Batata Literária – A Balada da Pequena Notável (à Carmen Miranda)

Ela veio de Portugal pequenininha
para no Rio de Janeiro levar uma vida simplezinha.
Mas na adolescência houve um despertar
que foi o seu enorme desejo por cantar.
Participou de concursos de música
e os ganhou, de forma única.
Até que foi parar nos rádios e gravadoras,
marchinhas de carnaval, cantando-as todas.
Logo, tornou-se uma cantora muito famosa.
No Cassino da Urca, um americano apresentou-se de forma melindrosa.
Ele queria levá-la para a Broadway, nos “States”.
Ela aceitou só se seus músicos fossem junto com seus enfeites.
Fez muito sucesso na América e ajudou a consolidar uma aliança
entre o Brasil e os Estados Unidos na política da boa vizinhança.
Assim, uma artista de cinema ela se tornou
e a divulgar a imagem do Brasil auxiliou.
Mas, quando a paz desperta,
esqueceram dela de forma aberta.
Casou-se com um empresário sem perceber
que muitos shows teria que fazer.
Para aguentar o ritmo, teria que se medicar
com estimulantes que a sua saúde iriam prejudicar.
A vida de muito trabalho e a violência do marido
renderam uma crise de pânico e a volta ao solo querido.
Entretanto, ela estava desolada com a imprensa pátria
e volta para a América e a sua vida pária.
Após um show na televisão
um ataque cardíaco acabou com a sua vida e imolação.
Seu corpo foi chorado por seus patrícios
que não sabiam de seus suplícios.
Hoje ela é lembrada como uma figura sem igual,
verdadeira lenda da mitologia nacional.

Batata Literária – She Left Home Versão Borboleta Azul

E a Batata Espacial tem sua primeira colaboradora. Minha amiga Rosilene Jorge dos Ramos, professora e poetisa, pertencente ao grupo Gambiarra Profana, apresenta sua poesia “She Left Home Versão Borboleta Azul”. Para conhecerem mais o trabalho da Gambiarra Profana, cliquem aqui. E vejam a poesia declamada pela autora no vídeo abaixo.

Batata Literária – O Barroco

Eu estou em permanente conflito.
Do ser humano, amo tudo que ele tem de mais bonito.
Era como diziam os renascentistas:
com sua inteligência, o homem faz coisas infinitas.
Ele cria a ciência e a tecnologia,
melhora o nível de vida todo o dia.
Suas conquistas são como preciosas minas
tão etéreas, praticamente divinas.
Mas também amo – e temo – a Deus.
Quero a minha salvação e a dos meus.
Os religiosos dizem que estou abaixo do Salvador,
e é aí que começa a minha dor.
As conquistas humanas são coisas de pecador.
Ao valorizar o homem, parece que de Deus perco seu amor.
E, condenado ao inferno estou!
Assim não sei mais quem sou!
Por que é heresia valorizar o humano?
Por que isso me torna tão mundano?
Não podemos ter a liberdade de criar
sem violar a premissa de a Deus adorar?
Somos maravilhosos e sensatos.
Por que ofendemos a Deus com nossos atos?
Será que a religião só valoriza a obediência
e encara a liberdade do homem com demência?
Chego a essa última estrofe arrasado.
Renuncio à grandeza do homem amargurado.
Mas Deus é mais poderoso que eu.
Por isso, minha crença no homem morreu.
Entrego minha alma à salvação
para que Deus possa tomar uma decisão.
Mas, realmente, tudo o que eu queria
era conciliar paixão e fé sem vilania.

Batata Literária – Charlot, O Gênio Vagabundo (à Charles Chaplin)

Ele nasceu na Inglaterra.
Teve uma infância muito difícil.
Sua mãe, louca cantora cuja carreira encerra,
obriga o jovem menino a fazer o impossível.
Logo mostrou seus dotes artísticos
para ajudar a sustentar a família.
Recebendo o auxílio dos deuses místicos,
para os Estados Unidos ele foi mostrar seu talento a cada milha.
Na América, começou a trabalhar em cinema.
Em 1914, na Keystone, fez dupla com Mabel, a pequena.
Mas ele queria o controle total da situação
e, em poucos anos, montou seu próprio estúdio, fruto de sua ambição.
Conseguiu poder e muitas amantes.
Para ele, nada mais era como antes.
Mas sua grande conquista, que o tornou conhecido no mundo
foi o seu personagem, um pobre vagabundo.
Seus filmes eram mais que comédias.
Falar da injustiça do mundo fazia parte de suas ideias.
Por isso, foi implacavelmente perseguido.
Ao viajar para a Europa, foi tratado como criminoso fugido.
Teve que viver na Suíça em exílio,
sem que ninguém fosse em seu auxílio.
Desta forma, viveu anos amargurado,
pois foi da América injustamente desterrado.
No fim de sua vida, teve autorização para aos Estados Unidos retornar.
Humilhado, ele chegou a refutar.
Mas à América ele retorna
para receber um Oscar pelo conjunto da obra.
Na cerimônia, ele foi justamente homenageado.
Tudo isso o deixou profundamente emocionado.
Era o reconhecimento de seu talento afinal
e a confirmação de um gênio mundial.

Batata Literária – Paixão de Rick (à Humphrey Bogart)

Eram duas da manhã.
Uma noite fria em Casablanca, de esperança vã.
Surge à minha frente, o Rick’s
como um monumento soturno
adequado ao malogrado ambiente noturno.
Decido lá entrar
para do frio da noite escapar
e da lembrança da guerra me desgarrar.

Dentro do night club, tudo é depressão.
Bêbados caídos, prostitutas em desilusão.
O Sam está ao piano
tocando melodias mundanas.
É um ambiente de total desengano,
a tristeza parece perdurar por semanas.
Mas o que impressiona meu imaginário
é lá no fundo, um vulto solitário.

Eu caminho em direção a ele,
Eis que a surpresa me vem a flor da pele.
É o próprio Rick, chorando!
É uma imagem que fica me intrigando.
Rick é um sujeito forte.
Tem carisma em seu porte.
Sempre de dedo em riste
jamais o reconheceria triste.

De repente, uma mão puxa meu braço.
É o Sam, com seus cigarros de maço
que busca me tornar consciente
porque Rick estava deprimente.
O pianista conta que seu patrão
foi abandonado por sua amada.
Se mudou para Casablanca cheio de decepção
e agora não acredita em mais nada.

Batata Literária – A Rainha de Gales (à Bonnie Tyler)

Eu estava em Swansea.
Eram onze e meia da noite.
Entrei no pub
muito ordinário para um night club.
No bar, um rosário de venenos cobiçados
que iam desde a cerveja até o absinto
tornando os bêbados irados
e, nos mais comedidos, acirrando o instinto.
Mas eu estava lá por outro propósito.
Esperava por minha rainha naquele ambiente inóspito.
Nascida Gaynor, Bonnie imortalizada,
toda semana cantava aqui minha amada.
Seu show começava à meia noite
num pequeno palco lá no fundo.
Eu sempre sentia um impacto, como num açoite,
quando ela surgia para todo o mundo!
Finalmente, ela aparece na ribalta.
Seus cabelos louros e olhos azuis, tudo isso me exalta!
Ela traja um negro vestido de veludo.
Sua boca vermelha e seus brilhantes me deixam mudo.
Mas a plateia bate palmas morna.
É uma turba idiota que insensível se torna
aos talentos infinitos de minha deusa
artista notória de origem galesa.
Ela começa a cantar.
Escolhe “He’s the King” como a primeira música a interpretar.
Olha para a plateia de jeito formoso.
Volta e meia, me joga um sorriso gostoso.
Às vezes, parece que ela me conhece há mil anos.
Há a impressão de que nos amamos.
Mas eu sei que sou apenas um súdito inglês
dessa eterna rainha do povo galês.

Batata Literária – O Sol

Falo do Astro Rei.
Nossa fonte de luz própria.
Tudo o que sei
é que ele possui energia sóbria,
pois ela permite a existência da vida
no nosso pequeno planeta.
E, em todo o Universo, de nossa ida,
a maioria das estrelas não mostra tal faceta.
Ele é uma estrela de quinta grandeza,
mas a dez parsecs de distância,
pois se considerarmos a magnitude em sua pureza,
a menos de vinte e seis negativos ela vai sem relutância.
Para nós, mortais, nosso Astro é descomunal.
Grande fonte de força e energia.
Mas, em termos de Universo, é apenas uma estrela normal,
na sequência principal do diagrama da astronomia.
O que faz nosso Sol brilhar?
É a conversão de hidrogênio em hélio,
resultante de uma fusão nuclear.
Isso precisa de muita temperatura – falo sério!
de cerca de milhões de graus.
Tal transformação dura bilhões de anos.
Sorte para nós, seres tão frágeis e maus
que podemos continuar a viver cometendo atos insanos.
Esse é o nosso Sol, uma estrela anã.
Ele gera a vida
e não a torna vã.
Produz nossa comida
e nos dá o afã
de viver de forma não sofrida.
Mas o homem não aproveita a chance o bastante
e com guerras e intolerância tenta acabar com si próprio num instante.

Batata Literária – A Afeição

Ela é nascida para gostar.

Nascida para adorar.

Nascida para amar.

Em seu coração, não existe espaço para ódio,

a raiva vive em ócio,

o desprezo não é o seu negócio.

Só cultivar o carinho,

prática que vem desde o ninho.

Ela gosta porque confia

nos seus amigos todo o dia.

Essa é a base da amizade,

acreditar no seu amigo com vontade.

Sem medo da traição

você pode abrir seu coração,

amar com convicção,

e se dedicar ao próximo com devoção.

Para ela, tudo é maravilhoso.

Na humanidade nada há de horroroso.

O ser humano usa o racional

para domesticar e aprimorar o emocional.

Ela só ouve os votos dos renascentistas

e as preces dos iluministas,

criaturas extremamente otimistas

que ignoram as vozes dos pessimistas.

Quem é essa dama tão ingênua?

Tão tola e despreparada?

Tão tresloucada?

Ela é a afeição!

Dona de tanta emoção!

Mas ela parece tão feliz!

É, parece que ela fez a escolha certa.

Conseguiu escapar do mal por um triz!