Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Voyager (Temporada 5, Episódio 11). Imagem Latente. Vamos Colocar Uma Pedra Sobre Esse Assunto?

Um Doutor em pane…

Hoje vamos analisar mais um episódio de “Jornada nas Estrelas, Voyager”. “Imagem Latente” (“Latent Image”) é o décimo-primeiro episódio da quinta temporada e tem, mais uma vez, o doutor às voltas com um problema de ordem ética e moral. Só que, agora, a questão é muito mais séria. Já havíamos visto em “Desumano” (episódio 8 da quinta temporada) problemas de ordem moral e ética que o Doutor teve de enfrentar ao usar um tratamento desenvolvido por um médico cardassiano que desenvolveu experiências provocando severos sofrimentos em bajorianos. Naquele momento, a capitã optou por usar o tratamento e assumir a responsabilidade e o Doutor retirou o tratamento da programação da nave após seu uso.

Tirando uma holoimagem de Naomi Wildman…

Aqui, no episódio 11 da quinta temporada uma nova implicação de ordem moral surgiu. Vamos analisar a história. Num exame de rotina da tripulação, o Doutor descobre em Kim traços de uma cirurgia da qual ele não se recorda ter feito. Com o passar do tempo, são descobertas novas evidências do “esquecimento” do Doutor e ele começa a investigar. Pelo que parece, tem alguém tentando apagar a memória dele. O Doutor, após fazer uma “armadilha” com a sua holocâmera, descobre que é a própria Janeway quem está apagando sua memória. Isso o deixa indignado, mas a capitã fala que é algo necessário, pois ele não pode saber de coisas que aconteceram no passado, pois isso seria muito perigoso para ele. Mas o médico insiste. Sete de Nove, ao acompanhar a situação, acha que a capitã está violando a individualidade do Doutor e convence Janeway a mostrar tudo o que aconteceu. O Doutor, então, vê os registros da nave e descobre que ele viajou numa missão numa nave auxiliar com Kim e uma tripulante, sendo os dois humanos severamente feridos num ataque alienígena. Ao se desvencilharem do ataque, o Doutor retorna à enfermaria da Voyager com os dois feridos e não tem tempo hábil para tratar dos dois ao mesmo tempo, tendo que escolher quem vai viver e quem vai morrer. O Doutor opta por cuidar de Kim, que é seu amigo mais próximo. O problema é que ele, por ser um programa que passa por experiências, não sabe lidar emotivamente com uma situação tão dramática e difícil e entra em pane, precisando ser reprogramado. Ao saber de todo esse passado traumático, o Doutor entra em pane novamente, mas desta vez decide-se não reprogramá-lo, em respeito à sua individualidade. Em vez disso, ele fica isolado num holodeck sempre com um tripulante, que se oferece como um apoio, uma voz amiga. No momento em que Janeway está com ele e, depois de dezesseis horas ininterruptas ela mostra febre de dor de cabeça. O Doutor cai na real e pede que ela vá descansar, pois ele não pretende mais fazer mal a ninguém. O episódio termina com o Doutor lendo um trecho de um livro que Janeway lia, uma poesia que falava em recomeços na vida.

Uma tripulante que será sacrificada…

A grande inspiração desse episódio é todo um conjunto de consequências que temos que enfrentar quando fazemos escolhas. A situação do Doutor, mesmo que ele tenha sido instruído por sua profissão a desapegos emocionais ao tomar tamanha decisão difícil, não se resolveu de forma tão trivial assim, e até para um programa com sub-rotinas emocionais que se aprimora dia a dia não foi fácil lidar com essa situação pesada de escolha e de perda, onde a ética e a moral não podem dar uma resposta definitiva ao dilema.

Sete de Nove defende a individualidade do Doutor

O mais curioso aqui foi a atuação de Sete de Nove, que se solidariza com o Doutor e sua individualidade, rechaçando inteiramente a atitude da tripulação de simplesmente apagar e reescrever sua programação. Sete de Nove dá o exemplo de si própria, lembrando à capitã de que, no início, ela era considerada uma ameaça à nave, mas se apostou na sua recuperação como humana. Então, por que não tentar o mesmo com o Doutor? Afinal de contas, ele também pode ser considerado um ser que tem consciência de si mesmo e que se aprimora com suas próprias experiências cotidianas.

Recomeçando, mesmo com as dores…

Assim, “Imagem Latente” é mais um interessante episódio de “Jornada nas Estrelas, Voyager”, que mostra mais uma reflexão de ordem moral e que tem o bom personagem do Doutor,interpretado por Robert Picardo, no centro dos acontecimentos. Nada de se colocar pedras sobre assuntos que, supõe-se, precisam ser esquecidos. Tais assuntos, na verdade, precisam ser encarados de frente, mesmo que nos causem dor. Pois a dor é uma forma de experiência que também nos engrandece perante à vida, mesmo para um programa holográfico com sub-rotinas emocionais. Como disse James T. Kirk em Jornada nas Estrelas V, “eu preciso de minhas dores, elas fazem parte de mim”.

Batata Literária – Causas Impossíveis

Se você tem uma causa impossível,

Dívidas, mãe terminal, ação de despejo?

Seus problemas acabaram!

Faça uma promessa!

Acenda uma vela!

Suba as escadas da Penha!

Puxe uma Jamanta com os dentes!

Traga o Messi para o Quinze de Jaú!

 

Fazendo coisas impossíveis,

Você resolverá seus problemas impossíveis!

É uma troca justa, OK?

Não duvide de nosso trato!

O céu é infalível!

E tudo acontece se você tiver fé, muita fé!

Até a Shakira te pedir em casamento!

Ou as carícias do beijo da Angelina Jolie!

 

Nós, os seres sagrados,

Controlamos a vida do seu mundinho aí de baixo.

Só queremos ajudar vocês,

Embora, às vezes, a nossa ajuda atrapalhe.

Damos ao homem ajuda para ele raciocinar

O homem criou indústrias, tecnologia, robôs!

Mas trouxe o desemprego…

A felicidade de uns é a desgraça de outros

 

Mas reze, reze muito!

E a sua causa será atendida!

Ah! E não se esqueça do dízimo!

Ele é muito importante para a execução da causa.

Temos que manter nossos templos

O local onde vocês vêm pedir

Sem eles, como vamos nos comunicar?

Então, não reclame e moedas aqui vamos colocar!

Batata News (Especial Nouvelle Vague Soviética) – Palestra O Cinema Moderno Soviético. Radiografando a Nouvelle Vague Soviética.

Hernani Heffner

Na Mostra “Nouvelle Vague Soviética”, realizada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, em fins de maio e início de junho, a coisa não ficou restrita a apenas a exibição dos filmes da era pós-Stalin. Houve, também, ciclos de palestras, cursos e debates. Tivemos, por exemplo, a palestra “O Cinema Moderno Soviético”, ministrada por Hernani Heffner (chefe de preservação da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) e Luiz Carlos Oliveira Jr. (ex-editor da Revista Contracampo e autor do livro “A mise-en-scène no cinema”). Essa palestra muito ajudou o público a identificar elementos dos filmes exibidos em consonância com o período histórico em que foram produzidos. Nas falas dos pesquisadores, tivemos a oportunidade de conhecer informações muito preciosas. Em primeiro lugar, após a morte de Stalin, o novo Secretário Geral do Partido Comunista, Nikita Kruschev, denuncia os crimes e arbitrariedades de seu antecessor e seu governo é denominado “Era do Degelo”, onde há uma espécie de distensão entre o Estado Soviético e sua classe artística. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a produção de filmes soviéticos havia caído muito. Também pudera, o povo russo foi o que mais sofrera nas duas guerras mundiais e a recuperação do cinema no pós-guerra foi muito lenta. Com Kruschev, a produção de cinema recebeu um estímulo e chegou a se produzir uma média de cem filmes por ano. Em trinta anos, produziu-se cerca de quatro mil filmes, muitos deles ainda inéditos no Brasil. Em 1985, a União Soviética atingiu a histórica marca de 4,5 bilhões de ingressos vendidos, numa prova de que a exibição se expandiu e se manteve. Mas, na década de 80, o governo Brejnev voltou a lançar mão da censura com carga total. De qualquer forma, a alta frequência de público manteve uma indústria cinematográfica altamente diversificada. Dentre os filmes que foram produzidos, tivemos, por exemplo, adaptações de autores clássicos da literatura, como Tolstoi e Dostoievsky, além de um estilo que ficou conhecido como “faroeste vermelho”.

Por incrível que possa parecer, alguns desses filmes soviéticos chegaram por aqui, através de uma distribuidora chamada Tabajara Filmes (!) e foram exibidos em circuito comercial, caso de “Quando Voam as Cegonhas”. Com a ditadura militar, a Tabajara Filmes foi fechada e esses filmes foram parar no acervo da cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM). Por iniciativa de Cosme Alves Netto, do MAM, houve uma parceria com o consulado russo e, de 1965 a 1991, muitos filmes soviéticos foram para o acervo do Museu. O mais interessante é que a exibição de filmes soviéticos no circuito comercial brasileiro permaneceu mesmo com a ditadura militar.

E o que mais podemos dizer dessa produção soviética pós-stalinista? Vemos aqui novas práticas nesse cinema mais antenadas com as práticas que aconteciam no resto do mundo. Em 1959, filmes estrangeiros começam a chegar a União Soviética, e a Escola Superior de Cinema Soviético chegou a ter filmes estrangeiros em seu interior sendo assistidos e debatidos, embora essa não fosse uma prática corriqueira. Curioso é notar que os tempos turbulentos da Guerra Fria não influenciaram a produção russa. Os filmes tinham uma preocupação muito maior com o sujeito, com questões mais amplas como o que é a vida, onde personagens jovens se desvencilham do fardo do stalinismo e da guerra, se importando com questões mais subjetivas e com uma vida comunal mais solidária, que talvez se aproximasse de uma ideia matriz mais utópica da revolução, embora tenha ficado muito claro na palestra de que essa ideia de comunidade não seguia nenhuma ideologia de Estado. Foi também assinalado que tal estilo de se contar histórias não se arrefeceu nem com a ditadura de Brejnev e artifícios para se driblar a censura foram utilizados. O eu se confrontava com o Estado e não cedeu perante a repressão. Ainda, devemos nos lembrar de que o orçamento era limitado, ao contrário dos filmes hollywoodianos, e muita imaginação foi usada para se contar histórias. É notável perceber que os filmes resistem ao tempo e permanecem atuais. E uma película como “Vá e Veja” resistiu abertamente à censura de Brejnev, começando a ser realizada em meados de 1976 e sendo apenas concluída na década de 80, mesmo com todas as dificuldades impostas pelo regime.

Ainda foi assinalado na palestra que tais filmes mostravam uma espécie de displicência na montagem, afrouxando a sintaxe e dando pouca importância à linguagem cinematográfica. Se o cinema soviético em sua fase inicial ficou muito marcado pela inovação na montagem, onde Sergei Eisenstein foi um de seus grandes nomes, o cinema soviético pós-Stalin, por sua vez, mostra filmes com planos longos e até planos sequência, com poucos cortes. Isso se afasta um pouco do cinema moderno feito no ocidente, cuja montagem é mais fragmentada, tornando os filmes mais dinâmicos e despojados. No caso do bloco socialista, os filmes mais se aproximavam do cinema moderno ocidental estavam no cinema tcheco e polonês.

Fazendo uma análise do que foi dito na palestra e do que foi visto em doze dos vinte e um filmes da mostra, posso dizer que o ponto mais polêmico acima foi a fala que se refere a questão do eu e da vida comunitária totalmente descolada de qualquer ideologia de Estado. É verdade que vários filmes foram colocados dentro dessas premissas. Mas creio que um pouco da ideologia socialista entra no discurso de algumas películas. Em alguns filmes da Segunda Guerra Mundial como “Vá e Veja” a gente até vê uma crítica velada ao autoritarismo soviético numa convocação forçada do protagonista pelos partisans, mas depois de todo um rosário de atrocidades nazistas, vemos o nazista capturado proferindo um discurso de ódio psicótico contra os socialistas, sendo devidamente fuzilado. No caso de “A Comissária”, a protagonista abandona a vida comunitária e seu filho para voltar a se engajar na guerra civil. Em “O Primeiro Professor”, o aldeão abandona muito rapidamente a sua tradição para ajudar o professor a derrubar a árvore para fazer uma nova escola e ensinar a pedagogia do partido. E em “Soy Cuba”, o soviético vê no cubano um paradigma de seu passado de luta contra as injustiças do modelo capitalista. Ou seja, o cinema subjetivo, comunal, destacado da ideologia do Estado aparece mais quando se aborda a vida soviética mais contemporânea, ao passo que em filmes que abordam contextos de guerra ou veem outras culturas diferentes, uma ideologia mais socialista pode se fazer presente em algumas ocasiões. Pelo menos essa é a impressão que temos de apenas doze filmes de uma mostra de vinte e uma películas, lembrando que esse é um mapeamento muito pequeno se compararmos com a produção total do período, que é de cerca de quatro mil filmes, com muitos deles nem tendo chegado por aqui.

De qualquer forma, as informações dadas na palestra sobre a filmografia do período abordado foram de grande utilidade para entendermos um pouco melhor o que aconteceu nos filmes dessa época muito prolífica da cinematografia soviética.

Luiz Carlos Oliveira Jr.

Batata Movies (Especial Nouvelle Vague Soviética) – Bem Vindo Ou Entrada Proibida. Curtindo A Vida Adoidado Às Avessas.

Cartaz do Filme

Ainda dentro das análises dos filmes da Mostra “Nouvelle Vague Soviética”, ocorrida na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, falemos hoje de “Bem Vindo ou Entrada Proibida”, de Elem Klimov (o mesmo diretor de “Vá e Veja”), realizada em 1964 e com duração de apenas 75 minutos. Temos aqui uma comédia bem levinha sobre crianças que estão numa espécie de colônia de férias, onde elas são submetidas a uma rotina cansativa e cheia de tarefas e disciplina, comandada pelo diretor da colônia, Dynin (interpretado pelo excelente Evigeniy Evstignev).

Uma colônia de férias que prima pela disciplina…

Um dos meninos, Kostya (interpretado por Viktor Kosykh) é expulso da colônia de férias depois que ousa nadar para uma ilha num rio. Mas o menino não pode retornar para a casa da avó, com medo de desapontá-la. E volta para a colônia de férias, se escondendo no interior de um palanque, numa espécie de “Curtindo a Vida Adoidado” às avessas, onde o menino, ao invés de querer fugir da colônia de férias, faz de tudo para permanecer em seu interior.

Um diretor durão…

No mais, a história é cheia de lances engraçados, onde uma comédia com crianças e adultos abobalhados dá o tom. E quem disse que o cinema soviético não faz filmes de entretenimento leve e descartável? Tal filme é aquilo que denominamos “filme de Sessão da Tarde” bem típico, com direito a muitas crianças fazendo todo o tipo de gracinha e até alusões às comédias de cinema mudo.

Adultos um tanto abobalhados…

Assim, “Bem Vindo ou Entrada Proibida” é uma prova viva de como o cinema soviético se diversificou nessa “Nouvelle Vague” pós-Stalin. Se a gente tem uma infinidade de filmes que abordam a questão da vida, do indivíduo e da vida comunitária solidária, podemos ter também uma comédia inteiramente despretensiosa, ao estilo dos filmes de Sessão da Tarde, isso num país que nosso senso comum insiste em dizer que é altamente sisudo e fechado. Nessa película ocorre exatamente o oposto: adultos fazendo papéis cômicos que beiram o ridículo são cercados por crianças que tomam o rumo da ação e da narrativa, gerando uma história agradável, bobinha e de fácil digestão. E você pode ver o filme na íntegra. Clique no vídeo abaixo, depois clique em assistir no Youtube. Lá no Youtube, clique na engrenagem no canto inferior direito, depois em legendas, depois em traduzir automaticamente e selecione o idioma português.

Batata Movies (Especial Nouvelle Vague Soviética) – É Difícil Ser Um Deus. O Surreal Como Crítica.

Cartaz do Filme

Dando sequência a análise dos filmes da Mostra “Nouvelle Vague  Soviética”, realizada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, falemos hoje do curioso “É Difícil Ser Um Deus”, realizado em 2013 por Aleksey German e que tem a duração de 177 minutos. Pode-se dizer que esse é um dos filmes mais loucos da Mostra e um dos de mais difícil realização.

Um cientista com ares de Deus…

A sinopse da história é bem simples. Há um planeta chamado Arkanar, cuja civilização ainda se encontra no período medieval. Trinta cientistas da Terra são enviados ao planeta para desenvolver a civilização de lá. Entretanto, a tarefa não vai ser simples, pois não se pode lançar mão do expediente da violência. O líder da missão, Don Rumata (interpretado por Leonid Yarmolnik) tenta salva intelectuais locais de punições e assume uma postura um tanto quanto divina, mesmo não podendo interferir profundamente naquela sociedade. Levanta-se a questão de o que um Deus pode fazer. Pouco a pouco, Rumata vai tomando posturas autoritárias que aniquilam aquela sociedade.

Planeta medieval…

É um filme um pouco difícil para o público acompanhar. O diretor Aleksey German optou por uma proposta altamente non sense e surrealista, por durante as quase três horas de filme, onde somente uma narração esporádica nos dava algum norte para acompanhar a história. Não é à toa que várias pessoas do público abandonaram a sala de projeção durante a exibição. O surreal era tão forte que tornou a película demasiado hermética. Isso realmente atrapalhou. Não que o surreal não devesse ser usado, ele é muito bem vindo, aliás. Entretanto, um pouco de estrutura narrativa mais tradicional ajudaria na compreensão do filme. De qualquer forma, o filme também tem suas virtudes. A mais interessante delas era a construção de vários planos longos, estrategicamente emendados para se dar a impressão de planos sequências. Víamos cenários totalmente caóticos, cheios de lama, sucata, interpretações de atores completamente surreais, mas dava para perceber como cada movimento, cada diálogo, cada posição de ator foi meticulosamente calculado e planejado da forma mais racional possível. Nós ficamos com a sensação de como tudo aquilo que vemos na tela deve ter sido de uma realização extremamente elaborada e complexa. Ou seja, é o surreal sendo arquitetado previamente de forma extremamente racional, por mais paradoxal que isso possa parecer.

Narrativa excessivamente surreal…

Outra coisa que fica muito clara é a crítica aos dias do regime soviético, materializada na figura de Rumata. O cientista que tinha a missão de levar progresso e estabilidade para o planeta atrasado, acaba cometendo as maiores violências e atrocidades, típicas dos regimes autoritários. O homem corta orelhas, massacra estudantes, comete as maiores arbitrariedades, e faz tudo isso com a chancela de que é uma figura meio divina, como se ele justificasse seus atos com esse argumento. Mas em poucos momentos de lucidez, ele implora a Deus que o detenha, veja só. Assim, Rumata pode ser visto como o protótipo do estado autoritário que tanto assolou a Rússia em tempos passados.

Opressão e violência…

No mais, o filme assume uma postura um tanto agressiva com o público, trazendo imagens muito desagradáveis que beiram a escatologia: torturas, maus tratos a animais, corpos em decomposição, falas e atitudes de baixo calão. Fica bem clara aqui a intenção de agredir o espectador, para realçar como o autoritarismo pode levar a situações repugnantes.

Assim, “É Difícil Ser Um Deus” é mais um interessante filme da Mostra “Nouvelle Vague Soviética”. Mesmo sendo hermética e demasiado surreal, a película é muito interessante do ponto de vista técnico por ter sido de difícil realização. Além disso, é um filme que denuncia de forma agressiva as mazelas de um regime autoritário, já cumprindo sua função social de denúncia. Agora tenha a oportunidade de assistir abaixo ao filme na íntegra, com legendas em português.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Voyager (Temporada 5, Episódio 8), Desumano. Quais São Os Limites da Ética?

Um bichinho esquisito…

Debate ético à vista hoje na análise de “Jornada nas Estrelas, Voyager”! O oitavo episódio da quinta temporada, “Nothing Human”, traduzido no Brasil como “Desumano”, lança questões extremamente complexas que embaralham a cabeça de qualquer um. Mas tal debate é a mostra de como “Jornada nas Estrelas” tem a sua grande força no ponto de vista da reflexão e da discussão.

… que se enrosca no pescoço de B’Elanna!!!

Para podermos entender toda a magnitude desse poder reflexivo, vamos fazer uma breve sinopse da história. A Voyager sofre um severo impacto de uma onda de choque que, curiosamente a coloca em contato com uma inteligência alienígena. Ela acaba recebendo as coordenadas de uma nave e vai a sua assistência. Lá, descobrem uma forma de vida bem ferida e a transportam para a enfermaria da nave, mas a fisiologia do alienígena (que parece uma lacraia com uns bracinhos mais longos) é totalmente desconhecida do Doutor. Numa infelicidade, o bichinho pula em B’Elanna e faz uma espécie de simbiose com seus órgãos internos. Para poder resolver o problema, o Doutor instrui a Kim que desenvolva um holograma especializado em exobiologia a partir do banco de dados da nave.

No início, tudo parecia bem com o holograma cardassiano…

E a maior autoridade é justamente um cardassiano, com quem o doutor tem, inicialmente, um excelente relacionamento profissional. Mas B’Elanna, com sua metade klingon, torce imediatamente o nariz para o novo médico holográfico que irá tratá-la. A situação piora quando um tripulante bajoriano que esteve num campo de prisioneiros cardassiano, reconheceu o médico como um açougueiro que usava cobaias bajorianas para testar novos tratamentos médicos, sendo uma espécie de “Dr. Josef Mengele” de Cardássia. B’Elanna recusa o tratamento que custou a vida de milhares de bajorianos, preferindo morrer. E assim, o Doutor se vê diante de um perigoso dilema ético, onde qualquer saída terá implicações morais graves.

Logo começam a trabalhar…

Esse episódio coloca uma questão para a qual não há resposta. Se o tratamento do carrasco for usado para salvar B’Elanna, abre-se um precedente perigoso onde se legitima o sacrifício de vidas para salvar outras. E, se o tratamento não for usado, uma vida preciosa da mais qualificada engenheira da Voyager será ceifada e o Doutor não cumprirá o mandamento da ética médica de preservar a vida. Assim, foi necessário que a Capitã Janeway assumisse a responsabilidade da decisão de levar o tratamento adiante, independente do que B’Elanna achasse ou não, o que estremeceu o relacionamento entre as duas. Para a coisa não parecer muito feia, o Doutor teve a autonomia de decidir se iria usar o holograma cardassiano e seu tratamento em situações futuras, e ele acaba rechaçando isso. De qualquer forma, as palavras do cardassiano antes de ser “apagado” são emblemáticas: quando era necessário que o tratamento fosse usado para salvar a engenheira da nave, assim foi feito, sem qualquer dilema moral. Agora que o tratamento não se faz mais urgente, ele é simplesmente deletado. Dois pesos e duas medidas? Onde está a ética aí?

Mas aparece um dilema ético e moral…

Dá para perceber, pelo teor da conversa, que o episódio conseguiu colocar um debate muito espinhoso em pauta, debate esse para o qual não há qualquer saída totalmente moral ou ética. É imperativo que se tome uma decisão e se arque com as consequências, o que sempre vai provocar uma mancha severa na consciência. Esse é o tipo de episódio que dá bastante força a “Jornada nas Estrelas, Voyager”, uma série que alguns não consideram tão boa, se comparada às outras da franquia de “Jornada nas Estrelas”. Mais um episódio que merece uma visita do caro leitor.