Batata Antiqualhas – Anakin Skywalker. Vilão Ou Vítima? (Parte 2)

Um jovem Anakin, ainda sem as marcas da crueza da vida…

Qual seria o grande mérito de “Guerra nas Estrelas”? O maniqueísmo clássico bem X mal protagoniza um conflito violento justamente dentro do personagem mais maligno da saga. Anakin Skywalker, como todo mundo sabe, teve uma infância difícil, sendo escravo num povoado paupérrimo de um planeta desértico com dois sóis (quantos Anakins encontramos nos morros cobertos de barracos à nossa volta?).

Rejeitado pelos Jedis, Anakin encontrou amparo em Qui-gon Jim

Ao ser amparado por dois cavaleiros jedis, foi visto com repúdio pelo Conselho dos nobres cavaleiros, como se ele tivesse uma essência ruim congênita. Mas, como diria o iluminista Rousseau, o homem é bom por natureza, é a sociedade que o corrompe. Ou, trocando em miúdos, o homem é produto do meio em que vive. Qui-gon Jim e Obi-Wan Kenobi investiram no jovem Anakin, mesmo a contragosto dos jedis. Logo, a visão iluminista se concretizaria. A infância difícil em Tatooine tornou Anakin um rapaz altamente impetuoso e destemido, que nem sempre Obi-Wan conseguia segurar. Logo ele descobriria o amor ao conhecer Padmé.

E Obi Wan Kenobi.

E com ela Anakin teve o único momento idílico em sua vida, sempre permeada por muito treinamento, disciplina e batalhas violentas. Houve um grande trauma, que foi a morte da mãe e a reação violentíssima contra os algozes, numa fúria impetuosa. Depois, o arrependimento nos braços da amada ao lembrar que massacrou crianças e inocentes. Definitivamente, não foi uma juventude fácil.

Perda da mãe…

Mas o divisor de águas na vida de Anakin viria no episódio três. E aí entra a grande questão. O que o impeliu a escolher o caminho do mal? O medo, um sentimento que todos nós temos e escondemos em nosso íntimo. Todo mundo tem medo de alguma coisa. Quem fala que não tem medo de nada está mentindo. E qual foi o grande medo de Anakin? De perder seu ente mais querido, Padmé.

Um violento trauma

Mestre Yoda lhe dizia que o medo traz raiva e ódio, que ele, Anakin, devia se despir do medo, como se houvesse um outro mundo onde sua querida Padmé poderia estar caso ela morresse. Entretanto, como um jovem que havia passado tantas dificuldades na vida e sofrido um trauma tão violento como a morte da mãe poderia se resignar com a perda da única pessoa que o amava? A severa disciplina jedi não foi tão eficiente em lidar com os problemas psicológicos tão profundos de Anakin e ele acabou se tornando totalmente manipulável nas mãos do senador Palpatine (esse sim, um personagem clássico do mal) para a sua conversão para o lado sombrio.

O medo de perder Padmé…

Filmes de mocinhos totalmente bons e bandidos totalmente maus com o tempo se tornaram cansativos e incoerentes, embora até hoje a fórmula se repita na indústria cinematográfica americana. Por isso, quando o personagem se torna complexo, com o mal e o bem em fusão e conflito, há uma atração maior por parte do público, pois é apresentado algo diferente dessa dicotomia bem X mal tão bem definida e clássica.

… o empurrou para as mãos do senador Palpatine.

Exemplos disso não faltam. Lembro-me do Rick, interpretado por Humphrey Bogart, em “Casablanca”, um mocinho com atraente canalhice e cinismo, e os personagens HQ Batman e Venom, que são classificados por alguns fãs de vigilantes, ou seja, justiceiros violentos que espreitam os malfeitores pelas ruas. Darth Vader seria um exemplo desse personagem complexo onde bem e mal estão em conflito.

Momento mais dramático do episódio 3. Anakin chora após optar pelo mal e sujar suas mãos com sangue. Conflito evidente.

Ou seja, Anakin Skywalker é, acima de tudo, um personagem humano, com virtudes e defeitos, amores e fraquezas, coragens e medos. Um personagem que, na segunda trilogia (episódios um, dois e três), se aproxima mais de seus espectadores, humanos como ele, com seus sonhos, com suas virtudes, com seus defeitos, com seus temores. Nunca me esqueço das palavras de meu irmão Cláudio, sobre o episódio três: “quando a gente fica sabendo da história de Anakin dá até pena, né?”. Pena definitivamente não é um sentimento bom. É um sinal do fracasso do indivíduo. Mas também uma comoção e solidariedade com o sofrimento alheio.

Libertação somente com a morte.

Vocês podem até me criticar e dizer que, mesmo com todos os problemas, Anakin ainda poderia ter escolhido o lado de luz da força, pois pessoas que tiveram uma vida de sofrimento conseguiram dar a volta por cima. Mas também quanta gente por aí não enveredou também para o “dark side” por ser mal amada, por ser tripudiada, por ser desrespeitada? Essas pessoas são as únicas culpadas por seus atos? Na minha modesta  opinião, não… Charlie Chaplin já dizia em seu discurso de “O Grande Ditador”: “Só quem não é amado que tem a capacidade de odiar”.

Ectoplásmico Anakin com Yoda e Obi-Wan envelhecidos. Redenção.

Pelo menos no mundo da fantasia de “Guerra nas Estrelas”, Anakin teve um fim reconfortante. A cópia de “Retorno de Jedi” restaurada, com a imagem ectoplásmica de Anakin jovem ao lado de um Yoda e um Obi-Wan envelhecidos pode parecer incoerente. Mas também é libertadora, pois vimos todo o sofrimento nas costas do Anakin jovem nos três primeiros episódios. Assim, nada mais justo do que o jovem Anakin desfrutar de dias melhores em sua outra vida num plano mais etéreo. Só a lamentar todo o mal provocado por ele, consequência de males também sofridos por Anakin…

Na imagem original, um Anakin mais envelhecido.

Batata Antiqualhas – Anakin Skywalker. Vilão Ou Vítima? (Parte 1)

Um dos ícones mais amados de todos os tempos.

 

Na esteira da estreia de Rogue One (aguardem resenha em breve), vamos falar de um ícone de Guerra nas Estrelas. Nas minhas andanças por eventos organizados pelo Conselho Jedi e o Abacaxi Voador, um detalhe me chamou muito a atenção. Quando o assunto é “Guerra Nas Estrelas” (Star Wars é coisa para os mais novos), impressiona muito a quantidade de camisas e imagens referentes a Darth Vader. Aquela carinha preta, cheia de grades no lugar da boca e sem qualquer expressão facial, totalmente fria, exerce um profundo fascínio nos fãs do filme e foi além, se tornou um verdadeiro ícone cultural. Mas Darth Vader é a encarnação do mal, o cara é ruim toda a vida. Mata seus subordinados com a força do pensamento, persegue impiedosamente um grupo de insurgentes, quer levar o seu próprio filho para as forças do mal estimulando seu ódio. Tais atitudes são consideradas repugnantes para a esmagadora maioria das pessoas em várias sociedades e culturas diferentes. Mesmo assim, sua imagem é exaltada em convenções, filmes, mídias em geral. O que aconteceu? A grande maioria das pessoas pirou? Por que tanta exaltação a uma figura tão venal? Por que Luke Skywalker, Han Solo ou a Princesa Léia, que são os mocinhos, ficam numa posição tão secundária?

Sufocos à distância…

Uma das hipóteses principais que buscam explicar a fascinação humana pelos vilões é que eles são os transgressores, não respeitam a lei, não estão nem aí para os valores morais de uma sociedade, ou seja, são totalmente avessos a regras, como se isso significasse uma espécie de liberdade. Nós, os pobres mortais, submetidos às leis e convenções da sociedade, muitas vezes somos obrigados a engolir sapos no nosso dia-a-dia e, ao entrar numa sala de cinema para ver um filme, presenciar o vilão chutando o pau da barraca seria uma espécie de catarse. Nos projetamos para aquele indivíduo mau que não tem freios nem limites e aliviamos nossas frustrações provocadas por situações cotidianas mal resolvidas, pois a lei nos impõe um freio. O que quero dizer aqui? Que devemos pegar uma arma e resolver tudo à nossa maneira? Claro que não! Quando as pessoas vivem juntas, ninguém pode fazer o que bem entender, pois caso isso aconteça, tudo vira uma bagunça e todos saem prejudicados. Mas também é fato de que, às vezes as leis não respeitam a vontade da maioria dos cidadãos e até privilegiam uma minoria em detrimento de uma maioria. Daí um vilão e seus maus atos tornarem-se uma catarse para o indivíduo.

Mais mau que o pica-pau.

Mas, e o nosso Darth Vader? A hipótese acima é suficiente para entender toda exaltação ao mais fiel discípulo do Imperador? Se considerarmos a primeira trilogia (os episódios quatro, cinco e seis) talvez sim, pois o lado humano do personagem só foi brevemente pincelado na segunda metade de “Retorno de Jedi”. Entretanto, a segunda trilogia (os episódios um, dois e três, que nem todo mundo gosta) teve o grande mérito de construir o personagem Anakin Skywalker. E aí, a discussão se torna muito mais complexa. Dessa forma, a saga que aconteceu há muito tempo numa galáxia muito distante deixa de ser uma espécie de conto de fadas espacial e atinge questões muito mais profundas, tornando-se um produto cultural altamente reflexivo. Mas essa discussão precisa ser feita numa segunda parte deste artigo. Até lá!

Em guerra contra o próprio filho.

Batata Antiqualhas – Jiraiya, O Incrível Ninja (Parte 2)

Espada Olímpica!!!

Vamos hoje continuar a falar de um dos mais populares seriados japoneses da década de 1980, “Jiraiya, O Incrível Ninja”.

Outro elemento muito atraente em “Jiraiya” era o seu grande humor, o que acontecia também nas outras séries. Key e Manabu zoavam Toha o tempo todo, e Toha também não ficava atrás. Existe um episódio onde a família está em treinamento e, durante um intervalo, Toha conversa com Tetsuzan. Manabu vem por trás de Toha e dá uma paulada na cabeça dele, que estava desprevenido. Toha bota Manabu para correr e Tetsuzan só fala, desanimado: “assim não dá para continuar”. Os efeitos especiais eram também às vezes, um tanto toscos, que fariam Georges Meliès esconder o rosto de vergonha. Mas nos matavam de tanto rir. A fauna do Império dos Ninjas, com guerreiros de todas as matizes e cores, abusando do metálico, eram igualmente hilárias.

Os amigos do Jiraiya!!!

Tinha um defeito na série. Ela era um tanto violenta. Além de Jiraiya pulverizar seus inimigos com a poderosa espada olímpica, uma espada ninja que ficava laser somente nas mãos do protagonista (originalmente conhecida como Jikô Shinku Ken), muitos dos capangas de Dokusai, os ninjas corvinhos que voavam e tudo, sofriam às vezes mortes violentas, tomando estreladas, flechadas, ou despedaçados em grandes explosões. Me lembro de um episódio em que Tetsuzan, desarmado, sofre um ataque de espada de um dos corvinhos e o mata, tomando a espada do coitado, dando-lhe uma chave de braço e cortando a nuca do bichinho com a própria espada dele. Meio pesado para uma série infanto-juvenil na minha modestíssima opinião.

Família de Feiticeiros. Os inimigos do Jiraiya

Mas, qual era o eixo principal da história, que conduziu todos os cinquenta capítulos que tinham uma duração média de 22 a 24 minutos? Existia um grande tesouro alienígena, Pako, uma espécie de cápsula do tempo enviada há séculos por uma civilização muito mais avançada que a Terra. Ao chegar ao nosso planeta, os japoneses medievais acharam que ela era uma dádiva divina, que ficaria guardada até que um mensageiro chegasse para levá-la. Mas Pako foi soterrada por um terremoto. Lamentando a perda, o povo deixou para as futuras gerações uma tábua de barro gravada com a localização de Pako. Ao desvendar todo o mistério, o príncipe Taishi desenterrou Pako e a enterrou novamente, ordenando ao ninja Shinobi a guarda da tábua de barro. A tábua de barro ficou posteriormente sob a guarda da família Togakuri e foi passada de geração a geração, com Tetsuzan sendo o representante da 34ª geração. Metade da tábua está com Tetsuzan. A outra metade está nas mãos de Dokusai, chefe da família dos feiticeiros, um antigo companheiro de treinamento de Tetsuzan e que quer usar o tesouro para o mal. Dokusai, inclusive, matou a esposa de Tetsuzan, na luta pela tábua de barro que localiza Pako. Mas a disputa por Pako não ficará só entre os Togakuri e os feiticeiros.

Kinin Reiha, do serviço secreto japonês, a protetora de Jiraiya. Era tão magrinha que até a roupa de malha que ela usava ficava frouxa.

O Império dos Ninjas também vai querer colocar a mão no tesouro e irá em sua busca. Alguns ninjas do Império se tornarão aliados de Jiraiya, como o inglês cristão Barão Olm, que quer usar Pako para o bem, mas outros serão poderosos inimigos. O serviço secreto japonês também ajudará Jiraiya, nas figuras de Kinin Reiha, incumbida de proteger Toha, e Yannin Spiker. Há também o americano, Dr. Smith, um ocidental com um barbão que o torna a cara do Karl Marx, sendo o primeiro discípulo de Tetsuzan, e que quer aliar a arte ninja a tecnologia. Ele conserta a armadura de Jiraiya num episódio, e insere um monte de componentes tecnológicos no carro de nosso herói, transformando o automóvel no Black Storm, uma espécie de Supermáquina nipônica. Num episódio, Jiraiya ia ser derrotado por seu oponente e o Dr. Smith deu uma ajudinha com uma caneta que paralisava o inimigo, e ai, o nosso herói teve tempo para se recuperar e derrotar seu adversário. Trapaça? Espírito de equipe? Tirem suas próprias conclusões.

Os corvinhos!!!

Dessa forma, “Jiraiya, O Incrível Ninja” é uma série que nos deixa muitas saudades, talvez a melhor de todas dentre a vasta fauna de seriados japoneses da década de 1980. Um herói sem grandes poderes, que se baseia em seu treinamento, que não se “transforma”, mas sim veste sua própria armadura. Ah, e faz comida, lava e passa. E não deixe de ver abaixo a entrevista com o próprio Jiraiya no programa The Noite, do Danilo Gentili, no ano de 2014.

Batata Antiqualhas – Jiraiya, O Incrível Ninja (Parte 1)

Toha, que se transforma em Jiraiya, sem efeitos especiais, simplesmente vestindo a armadura.

Vamos hoje fazer aqui um pequeno retorno a segunda metade da década de 1980, quando a extinta TV Manchete se especializou em exibir seriados japoneses. Todos os que vivenciaram esse período estão lembrados de séries como Changeman, Jaspion, Jiban, Flashman, etc., etc. Até a Globo se rendeu ao “espírito da época”, exibindo séries como Maskman. Mas teve uma série que talvez tenha feito mais sucesso que as outras. Uma série que tinha elementos diferentes da regra geral dos seriados japoneses. Estamos falando aqui de “Jiraiya, O Incrível Ninja”.

Uma família ninja

Quais são os motivos de tanto sucesso de Jiraiya? Em primeiro lugar, era uma série muito vinculada à cultura japonesa, algo que não acontecia com as outras. A febre da arte ninja no Brasil havia ganhado muita força com a série americana “O Mestre”, estrelada pelo Hollywoodiano Lee Van Cleef, na Globo durante uma das férias de verão da década de 1980. Assim, uma série japonesa sobre os ninjas soaria como um grande must. Em segundo lugar, reza a lenda que, dentre os heróis nipônicos da época, Jiraiya era o único que não tinha superpoderes.

Tetsuzan Yamashi, representante da 34ª geração de Togakuri. Na vida real, é traumatologista e divulga a arte ninja. Ou seja, quebra todo mundo e depois cuida na clínica dele.

Toda a sua força vinha de seu rigoroso treinamento para ser ninja, comandado por seu pai adotivo, Tetsuzan Yamashi. Toha Yamashi (nosso Jiraiya) inicialmente reclamava muito da severidade do pai, e da forma complacente como ele tratava seus filhos biológicos, Key e Manabu. Aliás, Toha era tratado como uma espécie de empregado doméstico, sendo obrigado a fazer a comida, lavar e passar a roupa para o pai e para os irmãos. Para piorar a situação, eles não tinham um poder aquisitivo muito alto, sendo obrigados a manter a sua academia ninja num enorme condomínio, recebendo até reclamações da síndica. Toha, inclusive, vivia numa tremenda pindaíba financeira, sendo obrigado a fazer mil bicos e até a fazer aulas de aeróbica na academia, para desespero de Tetsuzan.

Key, irmã de Jiraiya, a ninja Himenin Emiha.

Essas características da série não existiam em nenhuma outra da época e muitas pessoas devem ter se identificado com essas situações cotidianas como fazer as tarefas domésticas e estar com a grana curta. Um grande barato que havia também em Jiraiya era que a série era centrada em torno de uma família. Então, se Toha se sentia discriminado pelo pai e pelos irmãos, vemos, com o desenrolar dos episódios, que o duro tratamento pela família ao nosso herói tinha o propósito de torná-lo mais forte contra seus inimigos e que, bem lá no fundo, todos o amavam profundamente. A relação entre Toha e sua irmã Key é bem tocante. Há um episódio em que Key ajuda uma menininha de um estrato social mais alto a escapar de umas “pit-girls” que faziam “bullying” contra a pobre mocinha. Key foi lá e, como boa ninja, meteu o braço em todo o mundo. A menina então, que não tinha amigas, convidou Key para ir à sua casa. Toha fica sabendo disso e passa a seguir Key pelas ruas, até que a flagra em frente a uma loja onde havia um lindo vestido na vitrine. Quando a irmã vai embora, Toha vai a vitrine e vê o alto preço do vestido. Nosso herói então começa a fazer mil contas e bicos para juntar o dinheiro para comprar o vestido e o deixa em cima da cama de Key, que fica muito emocionada com o esforço do irmão. Devemos nos lembrar que isso acontecia numa série de TV dedicada ao público infanto-juvenil, enquanto que as outras séries eram, em sua maioria, de grupos de adolescentes que lutavam contra monstros de outros planetas. Também havia nelas uma ou outra demonstração de afetuosidade. Mas em “Jiraiya” essas demonstrações ocorriam de forma diferente, eram bem mais intensas.

Manabu, o irmão, que usava um estilingue com bolinhas que soltavam fumaça na cara do inimigo…

Como o assunto é muito vasto, falaremos mais de “Jiraiya” no próximo artigo. Até lá!!! Por agora, veja a abertura de Jiraiya tal como ela passava na Manchete lá na década de 80…

https://www.youtube.com/watch?v=7uNc4nOd0fs

Batata Movies – Sully, O Herói Do Rio Hudson. Um Herói Açoitado.

 

Cartaz do Filme

Clint Eastwood volta na direção com o bom “Sully, O Herói do Rio Hudson”. Embora não tenha sido um dos melhores filmes do diretor, é uma película que prende muito a atenção e conta com a magnífica presença de Tom Hanks. Opa, Eastwood dirigindo Hanks? Pronto, aí está o motivo principal para sair de casa numa noite chuvosa de sábado e dar uma chegadinha ao São Luiz 2.

Sully e Jeff. Situação paradoxal…

Do que se trata a história? Bom, o filme é baseado numa história real, onde um voo comercial comandado pelo piloto Chesley “Sully” Sullenberger (interpretado por Hanks) sofre uma acidente logo após a sua decolagem. Vários pássaros colidem contra o avião e destróem os dois motores. Sully, então, tenta fazer um pouso de emergência. Ele até tem duas opções de aeroportos para isso, com pistas abertas e tudo, mas o avião perde altitude rapidamente e ele decide fazer um pouso de emergência em pleno Rio Hudson. Em virtude de seus 42 anos de experiência e muita habilidade, ele consegue fazer o pouso e poupar as vidas de todos os 155 passageiros e tripulantes à bordo, tornando-se um herói nacional. Mas a comissão que investiga o acidente não pensa assim e, após ter feito várias simulações de computador, concluiu que o piloto poderia ter chegado a um dos aeroportos. Assim, Sully fica na paradoxal situação de ser, simultaneamente, um herói para o grande público e um réu que será julgado por uma comissão, que pode inclusive, demiti-lo e tirar sua aposentadoria, depois de uma vida inteira de serviço.

O verdadeiro Sully. Caracterização sensacional de Tom Hanks

O filme ficou um pouco maçante, pois se centrou em todo o compasso de espera e angústia de Sully enquanto a tal comissão não julgava o seu destino. Ou seja, creio que se preferiu aqui centrar a coisa mais na realidade, e o filme não foi muito espetacular ou pirotécnico, embora os pesadelos de Sully fossem um pouco nessa direção. O mais interessante foi a construção narrativa da película, onde os mencionados pesadelos se alternavam com a narração do tempo presente do filme e “flash-backs” que falavam do incidente, sendo que essas alternâncias em nenhum momento provocaram alguma sensação de confusão na história, e isso se mostrou um indício de que a montagem foi realizada de uma forma muito eficiente.

Clint Eastwood e Tom Hanks trabalhando juntos!!!

E os atores? Falar do talento de Tom Hanks é chover no molhado, mas desta vez, ele abusou da camaleonice. Tudo bem que um cabelo e bigode brancos ajudam a compor o personagem, mas a natureza serena e um pouco introspectiva de Sully, ah isso foi talento puro. E o que mais impressiona é ver Sully em pessoa nos pós-créditos (sim, leitor, não é filme da Marvel, mas tem pós-créditos), e aí constatamos como o trabalho de Hanks foi bom. Ao seu lado, estava o bom ator Aaron Eckhart, interpretando o copiloto Jeff Skiles. Eckhart conseguiu ser um coadjuvante a altura de Hanks, mostrando um talento maior que o bigodão que usava no filme. Jeff não se limitava a ficar ao lado de Sully nas investigações e tomava uma atitude até mais impetuosa ao rebater as acusações, sendo essa uma característica muito carismática que Ekhart deu ao seu personagem.

Assim, se “Sully, O Herói do Rio Hudson” não foi um dos filmes mais impactantes de Eastwood, ainda assim é uma boa película, pelo seu tom de realismo, pela sua montagem e por termos a oportunidade de vermos Hanks e Eastwood trabalharem juntos, com a boa atuação de Eckhart como brinde. Vale a pena dar uma chegadinha ao cinema para assistir. E não deixe de ver o trailer abaixo.

https://youtu.be/KI1aq91xZxo

 

Batata Arts – Tesouros da Batata (5)

Mais um tesourinho da Batata, direto do início do século XX. Posso até imaginar o que aconteceu no dia em que essa foto foi tirada. A menininha não queria posar sentada em cima da caixa. Chorava, chorava e chorava. A mãe, insistindo em colocar a garotinha para posar, é advertida pelo fotógrafo: “Deixa ela brincar um pouco”. A menininha, então, começa a brincar com a caixa. Quando ela, espontaneamente, faz a melhor pose, o fotógrafo diz: “Ei, psiu!”, e a menininha olha para a câmara. E… clic! A foto está pronta… Um olhar intrigado de mais de cem anos…

 

Batata Literária – O Sol

Falo do Astro Rei.
Nossa fonte de luz própria.
Tudo o que sei
é que ele possui energia sóbria,
pois ela permite a existência da vida
no nosso pequeno planeta.
E, em todo o Universo, de nossa ida,
a maioria das estrelas não mostra tal faceta.
Ele é uma estrela de quinta grandeza,
mas a dez parsecs de distância,
pois se considerarmos a magnitude em sua pureza,
a menos de vinte e seis negativos ela vai sem relutância.
Para nós, mortais, nosso Astro é descomunal.
Grande fonte de força e energia.
Mas, em termos de Universo, é apenas uma estrela normal,
na sequência principal do diagrama da astronomia.
O que faz nosso Sol brilhar?
É a conversão de hidrogênio em hélio,
resultante de uma fusão nuclear.
Isso precisa de muita temperatura – falo sério!
de cerca de milhões de graus.
Tal transformação dura bilhões de anos.
Sorte para nós, seres tão frágeis e maus
que podemos continuar a viver cometendo atos insanos.
Esse é o nosso Sol, uma estrela anã.
Ele gera a vida
e não a torna vã.
Produz nossa comida
e nos dá o afã
de viver de forma não sofrida.
Mas o homem não aproveita a chance o bastante
e com guerras e intolerância tenta acabar com si próprio num instante.

Batata Movies – A Chegada. Linguagem E Visões De Mundo.

Cartaz do Filme

Um excelente filme de ficção científica em nossas telonas. “A Chegada” trata do já batidíssimo tema da invasão alienígena ao Planeta Terra, mas desta vez a coisa foi um pouco diferente, pois o filme abordou a questão de como a comunicação entre humanos e alienígenas pode não ser tão trivial assim, como vemos em alguns filmes por aí.

O filme tem como protagonista Louise Banks (interpretada por Amy Adams), uma linguista que já havia sido requisitada pelo exército americano para decifrar língua persa de grupos terroristas. A moça tem um grande trauma que foi a perda de sua filha. Só que sua vida de professora universitária seria transformada com a chegada de doze OVNIs ao planeta. Louise é procurada pelo Coronel Weber (interpretado por Forest Whitaker) para decifrar alguns sons alienígenas captados pelo exército. Louise aceita ajudar desde que ela possa se comunicar diretamente com os ETs. Ao chegar ao OVNI, ela se depara com seres que têm uma linguagem e forma de comunicação totalmente diferentes das que existem na Terra. Caberá a Louise, juntamente com Ian Donnelly (interpretado por Jeremy Renner) decifrar esse enigma. Mas o tempo é cada vez mais curto, pois a demora em se estabelecer uma comunicação mais efetiva faz com que aumente o medo de uma invasão e as pessoas no mundo inteiro exigem uma postura mais enérgica, o que pode levar até a uma guerra com os ETs.

Louise. Fazendo o difícil contato com os alienígenas

Os filmes de ficção científica mais simplórios não têm uma preocupação profunda com a questão da comunicação entre terráqueos e ETs. Alguns alienígenas falam até inglês às vezes. Mas os filmes mais sérios podem complexificar um pouco mais tal discussão. Em primeiro lugar, as condições em que a espécie humana se formou não são necessariamente um padrão para os demais planetas e isso influencia diretamente na forma como os humanos se comunicam. Ou seja, aqui a linguagem tem que estar totalmente adaptada aos nossos sentidos, caso contrário não há a comunicação. Mas, como uma espécie alienígena se comunicaria? As condições do planeta desses aliens desenvolveriam os mesmos sentidos que os terráqueos? Os ETs teriam visão, audição, olfato, tato e paladar? Ainda, a linguagem das duas espécies não teria o mesmo sistema de signos, pois foram forjadas em duas realidades diferentes. Mesmo que houvesse uma comunicação, sob quais parâmetros os signos alienígenas seriam decodificados para os nossos? Por incrível que possa parecer, todas essas questões são abordadas de uma forma ou de outra nesse filme, o que mostra que essa película optou por fazer uma ficção científica muito mais reflexiva, ao invés de um filme de ação ao estilo blockbuster.

Ian vai ajudar Louise…

Como se não bastasse essa discussão sobre comunicação pouco convencional em filmes de ficção científica (um filme que chegou um pouco mais perto disso, mas de forma até um tanto superficial foi “Jornada nas Estrelas IV, a Volta Para Casa”), a película ainda levanta outra questão: quando estudamos uma língua estrangeira, podemos sofrer alterações em nossas visões de mundo. Isso acontece quando passamos a entender rimas ou trocadilhos em outros idiomas. Agora, como seria essa alteração da visão de mundo se aprendêssemos uma língua alienígena? Paro por aqui, pois atrelada a essa reflexão vem um baita de um “spoiler” que, a meu ver, foi o que deu o toque de graça, fantasia e a cereja do bolo da história. Uma boa ficção científica com um toque especial de lúdico, mas um lúdico que muito nos intriga, pois tem o poder de subverter o nosso raciocínio linear.

O coronel Weber não aprovará algumas atitudes de Louise…

E os atores? O diretor Denis Villeneuve (de “Sicario”) fez basicamente um filme para a Amy Adams. A atriz cumpriu bem o seu papel e foi até legal que isso acontecesse, para apagar aquela impressão de coadjuvante de luxo em “Batman vs. Superman”. Só é de se lamentar que Jeremy Renner e, principalmente, Forest Whitaker, tenham sido pouco aproveitados. Poderiam ter aparecido mais, a meu ver. A relação entre os três poderia ter sido um pouco mais conflituosa. Havia espaço para isso.

De qualquer forma, “A Chegada” é um daqueles filmes que merecem uma chegadinha ao cinema, desde o fã de ficção científica até o cinéfilo mais tradicional. É uma boa história contada com um bom elenco, para agradar aos gostos mais conflitantes. Uma ficção científica com uma pitada de drama e mais com cara de cinema alternativo do que blockbuster. Não esperem tiros de laser. E não deixem de ver o trailer abaixo