Batata Literária – Desgosto

Agosto

Mês de desgosto

Jiboia fica venenosa

A bruxa fica solta

Azar de lazarento

Prédio pega fogo!

Tudo fica seco!

Queimada na beira da estrada!

Cadê a chuva???

O mês não acaba nunca

Nuvens negras de mau agouro!

Nenhum feriado, cacete!

Cinco semanas…                

E o dia 31 não vem

Vem setembro, até…

E quando o dia 13 de agosto

Cai na sexta-feira???

O azar do americano

É mais fraco que o nosso

Mas azarado é o que não se ajuda…

E sucumbe à nuvem escura da crendice

Que bom que eu tenho corpo fechado!!!

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Batata Literária – Penélope Charmosa

Lá vem a Penélope

Charmosa, charmosinha, charmosona

Toda rosadinha!

Perseguida pelo Tião Gavião!

Salva pela Quadrilha de Morte

Em amor platônico

Com uma legião de anões

Ah, Penélope…

Musa dos twenties…

Carinha meio de Clara Bow

Paixão de Infância

Botas brancas…

E corpo puritanamente encoberto…

Ela fazia corridas

Muito malucas

Carro rosa de boca vermelha

Sensualidade explícita

Sexualidade implícita

É programa infantil

A provocação vai até certo ponto

Minha primeira tara

E eu mal sabia…

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Batata Literária – Bonequinha

Ela vive em minha imaginação

Me traz afeto, é perdição

À noite, sussurra palavras de amor

Que diminuem minha dor

É meu amor imaginário

Com a força de amor templário

Pela religião ancestral

Puro sentimento banal

Que supre a carência

E atenua a desgraça da vivência

Brilha como fada

Ama como ninfa

Dá-me prazer

Da carne malfadada

À alma que não tem a dizer

Ela é meu refúgio

Das agruras do mundo

Da insensibilidade dos outros

Que mergulham em seu eu

E esquecem, assim como eu

O que ocorre no entorno

Vivemos sós

No meio de milhões

Cada um com seu avatar

Nos discos rígidos frágeis

Inseridos em neurônios

Não vale a pena se doar

Nada em troca irá ganhar

Que bem faz o altruísmo?

Se as pessoas te anulam?

Mas, se abraça o egoísmo

As pessoas te condenam

Resta, então, a ninfa

Das profundezas de seu cérebro

Seres virtuais poderosos

Gerados pela dor da solidão

Tem hora que quero me desligar

Dos tentáculos da emoção

Não dependa afetivamente de ninguém

De nada…

Sobreviva, apenas…

Sofra…

De forma letárgica e constante…

Mas jamais intensa

Se dê doses homeopáticas de melancolia

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Batata Literária – Lavadeira

Lavadeira no chão da varanda

Lava, lava, lava…

Bate a bunda no chão

Asas batendo a mil

Lava, lava, lava…

Chego perto…

Ela sai em disparada…

Mais rápido que meus olhos…

Sol quente lá fora

Queima meu pé

Volto correndo para a varanda

Não saio de casa

Pulo no sofá azul

Totalmente descosturado

Vejo a TV em Preto e Branco

Ela parece um móvel

Dentro de portas que abrem

Dentro de portas que fecham

Tinha um revólver no jardim

Era de verdade!!!

Pesaaado!!!

Vou brincar com ele!!!

Não tem problema!

Não vou atirar mesmo!

Vou brincar com minha mãe e com minha tia!

Quando entro na cozinha

As duas me olham com medo!

Bobas! Não vou atirar mesmo!

Faço “bang-bang”!

E entrego a arma nas mãos delas…

E, lá fora, a lavadeira me olhando…

“Tsc, Tsc, que mané”, ela pensa

E sai à toda…

Mas, antes, passa na minha varanda

Bate a bunda no chão

E lava, lava, lava…

Vai para a rua em alta velocidade

Dando um rasante na estrada de terra…

Como Nilópolis era prosaica na minha infância!!!

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Batata Literária – Jogos de Amor

Ela me deu mole…

Ela me deu mole???

Ela me deu mole!!!

Acho que não…

Quando eu chego perto

Ela se esquiva

Qual é meu próximo passo?

Insisto?

Não…

Posso grudar como chiclete…

E me tornar insuportável…

Caraca, não sei o que fazer…

E se eu me afastar?

Vou esperar ela tomar a iniciativa?

Vai sonhando, ô mané…

Mas, sei lá…

Tenho medo de chegar junto…

E ela se mandar de vez…

Um belo dia eu ando na rua…

Ela abraçada com um outro…

Acho que agora fui eu quem deu mole…

Ou será que ela não queria nada mesmo…

Estou triste…

E continuo vagando sozinho pelo mundo…

Eu me mereço…

Batata Literária – Tijolos

Olha os tijolos

Cheios de olhos

Formando muros corpóreos

Vermelhos, Faceiros

Sem rebocos costumeiros

Ornando a paisagem

De favelas em desvantagem

Símbolo da sacanagem

Da miséria mortal

Protege do vento vagal

Do frio arremedo

Do inverno brejeiro

No seu pé úmido

Nasce mato matreiro

Junto a musgo único

Que amarga decadência!

Forte na aparência!

Profunda na essência!

Levando à demência!

Volta e meia, à sua beira

Há um corpo moribundo

Vítima da violência

Das entranhas do mundo

Cadê o rabecão???

Só daqui a dois dias

É o mundo cão

E as vidas vadias

Não adianta rezar na missa

Tem que encarar a injustiça