Batata Movies – Una. Dividida?

Cartaz do Filme

Um filme curioso está em nossas telonas. “Una” é dirigido por Benedict Andrews e escrito por David Harrower, baseado em sua peça “Blackbird”. É uma história sobre trazer um negro passado à tona. E de como isso afeta os protagonistas desse passado hoje. Um drama psicológico muito bem refinado e elaborado que tem um sabor todo especial: traz Ben Mendelsohn e Riz Ahmed no elenco. Já se esqueceram desses nomes? Pois é. Eles são, respectivamente, o diretor Krennic e o piloto de carga Bodhi de “Rogue One”, o spin-off de “Guerra nas Estrelas” que passou nos nossos cinemas ao final do ano passado. Como se não bastasse essa grata surpresa, o filme ainda conta com a presença da deslumbrante Rooney Mara.

Uma relação complicada

Mas, do que se trata esse filme? Vemos aqui a história de Una (interpretada por Rooney Mara), uma mulher atormentada pelo seu passado. Ela, quando tinha apenas treze anos, se envolveu com um homem mais velho, ou seja, ela sofreu um abuso num caso de pedofilia. O homem em questão é Ray (interpretado por Mendelsohn), que foi preso e julgado por seu crime, pagando uma pena de quatro anos de prisão. Mas Una ainda sofre com as lembranças do passado e vai atrás de Ray. Não tivemos aqui apenas um caso de abuso sexual. A moça também se envolveu amorosamente com o homem mais velho e, agora que está adulta, quer encontrá-lo para não somente tirar as suas diferenças com o passado, mas também porque ela o ama. E esse relacionamento um tanto destrutivo vai se desenvolvendo ao longo do filme, onde os dois conversam no refeitório da fábrica onde Ray trabalha.

Mas a menina cresceu…

Ufa, dá para perceber que esse vai ser um filme de diálogo bem tenso mas, ao mesmo tempo, também muito intenso (me desculpem o trocadilho infame). O filme se foca principalmente em Mara e Mendelsohn, que estavam ótimos. O ator esqueceu aquela afetação que o diretor Krennic tinha em “Rogue One” e foi bem mais contido, com as devidas explosões emocionais no tempo certo. Era muito marcante a sua preocupação em deixar bem claro para Una que ele não era uma figura pervertida e que não houve mais nenhum caso com outra menor de idade, ou seja, Una foi a única ninfetinha a passar pelas mãos de Ray, numa prova um tanto doentia de amor entre os dois nessa relação para lá de conturbada. Já Rooney Mara foi muito bem e todas as suas explosões de dramaticidade convenceram bastante, embora ela tivesse momentos onde ficava totalmente estática, com um olhar perdido, cujos closes ajudaram muito na construção da melancolia que a cena exigia.

Riz Ahmed também está no filme

Agora, podemos imaginar como toda essa história encucou a cabeça de nossa protagonista, fazendo com que a moça ficasse com atitudes erráticas e tendo várias oscilações de comportamento, o que curiosamente entra em conflito com o próprio nome da personagem. Assim, nossa Una está mais para uma bipolar do que para qualquer outra coisa.

O único detalhe que destoou da construção do filme foi justamente o seu desfecho, que teve uma tremenda cara de anticlímax. Foi um pouco de desperdício e até uma certa falta de respeito com o bom trabalho dos atores que interpretaram os protagonistas. Mas, toda a vez que existe um desfecho com esse anticlímax, faço aqui a pergunta: foi a intenção do roteirista dar um choque de realidade no espectador, não fornecendo um desfecho tão espetaculoso? De qualquer forma, ficou a impressão de que esse final caiu mal (mais um trocadilho).

Assim, “Una” é uma película que vale a pena ser assistida, em primeiro lugar pelo interessante drama psicológico de um casal que teve uma relação pedófila que ficou muito mal resolvida, em segundo lugar pelas boas atuações de Rooney Mara e Ben Mendelsohn e, em terceiro lugar pelo fato de presenciarmos dois atores de “Rogue One” trabalhando num filme totalmente diferente do Universo de “Guerra nas Estrelas”, onde podemos testemunhar as variações de seus talentos. Vale a pena dar uma conferida.

https://youtu.be/UgiN35SC-hM

Batata Literária – Numa Churrascaria da Zona Sul

Copacabana, vinte horas.
Estou na churrascaria.
Espero minha amada sem demora
voltar de seu emprego na galeria.
No restaurante, um mar de pessoas inconstantes.
Alguns falam a língua pátria.
Outros idiomas de terras distantes,
turistas até das terras ádrias.
Muito estranhos, esses estrangeiros!
Negros americanos, rindo cheios de trejeitos.
Nórdicos gordos e de bochechas vermelhas.
Francesas formosas e faceiras,
mas obsoletas perto da beleza das brasileiras,
que também povoam o local,
desfilando sua graça natural,
perfumando o ambiente com o seu floral.
E os funcionários?
Ah, esses trabalham de dar pena,
pois recebem baixos salários
e ainda labutam até muito depois da novena.
Desfilam carnes saborosas
mas têm vidas nada suntuosas.
Definitivamente, o sotaque não é de Trieste.
São eles quase todos do Nordeste.
Pois é.
É interessante como a injustiça do mundo
se expressa cheia de fé
nesse sítio profundo.
Uns muito comem e pouco pagam.
Outros muito trabalham e pouco recebem.
Os ricos têm luxos que se destacam
e os pobres, uma vida em que quase perecem.