Continuando com nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar 2021, vamos hoje falar da animação “A Caminho da Lua”, que está no Netflix e concorre a estatueta de Melhor Animação. Para podermos falar desse filme, vamos precisar de spoilers.
Vemos aqui a história de Fei Fei, uma garotinha chinesa que era encantada pela história de uma deusa, Chang’e, apaixonada por Houyi, mas os dois se separaram, pois Chang’e se torna imortal e vai morar na lua, com o seu amado morrendo, o que provoca grande sofrimento na deusa. Fei Fei cresce, sua mãe se adoenta e morre, deixando a menina desolada. Mas ela segue sua vida adiante, se interessando muito por ciências. Fei Fei ficará abalada quando seu pai se apaixona por uma nova mulher e quer casar com ela. Para piorar, a mulher tem um filho pequeno que é muito mala. Numa festa de família, seus parentes a provocam e dizem que Chang’e não queria saber de Houyi e, por isso, foi morar na Lua, o que deixa Fei Fei irritada e convicta de uma coisa: ela vai construir um foguete para ir para a Lua e atestar, com seus próprios olhos, que Chang’e sofre de amores pela falta de seu Houyi. Por incrível que pareça, ela consegue se lançar ao espaço, usando trilhos semicondutores ao estilo de um trem bala para pegar impulso. Mas seu “irmãozinho” mala se esconde no foguete, fazendo-o cair de volta ao planeta. Quando parecia que Fei Fei, sua coelhinha de estimação e seu irmãozinho iam se esborrachar no chão, um facho de luz vindo da Lua os captura e os leva para um mundo lunar com estranhos seres governados por Chang’e, que parece ser uma pessoa muito vaidosa e fútil, lançando um concurso geral para se dar um presente para ela. É claro que Fei Fei irá participar, mas ela encontrará muitos obstáculos e situações inusitadas para ela achar um presente que nem sabe o que é.
Essa é uma animação um pouco diferente das que vimos da Pixar aqui. Em primeiro lugar, temos um musical, com muitas canções ao longo da película. Em segundo lugar, e o que é o mais interessante, vemos uma animação muito motivada por elementos da cultura chinesa, tornando a coisa especial. Em terceiro lugar, a gente vê uma característica ambígua em Fei Fei, que gosta de ciências e a usa em toda a sua plenitude no desejo de ir para a Lua. Mas o que motiva essa viagem de Fei Fei é algo fantasioso, uma lenda com gosto de história infantil, que é o martírio da solidão da deusa Chang’e, que ela atribuía demais à sua mãe, uma pessoa a quem amava muito e perdeu cedo. Assim, Fei Fei se identificava com a deusa mitológica na dor de sua solidão e essa característica deu muita liga para a história, principalmente na parte final da animação, quando as duas se identificam em seu sofrimento e solidão, tornando a coisa muito bonita. Confesso que, no transcorrer da exibição, eu estava achando essa animação um tanto cansativa, com um mundo lunar deveras fantasioso e cheio de momentos espetaculosos, mas quando a coisa se voltou mais para a emoção e as carências de Fei Fei e Chang’e, a história melhorou muito. Todo esse aprendizado fez com que Fei Fei retornasse ao seu mundo natal com outra visão de mundo, aceitando as escolhas do pai, seu novo irmãozinho e a família que ela achava chata num primeiro momento. A viagem à Lua de Fei Fei foi uma espécie de metáfora onde ela purgou seus sentimentos sofridos de infância e a tornou uma pessoa melhor, capaz de encarar o futuro com mais maturidade.
Dessa forma, se “A Caminho da Lua” não é uma grande animação (duvido muito que ela tenha alguma chance com um concorrente tão forte como “Soul”), ainda assim ela consegue despertar emoção no espectador ao seu final, mesmo que tenhamos uma historinha um tanto enfadonha em seu desenvolvimento. Os motivos da cultura chinesa são uma atração à parte e os números musicais ajudam a gente a ter um pouco mais de simpatia pela animação. Vale pela curiosidade.