Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, retornemos à série clássica e vamos falar do quinto episódio da primeira temporada, intitulado “Tempo de Nudez”.
A Enterprise chega a um planeta congelado que está prestes a se destruir. Há uma base com cientistas que precisam ser resgatados. Mas quando Spock e um camisa vermelha lá chegam, estão todos mortos. Uma mulher está estrangulada e um homem está vestido no chuveiro. Enquanto Spock averigua, o camisa vermelha se contamina todo, passando a mão no rosto por baixo de toda a roupa de proteção. Foi constatado que a equipe de cientistas estranhamente desligou os suportes de vida e a base congelou, matando a todos.
Quando Spock e o camisa vermelha chegam à nave, Spock pede a descontaminação no transporte. Exames médicos são feitos nos dois e tudo acusa normal, mas o camisa vermelha está incomodado com tantas mortes e apresenta uma coceira no corpo.
Na sala de reuniões, há um estranhamento com relação ao comportamento da equipe de cientistas (houve até cientistas dando tiros de phaser). Não há sinais de contaminação ou de qualquer outra coisa que justifique o comportamento estranho dos cientistas. E a Enterprise terá que ficar numa órbita mais baixa para analisar a destruição do planeta. Haverá risco?
Sulu e um tripulante (O’Reiley) chegam à sala de recreação, onde o camisa vermelha que desceu à superfície com Spock está. Este tem um comportamento agressivo e irracional, apontando uma faca para os dois, que o imobilizam, mas acabam-no ferindo. O’Reiley começa a sentir coceiras, como o camisa vermelha. Sulu fica com os mesmos sintomas. Eles estão na ponte enfrentando as instabilidades do planeta e tal interferência na órbita da nave. Kirk acaba tocando nos botões que O’Reiley toca e se infecta também. McCoy opera o camisa vermelha e ele morre, mesmo com o ferimento não sendo sério. Sulu começa a mostrar alterações, assim como O’Reiley, e deixam a ponte. O primeiro vai embora sem avisar e o segundo é enviado à enfermaria por Spock. Isso vai ser suficiente para a contaminação se espalhar pela nave (é nesse momento do episódio em que há a famosa sequência onde Sulu mostra a sua competência na esgrima). Sulu sobe à ponte com a espada, ameaçando a todos, mas é colocado para dormir com o toque neural vulcano de Spock. A engenharia está tomada por O’Reiley e os controles não respondem, colocando a nave sob ameaça em virtude da instabilidade do planeta. O’Reiley, aparentando estar embriagado, liga a comunicação interna da nave e fica cantando em voz alta, para desespero de Kirk. Uhura identifica confusões por toda a nave. E grita com Kirk quando este grita com ela. Os dois perceberam que se excederam em virtude do stress e praticamente pedem desculpas um ao outro.
McCoy e Christine estão cuidando de Sulu e o doutor vai pegar a biópsia. Christine já apresenta sintomas e toca na mão de Spock quando este vai à enfermaria, dizendo que está apaixonada por ele, que fica sem reação e percebe que foi contaminado. Spock sai da enfermaria abalado com a declaração de Christine e engole o choro. Ele se esconde numa sala de reuniões e começa a chorar.
Scotty consegue abrir a engenharia e Kirk toma de volta seu controle. Mas os propulsores estão frios e eles não aquecerão a tempo de impedir que a nave desça à atmosfera e queime. Por outro lado, McCoy descobre a cura. A água do planeta tem moléculas complexas que entram pela transpiração e reagem no corpo como embriaguez. O doutor desenvolveu um soro e Sulu foi o primeiro a ser curado, depois de gritar muito na frente de McCoy com uma injeção na mão (cena muito engraçada, por sinal).
Kirk encontra Spock na sala de reuniões e propõe a ele uma mistura de matéria-antimatéria mais rápida para acionar os propulsores mais rapidamente. Mas isso também pode explodir a nave. Spock está mergulhado em seus problemas emocionais e não escuta Kirk, que começa a dar tapas na cara do vulcano. Spock, então, dá um tapão que joga Kirk longe (lembrando sempre que um vulcano tem três vezes a força de um humano). Kirk também se contamina e fica reclamando que não consegue pegar a Ordenança Rand por causa da Enterprise. E os dois, nesse meio tempo discutem a tal da equação ideal para a mistura matéria-antimatéria. Scotty entra na sala de reuniões e todos conseguem manter uma sanidade temporária. Spock vai dar a tal equação e Kirk dá as ordens para fazer a mistura. Kirk chega à ponte e McCoy rasga a camisa do capitão para aplicar a injeção de soro (os tecidos do século XXIII não parecem muito bons).
Spock conseguiu a mistura e a nave fugiu do planeta numa velocidade maior que a possível, o que fez a nave regredir no tempo três dias. Ou seja, eles conseguiram uma dobra temporal, que seria usada como artifício na série posteriormente. Fim do episódio.
O que podemos dizer do episódio “Tempo de Nudez”. Em primeiro lugar, ao contrário do que vimos em TNG, onde o episódio de mesmo tema pareceu fora de hora, aqui esse episódio funcionou bem na construção dos personagens, principalmente Spock e Christine. O vulcano deixou suas emoções aflorarem onde ele chorou por não poder engatar um romance com Christine e sentiu por sua mãe, uma terráquea com emoções, viver em Vulcano, onde a espécie vulcana reprimia as emoções. Esse foi o primeiro episódio onde Spock ficou muito em evidência, passando a receber centenas de cartas dos fãs depois de “Tempo de Nudez”. Já Christine se declara abertamente ao vulcano, algo que seria aproveitado em outros episódios. A doença afeta também Kirk que reclama que a responsabilidade sobre a Enterprise o impede de engatar um relacionamento com uma mulher, sobretudo a Ordenança Rand, que ele confessa estar apaixonado. Todas essas instabilidades emocionais desses personagens específicos tiveram um bom grau de dramaticidade, ajudando o público a desenvolver uma empatia com os personagens. As outras situações de instabilidades de personagens ficaram mais como alívios cômicos. Em TNG, a coisa chegou a um ponto em que todos os personagens caíram no ridículo, mesmo quando eles falavam de suas vulnerabilidades, parecendo algo mais inconveniente.
“Tempo de Nudez” também mostrou um certo humor, o que seria uma das características de Jornada nas Estrelas. Em alguns momentos, esse humor foi voluntário, como as impaciências de Kirk e Spock para com a cantoria alterada de O’Reiley. Mas também tivemos momentos de humor um tanto involuntário, como na troca de tapas no rosto entre Kirk e Spock e no grito retumbante de Sulu perante um McCoy com uma injeção na mão. Ou seja, eu acredito que tenha sido um humor involuntário, pois se foi um humor voluntário, ele foi também muito escrachado.
No mais, foi criada a tecnobabble da dobra temporal, o que abria à série as possibilidades de viagens no tempo, que seriam também usadas nos longas de Jornada nas Estrelas.
Dessa forma, “Tempo de Nudez” é um episódio de Jornada nas Estrelas que trabalha de forma dramática os personagens de Kirk, Spock e Christine Chapel. O episódio também lançou mão de humores voluntários e involuntários, além de criar a tecnobabble de viagem no tempo. Vale a pena dar uma conferida nesse episódio.