A Editora Mythos Books traz uma verdadeira joia para os fãs de “Jornada nas Estrelas”. Todo mundo conhece a história do episódio da série clássica “Cidade à Beira da Eternidade”, onde Kirk e Spock voltam ao passado da Terra para resgatar o Dr. McCoy que, acidentalmente injetou um remédio em si e pirou na batatinha. Ele foi para o teletransporte e desceu à superfície de um planeta onde estava o “Guardião do Tempo”, uma espécie de passagem temporal, indo para a década de 30, em plenos dias da “Grande Depressão”. Ao chegarem ao passado, Kirk e Spock conhecem Edith Keller, uma irmã pacifista que cuida das pessoas mais necessitadas e tem uma mente muito à frente de seu tempo. Kirk instantaneamente se apaixona por ela, mas Spock descobre, através de uma versão rudimentar de um tricorder que ele construiu, que Edith vai morrer e que se ela viver, assumirá uma postura pacifista que vai atrasar a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra e que permitirá aos nazistas desenvolverem sua bomba atômica. Assim, Kirk sabe que vai perdê-la e sofre muito com isso. Essa é uma das melhores histórias da série clássica, que ganhou os prêmios Hugo e Nebula de ficção científica.
Mas… você sabia que a história que foi veiculada no episódio não era a original, escrita por Harlan Ellison? Ela sofreu mudanças, segundo os produtores, porque o roteiro original não teria condições de ser filmado à época, algo com que Ellison discordou veementemente. E agora, a Mythos Books traz essa versão original do roteiro em quadrinhos, numa edição bem acabada e luxuosa em capa dura, que tem um precinho salgado, é verdade, mas vale muito a pena ter, principalmente se você ama “Jornada nas Estrelas” ou simplesmente ama quadrinhos. Na versão original, quem viaja para o passado é um tripulante camisa vermelha típico (aquele tripulante desconhecido que sempre morria nos episódios da série clássica na tv). Seu nome era Beckwith e ele era uma espécie de traficante de alucinógenos alienígenas dentro da Enterprise. Quando é descoberto, foge da nave e atravessa o portal do guardião do tempo. Imediatamente, o presente da Enterprise é alterado e a nave deixa de existir, entrando uma nave cheia de mercenários em seu lugar. Kirk, ao voltar com o grupo avançado para a nave, percebe que houve uma alteração e consegue se trancar na sala de teletransporte com sua tripulação. Ele volta ao planeta para atravessar o guardião do tempo com Spock, enquanto a ordenança Rand (que recebeu um papel mais destacado nessa história) fica com os demais tripulantes da Enterprise na sala de transporte, segurando a porta para os mercenários não entrarem. A partir daí, a história toma rumos parecidos com os do episódio veiculado na tv, mas com algumas pequenas alterações que não vou contar aqui (chega de spoilers!).
É uma experiência muito legal você ver a mesma história contada de forma diferente, tal como quando vemos um filme com o “corte do diretor”, mas um corte que realmente altere o produto final, como foi visto em “Superman II”, o estrelado por Christopher Reeve. Embora haja algumas incongruências, como, por exemplo, por que a tripulação da Enterprise também não foi alterada quando Beckwith atravessou o portal ou por que Rand teve que ficar com os tripulantes na sala de transporte segurando as portas que os mercenários queriam derrubar e não foi para a superfície do planeta com Kirk e Spock (talvez o único motivo para isso fosse forçar Kirk e Spock lutarem contra o tempo enquanto estavam no passado da Terra), temos aqui uma ótima história, bem ao espírito dos episódios da série clássica, com a vantagem de que, com os quadrinhos, pode-se deixar a imaginação fluir ainda mais, com o produto final chegando bem próximo da imaginação do autor. Por isso, não podemos deixar de mencionar a adaptação para os quadrinhos do roteiro original por Scott e David Tipton e também a arte de J. K. Woodward. Inclusive, temos ao final dos quadrinhos uma exibição de todo o processo de produção da revista e um texto falando das inúmeras referências ao autor da história e outras que aparecem ao longo dos quadrinhos, que são uma verdadeira obra de arte.
Assim, a versão em quadrinhos do roteiro original de “Cidade À Beira Da Eternidade”, é uma leitura obrigatória para qualquer fã que se diga trekker e uma peça de coleção valiosa para quem gosta de quadrinhos. Não deixem de comprar, pois vale a pena o dinheiro investido nela.