Dando sequência à análise dos filmes indicados ao Oscar 2021, falemos hoje de “Soul”, que está na Disney + e concorre a três estatuetas: Melhor Animação, Melhor Som e Melhor Trilha Sonora, além de vencido os globos de ouro de Melhor Animação e Trilha Sonora. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.
Vemos aqui a história de Joe, um professor de música que trabalha numa escola e tem o sonho de ser um grande músico de jazz. Essa oportunidade aparece e ele fica radiante, não percebendo o bueiro aberto no meio da rua e caindo nele, indo para o mundo dos mortos. Não aceitando a sua situação, ele tenta voltar à vida, indo na contramão e acaba parando por acidente numa espécie de “mundo pré-vida”, onde almas que estão prestes à nascer precisam de mentores, ou seja, pessoas que tiveram grandes feitos em vida, para estabelecer qual é a missão delas aqui na Terra quando nascerem. Joe acaba sendo confundido com um desses mentores e é designado para ele uma alminha conhecida como 22, que não quer nascer de jeito nenhum, pois acha tudo na vida muito chato. Joe vai tentar ensinar algo para ela, mas conclui que sua vida era muito chata para ensinar algo. 22 fica interessada em Joe, pois ele quer voltar a viver mesmo tendo uma vida muito desinteressante. Eles vão para o espaço dos místicos, que estão vivos, mas que viajam na maionese, voltando ao planeta Terra quando chamados à realidade. Recebendo a ajuda de um deles, Joe acha seu corpo convalescendo num hospital, com um gato na cama. Ele se joga com a 22, mas Joe fica no corpo do gato e 22 fica no corpo de Joe. Ele precisa ir para sua primeira apresentação como músico de jazz e 22 terá que fazer isso, em seu lugar, sempre acompanhado de seu gato. Entre muitos contratempos aqui e ali, 22 começa a pegar gosto pela vida e não quer devolver mais o corpo de Joe a ele.
Essa é mais uma animação da Pixar e levanta questões muito interessantes para reflexão. A mais importante delas é: qual é o nosso propósito aqui na Terra? Temos alguma missão para cumprir nessa vida? Quais são as nossas aptidões para cumprirmos a missão certa? Ou não devemos nos preocupar com isso e simplesmente levarmos a nossa vida da melhor maneira possível, dentro de nossas possibilidades? Joe colocava muita expectativa em transformar a sua vida profundamente assim que ele conseguisse fazer a coisa a que se propôs, que era se transformar num grande músico de jazz. Mas, ao conseguir isso, ele percebe que sua vida continuará a mesma de quando ele a considerava vazia. Ou seja, aquele velho e surrado provérbio do “só se leva dessa vida a vida que se leva” cai como uma luva aqui. E o mais importante é você levar a sua vida da melhor forma que se puder, não se obrigando a cumprir seus objetivos e expectativas a ferro e fogo. Sempre é bom estabelecer objetivos e metas na vida, mas não será o fim do mundo se você não conseguir cumpri-las, pois isso tudo pode gerar obsessão e frustração.
A gente sabe aqui que as animações da Disney e da Pixar sempre são praticamente pule de dez para ganhar Oscars. E isso tem acontecido, creio eu, não somente pela qualidade das animações, mas também pelas histórias e reflexões que elas nos trazem, sempre de uma forma lúdica e divertida, já que são mais destinadas ao público infantil. “Soul” vai por esse mesmo caminho, ao abordar questões tão universais e acaba se tornando uma animação que nos dá uma lição de como tocarmos nossas vidas. Além disso, tivemos uma super trilha sonora que merece demais o Oscar, regada a muito jazz.
Dessa forma, “Soul” é mais uma animação da Pixar que vem como favorita ao Oscar desse ano, vindo com uma fórmula muito forte, que é fazer uma animação de qualidade atrelada a uma linguagem lúdica, que aborda a reflexão de um tema profundo, aliado a uma trilha sonora muito boa, regada a muito jazz.