Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, retornemos a Enterprise e seu sexto episódio da primeira temporada, intitulado “O Incidente Andoriano”.
Qual é o plot? A história começa com um templo vulcano sendo invadido por andorianos. Na Enterprise, Archer encontra um planeta com um posto vulcano. Ele pergunta a T’Pol o que é o posto e ela diz que é P’Jem, um monastério onde os vulcanos fazem o Kolinahr. Archer quer fazer uma visita, mas T’Pol crê que os humanos não serão bem vindos. Archer insiste e T’Pol diz que vai fazer os protocolos.
Num almoço, Phlox fala da oportunidade de T’Pol apresentar sua tripulação humana aos vulcanos. Ela acha que isso é algo embaraçante. Phlox lembra então de um lema dos vulcanos: “Infinitas diversidades em infinitas combinações”. E que a missão da nave é destinada aos humanos fazerem contato com espécies. T’Pol é obrigada a dar o braço a torcer.
Eles chegarão sem avisar, pois o templo não tem qualquer aparato tecnológico. T’Pol diz que, se os protocolos forem respeitados, não haverá problemas. E deu uma série de instruções para Archer e Trip não cometerem gafes, muito parecidas com aquelas que as nossas mães nos davam antes de chegar a casa dos avós, como se os humanos fossem realmente crianças. Archer diz ironicamente a Trip que o treinamento da Frota foi mais fácil.
Ao chegarem ao templo, eles encontram sinais de que ele foi violado e somente um membro no átrio principal, quando deveriam haver dois. Ele diz a T’Pol que os vulcanos estão em silêncio pelo Kolinahr. T’Pol desconfia da situação e Archer, de forma deliberadamente inconveniente, começa a falar com o membro vulcano. Archer percebe que há um andoriano escondido atrás de um biombo e ele combina com Trip para imobilizá-lo. Só que outros andorianos armados aparecem. Eles são agressivos, não conheciam os terráqueos (a quem chamam de “peles rosadas”) e não gostam de saber que os terráqueos trabalham com os vulcanos. Os andorianos não acreditam em Archer, que diz que só foi ao santuário por curiosidade e que a presença da Enterprise lá só confirma que há algo além do santuário ali. T’Pol diz a Archer que eles são andorianos, vivem num sistema vizinho a Vulcano e que estão em conflito com eles há anos. Um tratado de paz foi negociado, mas nem todos os andorianos acreditam nele (Os andorianos acham que os vulcanos ainda são conquistadores). Os andorianos acreditam que os vulcanos escondem um sensor de longo alcance no templo. Os vulcanos do templo dizem que, geralmente os andorianos aparecem por lá e, quando não acham nada, vão embora. Mas a presença dos humanos aumentou as suspeitas deles dessa vez.
Na Enterprise, Reed percebe outra nave na superfície do planeta e demonstra preocupação. Archer é espancado num interrogatório dos andorianos e demonstra raiva, o que os surpreende. Eles querem saber por que T’Pol está com eles. Archer diz que o Alto Comando Vulcano a selecionou para viajar com eles. O comunicador de Archer toca e este diz ao andoriano que é a Enterprise, a nave dele, que tenta contactá-lo. O andoriano (que é Shran) diz que os humanos estão como reféns dos andorianos e, se a Enterprise tentar atacar, que matará os reféns. E destrói todos os comuniccadores. Reed manda uma nave auxiliar e quer saber o que tem sobre os andorianos no banco de dados da nave.
Archer é colocado de volta com os demais prisioneiros e disse que os andorianos estão vasculhando os quartos e que pretende matar os reféns para obrigá-los a falar. Tambem diz que os andorianos falaram com Reed e destruíram os comunicadores, e tem certeza que seu oficial tático descerá numa nave auxiliar bem armado. E pede sugestões. Um dos vulcanos diz que há um transmissor muito antigo que não é usado há anos. E que esse transmissor está em catacumbas que não podem ser violadas pelos andorianos. Trip desce às catacumbas com um vulcano numa passagem secreta. Eles pegam o transmissor e levam de volta para a cela. Archer diz a T’Pol que talvez só uma saída violenta salve a vida deles. T’Pol é contra a violência. Archer pergunta se pode contar com T’Pol. Ela diz, com raiva, que nunca desobedeceu as ordens de Archer.
Trip consegue fazer contato com a Enterprise e pede para que Reed não ataque e aguarde, pois isso pioraria muito a situação. Eles procuram uma saída pelas passagens secretas e descobrem que um dos túneis leva ao átrio principal, onde há um grande rosto de pedra. Archer consegue despistar os andorianos e atesta que a saída do túnel é pelo rosto de pedra. Ele ordena que Reed e alguns seguranças desçam via teletransporte para o planeta. Os tripulantes estão receosos, pois o teletransporte é só usado para carga, mas Reed é taxativo e ordena que eles se posicionem. Os andorianos, que não conhecem a tecnologia de teletransporte, detectam uma energia flutuante e voltam correndo para a cela. O grupo avançado se esconde na passagem secreta. T’Pol fala que a flutuação de energia que os andorianos detectaram pode ser um problema nos instrumentos deles. Shran deixa um andoriano vigiando a cela.
Reed explode a face de pedra e o grupo avançado ataca os andorianos. Alguns deles fogem em direção às catacumbas. Na cela, Archer está em luta corporal com o andoriano que ficou para vigiar os prisioneiros, conseguindo imobilizar o alienígena. Reed chega e diz que os andorianos fugiram às catacumbas. O líder vulcano critica a atitude violenta dos humanos, mas um vulcano se arma e diz que eles precisam defender o templo, indo com os humanos. Os andorianos foram justamente para o relicário, o local mais sagrado das catacumbas. Começa um tiroteio no relicário, que revela uma porta de metal que guarda um enorme sensor de longo alcance. Archer, revoltado, ordena a T’Pol que escaneie tudo e entregue as informações ao andoriano, pois os vulcanos violaram o tratado e os andorianos precisam saber. Archer pergunta se T’Pol tem alguma objeção e ela pega o comunicador para dar a ordem a Enterprise de deixar os andorianos irem embora sem ataques, para aliviar a desconfiança de Shran, que diz a Archer que os andorianos lhe devem uma. O episódio termina com a nave auxiliar deixando o templo.
O que podemos falar do episódio “O Incidente Andoriano”? Em primeiro lugar, é um baita de um episódio, pois nos apresenta os andorianos como bons antagonistas e sua querela com os vulcanos. Uma herança de “Jornada para Babel”, episódio de TOS. Os humanos não conheciam os andorianos e sentiram na pele essa versão bem agressiva desses alienígenas, o que trouxe um elemento interessante para essa série, até porque sabemos que os andorianos seriam importantes em muitos episódios de Enterprise. A saída para que os reféns fossem resgatados também trouxe elementos interessantes, pois um grupo avançado teve que descer com o teletransporte para a superfície do planeta, algo que não era utilizado para transportar humanos, somente cargas, e que era visto com muita desconfiança pela novidade. Para se ter uma ideia, os andorianos não conheciam a tecnologia de teletransporte. A questão dos interrogatórios sob tortura e as cenas de tiroteios deram um quê de ação ao episódio. Mas o grande destaque aqui foi o fato de que os vulcanos mantinham realmente um transmissor de longo alcance no templo para espionar os andorianos, violando um tratado que eles mesmo estabeleceram juntamente com o povo inimigo. Se a gente via, em TOS, Spock dizendo categoricamente que os vulcanos não mentem no século 23, os vulcanos do século 22 mentem, e muito. Isso provocou uma baita de uma revolta em Archer contra os vulcanos, a ponto dele entregar de mãos beijadas a Shran todas as informações que ele buscava no templo sobre o sensor de longo alcance. Tal situação também deixou T’Pol muito surpresa e ela não teve outra alternativa a não ser obedecer o seu capitão. Ou seja, se os vulcanos vestiam uma carapuça de totalmente lógicos e que tinham autoridade suficiente para tutelar humanos, este episódio nos mostra que os vulcanos não são tão virtuosos assim, o que vai afetar as relações de T’Pol com a tripulação da Enterprise, pois ela não poderá ser mais tão arrogante para com os humanos.
Dessa forma, “O Incidente Andoriano” é mais um bom episódio de Enterprise, o que mostra como a série começava muito bem lá nos idos de 2001. Ao apresentar os andorianos de uma forma mais agressiva que o esperado, se colocar defeitos nos vulcanos e Archer apoiar os andorianos perante a mentira vulcana, houve uma abertura de possibilidades para episódios muito bons na série como veríamos futuramente. Vale a pena revisitar esse ótimo episódio.