Batata Literária – Anja Sabida (Para Adriana)

Ela estava na internet, triste e sozinha

Eu fiquei com muita peninha

E a chamei para conversar

Assim, saímos para passear

Foi muito difícil fazer ela falar

Mas, ao fim do passeio, um abraço eu fui dar

O rosto dela se iluminou

E a minha alma tocou

 

Hoje, vivemos juntos e encaramos a vida

Eu muito cresci com ela

Pois aquela moça tímida

Sabia enfrentar o dia-a-dia de forma singela

Trabalhar para dinheiro ganhar!

E conseguir se sustentar!

Ela sabia ser muito forte!

E, assim, meu amor me deu meu norte!

 

É verdade que, forte também é seu temperamento!

Quando ela está da pá virada, não resolve nenhum lamento

Mas também há os dias de criança

Da garotinha cheia de esperança

Que brinca, com bonecas e pelúcias

E me diverte contra o mar de lamúrias

Do cotidiano triste e desonroso

Que torna meu cérebro nervoso

 

Tem, também, o companheirismo

A certeza de que um ajuda o outro

Nos momentos de dificuldade e impossibilismo

Braços amigos que valem ouro

Por fim, tem o mais importante,

O mais incessante, o mais determinante

É um grande sentimento de profundo amor

Que dá às nossas vidas muito mais calor!

 

Batata Literária – Flor No Pé Do Vulcão

Mais um dia começa!

E vem com maus presságios

O vulcão treme à beça!

Indício de infernos temporários

E eu aqui, ao pé da montanha, resisto

A mais uma tamanha crise de mau humor

A natureza, em seu curioso imprevisto

Me faz nascer aqui para encarar da lava seu fervor

 

O dia, tranquilo passou

O meu gigante vizinho não se estourou

Mas, ao fim da tarde, as coisas mudaram

E todas as erupções começaram

Projéteis de pedra incandescente

Tornavam o céu noturno uma beleza resplandecente

Essas iam longe, eu pensava

O perigo mesmo eram os jorros de lava

 

E, eis que lá vinha ela, iluminando a negra encosta

Mais uma vez, eu me perguntava e buscava a resposta

Será que hoje vou morrer queimada?

Será que minha existência se dará por acabada?

O medo pulula em minha seiva

A desgraça passa ou é desgraça feita?

O rio de fogo se aproxima

É a morte que chega e atemoriza

 

Imediatamente, começo a mentalizar

“Passem ao lado, brasas más!”

“Não me queimem mais!”

E a lava, miraculosamente, começa a se desviar

Sinto, ao meu lado, o poder de toda sua quentura

Para esta pobre flor, esta é uma vida muito dura

A lava passou e esfriou com desfaçatez

É, à tragédia de minha companheira, sobrevivi mais uma vez

Batata Literária – Formigas E Cigarras.

Trá-Trá-Trá

Lá vêm elas

As formiguinhas!

Trabalham o dia inteiro!

Toda semana!

Todo ano!

Só param com o formicida

Sempre ativas! Sempre ativas!

 

E as cigarras?

Essas cantam…

Não trabalham?

São vagabundas?

Recebem o Bolsa Família?

Têm alma de artista?

Passam mesmo fome no inverno?

Ou é só história que o povo conta?

 

Creio que elas são excelentes meteorologistas

Alguns contam que, quando cantam, vai sair Sol

Outros dizem que, quando cantam, vai sair chuva

Elas só não preveem a neve

Isso fica para as andorinhas e borboletas

Mas a cigarra tem outras utilidades

Servem de jantar para as aranhas

Não em minha casa, salvo-as todas, tadinhas…

 

Esta noite, as formigas vão ter uma folga

Elas vão no Vegetal´s Music Hall

Assistir a uma apresentação, adivinha de quem?

Isso mesmo! Da cigarra!

Ela canta e dança!

Ela tem dançarinas!

Pena que o ingresso é muito caro!

Ah, mas não tem problema! Tem meia entrada para operárias!

 

Caramba! Que show bonito!

Cheio de luzes e muita animação!

Na saída, os mais variados comentários!

“Viu a asa dela? Que linda! Toda prateada!”

“As dançarinas zuniam que era uma beleza!”

“Ai, que show caro!”

“Essa piranha dessa cigarra é paga para ficar rebolando e ganha mais do que eu num ano inteiro!”

“Vamos fazer um grupo também? As formiguetes!”

 

No dia seguinte, as manchetes de jornal alardeavam

A cigarra foi parar no hospital!

Entrou em coma!

Suspeita de overdose de medicamentos

As formigas, em seu trabalho, balbuciavam

“Tadinha! Viu só?”

“Tanto dinheiro e gasta com droga!”

“Bem feito para aquela vadia!”

 

Passam-se os dias e a cigarra tem alta

Foi para uma clínica de reabilitação

Faz lá desintoxicação e Yoga

E as formigas ainda no batente

Agora existe outra preocupação na cabeça delas

Dizem que a próxima rainha vai cortar o 13º

E ainda tem formiga que apoia

Como são masoquistas, meu Deus!

Batata Literária – Crônicas de Bruxarias

Duas asas de morcego!

Três pernas de aranha!

Dois pelos de barba de bode e… voilá!

Está pronta a poção mágica!

Vou tirar minhas perebas!

Todas as acnes!

O tom esverdeado de minha cútis!

Assim, atingirei o meu grande objetivo!

 

E qual é esse objetivo?

Claro! Conquistar o príncipe encantado!

E tirá-lo daquela loura sem sal que é a princesa

Quero desmoralizar toda a Borgonha

E colocar a queridinha do rei para titia!

Ih, ih, ih, como sou diabólica!

A Família Real toda chorará rios de sangue!

E eu vou terminar com o gostosão!

 

Tudo dava certo no plano!

Me infiltrei na corte!

O príncipe me viu

Largou a branquela sirigaita

E comigo se casou!

A moçoila para titia ficou

O rei se rasgou

E para a Lua de Mel lá eu vou!

 

Mas… raios! Foi aí que a coisa degringolou!

O efeito da poção passava

Tudo voltava a ser como antes…

Só que, aos poucos, de baixo para cima

Aí, nas núpcias eu me ferrei

Assim que o príncipe, para lá olhou

Ele, num pulo, se mandou

Pois ninguém até hoje uma clitóris verde beijou!

Batata Literária – A Irmandade.

A tarde caía

Os monges andavam pelo deserto ainda quente

Logo, viria a noite

Trazendo o prenúncio da morte

O pequeno e árido planeta logo seria pulverizado

Pelo braço flamejante

Era uma remanescente de supernova

Que se aproximava rapidamente do sistema planetário

 

Tal sistema era praticamente desabitado

Só um punhado de monges exilados

Vivendo no mais rude e medíocre dos planetas

Postos ali por seu próprio povo natal

Que abraçou a ciência e aboliu a fé

Expulsando os últimos remanescentes religiosos

Os monges mantiveram sua fé a duras penas

Mas agora seriam definitivamente dizimados

 

A quinta estrela do sistema aglomerado de  Jaliel explodiu

Varrendo tudo o que vê pela frente

Os velhos monges apelaram para o Deus Kosh

Pediam a salvação de suas almas

Mas, acima de tudo, a preservação de suas vidas

Pois eram os últimos fiéis do grande Kosh e de suas palavras

Por que a irmandade remanescente

Seria ironicamente dizimada por outra remanescente?

 

Todas as noites, os monges saíam em peregrinação pelo deserto

Para encarar de frente o inimigo que vinha do céu

Perante o símbolo de grande morte

Os monges oravam a Kosh, pedindo por suas vidas

Mas a gigantesca chama se tornava cada vez maior

Banhando o céu noturno com um luminoso vermelho sangue

Trevas rubras mortais ameaçavam engolir os fiéis

Que, impassíveis, assistiam ao trágico espetáculo agarrados às suas crenças

 

Até que, um dia, a noite estava muito quente

Não estava mais escuro

Todo o céu tomado pelo rubro letal

Um calor insuportável e cheiro de morte

Nenhum sinal de Kosh e sua redenção

Os monges perdiam as esperanças…

A onda de choque já era visível,

Um véu branco, translúcido, que crescia

 

Vinha de longe, bem pequeno,

E se tornava cada vez maior,

Maior, maior, até que…

Todo o céu ficou coberto daquele véu branco,

Com o grande avermelhado por trás…

Começava a ventar…

Tempestades de areia derrubavam os monges…

Quem não havia ainda perdido os sentidos podia ver…

 

A onda de choque desabava rapidamente sobre o deserto…

Até que… uma explosão!

E tudo se silenciou…

Era o fim?

Só um véu negro e… o nada…

Parecia que muito tempo havia se passado…

Uma eternidade, talvez…

Mas eis que, de repente, surge uma luz…

 

Os monges ainda estão todos lá

E caminham em direção à luz

Chegando a ela, encontram uma silhueta

Era Kosh!

“Venham meus filhos”, disse o Deus, “Agora vocês levarão minha palavra a toda Jaliel”

“Vocês viajarão mais rápido que o pensamento

E estarão em todos os corações e mentes

Conciliando a fé com a razão”.

Batata Literária – Fada Safada E A Promoção Do Supermercado.

– Fadinha! Fadinha!

– O que foi, amozinho?

– Vamos dar uma saída!

– Para onde?

– Tem promoção de aniversário no supermercado!

– Ai, amozinho! De novo aquela loucura?

– Vamos lá! Vamos lá!

– Justamente agora que eu tava fazendo a unha?

– Entra aqui no bolso da minha camisa! Vamos!

 

*          *          *

 

– Nossa, amo!

– O que foi?

– O estacionamento tá muito cheio!

– Tem uma vaga lá, ó!

– Lá não pode, é de deficiente

– Ah, a gente para rapidinho!

– Amooooo…

– Tá, tá. E aquela ali?

– É de idoso…

– Caramba.

– Olha lá! Tem uma moça saindo ali…

– Vamos lá

– Ih, um moço tá indo para lá também…

– Eu vi primeiro…

– Amozinho, não vai brigar…

 

*          *          *

 

– Filha da puta! Eu vi a vaga primeiro!

– Vai tomar no cu!!!

– Vai se fuder, caralho! Vou te dar porrada!!!

– Ai, minha Nossa Senhora das Fadas Aflitas!!! Quanta testosterona boba!!!

PLOFT!

 

*          *          *

 

– Amozinho, eu falei para você não brigar…

– E não briguei, fofinha… só estava falando amorosamente com o rapaz usando palavras chulazinhas…

– Será que ele achou uma vaga na rua?

– Achou sim, meu amor! Ele estacionou lá do outro lado da rua e pagou ao flanelinhazinho…

– Ai, você está meloso demais até para mim! Eu trouxe as bombas nível 13. Deixa eu cortar esse efeito um pouco (splect!)

– Ufff, mas a bomba nível treze não é para guerra internacional severa?

– Essa mesma

– E por que você trouxe essa tão forte?

– Você acha que promoção de supermercado é o que?

– Tá bom, vamos comprar as coisas logo, Deixa eu ver a lista aqui…

 

*          *          *

 

– Detergente, desodorante, Dermacyd, Carefree…

– O Carefree é tamanho mínimo, tá?

– Você não gosta de Sempre Livre proteção tripla? É mais garantido…

– Só se eu estiver num navio afundando e eu precisar de um bote salva vidas, né? Olha o meu tamanho…

– Você está malcriada, fadinha!

– Você sabe que o proteção tripla não cabe nas minhas perninhas, mesmo quando eu o diminuo ao nível mínimo…

– Tá bom, tá bom…

– GRANDE PROMOÇÃO DE NUTELLA 500g A APENAS UM E NOVENTA E NOVE!!! VAI LÁÁÁÁÁÁÁ!!!

– Oba! Escutou isso, fadinha???

– Mas amo, Nutella não tem na lista. A gente ainda tem um pouco em casa…

– Vamu lá! Vamu lá!

– Amozinho!!!

 

*          *          *

 

– Amozinho! Tem gente demais!!!

– Eu vou entrar no bolo!

– Não, amozinho! Tem aquelas velhinhas lá batendo em todo mundo!

– Fui!!!

– Não, amozinho!!!

 

*          *          *

 

– Ai, minha deusa Faduxita! O amo tá lá dentro apanhando muito!!! Eu não tenho força para tirar ele de lá! Nem as bombas nível treze resolvem essa ânsia por Nutella barata!!! O que eu vou fazer??? Ah, já sei!!! Preciso de reforços!!!

 

*          *          *

 

– Ah, eu sabia que na parte infantil eu ia encontrar o que precisava!!! Unicórnios nas embalagens de fraldas e pastas de dente!!! Vão ser eles mesmos!!!

PLOFT!!!

 

*          *          *

 

– Soldadinhos do amor!!!! Sentido!!!!

– Rinch! Rinch!

– Vão até a baia de Nutella e lambam os rostos de todos aqueles bobos!

– Rinch! Rinch!

 

*         *          *

 

– Ai, ui, ai…

– Tá melhor, amozinho?

– Acho… que… sim…

– Eu te falei que isso aqui é uma loucura. Mas você não me escuta…

– O que aconteceu???

– Lembra das velhinhas?

– Lembro…

– Cinco vieram para cima de você… três te ergueram no ar e duas batiam em você com uma bolsa cheia de latas de leite condensado e uma bolsa cheia de batatas…

– Elma Chips???

– Não, amozinho!!! Cruas! Cruas!

– E como você me tirou de lá?

– O ódio estava muito forte. Precisei chamar reforços…

– Mas, quem… aaarrrrrggghhhhhhh!!!!!

– Rinch!

– Fiz um exército de unicórnios para te tirar da confusão! Eles lamberam a cara de todo mundo e as pessoas ficaram calminhas…

– Como você fez isso?

– Rinch!

– Eu tirei eles das embalagens de fraldas e pastas de dentes da seção infantil

– E agora todos eles ficarão espalhados pelo supermercado???

– Rinch!

– Quando o efeito da magia passar, vai ficar um monte de pasta de dente e de fralda espalhadas por aí…

– Ai, me ajuda a levantar…

– Vamos direto para o caixa agora e sem conversa!!!

– Mas, e a lista?

– Os unicórnios já pegaram tudo! Só vamos comprar muita pilha agora que estou começando a ficar com raiva aqui e isso não é bom…

– Rinch!

 

*          *          *

 

– Aqui, fadinha!!! Pilhas à milanesa!!!

– Oba! Obrigado, amozinho! Chomp, chomp!

– Eu… quero te pedir desculpas…

– Tem que pedir mesmo…

– Eu… fui muito burro hoje…

– Foi mesmo…

– Ah, fadinha… é porque eu gosto muito de Nutella e tava baratinho…

– Eu sei, amozinho, mas tava muito perigoso lá. Aquelas velhinhas…

– Tá bom, tá bom… foi mal…

– Eu… tenho uma surpresa para você…

– O que? Nossa!!! Dez potes de Nutella! Oba!!!

– Gostou?

– Adorei! Obrigado, fadinha! CHUAC!!! CHUAC!!! Mas, como você conseguiu?

– Enquanto os unicórnios lambiam todo mundo, eu peguei e coloquei no meu decotinho mágico…

– Mas, você… furtou?

– Claro que não, amozinho!!! Eu paguei!!!

– Mas, como, se o cartão tava comigo?

– Bitcoins…

– Bit… o que?

– Deixa para lá, amozinho, depois te explico!!!

– Só uma coisa, fadinha…

– O que foi, amozinho?

– Acho que você se esqueceu da pasta de dente…

– RINCH! RINCH! RINCH! RINCH! RINCH!

– Não me esqueci não…

Batata Literária – Fantasia de Arco-Íris.

Dizem que minhas cores são em número de sete!

Mas isso é uma grande mentira!

Na verdade, seis é o real número inconteste!

Sete é o número cabalístico que a alma revira!

Da natureza, represento todas as maravilhas

A candura, a beleza, até a paz das famílias

Sou, também, o símbolo das minorias

Que lutam para impor suas singelas sabedorias

 

Mas, como eu de fato apareço?

Sou, no fim das contas, um grande efeito visual!

Provoco em todos um grande apreço

Pois minha exuberância foge do banal

Eu sou luz branca decomposta

Por pequenas gotículas de água no ar

Torno-me luzes de cores, de vivacidade imposta

Uma grande explosão de alegria a celebrar!

 

E o céu, o meu grande coadjuvante?

Ele nunca quer ser insignificante

Perante ao meu grande espetáculo!

Volta e meia, faz do azul seu grande tentáculo

E tenta competir comigo

Sempre é mal sucedido, meu frustrado amigo

E torna-se negro e cinza, de um só arremate

E melhor para mim fica todo esse contraste

 

É, meus caros, não adianta

Minha beleza é inigualável

Minha delicadeza ninguém suplanta

Sou formado da curva mais admirável!

Sou o grande arco-íris das chuvas de fim de tarde

Que traz ao mundo o gigantesco alarde

De que a natureza é sábia na sua obra

E produz todas as grandezas sem demora!

Batata Literária – Fada Safada E O Homem Laranja.

Já passou da hora da Batata Espacial apresentar um conto de minha personagem, a Fada Safada. Ela é uma espécie de construção inspirada em vários personagens: Sininho, do Peter Pan, Jeannie (a Gênio do Major Nelson, lembram?) e qualquer coisa que tenha um quê mais cômico. Ela apareceu numa poesia que escrevi e cheguei a publicar alguns contos dela no Kindle (amazon.com.br). Os contos sempre são em forma de diálogo com seu amo, onde eles têm uma relação, digamos, platônica. A Fada Safada nada tem de safada no estilo da baixaria, muito pelo contrário. A safadeza dela está em colocar seu amo em maus lençóis na sua compulsiva aventura de espalhar o amor pelo mundo. Daí a mocinha de asas de lavadeira, que lança bombas de amor (“ela faz parte do movimento pink block “As Sininhos Comportadas”) e que precisa comer pilhas alcalinas para recompor suas energias (de preferência as pilhas do coelhinho cor de rosa). A Fada Safada está em qualquer lugar onde haja conflito, desde uma briga de casais no apartamento ao lado até a questão árabe-israelense no Oriente Médio e atua com firmeza contra o ódio no coração das pessoas, sempre com um quê infantil. Fiquem agora, com mais uma aventura da Fada Safada.

– Amo!

– Que foi, fada?

– Precisamos fazer outra viagem…

– Ai, meu Deus, de novo??? Por que???

– Tem um homem bobo lá em cima espalhando muito ódio entre as pessoas.

– Como assim?

– Ele manda naquele lugar onde muita gente é rica, e não deixa mais ninguém de lugares mais pobres entrar.

– Hummm, como ele é?

– Ele é laranja…

– Mas fada, a passagem para lá é muito cara… e como vamos entrar, se ele não deixa ninguém entrar lá?

– Ihhh, amozinho, você já se esqueceu da função zim?

– Eu tinha medo que você dissesse isso…

– Por que?

– Aquela que levou a gente para Israel e me deixou com náuseas?

– Isso!!!

– Ai, você não vai usar aquilo de novo, né?

– Ahhh, é rapidinho, você nem vai sentir nada…

– Não, fada, não faz isso não!!!

– Confia em mim, amoznho!!!

– Não, não, não!!!

– ZIIIIIIMMMMMMMMMMM!!!!!

*     *     *

– Ai, ui, ai…

– Tá melhor, amozinho???

– Putz, você fez de novo…

– Sorry.

– E novamente, eu estou todo zonzo e enjoado

– Acho que calibrei mal a velocidade. Foi mal…

– Onde nós estamos?

– No deserto, perto daquele muro feio…

– Ai, cacete, na fronteira? Mas aqui é perigoso.

– Deixa comigo…

– Que cheiro é esse? Gleid Sachê de lavanda de novo?

– Você sabe que eu pego sempre um pouquinho lá no banheiro para fazer o escudo antiódio.

– Assim vou ter que comprar duas latas nas compras do mês.

– Ihhh, você reclama muito! Você sabe que eu só uso um pouquinho em cada missão minha.

– O problema é que você tem feito muitas missões…

– O que eu posso fazer se todo mundo nesse planeta tá pirado?

– Ok, ok. O que vamos fazer agora?

– Tá vendo aquele homem feio de chapéu lá?

– Sim, ele está conduzindo um monte de pessos… cacete! Ele é um coiote!!! Vamos embora daqui!!!

– Não, não, amozinho! Ele tá de conluio com aqueles feios lá

– P-p-polícia de fronteira???? Mas e o homem laranja???

– Esse é numa segunda etapa. Agora, surgiu essa missão mais importante. Aquele tal de coiote vai ganhar dinheiro dos dois lados. Das pessoas e dos feios da polícia de fronteira.

– E o que você vai fazer???

– Adivinha????

– A bomba de amor??? Vai todo mundo desmaiar!!!

– Ai, amozinho, você tá reclamando muito. Toma aqui o capacete magnético!!!

– Como você conseguiu guardar um capacete desse tamanho nesse decotinho???

– Ah, amozinho, sou cheia de surpresas. Você sabe!!!

– É disso que eu tenho medo.

– Vamos lá! Atacar!!!!

*          *           *

-Stop! In the name of love!!!!

– Que carajo és esso? Una chiquita…

– What a fuck???

PLOFT!

*            *            *

– Tá falando inglês agora, é?

– Of course, my dearest!!!

– Bom, e agora, o que a gente faz? Tem mais de cinquenta pessoas desmaiadas…

– Eu trouxe o perfume das onze horas para acordar o povo…

– Daquela flor coloridinha que não tem cheiro?

– Isso mesmo. Vou usar para acordá-los.

– Não entendi nada, mas faz aí o que você tem que fazer.

– Ok, baby…

– Cê tá muito besta…

*            *            *

– Ai, amozinho, que bom que eles já conseguiram fugir daqui e foram para a casa de parentes que já estão há mais tempo nesse país!!!

– Será que eles gostaram da função zim?

– Meu periscópio mágico mostrou que eles ficaram com alguns enjoos, mas vão ficar bem…

– Você tem certeza?

– Claro, amozinho. Eles comem carne seca com pimenta no café da manhã. Relaxa…

– E os policiais e os coiotes?

– Já estão ali acordados, chorando de arrependimento por maltratar as pessoas.

– Eles vão ficar bem?

– Agora sim. Eles estavam mal era antes…

– E agora? O que vamos fazer?

– Adivinha???

– Oh, não…

– ZIIIIMMMMMMMMMMMMM!!!!

*              *                *

– Ai, ui, ai…

– Tudo bem, amozinho?

– Essa droga desse capacete não me protegeu.

– Ah, esqueci de trocar

– E onde ele está?

– Tá na outra metade do meu decote.

– Caramba, não vou nem perguntar

– E nem deve, amozinho. Mulheres têm segredos só seus…

– Tá. Onde estamos agora? Um lugar cheio de grama

– Nosso alvo tá lá naquela casa grande e sem graça.

– Mas é a Casa Branca!!!

– Pois é, né? Não podia ser rosa?

– Isso é em outro país, fadinha…

– Bom, vamos lá. Temos uma missão a cumprir.

*                  *                    *

– Olha lá! O Homem Laranja!

– Vamos fazer logo isso, fadinha. O efeito do Gleid Sachê tá acabando…

*                      *                       *

-Let´s terminate all fucking immigrants and construct an America only for White people!!! Hey, what´s that? A little fucking bitch????

PLOFT! PLOFT! PLOFT!

*                    *                        *

– Ugh, agora eu estava sem capacete nenhum…

– Já acordou, amozinho?

– Sim… é aí?

– Todos esses bobos aqui na coletiva de imprensa estavam desmaiados e já estão acordando.

– Olha só! Eles estão comentando que é uma covardia atacar imigrantes. E que vão escrever em seus jornais textos a favor da imigração.

– Assim, a minha bomba vai se propagar mais rápido…

– E o Homem Laranja?

-Tá ali, ó, chorando ajoelhado em frente a empregada que serve o cafezinho, que é do país do lado. Ele disse que vai dar a ela um cargo no governo.

– E ela vai ter competência para isso?

– Sim, amozinho, ela é formada em Relações Internacionais.

– Ai, que preconceito meu…

– Pois é, amozinho, parece que a bomba não faz mais tanto efeito em você…

– Será que eu estou desenvolvendo resistência à bomba?

– Eu vou tirar essa sua resistência quando a gente chegar em casa…

– Sério? E o que você vai fazer???

– Surpresaaaaaaaa!

*                         *                       *

– Amozinho, estou meio fraca.

– Você quer uma pilha?

– Duas. Mas aqui não tem a do coelhinho cor de rosa, né?

– Não, você sabe que não.

– É que essas pilhas importadas têm gosto de enlatado. Ah, vai duas dessas então

– Vou pegar da câmara de um fotógrafo

– Vai lá. Ele não vai reclamar. Ainda tá sob o efeito da bomba. Olha só como ele chora de arrependimento.

– Mas isso não é roubo, fadinha?

– Ele é da FOX, que já espalhou muito ódio por aí. Acho que não vai fazer mal. Qualquer coisa, pago a multa na Organização das Fadas Unidas.

– Tem isso também?

– Ahhh, tem muita coisa que você nem imagina.

– É nessas horas que eu tenho medo de você.

– Ahhh, amozinho, vai pegar pilha lá para sua fadinha, vai…

*                     *                          *

–  Hummm!!! Chomp, chomp, chomp!!!

– Tá gostoso?

– Chomp, muito, chomp!

– Já dá para a gente voltar para casa agora?

– Sim, vamos lá. Bota o capacete anti zim!

– Colocado!

– ZIIIMMMMMMMMMMM!

*                      *                       *

– Amozinho?

– O que foi?

– Por que as pessoas estão escutando esses malucos todos no mundo?

– Ah, é porque há muito ódio por aí espalhado.

– Não sei seu vou aguentar combater todo esse ódio.

– Acho que você está precisando de umas férias.

– E você me levaria para viajar?

– Claro! Para onde você quer ir?

– Deixa eu ver aqui no mapa… hum, adorei esse aqui: Mianmar!!!

– Mas não é lá que tem uma ditadura que já vigora há décadas?

– Ah, amozinho, a gente espalha amor por lá rapidinho, depois pega uma praia…

– Fadinha!!!!