Você se lembra daqueles filmes de espionagem mais antigos onde as cenas de ação e de explosão não eram a parte mais importante da coisa, mas sim a trama complexa, que exigia uma atenção desmedida do espectador? Pois é, esse é o ritmo de “Operação Red Sparrow”, um filme de espionagem que, podemos dizer, tem esse espírito “das antigas”, mas traz uma atriz que de antigo não tem nada, pelo contrário, estando muito na crista da onda, que é Jennifer Lawrence.
Vemos aqui a história de Dominika Egorov (interpretada por Lawrence), uma bailarina russa do Bolshoi, que sofre um acidente numa apresentação e fica inutilizada para dançar. Ela vai receber a visita do tio, Vanya (interpretado por Mathias Schoenaerts), que trabalha no Serviço Secreto Russo. Ele lhe propõe fazer parte de uma emboscada para um criminoso em troca de ajudá-la nas despesas de sua casa e de sua mãe doente. A moça era considerada muito esperta pelo tio, além de ter uma propensão, digamos, um pouco violenta, requisitos suficientes para trabalhar na espionagem. Como a moça testemunhou o assassinato de seu alvo na missão, ela precisa ficar permanentemente ligada à espionagem e ao tio para não ser morta como queima de arquivo. Assim, Dominika iniciará seu treinamento como espiã e participará de missões onde ela vai percorrer os mais perigosos caminhos.
E vai ser nestes caminhos perigosos que a trama irá se desenrolar, montando um quebra-cabeça na mente do espectador onde lhe faltam as peças e caberá a quem assiste ao filme a procurar as peças perdidas e encaixá-las da forma mais conveniente possível para a elucidação da trama. O problema é que isso fica tão tortuoso que devemos dispensar ao filme uma atenção maior do que a que estamos acostumados a dispensar com qualquer outra película um pouco mais convencional. Isso pode parecer um pouco enfadonho para uns, e instigante para outros. O problema é que a maioria dos filmes comerciais de hoje em dia não têm uma preocupação mais aprofundada com a reflexão e preferem a ação com direito a muita bomba, porrada e tiro, coisa que esse filme definitivamente não tem em abundância.
É uma outra película que prima pelo elenco bem escolhido. Lawrence estava um poço de sensualidade, até com alguns toques de erotismo, não diminuindo, entretanto, a sua relevância como protagonista, nem a forma como ela conduziu sua personagem. Mas tivemos, também, atores de um quilate de um Jeremy Irons e de uma Charlote Rampling, que roubavam e muito a cena nos poucos momentos em que apareciam. Tivemos, também, Joel Edgerton, fazendo um espião americano que se envolve com Dominika, mas creio que ele não esteve muito à altura de Lawrence e dos outros atores citados aqui.
Não podemos nos esquecer da atuação do excelente Mathias Schoenaerts, que, ao interpretar o tio Vanya de Dominika, estava a cara do próprio Putin. Aliás, o cinema americano continua fazendo das suas estripulias, ao rotular os russos como nos tempos do comunismo; eles ainda matam os “traidores” que os desobedecem, fumam, são ardilosos e não medem esforços em ser úteis ao Estado, mesmo que precisem ser amantes de alvos totalmente repugnantes (afinal de contas, não se entregar a um homem que provoca inteira repugnância não é nada mais do que um capricho burguês que não se pode tolerar; a entrega ao estado deve suplantar todos esses sentimentos burgueses). E aí, o filme cai nos velhos clichês de produções de época da Guerra Fria, se bem que essa era mesmo a intenção, sobretudo quando a personagem de Rampling diz que a Guerra Fria ainda não havia acabado.
Assim, “Operação Red Sparrow” não é exatamente o filme de ação que você deseja, mas ainda assim é uma película que vale a pena ser vista, pois encena uma trama de espionagem “das antigas”, ou seja, com mais roteiro reflexivo e menos ação. Pelo contexto de hoje, até se torna uma coisa meio diferente, mas já vimos histórias de espionagem desse naipe em outros carnavais. Vale a pena dar uma conferida, até porque recordar é viver.
Sua resenha me deixou muito interessada no filme.
o filme é meio lento, pouco convencional com relação ao que se vê hoje. mas tem uma trama que exige a atenção do espectador…