Uma co-produção Alemanha/Itália/Áustria/Suíça passou em nossas telonas. “Lou” fala da história real de Louise Andreas-Salomé, uma mulher bem à frente do seu tempo, uma escritora e psicanalista que teve várias amizades masculinas, dentre elas Nietzsche, Rilke e Freud. Uma mulher que teve uma vida intensa, praticamente uma precursora do empoderamento feminino que vemos hoje em dia.
A película começa com ela, já idosa (interpretada por Nicole Heesters) confinada em sua casa durante a queima de livros provocada pelos nazistas. Ela se aposenta de sua profissão de psicanalista e fica reclusa em casa, para tentar escapar de todo o horror em que se transformou a Alemanha. Mas um homem, Ernst Pfeiffer (interpretado por Mathias Lier) insiste em ir à sua casa, à procura de seus serviços. Apesar de todas as chances em contrário, Louise e Ernst iniciam uma amizade e a senhora começa a contar história de sua vida, desde a infância, quando questionou abertamente o poder da Igreja e das instituições vigentes, que controlavam a mulher em todo o seu machismo. Ela conhece um homem mais velho numa livraria, que se encanta com seus poemas e quer se casar com ela, o que lhe provoca um trauma que faz a moça decidir que jamais se apaixonará e que somente se envolverá intelectualmente com os homens. Sua opção acabou fazendo com que ela tivesse diferentes tipos de relacionamento com os homens de sua vida, sendo todos eles com maior ou menor grau de turbulência.
Esse foi realmente um filme muito interessante, pois abordou a vida de uma mulher que escolheu uma forma muito peculiar de relacionamento com o sexo oposto mesmo em nossos dias. Sua opção pela razão total para se resguardar de problemas de ordem emocional acabou não surtindo efeito, já que isso afetava emocionalmente os homens à sua volta e ela acabava caindo nesse turbilhão. Só é pena que a película tenha enfocado muito mais o aspecto pessoal e emocional da vida de Louise do que o aspecto intelectual. Ainda assim, tivemos um filme intrigante e marcante. Um filme, acima de tudo, de atores, de personagens e de relacionamentos e que confirma um pouco aquela ideia de que a história de um homem ter uma mulher somente como amiga é um tremendo engodo. De todos os relacionamentos que Louise teve, talvez somente o com Freud remasse contra essa maré.
Uma coisa que chamou muito a atenção e foi de uma plasticidade incrível foi o uso de postais antigos, onde os atores corriam vivos perante as imagens congeladas de pessoas e ruas. Somente em uma cena, a atriz Katharina Lorenz (que fez Louise na vida adulta) andava em meio a um cenário real com pessoas paradas. Mas em todas as outras cenas, foram usadas imagens de postais antigos, sendo algo muito bonito de se ver.
Assim, “Lou” é um curioso filme que está em nossas telonas e que fala de empoderamento feminino na vida real em épocas e lugares de machismo extremo. Uma mulher que tentou abdicar da paixão em nome da razão, mas por ser de personalidade extremamente magnética, não o conseguiu. Uma mulher que tinha o dom da escrita e escolheu a psicanálise, sendo pioneira em sua área. Um filme que vale muito a pena ser assistido, pois sua protagonista nos envolve completamente.