E a temporada de estreias de filmes indicados ao Oscar continua. Hoje vamos falar da película dirigida por Mel Gibson, “Até o Último Homem” (“Hacksaw Ridge”), que concorre a seis estatuetas (melhor filme; melhor ator para Andrew Garfield; melhor direção; melhor montagem; melhor edição de som; melhor mixagem de som). Esse é mais um filme sobre o inesgotável tema da Segunda Guerra Mundial para o cinema. E, mais uma vez, esse tema proporcionou uma excelente película, que é baseada numa história real.
Vemos aqui a trajetória de Desmond Doss (interpretado por Andew Garfield), um rapaz do interior que tem um pai que lutou na Primeira Guerra Mundial (interpretado por Hugo Weaving, o vilão de “Matrix” e o Caveira Vermelha do Capitão América) e é muito atormentado por esse passado, sendo extremamente violento com a mulher e os filhos. Essa violência se refletia na família e Desmond brigava com seu irmão constantemente. Ao atingir seu irmão com um tijolo na cabeça e depois de tirar a arma das mãos do pai durante uma discussão com a mãe e quase matá-lo, Desmond, que era muito religioso, prometeu não pegar mais numa arma. Ao se alistar no exército como voluntário para a já Segunda Guerra Mundial, Desmond arrumou problemas com seus superiores ao se recusar a fazer treinos com armas, e com seus colegas que o acusavam de covardia e chegaram até a espancá-lo por isso. Ele queria mesmo era ir para a guerra como médico, com o objetivo de salvar vidas ao invés de tirá-las. Tal atitude foi vista como desrespeito aos seus superiores e lhe rendeu uma corte marcial que por muito pouco não o levou à prisão. Ganha a sua causa, Desmond irá com o seu pelotão para Okinawa, totalmente desarmado, para a linha de frente.
O leitor pode pensar: mesmo que você não queira matar ninguém, você precisa se defender. Todas essas questões foram discutidas no filme, mas Desmond jamais aliviou nas suas convicções, mesmo estando sob fogo cruzado. É um filme que realmente fala, acima de tudo, de convicções e valores, e de como você consegue conquistar o respeito de todos sem abrir mão delas. É um belo exemplo de vida.
Agora, como o filme abordou as cenas de guerra? Elas foram de um realismo extremo, sendo que a última vez em que vimos algo semelhante foi em “O Resgate do Soldado Ryan”. É claro que nem sempre o realismo deu o ar de sua graça, sobretudo na batalha final, mas ainda assim as cenas foram angustiantes o suficiente para testemunharmos um pouquinho as sensações de se estar num campo de batalha. Já a forma como o inimigo japonês foi retratado não fugiu muito dos estereótipos convencionais: são animais desalmados que não têm o menor respeito ou apreço pela vida, seja do inimigo, seja deles mesmos. O único momento muito rápido em que aparece um pouco mais da cultura japonesa está justamente na sequência da batalha final, onde paradoxalmente as coisas eram um pouco mais inusitadas. É óbvio que numa película dessas, que busca retratar o heroísmo de um soldado americano, as atenções estarão mais voltadas para o exército americano e seus “mocinhos”.
Assim, “Até o Último Homem” é mais um concorrente de peso para o Oscar. A indicação de Andrew Garfield foi merecida, embora eu ainda aposte mais minhas fichas em Casey Affleck, por “Manchester à Beira Mar”. De qualquer forma, esse filme serviu para que fique claro que Garfield não é somente o Homem-Aranha. No mais, um bom filme de guerra, que não evitou certos estereótipos, mas teve bons momentos de realismo embora eles falhassem mais ao final da película. Apesar dos pesares, um excelente filme de guerra que merece alguma premiação.