Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Voyager. Demônio. Formas De Vida Líquidas Querem Sensações.

                     Um episódio de Voyager…

A Batata Espacial tem o orgulho de apresentar uma nova seção: a Batata Séries. Aqui  você vai ter a oportunidade de ler análises e reflexões de episódios de séries de TV. E como trekker que eu sou, não poderia deixar de começar com um episódio da série Voyager, da franquia de Jornada nas Estrelas. Vamos falar aqui do 24º episódio da 4ª temporada, intitulado “Demônio”. Antes de mais nada, lembremos que a Voyager é uma nave da Frota Estelar que faz uma viagem do Quadrante Delta da galáxia ao Quadrante Alfa, onde está a Terra, e essa viagem tem uma duração de setenta anos, já que a distância a se cumprir é muito grande (setenta mil anos-luz). E, justamente pela necessidade de se cumprir uma grande distância, a nave e sua tripulação sofrem com a carência de recursos, que chegaram a níveis críticos. Depois da necessidade de se poupar energia e de muitas buscas, foi encontrado um planeta que pode fornecer material para recuperar a energia da nave. Mas esse planeta é de classe Y, também conhecido como “classe demônio”, que é altamente inóspito para os seres humanos (temperaturas e pressões elevadas, elementos químicos altamente tóxicos na atmosfera, etc.). A capitã Janeway já desistia de explorar o planeta quando o jovem alferes Kim disse que era capaz de buscar o material, mesmo com todas as condições adversas. Ele somente precisava de uma pessoa para ajudá-lo. E, para isso, chamou seu amigo Tom Paris.

Kim, querendo mostrar serviço, tem uma ideia…

Ao descerem no planeta, no entanto, Kim e Paris se depararam com uma espécie de substância viscosa que sugou o alferes. Paris salva o amigo, mas defeitos na roupa atmosférica dos dois, provocados pela gosma fazem-nos ficar desacordados. Com a demora da resposta dos dois, a capitã Janeway decide resgatá-los e pousa a Voyager na superfície do planeta. Qual não é a surpresa que os tripulantes da nave têm quando encontram Paris e Kim andando sem roupas de proteção e em perfeita saúde na superfície do planeta? O problema foi quando os dois retornaram ao interior da Voyager e não conseguiam mais viver no ambiente interno da nave. Depois de muitas elucubrações e especulações, além de investigações científicas (como toda boa série de ficção científica deve ter!), foi descoberto que aqueles não eram o Kim e o Paris reais, mas sim aquela substância viscosa que se apropriou do DNA dos dois e fez novos Kim e Paris. A Voyager já havia conseguido o material para restaurar a energia da nave e o Kim e Paris originais já haviam sido achados, mas a nave afundava na substância viscosa, que não queria que a nave abandonasse a superfície do planeta, pois queria os padrões de DNA dos tripulantes para terem acesso às sedutoras sensações humanas. Janeway fez, então, um trato com a espécie alienígena, e forneceu os padrões de DNA dos membros da tripulação que quisessem doá-los em troca da substância libertar a nave. O episódio termina com a Voyager levantando voo e a “tripulação” se despedindo na superfície do planeta.

                     Prolongada falta de ar…

Esse é um episódio interessante do qual podemos tirar algumas reflexões. Em primeiro lugar, é usada a ideia de formas de vida não sólidas. Isso já foi feito em obras como “O Despertar dos Deuses”, de Isaac Asimov, onde víamos até forma de vida gasosas. Essa noção é altamente instigante, pois foge do lugar comum de vidas humanóides, algo tão presente no Universo de Jornada nas Estrelas, até porque para uma série de televisão é mais barato e fácil vestir um humano de alienígena. Em segundo lugar, houve uma dose moderada de etnocentrismo, pois elegeu as sensações humanas como incríveis e bárbaras. À despeito do fato daquelas sensações serem uma experiência totalmente nova para aquela espécie alienígena, ainda assim ficou uma impressão desconfortável de que tudo que vem do humano é bom e virtuoso, até os sentimentos e instintos mais primários. Herança humanista e renascentista? Talvez. Mas um tanto tendenciosa e demasiado utópica. A espécie daquele planeta poderia estar muito bem com uma matriz cultural própria e não ficar tão deslumbrada com um elemento alienígena. É só a gente se lembrar do elo de Odo em DS9.

                              Uma nave imersa…

O que incomoda no episódio são dois pontos: a quantidade de tempo que o Kim e o Paris originais ficaram sem oxigênio no planeta (até se buscou dar uma justificativa que não colou muito) e o fato de Janeway ter pousado toda a Voyager na superfície do planeta, apesar dos sérios riscos.

“Tripulantes” se despedem da Voyager…

Entretanto, ainda assim, “Demônio” é um bom episódio de Voyager. Há melhores e piores. Mas um bom episódio.

Batata Movies – O Filme Da Minha Vida. Reificando O Singelo.

                Cartaz do Filme

Selton Mello está de volta ao cinema, assinando a direção. Depois do bom “O Palhaço”, o ator traz “O Filme da Minha Vida”, onde ele assina o roteiro, baseado num romance do autor chileno Antônio Skármeta, conhecido no cinema por escrever obras do naipe de um “O Carteiro e o Poeta”. E, dessa vez, Mello caprichou, pois ele conseguiu reunir num filme talentos da magnitude de um Vincent Cassel e um Rolando Boldrin. Isso sem falar da boa revelação de ator que foi Johnny Massaro. Mello conseguiu colocar no cinema uma história muito simples de um rapaz de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul de uma forma tão soberba que podemos dizer que houve uma reificação, não no sentido pejorativo do termo, onde se elege algo e se cristaliza isso, tornando algo excessivamente solene e imutável, mas sim uma reificação onde tudo na vida, por mais simples que seja, pode assumir uma dimensão gloriosa.

Tony. Um rapaz com desejos, aspirações e dores

Vemos aqui a história do jovem Tony (interpretado por Massaro), o tal menino de vida simples que admirava enormemente seu pai Nicolas (interpretado por Cassel, um francês que era um grande exemplo para o filho). Um belo dia, Tony já está crescido e precisa se retirar da cidade para estudar para obter a profissão de professor. Quando ele retorna, descobre que o pai misteriosamente voltou para a França, sem deixar vestígios. O rapaz, então com 29 anos, leva a vida de professor, interage com sua mãe e o amigo de seu pai, Paco (interpretado por Mello), segue em seus flertes com a amiga Luna (interpretada por Bruna Linzmeyer) e, lá no fundo, sente uma falta enorme de seu pai. A única coisa que alivia essa sua saudade é a paixão incontrolável pelo cinema e a vontade de frequentar o Cine Roxy, na cidade vizinha. Será exatamente nesse cinema que a vida do Tony sofrerá uma reviravolta. Mas chega de spoilers por aqui.

                Um paizão perdido…

Essa é uma história que cativa o espectador de forma imediata. Todos os elementos com os quais qualquer pessoa se identifica estão lá: o primeiro amor, a primeira vez, a afeição filial, o sofrimento da ausência. É impossível a gente não se encaixar num desses elementos. Mas Mello conseguiu fazer isso de um jeito muito singelo, sem explosões emocionais mais carregadas. Tony sofria, mas ele não transparecia isso, exceto num momento em que ele toma uma atitude mais destemperada. Por mais artificial que isso possa parecer, a coisa não ficou muito pronunciada graças à boa atuação de Johnny Massaro, que conseguiu ser suave em todo o tempo, mas também usou doses comportadas de dramaticidade nos momentos certos. Sua cara ao sair da salinha de cinema maravilhado com o filme que acabou de assistir toca no fundo do coração de qualquer cinéfilo. Mello também atuou muito bem. Sua pouca idade para o papel foi compensada por uma barba estrategicamente inserida e pela interpretação perfeita de um homem rude e rústico, convencendo bastante. Foi uma pena que Rolando Boldrin tenha aparecido pouco. Teria sido muito legal se a gente tivesse tido mais oportunidades de apreciar seu talento artístico. Ver Skármeta, o autor do livro que deu origem ao filme, também é digno de nota. Mas a grande estrela do filme, sem a menor sombra de dúvida, foi Vincent Cassel. Falando um português perfeito, apesar do sotaque francês obrigatório para o papel, Cassel foi grandioso como o verdadeiro paizão, mas foi além como o pai arrependido que deixa o filho para trás. Ele foi, assim como Massaro, de uma suavidade incrível na sua interpretação.

                                 Gurias sedutoras…

Outra coisa que muito chamou a atenção foi o uso de closes. Esse é um elemento pouco explorado hoje em dia de forma tão expressiva. E é legal ver Mello resgatar isso, cujos filmes de Walter Hugo Khouri são o maior exemplo no Brasil. Num filme de poucas explosões emocionais e altamente singelo, os closes e sua expressividade se sobressaíam bastante.

Selton Mello muito bem, envelhecido, xucro e soturno…

Assim, “O Filme da Minha Vida” é mais uma grata surpresa de nosso cinema e a constatação de que Mello deu um passo à frente em seu talento como diretor, escritor e realizador de filmes. Ele consegue transformar o mais singelo numa história em que todos nós nos prendemos e nos identificamos, além de ter conseguido um baita de um elenco, com atores muito expressivos, principalmente em seus closes. E tudo isso sem explosões emocionais mais profundas. Vale a pena prestigiar essa pequena joia de nosso cinema.

 

Batata literária – Fora do Mapa (Chrsitine Córdula Dantas)

Fora do Mapa
————–

Pro fim do mundo eu vou
Praquele mesmo recanto
que sempre me esqueço
sem nunca querer

Onde doces riachos
esquecidos de mim
me permitem em seus sonhos
eu mesma sonhar

Em suas cantigas e rumores
Brandos e aquosos
eu mesma, em silêncio.
cantar

No fim do mundo
onde tudo começa

Num tempo em que o novo
é o tempo passado do tempo
Onde céus repousam
quietos no mar
sem barco algum
à vista a passar

Mas onde ainda sim vejo
seu traço naval
que surge
Rasgando em meu peito
meu longínquo
Mapa Mundi

CCD 16/08/17

Batata Movies – Alien Covenant. Criadores E Criaturas.

                                  Cartaz do Filme

E “Alien Covenant” passou nos cinemas. Por que esse filme tem uma relativa importância? Porque ele vai fazer uma ponte entre a franquia Alien e o filme “Prometheus”, ambos saídos das mãos de Ridley Scott. E que tinha um grande atrativo afora o monstrengo: a presença de Michael Fassbender, novamente interpretando o androide David, de “Prometheus”.

                       David, o robô perfeito…

O enredo do filme não foge muito dos demais. Uma nave espacial de nome Covenant viajando para estabelecer colônias em planetas distantes. E aí, essa nave encontra um planeta aparentemente habitável que parece ser um verdadeiro paraíso. Mas aí ele é cheio de bichinhos mortais. E então os tripulantes da nave espacial colonizadora saem de uma ficção científica um tanto promissora para uma mistura de horror e suspense que não é tão promissor assim. A virtude desse filme talvez esteja no fato de que ele é uma continuação de “Prometheus”, um filme que tem um pouco mais de conteúdo que alguns filmes da franquia Alien. E, principalmente, por causa de Michael Fassbender, que (alerta de spoiler) faz dois personagens: os androides Walter, que vem com a Covenant e David, que está no planeta que a nave chega. Walter é um robô menos desenvolvido que David, já que este segundo era tão avançado e chegava tão perto dos humanos que incomodou seus criadores, que acharam melhor fazer versões robóticas menos avançadas, das quais Walter fazia parte. Fassbender destilou todo o seu talento nesses dois personagens e sua interpretação ficou a anos-luz dos demais atores da película. Confesso que fui ao cinema somente para vê-lo, ao bom estilo dos filmes cuja principal atração é o ator que você admira.

              Um planeta aparentemente idílico…

Algumas críticas que o filme fez foram no sentido de que, assim como em “Prometheus”, os cientistas de “Alien Covenant” foram um pouco descuidados ao interagir com a superfície do planeta a ser explorado e com seu meio ambiente. Creio que essa crítica em “Prometheus” até seja válida, mas se a mesma coisa foi repetida em “Covenant”,aí a gente tenha que refletir por que. Talvez o diretor tenha querido fazer uma galhofa com a coisa mesmo, talvez ele tenha querido fazer uma crítica à arrogância do possibilismo humano. De qualquer forma, uma das personagens do filme, Daniels, era a que tinha uma posição mais cautelosa entre todos da equipe. Muitas críticas foram ouvidas também com relação a esta personagem. Mas creio que elas tenham sido um pouco exageradas. Comparar Daniels com Ripley é um pouco de forçação de barra a meu ver. A personagem de Covenant passou por um trauma muito grande ao ver o marido incinerado, o que passou uma sensação de fragilidade imensa da personagem ao início da película, algo que, por exemplo, não aconteceu com Ripley. Mas ela era a voz da razão na nave, e ainda mostrou compreensão quando viu outros personagens reconhecerem seus erros. E foi ela que peitou o monstrão ao fim do filme, numa cena de ação com situações bem absurdas. A personagem de Ripley teve enorme importância, pois foi um ícone do empoderamento feminino em plena década de 80, atingindo grande relevância. E fazer uma comparação desse naipe com a personagem de Daniels chega até a ser uma covardia com esta última, não podendo servir como parâmetro.

             … tem um passado apocalíptico

Mas a grande questão do filme ainda reside na questão do criador e da criatura. Isso já aparece no início do filme na grande sequência do diálogo de Weyland (o dono da empresa que empreende a colonização fora da Terra) e David. Nessa conversa, podemos atestar como a criatura vê o criador e vice-versa, quais são as virtudes e limitações que um tem com relação ao outro. E de como uma criatura quer também se transformar em criador, repetindo os desejos e movimentos de quem a criou. Tudo isso faz o filme ter uma grande virtude que suplanta o terror de um monstro que despedaça corpos humanos. Ou seja, há um debate reflexivo interessante implícito nas entrelinhas desse filme de horror com verniz de ficção científica.

                      Filhotinho…

Assim, se “Alien Covenant” não chega a ser um grande filme, ele tem sua importância por ser a ponte entre “Prometheus” e a franquia Alien, faz um interessante debate sobre a natureza do que é ser criador e ser criatura e, principalmente, tem Michael Fassbender colocando todo o elenco do filme no bolso. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Patton, Rebelde Ou Herói? Made In Usa.

                     Cartaz do Filme

Dia desses eu estava fuçando meus alfarrábios quando encontrei uma pequena relíquia: o DVD do filme “Patton, Rebelde ou Herói”, que ganhou sete oscars em 1970 (melhor filme, ator para George C. Scott, diretor para Frank J. Schaffner, roteiro original para Francis Ford Coppola e Edmund H. North, direção de arte, som, montagem). E por que esse filme é uma relíquia? Porque ele consagrou a atuação de um nome muito conhecido entre os atores de Hollywood: George C. Scott. Curiosamente, o ator não aceitou o prêmio, alegando que não se sentia à altura dos outros concorrentes. De qualquer forma, não é essa a impressão ao assistirmos “Patton”.

                                Um general turrão

Mas, do que consiste a história? Esse é um filme de guerra e vemos aqui a trajetória do general George Patton (interpretado por Scott), um militar casca grossíssima que lutou no front africano durante a Segunda Guerra Mundial. Ele era o único general aliado realmente respeitado pelos nazistas, que até colocaram um oficial para pesquisar sua vida. Patton tinha como lema sempre atacar e jamais recuar. Extremamente carismático, ele tratava os soldados feridos como filhos, chegando a afagá-los. Mas era extremamente rude com soldados não feridos que alegavam distúrbios psicológicos para estarem na enfermaria. Na visão do severo general, eles eram covardes que deveriam ir direto para a linha de frente, o que causou alguns problemas com o alto comando do exército americano, já que Patton chegou a espancar um soldado “covarde”. Nosso general também era amante de guerras antigas, como as guerras púnicas entre romanos e cartagineses, ou a guerra grega do Peloponeso entre Esparta e Atenas, acreditando piamente que tinha participado dessas batalhas em vidas passadas. Patton odiava o século vinte e a tecnologia, que tiravam o “glamour” da guerra e a luta pela honra. Derrotou Rommel, um grande general nazista, pois havia estudado suas táticas de batalha e lido seus livros. Só que o general tinha defeitos muito graves. Um deles era o de ser um tremendo “língua de trapo”, sendo muito desbocado em público e falando o que pensava na cara de quem quisesse, ou seja, nota zero em diplomacia, o que era um problema para os aliados, que tinham que costurar tortuosas alianças com países como a União Soviética, por exemplo. Outro grande defeito estava no fato de que o homem era muito vaidoso, chegando ao ponto de colocar colegas militares próximos em batalhas suicidas somente para ele colher os louros da vitória sozinho depois.

Ele acreditava estar em batalhas de vidas passadas…

Além da atuação magnífica de Scott, não podemos deixar de falar da atuação do ator Karl Malden no papel do general Omar Bradley, amigo mais próximo de Patton, o que não o impediu de passar por um monte de sinucas de bico armadas pelo protagonista, o que dava aos dois uma relação um tanto tempestuosa. O ator foi muito bem e não seria surpresa um Oscar de ator coadjuvante para ele, o que infelizmente não aconteceu.

O filme também prima por excelentes cenas de guerra, com mortes de soldados muito bem coreografadas e o uso de tanques e muitas, muitas explosões, dando um grande tom de realidade para filmes feitos à época. Foi uma pena esse filme não ter ganhado o Oscar de efeitos visuais, categoria para a qual também tinha sido nomeado (o filme recebeu dez nomeações ao todo).

                O verdadeiro Patton

Assim, “Patton” é uma pequena relíquia do passado que deve ser rememorada, pois consagrou o talento de George C. Scott, trouxe a boa atuação de Karl Malden e foi um filme de guerra com cenas de bom realismo. Vale a pena procurar por aí. Veja, abaixo, o discurso de Patton ao início do filme.

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