Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, A Nova Geração (S01 Ep 04), O Último Guardião. Surgem Os Ferengis.

TNG 1x04: The Last Outpost | Trek Brasilis - A fonte definitiva de Star Trek  (Jornada nas Estrelas) em português

Continuando nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, retornemos a TNG e ao quarto episódio da primeira temporada, intitulado “O Último Guardião”. Esse episódio é conhecido pelo surgimento dos ferengis na franquia.

Qual é o plot? A Enterprise persegue uma nave ferengi que roubou um conversor de energia. Será a oportunidade de se fazer um primeiro contato com os ferengis. Os ferengis saíram de dobra e começaram a alvejar a Enterprise. Picard diz para não retribuir o fogo e se afastar um pouco. Mas a Enterprise parece estar sem energia, enquanto que os ferengis se posicionam bem à frente. Data é consultado sobre os ferengis e ele diz que há informações controversas de que a principal característica dos ferengis é que eles são comerciantes em busca de mercadorias e territórios e atuam como o pior tipo de capitalismo que foi visto na Terra.

A Enterprise lança mão de um subterfúgio para escapar da nave ferengi, que a mantém presa e retira sua energia. Picard manda abrir um canal e exige que o conversor de energia seja devolvido. Depois, pratica o tal subterfúgio, sem sucesso, o que rende um “merd” de Picard (é, foi nesse episodio que ele falou um palavrão em francês). Os arquivos da Enterprise começam a ser lidos e Troi sugere a Picard que analise o planeta sobre o qual as duas naves orbitam.

The Last Outpost (Star Trek: The Next Generation) - Wikipedia
Ferengis surgem de forma ameaçadora…

Picard faz uma conferência rápida com sua tripulação e ouve a sugestão de Troi, onde o capitão deve negociar com os ferengis sem a empáfia anterior e ouvindo os termos dos alienígenas. O ferengi responde (ele se chama Daimon Tarr) e diz que é contra uma rendição incondicional. Ou seja, a energia que mantém a Enterprise presa também mantém a nave ferengi presa. Picard manda lançar uma sonda para verificar o que está acontecendo e pede contato visual para conversar. O ferengi aparece na tela e diz que vai devolver o conversor de energia além de oferecer os segundos oficiais ferengis de acordo com o código ferengi. Picard pede para aguardar. Numa reunião entre Picard, La Forge, Data e Riker, o andróide fala do scan feito no planeta e este planeta fez parte de uma civilização chamada Tkon, que era muito avançada onde o planeta abaixo erra uma espécie de guardião local, podendo até deslocar estrelas. A sonda manda a informação de que é o planeta que está mantendo presas as duas naves. O planeta não tem mais vida e Picard decide descer à superfície para explorá-lo, além de ter a ideia de convidar os ferengis a irem junto. Usando os argumentos de negociações e permutas, tão caros aos ferengis, Picard os convence a fazer uma missão conjunta com a Federação na superfície do planeta, embora Riker, Troi e Data estejam desconfiados da confiabilidade em cima dos ferengis. A missão precisa ter êxito logo, pois a energia da Enterprise cai a ponto de afetar os suportes de vida da nave.

O grupo avançado desce ao planeta, mas em locais diferentes. Data, Riker e La Forge se encontram, mas são atacados pelos ferengis, ficando inconscientes. Quando acordam, entram em luta corporal com os ferengis, mas Tasha rende a todos com um phaser. Os ferengis ficam impressionados em ver uma mulher vestida trabalhando com os homens da Federação, algo repugnante, segundo eles.

TNG 1x04: The Last Outpost | Trek Brasilis - A fonte definitiva de Star Trek  (Jornada nas Estrelas) em português
Data se enrola com as algemas chinesas…

O grupo avançado descobre que todo o planeta é uma espécie de coletor de energia. Uma forma de vida surgida da energia que paira sobre o planeta começa a se comunicar com eles. Uma forma de vida se materializa dizendo que é o guardião do Império Tkon. Riker e Data dizem que o Império foi destruído por uma supernova e o guardião não acredita. Os ferengis fazem uma série de acusações aos membros da Federação que dizem que cometeram falhas no passado. O guardião começa a citar Sun Tzu (“A Arte da Guerra”) e diz que os membros da Federação têm uma mente aberta que se deixa ser vista, ao contrário dos ferengis, que têm uma mente fechada, e faz amizade com os membros da Federação. Riker pede para que o guardião liberte a Enterprise e ele o faz. O guardião disse que ficou confuso com a Federação e os ferengis, pois eles primeiro queriam se destruir, mas depois cooperaram juntos. O guardião pergunta a Riker se deve destruir os ferengis e o Primeiro Oficial diz que não, pois os ferengis lembram o passado da Terra (não se pode odiar o que já se foi) e, se destruídos, não terão a oportunidade de aprender e avançar. Mesmo com o risco dos ferengis serem uma ameaça, eles merecem uma chance de crescer e aprender.

A Enterprise consegue recuperar o conversor de energia depois de um “pedido” do guardião aos ferengis. Riker pede a Picard para entregar uma caixa de algemas chinesas aos ferengis de presente. Fim do episódio.

TNG 1x04: The Last Outpost | Trek Brasilis - A fonte definitiva de Star Trek  (Jornada nas Estrelas) em português
Ferengis se tornam o alívio cômico do episódio. Reconhecem o ferengi do centro?

O que podemos falar do episódio “O Último Guardião”? Em primeiro lugar, esse é o episódio em que aparecem os ferengis. Foi uma ideia bem desenvolvida, mas talvez mal aproveitada nesse primeiro momento. Fez-se toda uma expectativa o início do episódio sobre os ferengis, a ideia de associá-los ao capitalismo selvagem foi muito boa, a imagem de Daimon Tarr era convincente e ameaçadora. O problema se deu na superfície do planeta, onde a postura dos ferengis acabou caindo mais para o alívio cômico do que para a pegada ameaçadora do início do episódio. E pior: as conversas entre o guardião e Riker sobre os ferengis colocam estes últimos numa posição de inferioridade, tal como se eles fossem uma raça atrasada perante todo o desenvolvimento moral da Federação. Isso cheirou a uma empáfia da Federação mais uma vez, algo que a gente já tinha visto um pouco em “Código de Honra”, o episódio anterior. Pelo menos, a gente sabe que os ferengis vão ser muito mais bem desenvolvidos em DS9. E se ali ainda houve um tom de alívio cômico para os ferengis, a gente também pode ver toda a sua cultura e cosmogonia mais bem definidas. As referências à cultura chinesa, sobretudo Sun Tzu, deram o aspecto literário ao episódio e caíram bem sendo, inclusive, bem aplicados ao desfecho do episódio, onde serviram de ponte para o entendimento entre Riker e o Guardião, mostrando para esse último a mente aberta de Riker e a aposta na confiança mútua, ao contrário dos ferengis, que fechavam a sua mente em virtude da desconfiança e da trairagem. Os membros da Federação optaram por jogar limpo e reconhecerem seus erros do passado, apesar da tática dos ferengis de acusá-los, muitas vezes até de forma mentirosa.

No mais, vimos mais desenvolvimentos de personagens. Picard mostra novamente o seu lado diplomático, não querendo partir para um conflito armado com os ferengis, à despeito das recomendações de Tasha e Worf, e parte para um diálogo dentro de parâmetros da cultura ferengi, depois das recomendações de Troi. Para Data, ficaram novamente bons diálogos que o transformaram numa espécie de alívio cômico no episódio, onde o episódio das algemas chinesas foi o mais marcante.

Dessa forma, “O Último Guardião” é um episódio interessante de Jornada nas Estrelas, A Nova Geração, por apresentar os ferengis (ainda que eles tenham sido mal aproveitados), lembrar da filosofia de Sun Tzu e dar uma passo a mais nas construções dos personagens Picard e Data. Vale a pena a revisita, até para ver Picard falar “merd!”.

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Picard fala um palavrão em francês…

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Era Uma Vez Um Sonho. Uma Sofrida História Real Que Acontece Em Qualquer Esquina.

Era Uma Vez um Sonho - Filme 2020 - AdoroCinema
Cartaz do Filme…

Dando sequência às nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar, vamos falar hoje de “Era Uma Vez Um Sonho” (“Hillbilly Elegy”), mais uma produção da Netflix que concorre a duas estatuetas: Melhor Atriz Coadjuvante para Glenn Close e Melhor Maquiagem e Cabelo. Curiosamente, Ron Howard, o diretor do filme, não recebeu indicação para Melhor Diretor. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Era Uma Vez Um Sonho | Crítica: Um filme difícil de se assistir que tenta  desesperadamente garantir indicações para suas atrizes | Arroba Nerd
O jovem J.D. e sua avó Mamav…

Vemos aqui a história real de J. D. Vance (o livro é baseado em sua autobiografia), um rapazinho do interior que vive em Middletowm, uma cidade decadente de Ohio, considerado um lugar de interior, com gente muito simples, mas que também não progride muito na vida (o jovem J.D. é interpretado por Owen Asztalos e, na fase adulta, por Gabriel Basso). Sua mãe, Bev (interpretada por uma incrível e esculhambada Amy Adams) é uma enfermeira que se viciou em remédios, perdendo seu emprego e se tornando uma mulher muito descontrolada e agressiva, o que gerava muitas brigas internas na família. Quem apagava os incêndios era a mãe de Bev, Mamaw (interpretada também por uma inacreditável Glenn Close), que buscava restabelecer o equilíbrio de sua família caótica, pois como dizia Mamaw, a família era tudo o que eles tinham. A falta de perspectiva do lugar e das pessoas que viviam na cidadezinha só não era maior que esse caos familiar, propiciando um terreno fértil para ninguém ir adiante. O caso de Bev era emblemático, pois ela estudou e se formou como enfermeira, mas o vício destruiu qualquer chance de progresso dela, levando-a ao fundo do poço. Mamav a protegia de seus destemperos, o que levantava a ira de J.D., que reclamava com Mamav sobre isso e queria morar com ela, já que Bev fazia um enorme rodízio de maridos e amantes que somente desestabilizava ainda mais as coisas. Até que, um belo dia, Mamav não aguentou o baque de tudo e baixou no hospital. Foi ali que ela pôde dar um tempo e fazer uma reavaliação das coisas, saindo do hospital pela porta da frente e indo à casa de Bev para pegar J. D. para criar. O menino, que sempre foi um bom garoto, já começava a se perder com as amizades erradas, e Mamav começa a lhe impor limites. Até que ele finalmente cai na real e começa a lutar por algo melhor, trabalhando e estudando, enquanto sua mãe caía ainda mais no buraco.

Saiba a mudança de Amy Adams para 'Era uma vez um Sonho', da Netflix
Uma Amy Adams desfigurada pelo choque de realidade…

O tempo passou e J.D. foi para Yale estudar advocacia. Ele tem uma semana decisiva de entrevistas para conseguir um bom emprego num escritório. Mas consegue apenas uma entrevista, justamente no momento em que sua irmã liga e diz que sua mãe está no hospital com overdose de heroína. J.D. tem que retornar a Ohio para cuidar disso justamente a poucos dias da entrevista decisiva, ficando por lá o máximo de tempo que podia antes de retornar de carro, dirigindo por toda a noite (parece nome de música isso), para chegar a tempo da única entrevista que tinha conseguido. Mas a mãe teve alta do hospital, não tendo onde ficar, com nosso J.D. ainda andando por aí atrás de um lugar onde ela pudesse ficar provisoriamente, antes dele retornar para a entrevista. Realmente, não é mole não.

Era Uma Vez um Sonho: aqueles que conseguiram superar as adversidades -  Folha de Campo Grande
Uma família de interior, que tem somente a si mesma…

É um filme muito envolvente, pois mostra uma família mergulhada na instabilidade emocional, como há muitas por aí em cada esquina. Parecia que todas as dificuldades que J.D. passava com os seus só o deixava mais forte ainda para progredir e sair de toda a estagnação da cidade e de seu círculo familiar. A coisa teve cara de loop, pois era muito fácil culpar Bev por sua irresponsabilidade, mas ela também teve uma infância difícil com sua irmã, onde Mamav apanhava de seu marido bêbado e ela até botou fogo no corpo dele, com as meninas tendo que literalmente apagar o pai. J. D. vai encarar um mundo totalmente novo e cheio de preconceitos contra essa decadência interiorana, com ele sendo ríspido contra isso num meio altamente elitista, não se esquecendo de suas raízes. Entretanto, chega uma hora em que os problemas pregressos de sua família começam a impedi-lo de seguir adiante, e J.D. precisa tomar a dura decisão de não ficar o tempo todo prestando assistência à sua mãe, pois ele deve tocar a vida que está construindo.

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Mamav irá rever seus conceitos para salvar J. D. da mediocridade…

Esse é mais um filme pesado, mas muito cativante, pois a gente se identifica demais com os personagens. Quem nunca teve um arranca-rabo com um parente muito próximo? A gente abraça junto com J.D. todas as suas angústias, revoltas e esperanças. Glenn Close e Amy Adams estavam supremas, onde a maquiagem tirou qualquer glamour hollywoodiano delas e as tornaram pessoas reais, que passam por angústias reais, sendo um o filme um concorrente forte ao Oscar de Melhor Maquiagem e Cabelo. Mas toda a maquiagem não seria suficiente se não fosse amparada pelas atuações das duas atrizes. Amy Adams era o paroxismo em pessoa, indo do extremo agressivo ao sofrimento incontido, passando por raros momentos de carinho, enquanto que Glenn Close era um misto de serenidade e firmeza, sempre nas horas certas. Torço muito para Glenn Close aqui, pois já queria ter visto ela ganhar o Oscar de Melhor Atriz na última vez que concorreu. Que ela consiga a Melhor Atriz Coadjuvante agora.

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A maquiagem e cabelo arrebentaram!!!

Dessa forma, “Era Uma Vez Um Sonho” pode até ser um filme que não tem muitas indicações, mas ainda assim é um filmaço, pois trabalha de forma bem contundente um choque de realidade ao radiografar uma família de interior dos Estados Unidos cheia de problemas e vivendo numa região decadente. Esse é um tema com o qual muitos se identificam, amparado por uma maquiagem e cabelo muito fortes e com atuações divinas de Amy Adams e Glenn Close. Merece, e muito, pelo menos um dos dois Oscars aos quais concorre.