O Oscar do ano passado teve outro concorrente que foi indicado, mas não levou. “Aliados”, do lendário Robert Zemeckis, concorreu à categoria de Melhor Figurino e é mais um daqueles filmes que abordam o inesgotável tema da Segunda Guerra Mundial. É uma história de espionagem e drama, com direito a uma enorme pulga atrás da orelha.
Vemos aqui a história de Max Vatan (interpretado por Brad Pitt), um espião que tem uma missão a ser realizada em Casablanca (só para ficar no climão dos filmes de guerra): eliminar o embaixador nazista. Para isso, ele fará contato com Marianne Beauséjour (interpretada pela sempre bela Marion Cotillard), uma outra espiã que será a sua “esposa”. Como o casal também é constantemente vigiado por espiões nazistas, os dois precisam fazer de tudo para parecerem marido e mulher o tempo todo, o que provoca uma atração entre os dois espiões. Chega o dia do atentado e tudo ocorre de forma bem sucedida. Aliás, a coisa foi até bem sucedida demais, pois o casal nem foi perseguido quando fugiu da cena do atentado. Os dois, então, decidem casar de verdade e têm uma filha, morando na Inglaterra, numa época em que o país era severamente bombardeado pela Força Aérea Nazista.
Mas um dia, a vida de Max vai realmente virar de cabeça para baixo quando seus superiores o chamam e dizem a ele que há fortes indícios de que sua esposa é uma espiã alemã. Isso será checado e, caso a esposa seja realmente a espiã, o próprio marido terá que matá-la, caso contrário ele será acusado de alta traição e fuzilado. Simples assim. A partir desse momento, Max vai começar uma corrida contra o tempo para investigar toda a situação e concluir se sua esposa realmente é uma traidora ou não.
Ufa, dá para perceber como a coisa é angustiante e dramática, dando a esse filme cores fortes de drama. Imagine a situação de você dormir com o inimigo, a mãe de seus filhos, e ainda ter que executar a pessoa que ama? Isso foi de uma agonia extrema, e todo esse tormento só poderia ser parcialmente aliviado, tanto para o protagonista quanto para o espectador, por uma busca pela verdade, pois se Max descobrisse se sua esposa era uma traidora ou não antes de seus superiores, ele teria uma margem um pouco maior de autonomia para lidar com a situação e tempo para decidir o que fazer. Aí entra o outro gênero do filme, baseado na investigação e na espionagem, que alivia o forte peso do drama envolvido.
Essa parte da investigação deixa o filme bem instigante, onde o voyeurismo tomava ares muito intensos em alguns momentos e a busca por pistas e paradeiros em pleno ambiente da guerra, onde até linhas inimigas tinham que ser atravessadas, davam à película leves tons de ação, embora não possamos dizer que esse filme possa ser propriamente considerado de ação.
E a indicação ao Oscar de Melhor Figurino? Creio que ela foi acertada, principalmente quando vemos o vestuário de Marion Cotillard. Ela estava simplesmente deslumbrante e elegantérrima, provocando uma babação geral no público masculino. Sua atuação também foi primorosa, chegando a engolir Brad Pitt em alguns momentos.
Não que o casal como um todo não tenha tido uma boa química (foi muito bom ver os dois atuando), mas a natureza mais complexa da personagem de Cotillard, que teve que ser uma espiã assassina fria, uma esposa apaixonada, uma mãe devotada e uma mulher frágil, lhe deu muito mais chances de demonstrar todo o seu talento em contrapartida ao personagem de Brad Pitt, muito mais plano em suas características. E, cacilda, que mulher bonita é Marion Cotillard! Devoção de “star system” puro! A gente realmente vai ao cinema para ver essa linda atriz francesa!
Assim, “Aliados” é uma película e tanto, com uma boa história onde o forte drama é atenuado por um bom filme de espionagem e ainda temos o privilégio de idolatrar Cotillard em toda a sua exuberância, ajudada pelo excelente figurino, digno da indicação que recebeu ao Oscar. Vale muito a pena assistir.