Vamos hoje nos lembrar de uma antiga série japonesa que passava no SBT, quer dizer, TVS, “Spectreman”. Quem vivenciou os primeiros anos da emissora de Sílvio Santos, teve a oportunidade de testemunhar uma das séries mais exóticas da TV em todos os tempos! Inicialmente exibida na Record, nos anos de 1981 e 1982, a série teve mais destaque quando foi exibida de 1983 a 1990 na TVS.
Vemos aqui a história de um androide alienígena, que fora enviado pelos Dominantes, habitantes de Nebula 71, uma espécie de asteroide que vaga pelo Universo. Eles ficavam numa navezinha que parecia dois hambúrgeres acoplados. Essa espécie era altamente desenvolvida e tinha como missão proteger planetas subdesenvolvidos (ou seja, nós) de destruições provocadas por causas internas ou externas. Por outro lado, havia a espécie simióide (ou homens-macaco), que vivia no planeta Épsilon, há quarenta mil anos-luz da Terra, na constelação de Sagitário. O cientista mais inteligente dessa espécie era o Dr. Gori, que queria usar a avançada tecnologia de Épsilon para conquistar novos mundos, ao invés dos projetos pacíficos de sua civilização. Mas seu plano foi descoberto e, com a ajuda de Karas, o chefe da guarda, fugiu de Épsilon numa nave e chegou à Terra com seu capanga troglodita (Karas era um gorilão; o Dr. Gori era um macaco de cabeça branca e roupa lilás) depois de passar por uma tempestade eletromagnética. Ao ver a destruição que o homem causava no planeta com a poluição, o Dr. Gori fica indignado e decide conquistar a Terra, criando gigantescos monstros com os poluentes criados pelo próprio homem. Assim, Spectreman luta contra esses monstros ecologicamente corretos, pois eles são feitos de lixo reciclado, com o objetivo de proteger a espécie humana da destruição e das garras de Gori.
Essa foi uma série japonesa que não só tinha o objetivo de entreter, mas também de conscientizar as pessoas com relação aos problemas da poluição (a série foi produzida bem no início da década de 1970, ou seja, os anos de 1971 e 1972). Uma característica marcante era o baixíssimo orçamento, onde podíamos presenciar Spectreman e os monstros destruindo maquetes de prédios de isopor e explosões feitas com álcool, além de raios desenhados nos próprios fotogramas, quadro a quadro. Os monstros eram altamente exóticos também. Tivemos, por exemplo, uma baleia voadora, uma barata gigante e até um rato de duas cabeças, sem falar de muitos outros monstros das mais variadas cores e formatos, passando uma senhora repugnância, pois eram feitos de poluição.
Para tornar a coisa mais escrachada ainda, a dublagem feita pela própria TVS era simplesmente o fim da picada. A coisa era muito avacalhada. Em certo episódio, Spectreman sequestra (isso mesmo!) Karas, que é entregue ao Dr. Gori depois de uma negociação. Ao ver a atitude nobre de Dr. Gori, Spectreman pensa algo do tipo: “Mesmo aqueles com uma mente perversa ainda têm alguma bondade no coração”. Mas logo após, aparece o Dr. Gori dando um baita esporro em Karas, dizendo que ele tem um “cérebro de pudim de goiaba” (queria saber como é pudim de goiaba em japonês). Em outra situação, surgiu um tal de Capitão Meteoro, uma espécie de zorro envolto em papel alumínio, que lutava contra uma espécie alienígena com a cara toda marrom, sem olhos ou boca. Lá pelas tantas, os vilões mandaram o Capitão Meteoro se render e ele soltou um tremendo “De jeito maneira!!”. Quando os amigos de Spectreman falavam com ele por um rádio, parecia que o dublador estava com um balde enfiado na cabeça, pois o som saía abafado, não especificamente com a sonoridade de um rádio. Vários dos dubladores da série seriam dubladores do Chaves e Chapolin Colorado anos depois. Dr. Gori, por exemplo, era dublado por Carlos Seidl, o mesmo dublador do Seu Madruga, e que, ao fim do episódio, falava de forma tresloucada, “Não percam o próximo episódio deeeeeeeeeeee….”, chegando até a dar uma desafinada em algumas oportunidades. Carlos Seidl e os tradutores não perdoavam e ainda colocavam Dr. Gori chamando Spectreman pejorativamente de “homem de lata”. Ultraseven e Ultraman já haviam sido vítimas do mesmo adjetivo pelo povão.
Spectreman obviamente ele tinha uma forma humana e uma identidade secreta, Kenji (interpretado pelo ator e carateca Tetsuo Narikawa, falecido em 2010, com 65 anos). Kenji entrou numa divisão de combate à poluição para estar mais perto dos problemas ambientais e, consequentemente, dos planos de Dr. Gori. Certa vez, um dos amigos de Spectreman perguntou a Kenji a mesma coisa que Lois Lane perguntava a Clark Kent: “Kenji, por que você sempre some quando o Spctreman aparece?”. Mas, ao contrário de Lois Lane, que não tinha ligações sinápticas suficientes para responder a pergunta, esse amigo do Spectreman (era um barbudinho para quem se lembra da série) gritou: “Já sei! Você é o Spectreman!”, ao que Kenji retrucou com um sonoro “Eu não!”, como se ser Spectreman fosse uma doença contagiosa.
Outra boa lembrança desta série era a trilha sonora. Era exibida por aqui a versão americana, que tinha um rock de batida bem nervosa com efeitos de teclados eletrônicos. Até hoje, a gente encontra essa música tocando nos varandões da saudade da década de 1980 da vida.
Assim, Spectreman não sai de nossas memórias por ser uma série japonesa muito mal feita, mas até por causa disso, muito engraçada, onde a dublagem exótica da TVS só nos fazia rir mais ainda. Apesar de todo o escracho, a mensagem de alerta contra a poluição tornava essa série diferente das outras, digna de ser recordada aqui na Batata Espacial. e não deixem de ver abaixo a antológica abertura de Spectreman no SBT!!!