Wim Wenders está de volta em grande estilo com seu filme “Submersão”. E eu digo isso, pois o renomado diretor alemão trabalha com dois atores de peso: James McAvoy e Alicia Wikander, tendo, ainda, a excelente participação de Alexander Siddig, o Doutor Bashir de “Jornada nas Estrelas, Deep Space Nine”, para delírio dos trekkers de plantão que tiveram a oportunidade de ver a película.
A história fala de um jovem casal de namorados, James More (interpretado por McAvoy) e Danielle Flinders (interpretada por Wikander), que se conhecem num hotel em período de férias. A relação é altamente idílica e sentimental, no bom sentido da palavra. Mais do que o amor físico, está um amor mais da alma, onde duas pessoas que se conhecem rapidamente e tiveram muito pouco tempo para estarem juntas, encontraram uma alta afinidade, mesmo que elas exercessem ofícios bem diferentes: James é uma espécie de agente que investiga ações do Estado Islâmico na África, e Danielle é uma cientista que estuda vida subaquática a grandes profundidades.
Apesar dos ofícios altamente díspares, podemos dizer que há algo em comum entre eles, pois ambos estão submetidos a um risco de vida profundo, como se a “submersão” do filme fosse justamente estar afundado até abaixo do pescoço para cumprir tais ofícios e o risco envolvido compensasse a execução de tais tarefas, dada a importância dos objetivos a serem alcançados. O problema é que os empregos de nossos protagonistas os impõem ao isolamento um do outro, o que provoca muita dor no casal. Mas o mais lindo de tudo é que tal isolamento é justamente o que estimula o casal a lutar contra o estado de submersão, pois eles batalham para estar juntos novamente. E aí está toda a poesia do filme, coalhada de momentos de flashback do casal junto, momentos muito breves e efêmeros que confortam as almas de nossos personagens nos momentos mais dolorosos da submersão.
Não preciso dizer aqui que esse é mais um filme de atores bem dirigidos. Apesar de muito diferentes, as situações passadas pelos dois personagens prendiam a atenção do espectador do início ao fim. James passava por uma situação extremamente traumática, ao ser prisioneiro dos jihadistas do Estado Islâmico.
Torturas, prisões e a incerteza de ser ou não executado a qualquer momento mergulhavam o espectador numa torrente de angústia. Uma leve tentativa de relativização do elemento cultural ocidental e muçulmano foi brevemente realizada, mas os efeitos dos últimos atentados na Europa fez com que o estereótipo do muçulmano como fanático terrorista acabasse prevalecendo, embora tivéssemos a ótima presença de Alexander Siddig, fazendo, também pudera, um médico, o Doutor Shadid (trekkers entenderão).
Sua interpretação, contida e, igualmente, espontânea, dava legitimidade à sua luta, mesmo nos momentos mais radicais e nos enchia de empatia mesmo quando o personagem reconhecia que não concordava com tudo na sua luta contra o Ocidente e que já se sentia um condenado à morte. Já McAvoy convence na barbarização de seu personagem que, entretanto, não desistia de sair daquela situação de refém. Seus diálogos com o jihadista que insistia em convertê-lo foram primorosos. Vikander, por sua vez, convenceu muito com o sofrimento de sua personagem pela ausência do seu amado, o que chegou a comprometê-la profissionalmente, mas com a moça dando a volta por cima e conseguindo empreender a sua missão arriscada, apesar da dor reprimida. Mais uma atuação muito boa dessa atriz que se impõe por seu talento.
Assim, “Submersão” é mais um bom filme de Wim Wenders que conta com ótimos atores de um porte de James McAvoy, Alicia Wikander e Alexander Siddig. Uma história de romance, com muitos devaneios existenciais, mas que amarra muito bem duas histórias de vida que se conheceram muito rapidamente e de forma efêmera. Cada personagem estava afundado em sua própria submersão e era isso que os ligava e cimentava as suas relações. Um interessante filme que vale a pena uma conferida.