Vamos dar sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, falando hoje do quarto episódio da primeira temporada de Enterprise, intitulado “Inesperado”.
Muitos problemas ocorrem dentro da NX-01. Archer sofre com o desconforto da placa de gravidade dando defeito durante seu banho, o sintetizador de alimentos não funciona direito quando T’Pol tenta usá-lo, e outros problemas. Trip acha que o problema está no exaustor de plasma. Eles saem de dobra para consertar. T’Pol percebe que o plasma que sai dos exaustores está muito próximo da nave. Eles investigam e descobrem que há uma nave camuflada no meio do plasma. Archer pede para Hoshi abrir as frequências de saudação e, ao falar com os alienígenas, descobrem que eles estão com problemas em sua nave e usam o campo de dobra da Enterprise para se deslocar. Archer pede que eles retirem a camuflagem. Trip é escalado para ajudar a nave alienígena (xyriliana) e vai ficar três dias lá. Ele passa um tempo desagradável numa câmara de descompressão e se encontra com os alienígenas da nave. Trip está meio grogue, mas trabalha nas máquinas da nave com uma alienígena. Ele entra em contato com Archer, diz que não se sente bem e que quer voltar para a Enterprise. Archer entra em contato com o capitão da nave alienígena e este diz que Trip deve dormir um pouco, pois chegou à nave e não quis descansar. Archer ordena que Trip permaneça na nave e descanse uma hora antes de começar a trabalhar. Depois do descanso, Trip conversa com a alienígena que mostra que a nave tem uma espécie de ecossistema vegetal de onde os alienígenas extraem comida e assim ele se aproxima da alienígena que, mesmo com uma pele cheia de escamas, é mais sensual do que T’Pol (se me permitem o comentário macho heterossexual). A alienígena leva Trip para uma sala que reproduz, por meio de hologramas, o planeta natal dela (isso mesmo, caro leitor trekker, um holodeck no século 22). A moça xyriliana convence Trip a participar de uma espécie de jogo onde eles trocam informações um do outro telepaticamente, o que faz rolar um clima entre eles. Mas os motores são consertados e Trip retorna à Enterprise. A tripulação das duas naves se despedem e a nave xyriliana entra em dobra. Enquanto comia, Trip percebe uma espécie de verruga no braço. Ao mostrá-la a Phlox, este diz que a verruga é um mamilo e que existe uma forma de vida dentro dele. Ou seja, Trip está grávido e rolou um contato imediato de quarto grau entre ele e a moça xyriliana. Assim, ficou difícil para Trip convencer Phlox, Archer e T’Pol (que zoou imensamente da cara dele) de que não rolou nenhum contato sexual. Foi nesse momento que Trip lembrou do jogo telepático feito com a xyriliana, onde os dois colocavam suas mãos juntos numa caixa de pedrinhas para se ter o elo telepático. Archer decide procurar os xyrilianos para resolver a questão. O mais curioso é que Trip começa a despertar sentimentos maternais, além de ficar com mania de perseguição e mais sensível. Como eles procuram os xyrilianos há oito dias e não conseguem achá-los, Archer fala a Trip para este já cogitar a hipótese de ser mãe para esse ser que vai nascer, o que deixa o engenheiro-chefe transtornado.
A nave xyriliana é encontrada, mas a Enterprise intercepta um cruzador klingon. Conclui-se que a nave xyriliana pifou de novo e está camuflada pegando uma carona na nave klingon. Archer tenta entrar em contato com a nave klingon e toma uns dois torpedos fotônicos pela proa. Ele retoma a comunicação e fala com os klingos dos xyrilianos. Os klingons decidem matar os xyrilianos mas Archer insiste que não faça isso. Diante da irredutibilidade dos klingons, T’Pol entra na conversa e diz que foi Archer que levou Klaang ao Império (episódio piloto), evitando uma guerra entre as casas. Trip fala também que os xyrilianos têm uma fantástica tecnologia holográfica. O capitão klingon diz que irá à nave xyriliana. Trip quer ir junto mas o klingon não quer sua presença. Archer então abre o jogo e fala da gravidez de Trip para o klingon, fazendo os klingons caírem na risada, sob os olhos atônitos da tripulação da ponte da Enterprise. Na nave xyriliana, O capitão klingon aceita o holodeck e Trip mostra sua gravidez à alienígena, que diz que o embrião ainda pode ser transferido para outro corpo. Com tudo resolvido, T’Pol fala a Trip que, pelos registros, ele é o primeiro ser humano do sexo masculino a ficar grávido. Trip diz ironicamente que sempre quis entrar para a História. Fim do episódio.
O que podemos falar do episódio “Inesperado”? Em primeiro lugar, não há aqui uma mensagem ou reflexão mais profunda. Esse foi um episódio com um leve acento cômico, que foi a gravidez de Trip e os comentários muito engraçados de T’Pol sobre a situação. Mas o episódio mantém a linha dos episódios anteriores de que os humanos ainda aprendem a fazer contato com novas civilizações e saber lidar com os percalços disso. Se dessa vez eles encontram uma espécie muito pacífica que é a dos xyrilianos, responsáveis por passar a tecnologia do holodeck, que apareceu mais em TNG, isso não significa que esse contato não tenha trazido problemas. Se Trip foi descuidado ao se relacionar com a xyriliana, não prevendo qualquer coisa inesperada, o mesmo ocorre com a xyriliana, que sabia que podia engravidar seu parceiro, mas não acreditava que isso poderia acontecer com um ser de outra espécie. Ou seja, a moral da história desse episódio muito bem podia ser aquela máxima ancestral: “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.
No mais, foi muito legal ver o Archer bonachão e inexperiente interagir com os klingons casca grossa, onde a diplomacia não ajuda muito. Os argumentos de Archer para salvar os xyrilianos da destruição certa já estavam se esgotando quando T’Pol (sempre ela) salva o dia mais uma vez e, entendendo a cultura klingon, fazendo sempre o mais lógico, consegue convencer o capitão do cruzador a conversar com os xyrilianos, não sem Trip passar um ridículo por todos e ter que revelar a sua gravidez até na frente dos klingons.
Dessa forma, “Inesperado” é um episódio de Enterprise que mostra que a interação de humanos com espécies alienígenas pode ser mais problemática do que meras questões de beligerância. Até na paz e na boa compreensão pode rolar um probleminha inesperado. E assim, a corajosa tripulação da Enterprise vai adquirindo suas experiências, sob os olhos frios de uma T’Pol que, dessa vez, deve estar morrendo de rir por dentro, como pudemos ver no seu fino e delicioso sarcasmo com Trip.