Um excelente filme de ficção científica em nossas telonas. “A Chegada” trata do já batidíssimo tema da invasão alienígena ao Planeta Terra, mas desta vez a coisa foi um pouco diferente, pois o filme abordou a questão de como a comunicação entre humanos e alienígenas pode não ser tão trivial assim, como vemos em alguns filmes por aí.
O filme tem como protagonista Louise Banks (interpretada por Amy Adams), uma linguista que já havia sido requisitada pelo exército americano para decifrar língua persa de grupos terroristas. A moça tem um grande trauma que foi a perda de sua filha. Só que sua vida de professora universitária seria transformada com a chegada de doze OVNIs ao planeta. Louise é procurada pelo Coronel Weber (interpretado por Forest Whitaker) para decifrar alguns sons alienígenas captados pelo exército. Louise aceita ajudar desde que ela possa se comunicar diretamente com os ETs. Ao chegar ao OVNI, ela se depara com seres que têm uma linguagem e forma de comunicação totalmente diferentes das que existem na Terra. Caberá a Louise, juntamente com Ian Donnelly (interpretado por Jeremy Renner) decifrar esse enigma. Mas o tempo é cada vez mais curto, pois a demora em se estabelecer uma comunicação mais efetiva faz com que aumente o medo de uma invasão e as pessoas no mundo inteiro exigem uma postura mais enérgica, o que pode levar até a uma guerra com os ETs.
Os filmes de ficção científica mais simplórios não têm uma preocupação profunda com a questão da comunicação entre terráqueos e ETs. Alguns alienígenas falam até inglês às vezes. Mas os filmes mais sérios podem complexificar um pouco mais tal discussão. Em primeiro lugar, as condições em que a espécie humana se formou não são necessariamente um padrão para os demais planetas e isso influencia diretamente na forma como os humanos se comunicam. Ou seja, aqui a linguagem tem que estar totalmente adaptada aos nossos sentidos, caso contrário não há a comunicação. Mas, como uma espécie alienígena se comunicaria? As condições do planeta desses aliens desenvolveriam os mesmos sentidos que os terráqueos? Os ETs teriam visão, audição, olfato, tato e paladar? Ainda, a linguagem das duas espécies não teria o mesmo sistema de signos, pois foram forjadas em duas realidades diferentes. Mesmo que houvesse uma comunicação, sob quais parâmetros os signos alienígenas seriam decodificados para os nossos? Por incrível que possa parecer, todas essas questões são abordadas de uma forma ou de outra nesse filme, o que mostra que essa película optou por fazer uma ficção científica muito mais reflexiva, ao invés de um filme de ação ao estilo blockbuster.
Como se não bastasse essa discussão sobre comunicação pouco convencional em filmes de ficção científica (um filme que chegou um pouco mais perto disso, mas de forma até um tanto superficial foi “Jornada nas Estrelas IV, a Volta Para Casa”), a película ainda levanta outra questão: quando estudamos uma língua estrangeira, podemos sofrer alterações em nossas visões de mundo. Isso acontece quando passamos a entender rimas ou trocadilhos em outros idiomas. Agora, como seria essa alteração da visão de mundo se aprendêssemos uma língua alienígena? Paro por aqui, pois atrelada a essa reflexão vem um baita de um “spoiler” que, a meu ver, foi o que deu o toque de graça, fantasia e a cereja do bolo da história. Uma boa ficção científica com um toque especial de lúdico, mas um lúdico que muito nos intriga, pois tem o poder de subverter o nosso raciocínio linear.
E os atores? O diretor Denis Villeneuve (de “Sicario”) fez basicamente um filme para a Amy Adams. A atriz cumpriu bem o seu papel e foi até legal que isso acontecesse, para apagar aquela impressão de coadjuvante de luxo em “Batman vs. Superman”. Só é de se lamentar que Jeremy Renner e, principalmente, Forest Whitaker, tenham sido pouco aproveitados. Poderiam ter aparecido mais, a meu ver. A relação entre os três poderia ter sido um pouco mais conflituosa. Havia espaço para isso.
De qualquer forma, “A Chegada” é um daqueles filmes que merecem uma chegadinha ao cinema, desde o fã de ficção científica até o cinéfilo mais tradicional. É uma boa história contada com um bom elenco, para agradar aos gostos mais conflitantes. Uma ficção científica com uma pitada de drama e mais com cara de cinema alternativo do que blockbuster. Não esperem tiros de laser. E não deixem de ver o trailer abaixo