Um filme francês muito curioso passou em nossas telonas. “Jovem Mulher” é uma daquelas películas que fala de pessoas que não se enquadram muito bem nas regras e convenções impostas pela sociedade e que acabam vivendo largadonas por aí, sem qualquer perspectiva de vida e ao sabor dos acontecimentos. Um filme que pode ser uma tortura para os mais metódicos.
Vemos aqui a história de Paula (interpretada por Laetitia Dosch), uma moça bem perturbada que está em crise com o namorado e acaba ficando internada provisoriamente numa instituição psiquiátrica. Depois da internação, ela tenta voltar ao apartamento de seu companheiro, que não a deixa entrar. A moça vê o gato do namorado na rua e acaba o levando. Andando pela noite, ela fica por aí, aqui e ali, dormindo na casa de amigos ou até de desconhecidos, além de hotéis baratos. Completamente sem rumo, Paula precisa reconstruir sua vida, fazendo bicos de babá e trabalhando numa loja de departamentos. O filme transcorre nessa montanha russa de emoções, onde as pessoas que entram e saem da vida de Paula acabam definindo novos rumos para a sua vida.
O filme foi classificado por aí como comédia dramática. Mas, cá para nós, de comédia esse filme não tem nada, muito pelo contrário até. Ele é um drama psicológico bem pesado, onde uma moça completamente perdida vai se equilibrando como pode nas agruras da vida, ora recebendo uma parca ajuda de alguém, ora nem isso. A sensação que temos é a de que Paula tem uma estrutura muito frágil que entrará em colapso a qualquer momento, e isso é algo extremamente angustiante, até porque a própria personagem é contra uma filosofia de vida mais estável e prefere uma vida mais galgada ao sabor dos acontecimentos. O problema é que a coisa toda acaba ficando muito instável e muitos momentos da vida de Paula se tornam um verdadeiro martírio, até porque ela não consegue se enquadrar nas convenções sociais, passando muitas vezes uma imagem até meio infantil.
Do jeito que a coisa é conduzida na narrativa, fica a impressão de que essa forma mais “livre” de se encarar o mundo é vista como negativa pelo filme, pois a própria personagem alimenta um discurso um tanto libertário mas tem a plena consciência de que precisa imediatamente de alguma estabilidade em sua vida. Visão conservadora? Talvez. Mas é interessante notar como a película trabalha esses dois pólos à medida que a trajetória da protagonista se desenrola. Num momento, ela abomina a palavra “livre”, pois significa que ela está sozinha. Mas, em outro momento, ela trata esse termo com bastante indiferença.
Apesar de termos uma película que é um choque de realidade e termina com um anticlímax, o desenrolar do roteiro não é enfadonho e prende a atenção do público, mesmo sendo algo não espetacular (salvo em poucos momentos). Isso deve acontecer, pois é uma história com a qual nos identificamos, pois conhecemos alguns exemplos reais do que vemos no filme por aí.
Assim, “Jovem Mulher” é um drama que fala da vida real de forma nua e crua, algo que pode angustiar bastante. É um filme cujo roteiro parece tomar partido por uma vida mais metódica do que sonhadora. Um filme que não deixa o espectador ficar sem pensar e que, por isso, merece a sua atenção.