada nas Estrelas: o melodrama e a fantasia. Se os roteiristas querem associar a Combustão a um desespero de ordem familiar de Su’Kal, tudo bem, se considerarmos isso fantasia. O que não dá é passar um verniz de ficção científica nisso, criando uma tecnobabble mirabolante demais. Que se desse uma explicação científica bem rasa (os cromossomos prejudicados na gestação de Su’Kal em favor de uma ligação com o dilítio) e se parasse por aí, abraçando de vez a fantasia, que é o que os roteiristas de Discovery querem fazer. Que assumam o que eles estão fazendo e não encontrem desculpas para enjambrar isso em Jornada nas Estrelas. A parte do melodrama, quando não exagerada, é outra coisa que cai bem em Discovery, embora também a afaste de Jornada nas Estrelas, sobretudo no núcleo Stamets-Culber-Adira-Menininho do Cabelo Azul. Repito: a fantasia e o melodrama são os rumos que os roteiristas querem tomar e até o fazem bem. Só não me associe isso a Jornada nas Estrelas, por favor, que é algo muito diferente. É melhor assumir o que fazem.  A questão do envolvimento entre Saru e Su’Kal foi até interessante, mas infelizmente foi usada como uma faca de dois gumes, pois tirou de forma muito conveniente o kelpiano do caminho para colocar Michael como capitã da Discovery.

Spoilers - Star Trek Discovery 3x13 Season 3 Episode 13 Outside - Promo  trailer | Page 2 | The Trek BBS
Sequência de luta exagerada…

E um balanço da terceira temporada? A série ainda tem problemas como a continuação do protagonismo excessivo de Michael, emburrecendo os demais personagens. Tivemos diálogos sofríveis em todos os episódios, escritos por diferentes roteiristas, numa prova de que isso é mais uma coisa dos showrunners. Jornada nas Estrelas foi sendo sistematicamente apagada da série (até agora não engulo essa coisa de Ni’Var, o delta no peito se transformar numa elipse com um delta quase apagado desenhado nela). A zoação com Gene, o processo de tornar o Saru menos importante e muito relutante. As agressividades de Philippa Georgiou. O chorômetro de Michael. Histórias excessivamente mirabolantes que podiam ser contadas de forma um pouco mais simples. Um século 32 excessivamente com cara de século 21, mesmo que a ficção científica seja um reflexo de nosso tempo. Uns quatro episódios onde a Discovery tinha que provar a um grupo ou civilização que era confiável (a Terra, os Trills, A Federação, os Vulcanos). Ou seja, Discovery ainda tem muito a melhorar. Mas eu também vi algumas melhoras. O questionamento da onipotência de Michael até por ela mesma. O ato de Michael perceber que ela não pode fazer tudo o que quer o tempo todo, principalmente na querela entre vulcanos e romulanos, onde ela desistiu de seus objetivos ao perceber que se poderia levar a um novo desentendimento no seu planeta natal (só foi sofrível os vulcanos terem cedido a Michael através de um argumento emocional). A zoação com Michael no primeiro episódio, onde a gente ri do personagem, que o deixa mais simpático para nós. Os episódios onde a tripulação era mais focada que a Michael, dando espaço para o desenvolvimento de mais personagens. As mensagens de cunho ecológico ou críticas ao sistema capitalista, algo que Jornada nas Estrelas sempre fez e nunca foi considerado lacração, o sendo considerado por alguns somente em Discovery. O surgimento do núcleo fofinho Stamets-Culber-Adira-Menino do Cabelo Zaul, dentro do que Discovery se propõe a fazer. A carregação nas tintas do Universo Espelho, que eu realmente vi mais como um alívio cômico, com uma surpreendente Michael tresloucada e uma Tilly contida. Os episódios em arcos fechados, com a questão da Combustão correndo em paralelo (embora às vezes a história da Combustão parecesse se desenvolver muito lentamente), com um arco final de três episódios elucidando o problema da Combustão. E, principalmente, o Guardião da Eternidade, materializado num velhinho sacana que falava por metáforas, irritando as “milleniuns” Michael e Phillipa, que queriam respostas claras e rápidas para tudo, com o velhinho falando a Michael que ela estava nervosa. Confesso que vi ali um embate entre os fãs mais antigos e os mais novos na série. Carl me representa (até porque eu também me chamo Carlos)!!!

Star Trek: Discovery | Netflix Official Site
O núcleo fofo da série…

Encerrada a terceira temporada, vamos ver o que rola na quarta, onde as filmagens já foram iniciadas. Concordo com os que falam que a série poderia muito bem encerrar aqui. Mas já que a quarta temporada está sendo filmada e a série ainda tem muito o que melhorar, fica a expectativa se os showrunners vão escutar um pouco mais os fãs ou se vão bater o pé feito crianças mimizentas e vão repetir os mesmos erros. Escutem um pouquinho mais os fãs como vocês ate fizeram um pouco na terceira temporada! É o que pedimos. Isso sempre deu certo em Jornada nas Estrelas.

Star Trek: Discovery Season 3 Finale Spoilers: A New Captain Is Here |  IndieWire
E os roteiristas conseguiram o que queriam…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (S03, Ep 12), Há Uma Maré… Uma Negociação E Um Jogo De Gato E Rato.

Star Trek: Discovery Season 3 Episode 12 Review: There is a Tide... | Den  of Geek
Arquitetando um plano de fuga…

E chegamos ao penúltimo episódio da terceira temporada de Jornada nas Estrelas Discovery, intitulado “Há Uma Maré…”. Esse episódio, escrito por Kenneth Lin e dirigido por Jonathan Frakes, confirma o arco final triplo iniciado em “Su’Kal”, com uma suficientemente boa ação e uma negociação no mínimo curiosa. Para podermos falar do episódio, os “spoilers” estão liberados.

O episódio começa com Osyraa dentro da Discovery e seus capangas simulando um ataque da nave Viridian contra a Discovery, com o objetivo da Federação abrir suas portas para a Discovery. Na estação da Federação, Vence, sem comunicações com a Discovery, hesita em deixar a nave entrar e mantém levantados os escudos do QG da Federação. A tripulação da ponte está confinada a uma sala e aquele vilão do segundo episódio que mais parecia um Al Pacino genérico (Zareh) aparece dizendo aos capangas que Osyraa não quer que se mate ninguém. É claro que ele também zoou a incompetência de Tilly no posto de capitã, com a nave sendo tomada muito facilmente. Ryn é colocado junto ao grupo. Enquanto isso, Book e Michael estão em dobra com a nave do primeiro, correndo para chegar ao QG da Federação, mas precisam passar pelos destroços de muitas naves sem colidir.

Star Trek: Discovery Season 3 Episode 12 Easter Eggs & References | Den of  Geek
Arrumando uma forma de entrar na Discovery…

A Discovery se aproxima dos escudos do QG e de um poço gravitacional. Para a nave não ser esmigalhada, Vence manda abaixar os escudos para a Discovery passar. A nave de Book também chega. Book e Michael jogam a nave onde estão dentro do hangar da Discovery antes dessa entrar no QG.

Osyraa vai até a Engenharia onde Stamets ainda está subjugado por uma espécie de máquina neural em sua cabeça. Ela fala com um cientista conhecido como Vigilante Aurélio, de sua confiança, que é paraplégico e estuda o motor de esporos, assim como Stamets. Osyraa e Aurélio parecem ser muito próximos. Ela bota uma operazinha andoriana para o cientista poder trabalhar melhor.

Star Trek: Discovery – Season 3, Episode 12 “There is a Tide...” Review:  The Tide is Turning, Indeed | TREKNEWS.NET | Your daily dose of Star Trek  news and opinion
Surge Aurelio, um personagem com nome de dicionário…

Michael vai atrás de Stamets para poder neutralizar o motor de esporos. Book coloca um aparelho de camuflagem dos sinais de Michael em seu braço. Como ele só tem um, não pode andar junto com ela, que vai sozinha “salvar o dia” nas palavras do próprio Book. Vence, depois de pensar um pouquinho com seus botões, percebe que Osyraa está na Discovery e manda cercar a nave com outras da Federação a postos para atirar. Mas Osyraa entra em contato e quer, diplomaticamente, conversar. Os dois começam uma longa conversa na presença de um holograma que é um detector de mentiras. Osyraa busca negociar uma aliança entre a Corrente Esmeralda e a Federação. Na ausência de dilítio, a Corrente tem uma estrutura capitalista bem montada de comércio, enquanto que a Federação é um símbolo de esperança, algo que a Corrente não tem. Os dois comem umas frutas, Osyraa uma maçã, que Vence diz que é sintética e feita das fezes da estação (literalmente uma maçã de merda), que Osyraa cospe. Vence resiste à visão capitalista de Osyraa alegando que a Corrente mantém a escravidão. A oriana diz que gastou capital político para abolir a escravidão na Corrente Esmeralda. O problema aqui é que a Corrente Esmeralda deixa de ser vista como uma facção criminosa e parece ser um órgão com governo próprio, parlamento, detentora de instituições científicas, etc. sendo mostrada nesse episódio de forma diferente do que entendemos no resto da série. Vence diz que, para fazer acordo, a Corrente Esmeralda precisa se afastar de civilizações pré-dobra como Kwejian. Osyraa, depois de saber que uma capanga de Zareh foi ejetada para o espaço, abre um texto sobre o armistício e propõe a retirada das civilizações pré-dobra por quinze anos, além de não violar a Primeira Diretriz. Vence pede um tempo para ler o armistício. Depois de ler, Vence acha o armistício um bom acordo, mas se pergunta quem representará a Corrente Esmeralda e se essa pessoa será independente o suficiente de Osyraa, que não é vista com confiança. Osyraa pensa em Aurélio, mas Vence ainda quer saber o grau de independência que esse representante teria com relação a Osyraa. Ela diz que esse representante não teria ligações com ela. Mas o holograma detector de mentiras diz que Osyraa mente. Vence ainda diz que o passado de Osyraa é de crimes e que esses erros precisam ser reparados. Osyraa fica verde de raiva, mas Vence, apesar de um tom de súplica muito estranho pedindo à Corrente para se unir à Federação, bate o pé com relação a Osyraa se confrontar com seus crimes num julgamento. A oriana perde a paciência e vai embora.

Book é capturado e colocado junto com a tripulação da Discovery. Já Michael estrangula um homem com a perna mas toma uma facada na mesma.  Com os transportes bloqueados por Osyraa, Michael se desloca pelos tubos Jefferies. Ela cauteriza sua ferida com um kit médico e manda uma mensagem para a mamãe Burnham falando da situação da Discovery. Mas Zareh localiza Burnham pelo comunicador que ela pegou do capanga que estrangulou. Ele manda mais de seus capangas para perseguir Michael. Mas ela simula um incêndio que aciona exaustores nos tubos Jefferies. Ela havia se amarrado num cano antes disso e uma capanga de Zareh é cuspida para o espaço pelo dispositivo antiincêndio. Burnham fala para Zareh que ele vai precisar de mais capangas (reguladores). E joga o comunicador fora para não ser mais encontrada.

Star Trek: Discovery' Season 3 Episode 12: Did the Federation make a  mistake by turning down Osyraa's deal? | MEAWW
Uma negociação…

Os tripulantes da Discovery simulam uma briga e descem a porrada nos capangas de Osyraa. Eles vão sair do cativeiro. Ryn consegue provocar uma interferência que vai mostrar muitos sinais de vida falsos. Book e Ryn vão permanecer na sala para atrasar os capangas enquanto a tripulação da Discovery sai pela nave. Mas Book e Ryn são capturados.

Stamets é tirado de seu “transe” e começa a conversar com o Vigilante Aurélio. Começa a rolar uma afinidade entre os dois pela ópera andoriana. Stamets começa a conversar sobre família, filhos, mas Aurélio quer saber sobre o motor de esporos. Stamets continua desconversando com o papo de família. Aurélio acha que Osyraa é uma pessoa maravilhosa, pois apostou nele, que é paraplégico, para a carreira de cientista. Mas Stamets fala dos defeitos de Osyraa que Aurélio não conhece. Michael entra na Engenharia e atordoa Aurélio e um capanga para salvar Stamets. Mas o Chefe de Engenharia quer voltar a Verubin para salvar Culber. Ele pira ainda mais na batatinha quando sabe por Michael que Adira está lá. Mas Michael confina Stamets num campo de força e pretende mandá-lo para o QG da Federação, pois assim Osyraa não poderá usar o motor de esporos. Michael usa o toque vulcano para desacordar Stamets. Stamets, quando acorda, já está no campo de força, e diz, aos berros, que aqueles que ele ama terão uma morte terrível na radiação de Verubin. Mas Michael diz que Osyraa usará Stamets e o motor de esporos para destruir a Federação. Stamets diz que a Discovery veio ao futuro por Michael, que a tripulação abriu mão de tudo por Michael e como ela pode fazer isso. Michael, chorando, apenas diz que sente muito. Stamets é cuspido para o espaço e enviado ao QG. Michael chora, chora, chora… mas para quando Zareh a rende com uma arma.

Star Trek: Discovery – Season 3, Episode 8 Recap: “The Sanctuary”
Osyraa fica verde de raiva com o fracasso das negociações…

Na ponte, Osyraa está de volta e ordena que Zareh procure a tripulação da Discovery. Ryn e Book estão na ponte. Aurélio também, sabe-se lá como, pois isso não ficcou explicado no roteiro, já que ele havia sido tonteado por Michael (ô roteiro mal escrito!!!). Osyraa pede para Aurélio sair da ponte, pois coisas violentas vão acontecer, mas Aurélio se recusa. Ela dá uma ordem para Ryn consertar os sensores, mas ele se nega. Book diz que tem como, em segurança, dar acesso ao dilítio da nebulosa Verubin a Osyraa. Mas mesmo assim, esta atira em Ryn que vira um monte de purpurina azul e some no fundo da Discovery. Osyraa dá a ordem de Aurélio aplicar em Book o soro da verdade para ele não mentir. Mas Aurélio está traumatizado com a violência de Osyraa.

A tripulação consegue chegar ao arsenal da Discovery, depois de pôr fora de ação mais capangas de Osyraa. Quando os tripulantes vão começar a pegar as armas, três robozinhos aparecem, dizendo que contêm os dados da esfera e que vão ajudar a tripulação. Fim do episódio.

Star Trek Discovery Season 3 Episode 12 “There Is a Tide…” | Tell-Tale TV
Ryn vai virar purpurina azul…

O que podemos dizer do episódio “Há Uma Maré…”? Em primeiro lugar, tivemos um bom episódio de ação. Toda uma operação de resgate de Discovery é posta em curso. Obviamente, Michael é escalada por Book para salvar o dia, mas ela não vai fazer tudo sozinha. A ela vai caber a tarefa de tirar Stamets da nave e da jogada, para que Osyraa não acione o motor de esporos, uma medida muito racional e coerente, não fosse por um pequeno detalhe: Stamets está desesperado em salvar Culber e Adira, as pessoas que ele mais ama e que não quer perder de jeito nenhum (ele já perdeu Culber uma vez, não quer perder uma segunda). Alguns podem dizer que essa é uma atitude egoísta de Stamets, mas ela ser colocada no episódio valeu para pelo menos uma coisa: quando Michael o obriga a ser expelido da nave, Stamets começa a dizer que a tripulação da Discovery fez tudo por ela e como agora ela tem a coragem de deixar Culber e Adira encararem uma morte horrível. Vemos mais uma vez o “faz o que quer” da Michael ser questionado no episódio, agora num desespero flagrante de Stamets (palmas para Anthony Rapp que convenceu muito em seu desespero). E Michael chorou e chorou (pelos registros do chorômetro, foram duas as vezes: nesta com Stamets e quando a moça deixa uma mensagem de despedida para a mãe). Apesar desse problema com Michael no episódio, não posso deixar de admitir que gostei da ideia do exaustor do sistema de incêndio do tubo Jefferies que cuspiu a capanga de Zareh para o espaço.

O núcleo da tripulação também foi bom, pois eles trabalharam em equipe para sair da situação de cativeiro. E os robozinhos, que até agora tinham uma posição periférica nos episódios, finalmente vão ajudar mais efetivamente a tripulação, pois eles contêm os dados da esfera, que quer proteger a tripulação de forma consciente. Confesso que quero ver muito isso no episódio final.

Star Trek: Discovery Season 3 Episode 12: "There is a Tide..." Photos - TV  Fanatic
Stamets e seu desespero com Michael.

O núcleo Stamets-Aurélio também foi interessante, sendo esse último personagem um sujeito gente boa que tem uma dívida de gratidão com Osyraa e que acaba se horrorizando com toda a venalidade da mulher verde. Ele e Stamets têm em comum o uso da ciência para fins pacíficos e quero ver o desfecho desse personagem. Espero que ele seja aproveitado para a quarta temporada e esses roteiristas não o matem no episódio final, pois seria um desperdício e uma burrice inominável. Ele seria uma ótima aquisição para o núcleo fofo de Stamets, Culber e Adira, algo que Discovery consegue fazer bem, apesar de não ser uma ficção científica ao estilo do que conhecemos em Jornada nas Estrelas.

Agora a negociação entre Vence e Osyraa. Duas coisas incomodaram. Primeiro, a atitude de súplica de Vence em fechar o acordo com Osyraa desde que ela aceitasse ser julgada pelos seus crimes. Isso não encaixou bem com o personagem de Vence, que sempre foi dotado de atitudes muito firmes durante a temporada e, agora no final fica implorando daquele jeito. Pegou mal. A outra coisa que incomodou foi a visão que o episódio deu da Corrente Esmeralda. Se nos episódios anteriores, a Corrente Esmeralda parecia muito mais um sindicato do crime com negócios escusos, no presente episódio vemos a Corrente como um Estado com parlamento e uma espécie de grande aliança comercial, com empresários capitalistas muito ricos detentores de grandes rotas comerciais, além de possuidora de renomados institutos de pesquisa. Ficou algo estranho. Com relação à visão capitalista da coisa, posso dizer que isso não me incomodou, já que, com a escassez do dilítio, os ditames do mercado voltaram nessa sociedade distópica e a Federação, que representa um fio de esperança e de utopia, deve ser realmente relutante em se aliar a uma organização capitalista que mantém a escravidão. Alguns podem reclamar dessa crítica ao capitalismo como agenda política, mas não será a primeira vez que Jornada nas Estrelas criticou o capitalismo que, apesar de ser o sistema vigente, é realmente cheio de falhas. Só seria um pouco estranho uma sociedade a mais de novecentos anos no futuro, em pleno século 32, adotar um sistema econômico vigente no século 21. Confesso que quando vejo um sindicato do crime como a Corrente Esmeralda em Jornada nas Estrelas, me lembro muito dos sindicatos do crime em Guerra Nas Estrelas, como o Sol Negro. Mas estes existiram há muito tempo numa galáxia muito distante e não no século 32 da Via Láctea (seria apenas no Quadrante Alfa???).

Dessa forma, “Há Uma Maré…” até foi um bom episódio de Discovery, pela interessante história de ação, pelo não protagonismo excessivo de Michael, pelo questionamento a liberdade para Michael fazer o que quiser e pelo papel da tripulação na operação de resgate da nave. O surgimento de Aurélio foi algo positivo e a tentativa de acordo entre Vence e Osyraa flertou com uma crítica ao capitalismo do século 21 pertinente, mas que parece um pouco estranha a uma realidade do século 32, mesmo que esta seja distópica. Esperemos como será o desfecho desse arco triplo.  

Star Trek Discovery - S03E12 - There Is A Tide... [Transcript] - Scraps  from the loft
O choro é livre…