Batata Literária – Paixão de Rick (à Humphrey Bogart)

Eram duas da manhã.
Uma noite fria em Casablanca, de esperança vã.
Surge à minha frente, o Rick’s
como um monumento soturno
adequado ao malogrado ambiente noturno.
Decido lá entrar
para do frio da noite escapar
e da lembrança da guerra me desgarrar.

Dentro do night club, tudo é depressão.
Bêbados caídos, prostitutas em desilusão.
O Sam está ao piano
tocando melodias mundanas.
É um ambiente de total desengano,
a tristeza parece perdurar por semanas.
Mas o que impressiona meu imaginário
é lá no fundo, um vulto solitário.

Eu caminho em direção a ele,
Eis que a surpresa me vem a flor da pele.
É o próprio Rick, chorando!
É uma imagem que fica me intrigando.
Rick é um sujeito forte.
Tem carisma em seu porte.
Sempre de dedo em riste
jamais o reconheceria triste.

De repente, uma mão puxa meu braço.
É o Sam, com seus cigarros de maço
que busca me tornar consciente
porque Rick estava deprimente.
O pianista conta que seu patrão
foi abandonado por sua amada.
Se mudou para Casablanca cheio de decepção
e agora não acredita em mais nada.

Batata Movies – Animais Noturnos

 

Cartaz do Filme

 

A belíssima atriz Amy Adams está de volta num filme que podemos dizer que mistura um drama psicológico com suspense e violência. “Animais Noturnos”, escrito e dirigido por Tom Ford, ainda pode ser classificado como um filme que tem uma história dentro de uma história. E uma película, acima de tudo, inquietante e angustiante.  E o filme tem o pedigree de ter vencido o Festival de Veneza.

Susan, uma mulher atormentada

Vemos aqui a história de Susan Morrow (interpretada por Amy Adams), uma mulher que trabalha com exposições de arte e galerias, que tem uma vida aparentemente estável mas muito estéril. Sua filha e marido vivem distantes dela e a moça sofre muito com isso. Um belo dia, ela recebe um manuscrito de um livro de um antigo ex-marido, Tony (interpretado por Jake Gyllenhaal), pedindo o seu parecer. Susan, então, começa a ler a história, que se desenvolve paralelamente à ação do filme, e o espectador ganha o brinde de assistir a duas histórias ocorrendo juntas. O livro de Tony tem o título de “Animais Noturnos” e é dedicado à Susan. A trama do livro é muito pesada (uma família é achacada por uma quadrilha durante uma viagem pelo oeste do Texas). Susan fica recorrentemente chocada com a violência explícita à medida que lê o manuscrito, mas acha a história muito boa. O mais interessante é que as duas histórias se relacionam, pois o fim do casamento entre Tony e Susan aconteceu de forma atribulada e toda a violência de “Animais Noturnos” dedicada a Susan tem um gostinho de vingança. Paremos por aqui com os “spoilers”.

Edward, um homem atormentado…

Pois é. “Animais Noturnos” nos traz um monte de aspectos interessantes. A questão da história dentro da história é altamente instigante e a forma como essas duas histórias se relacionam tem uma tremenda cara de charada que se descortina aos poucos no filme, exibindo o tom de drama psicológico da película, que é a grande virtude dessa produção. A violência da história interna meio que funciona como o combustível que cria a relação com a história externa e alimenta o drama psicológico.

Mike Shannon arrebentou!!!

Toda essa engenhosidade só pode ser levada a cabo com a boa atuação dos atores. Amy Adams foi muito bem em seu papel dramático, sendo o alvo principal da relação entre as duas histórias. Sua natureza levemente errática com picos de angústia à medida em que lia o livro deu um sabor peculiar ao filme. Isso sem falar que sua beleza ajudou muito a tornar cativantes suas expressões confusas. Jake Gyllenhaal foi soberbo, pois teve muito mais trabalho, já que ele apareceu nas duas histórias, como Tony, o ex-marido de Susan, e como Edward, o chefe da família atacada na estrada da história do livro. Ambos os papéis tiveram forte conteúdo dramático e o ator deu conta do recado, sendo muito exigido. Mas não podemos deixar de falar de mais uma ótima atuação de Michael Shannon (o grande General Zod!!!) como o policial texano Bobby Andes, que ajuda Edward a caçar os criminosos. Shannon arrebentou no papel e mostra que pode fazer um vilão interplanetário, o Rei do Rock ou um policial provinciano de forma altamente competente e convincente. Esses três atores conseguem segurar o filme e dão credibilidade à complexa estrutura pretendida pelo roteiro.

Em Veneza

Assim, “Animais Noturnos” é um filme altamente recomendado, pois tem uma estrutura narrativa que foge um pouco do convencional, relaciona violência, suspense e drama psicológico nas medidas certas e ainda traz um grande elenco que sabe dar bem conta do recado. Uma boa estreia para esse fim de semana da virada do ano.

https://youtu.be/MA4wBYcgEUQ

 

Homenagem a Debbie Reynolds

Pois é. O ano de 2016 termina realmente de forma avassaladora. Um dia depois da morte de Carrie Fisher, sua mãe, Debbie Reynolds, assolada pela perda da filha, também sucumbiu, devido a um AVC. Ela estava na casa do filho discutindo os detalhes do funeral de Fisher, quando se sentiu mal. Ela chegou a ser transferida ao hospital mas não resistiu e nos deixou aos 84 anos. Mais uma perda muito sentida.

Carrie Fisher e a mãe, Debbie Reynolds. Muito unidas.

Mãe e filha eram muito unidas. Depois da morte de Fisher, Reynolds dizia que queria estar com a filha. Torçamos muito para que isso tenha acontecido. Para nós, fica a dor e a saudade. Cabe fazer aqui mais uma homenagem, com o inesquecível número musical “Good Morning” em “Cantando na Chuva”, onde ela contracena com Gene Kelly e Donald O’Connor…

 

Batata Movies – Batman, A Piada Mortal. Psicose E Perdão.

Cartaz da Animação

Esse ano, houve um rebuliço entre os chamados DCnautas (ou fãs de quadrinhos da DC, para ser mais específico). É que foi feita uma exibição em sessão única da animação “Batman, A Piada Mortal” (“Batman, The Killing Joke”). As expectativas eram ótimas: a voz do Coringa seria feita por Mark Hamill, essa seria uma das animações mais  violentas e doentias de que se tinha notícia, etc. Confesso que não assisti a animação quando de sua exibição única no cinema. Algum tempo depois, fiquei sabendo que ela já estava disponível em DVD. E, nas minhas andanças pelas mega stores da vida, me deparei com “Batman, A Piada Mortal”. Decidi então comprar o DVD para ver se a animação era realmente tão boa assim. Para poder falar um pouco sobre ela, vou ter que lançar mão de “spoilers”, me desculpem.

Surtadaço!!!!

No que consiste a história? Ela é dividida basicamente em duas partes, a princípio muito distintas. Ao seu início, Batman e Batgirl caçam o perigoso sobrinho de um gângster muito importante de Gotham City. Batman quer Batgirl fora dessa caçada, pois o malfadado sobrinho sente uma forte atração sexual por ela e usa isso para enervar a heroína. Não pensando de forma racional, Batgirl pode facilmente cair nas armadilhas do bandido. Com um instinto protetor, Batman tenta dissuadir Batgirl do caso, mas as coisas acabam numa forte noite de amor. O tal bandido é preso, não sem antes Batgirl dar-lhe uma surra e quase matá-lo. Aí estava outro motivo para Batman querer Batgirl fora do caso, pois ele temia que ela perdesse as estribeiras e fizesse justiça com as próprias mãos, matando o bandido, sendo esse um abismo sem volta. Cansada de toda essa pressão psicológica, Batgirl aposenta a capa e volta a ser apenas Barbara Gordon.

Já a segunda história é bem mais barra pesada. Coringa escapa da prisão e quer provar a todo mundo uma teoria: basta um dia ruim em sua vida para você surtar e enlouquecer. Para isso, ele dá um tiro em Barbara, aleijando-a permanentemente, além de estuprá-la. Ainda, sequestra o comissário Gordon e o submete a toda uma série de torturas físicas e psicológicas, onde o policial é inclusive obrigado a ver a imagem de sua filha ferida e nua. Depois de ouvir do palhaço do crime que Batman também age fora das regras da lei, o comissário Gordon, ao ser resgatado das mãos de Coringa e dos seus criminosos por Batman, fala ao Homem Morcego que faz questão de que o vilão seja preso de acordo com as leis. Esse é o sinal de que a tese de Coringa está furada e a sanidade mental pode ser mantida. Há o duelo final entre o herói e o vilão e, então, ao se ver derrotado, Batman se nega a matar Coringa e age dentro das leis, dizendo que não quer matá-lo e sim ajudá-lo, chegando a estender a mão para o vilão, que declina do convite, pois alega que “já é muito tarde para aceitar isso”. A animação termina com o Homem Morcego e Coringa rindo de uma piada um tanto sem graça, que eu já até vi contada de uma forma diferente na Turma da Mônica.

Bom, o que podemos falar da animação? Ela tem um ponto positivo e um ponto negativo. Vamos começar pelo negativo, para que a antipatia dos fãs da DC à minha pessoa passe logo. A promessa de uma grande violência no filme para mim não foi muito cumprida. Sei lá, eu acho que o Rio de Janeiro real é muito mais violento que uma Gotham City fictícia. Aqui, o Coringa já teria tomado um teco de fuzil na cara, dado pela polícia, há muito tempo. E que se lasque se as leis não fossem cumpridas. O Coringa, por sua vez, não teria deixado Barbara Gordon viva e paralítica. Ele teria estuprado e matado a moça mesmo (isso se ainda não desossasse a finada e desse a carne para os cachorros comerem, como dizem por aí que aconteceu com a Eliza Samudio). Ou seja, o Rio de Janeiro é muito mais violento e desrespeita as leis há bem mais tempo. Eu acho que a DC podia pagar uma estadia para seus roteiristas para passarem umas duas semanas por aqui. Eles voltariam cheios de ideias para um Coringa bem mais cruel. E nem quero imaginar o que fariam com o Batman.

Até onde eles se aproximam e se distanciam????

Mas isso não quer dizer que a animação tenha apenas problemas. Contar a história pregressa do Coringa foi algo simplesmente sensacional. A gente realmente fica com pena do homem, que sofreu várias pressões, e teve vários dias ruins, ao invés de um só. Talvez a tese do palhaço do crime tenha mais coerência aí. E de como Batman foi determinante para o seu mergulho total na insanidade. Provavelmente foi por isso que Batman, ao final, oferece ajuda ao bandido para tentar recuperá-lo, ao invés de lhe desferir um golpe fatal. O relacionamento entre herói e vilão, mostrando até onde eles se assemelham e onde se diferenciam, é o grande lance dessa história, algo que poderia até ser examinado por especialistas em psicologia ou psicanálise, o que, definitivamente, não é o meu caso.

E qual é a relação entre as histórias da Batgirl e do Coringa? Ambas defendem a premissa de que somente se combate o crime se você age dentro da lei. Ou seja, aquela velha ideia de John Locke de que o respeito às leis é necessário, pois quando as pessoas vivem em sociedade, ninguém pode fazer o que bem entender, pois o ato de uma pessoa pode prejudicar outra. Daí a importância de se cumprir as leis, que devem representar a vontade da maioria das pessoas e ainda garantir os direitos e a vida dos cidadãos. Criminosos devem ser punidos por desrespeitar as leis. Mas os heróis também não devem desrespeitar as leis para punir os criminosos, algo que se torna muito notório quando se trata de Batman, que tem atrelada às suas costas a fama de justiceiro que nem está aí para o que as leis dizem.

Barbara passará por um sufoco…

Assim, “Batman, A Piada Mortal”, se não parece ser excessivamente violento como se apregoava, ainda tem a virtude de se analisar não somente a psique do vilão, mas indiretamente a do próprio Homem Morcego. A discussão do respeito às leis também tem forte destaque. Para o DCnauta, é obrigatório ter. Mas é altamente recomendável para quem gosta de uma boa história. Veja o trailer abaixo…

https://youtu.be/Gc5z3JFrJ7k

Carrie Fisher. Uma Homenagem.

A eterna Princesa de Alderaan.

Todo dia 26 de dezembro (meu dia de aniversário), vou ao Cemitério São João Batista para fazer uma pequena homenagem a algumas pessoas. Visito as sepulturas de Luís Carlos Prestes (considerado “O Cavaleiro da Esperança” por uns, um bandido comunista para outros), Tom Jobim (um músico que foi importante demais para nosso país e nem temos a ideia disso), Santos Dumont (que dispensa apresentações), o casal Vicente Celestino e Gilda de Abreu (um grande cantor antigo e uma grande atriz e diretora de cinema). Mas, principalmente, visito minhas duas Carmens, a Miranda e a Santos, que tentaram elevar o nome de nosso país e de nosso cinema. Carmen Miranda ainda teve um reconhecimento do público, embora tenha sido criticada pela imprensa brasileira por se “vender” aos Estados Unidos. Carmen Santos, essa ninguém fala mais, apesar de todos os sacrifícios feitos por ela para realizar bons filmes no Brasil, numa época em que nosso país ainda era assolado pelo complexo de vira-latas. Minhas visitas anuais ao cemitério são para diminuir um pouco o impacto da injustiça provocada pela falta de reconhecimento. Colocar rosas vermelhas em seus túmulos ajudam a minimizar um pouquinho tais dores. 

Postura desafiadora com os inimigos

Carmen Miranda faleceu em 1955, e Carmen Santos, em 1952. Essas mortes doem até tempos presentes. E o que não falar de uma morte que aconteceu hoje? Carrie Fisher, a eterna Princesa Leia, nos deixou. Filha da atriz americana Debbie Reynolds e do cantor e apresentador Ed Fisher, Carrie Fisher viveu desde cedo próxima ao showbiz. Em 1977 ela encantou o mundo, ao estrelar “Guerra nas Estrelas” como a Princesa Leia, com apenas 19 anos. Fez noventa filmes e era escritora. Ela nunca teve medo de expor sua vida pessoal na mídia e divulgou que sofria de transtorno bipolar. Outras fontes diziam que ela tinha problemas com drogas. Mas nenhuma dessas informações abalavam a adoração que os fãs de “Guerra nas Estrelas” tinham por Leia e por Fisher. A atriz e a personagem às vezes pareciam ser uma coisa só. Da mulher forte que peitava o grão moff Tarkin com tiradas cínicas e atrevidas, passando pelo tom debochado com os subalternos do Império (“Você não é pequeno demais para ser um stormtrooper?”, dizia para um Luke disfarçado), trocando rusgas com o “canalha” Han Solo, mostrando que não era mulher de entrar em qualquer conversa e que para ter seu coração, era preciso conquistá-la, chegando até a sua carinhosa afeição por Luke, uma afeição a princípio inexplicável por ela não saber que se tratava de seu irmão. A atriz Carrie Fisher deu essa natureza multifacetada à Princesa Leia de forma extremamente convincente. Se em Jornada nas Estrelas, havia a tríade Spock – Kirk – McCoy com o vulcano representando a razão, o médico representando a emoção e o capitão representando a conciliação entre pólos aparentemente tão antagônicos, em “Guerra nas Estrelas” também havia outra tríade. Han Solo é a impetuosidade masculina em pessoa, o aventureiro que age pelo impulso. Luke Skywalker é o jovem e ingênuo aprendiz que inicia timidamente seus passos no ofício da batalha. E no centro, cimentando e alicerçando esses dois pólos, estava Leia, com o espírito libertário feminino, que luta contra milênios de opressão machista (isso nessa galáxia aqui mesmo), botando o machismo do contrabandista em seu devido lugar e, ao mesmo tempo, tratando com extremo carinho o órfão padawan tardio, manifestando um amor que mais se aproxima dos ancestrais instintos maternos que ajudaram a preservar nossa espécie.

Leia e Han Solo. Um amor surgido depois de muitos conflitos

Um símbolo da mulher pós década de 60, que é dura ao lutar por seus direitos frente a uma cultura que a oprime, mas que não perde a ternura ao mostrar seu lado mãe. Mas uma mulher também que atua como a verdadeira fêmea fatal, ao reagir violentamente contra as investidas do pérfido Hutt, que queria transformá-la num objeto sexual e periodicamente a enforcava com uma coleira presa a uma corrente. Ao melhor estilo “olho por olho”, ela ceifa a vida do gângster estrangulando-o com a própria corrente que estava presa em seu pescoço. Ainda, uma mulher que consegue pensar racionalmente, mesmo em situações de extrema tensão, quando o contrabandista e o jovem agricultor tentam libertá-la da prisão, mas não têm um plano de fuga, e a herdeira do trono da destruída Alderaan toma as armas e improvisa um caminho para a calha de lixo, arrancando até uma admiração do machão Solo.

Leia e Luke. Relacionamento pautado na afeição

Essa é Carrie Fisher. Essa é a Princesa Leia. Essa jamais irá embora de nossas memórias. Mesmo que eu não possa visitar seu jazigo, como faço todos os anos com minhas Carmens, ela estará sempre presente em nossos pensamentos. Dizem que uma pessoa morre mais de uma vez. E a última vez em que uma pessoa morre é quando param de falar o nome dela. Se depender dos fãs, Carrie Fisher e Leia jamais terão essa morte derradeira. Mais do que uma princesa que luta contra um fictício Império Galáctico do Mal, Leia se tornou um símbolo das mulheres que lutam aqui em nosso planeta por mais direitos e igualdades. Luta que não necessariamente faz a mulher bruta e a afasta de suas doces características femininas. Leia, portanto, se tornou também um símbolo da afeição feminina, sabendo ser carinhosa e materna nos momentos certos. Agressiva, sem perder o racionalismo. Racional, sem perder a emoção. Agora ela realmente é a Força. Agora, ela nos envolve. E jamais ficaremos distantes dela. 

E, para uma pequena homenagem, fiquem com o inesquecível final do Episódio IV, que jamais sairá de nossos corações…

https://youtu.be/iH6a1iYQ0GA

Batata Literária – A Rainha de Gales (à Bonnie Tyler)

Eu estava em Swansea.
Eram onze e meia da noite.
Entrei no pub
muito ordinário para um night club.
No bar, um rosário de venenos cobiçados
que iam desde a cerveja até o absinto
tornando os bêbados irados
e, nos mais comedidos, acirrando o instinto.
Mas eu estava lá por outro propósito.
Esperava por minha rainha naquele ambiente inóspito.
Nascida Gaynor, Bonnie imortalizada,
toda semana cantava aqui minha amada.
Seu show começava à meia noite
num pequeno palco lá no fundo.
Eu sempre sentia um impacto, como num açoite,
quando ela surgia para todo o mundo!
Finalmente, ela aparece na ribalta.
Seus cabelos louros e olhos azuis, tudo isso me exalta!
Ela traja um negro vestido de veludo.
Sua boca vermelha e seus brilhantes me deixam mudo.
Mas a plateia bate palmas morna.
É uma turba idiota que insensível se torna
aos talentos infinitos de minha deusa
artista notória de origem galesa.
Ela começa a cantar.
Escolhe “He’s the King” como a primeira música a interpretar.
Olha para a plateia de jeito formoso.
Volta e meia, me joga um sorriso gostoso.
Às vezes, parece que ela me conhece há mil anos.
Há a impressão de que nos amamos.
Mas eu sei que sou apenas um súdito inglês
dessa eterna rainha do povo galês.