Mais uma boa história da Turma da Mônica Jovem na área. “Influenciadora Digital” (número 16, segunda temporada) segue a linha que os roteiristas estabeleceram de trabalhar temas bem atuais, sendo que desta vez, ele tem tudo a ver com a mídia da qual lançamos mão aqui: a internet e o surgimento das celebridades instantâneas, sobretudo aquelas que aparecem no Youtube. Lembrando sempre que usaremos os spoilers aqui para analisar a trama da revista mais a fundo.
A história começa com Mônica e seus amigos disputando uma corridinha numa pista de kart. Depois da brincadeira, enquanto eles conversam, um kart desgovernado bate na barreira de proteção de pneus, o que lança um pneu na direção de uma menininha. Mônica dá uma daqueles seus voos espetaculares e salva a garotinha sendo, mais uma vez, a heroína do dia. O problema é que alguém da plateia (nuca vi plateia em pista de kart indoor, enfim…) filmou todo o ocorrido e colocou na internet. O vídeo acabou viralizando e Mônica se torna, da noite para o dia, uma celebridade virtual, recebendo equipes de TV e de rádio para entrevistá-la. Entretanto, uma visita inesperada chama mais a atenção: um empresário especialista em estrelas em ascensão, que propõe à Mônica um contrato de influenciadora digital, onde ele terá um canal na internet e um blog para falar sobre as coisas que ela pensa e faz para influenciar as pessoas, algo que lhe atrairá contratos publicitários, sendo esse o emprego do futuro. Mônica e sua família aceitam o contrato. Mas logo começariam os problemas. Por cuidar de sua carreira, Mônica fica muito ocupada e não vê mais seus amigos. Ainda, seu empresário busca incrementar a “vida chata” da Mônica, onde nada de espetacular acontece, e começa a criar um monte de mentiras, como viagens ao exterior que nunca aconteceram, além dela ser obrigada a usar roupas que não quer ou falar coisas completamente sem sentido. Cansada de se esconder da turma por conta das tamanhas mentiras, Mônica pede a seu empresário para parar com tudo isso, mas existe uma pesada multa contratual. Agora Mônica terá que pedir ajuda de seus amigos para sair de tamanha enrascada.
Essa é uma história um pouco diferente do que a gente vê nas histórias da Turma da Mônica Jovem pois, pela primeira vez, vemos a Mônica correndo risco de vida, não por conta de algum elemento fantasioso, como um monstro do espaço, mas sim, por um empresário inescrupuloso, uma coisa que poderia muito bem acontecer na vida real. A posição da história é muito clara em criticar pesadamente essas famas efêmeras da internet e de como elas são produzidas de forma extremamente má intencionada por pessoas que visam ao lucro usando a idiotização das pessoas. E, ao colocar o empresário como capaz de tudo para conseguir seu lucro, até ceifar a vida das pessoas, os roteiristas mostram a sua investida pesada contra esse mundo oculto. Assim, podemos dizer que esse número impõe um certo “choque de realidade” em seus leitores. Esse choque seria colocado aqui de forma perfeita, não fosse o seu desfecho, onde um acidente forjado pelo empresário poderia provocar a morte da Mônica, mas Cebolinha e Cascão tentaram impedir lutando com o empresário (de forma bem violenta, por sinal, outro elemento jamais visto dessa forma nas revistas). O problema aqui é que os seguranças do shopping e a polícia acreditaram muito fácil na culpa do empresário, alegando terem visto tudo o que aconteceu. Só que eles não sabiam da prévia falta de escrúpulos do empresário e acreditaram muito em dois adolescentes que agrediam um homem mais velho de terno. Todos nós sabemos como as aparências contam em nosso país na hora de se julgar as pessoas. E seria muito mais provável na vida real que Cebola e Cascão fossem encaminhados para a delegacia e o empresário saísse completamente impune. Mas, até talvez para a história caber somente nesse número da revista, deu-se a velha e clássica solução de que a justiça é cumprida com eficiência, com o vilão sendo preso e os mocinhos elucidando o caso, tal como acontecia nas revistinhas mais antigas lá das décadas de 70 e 80. Talvez os roteiristas pudessem ser mais ousados e continuarem essa história em volumes próximos, desenvolvendo o tema da impunidade, com a Mônica e a Magali lutando para tirar Cebola e Cascão de uma Fundação Casa (instituição para menores infratores em São Paulo para quem não pegou a referência) da vida e depois indo atrás do empresário. É claro que haveria o happy end, mas não sem antes a Turma da Mônica Jovem suar para lutar contra nossas injustiças tupiniquins. Seria muito mais atual.
De qualquer forma, essa história foi mais um passo no bom desenvolvimento que a gente vê na Turma da Mônica Jovem em tratar assuntos contemporâneos. Ver a Mônica, um personagem da infância de muita gente, correr risco de vida nas mãos de uma pessoa que pode muito bem existir na vida real foi um tanto chocante, fora a violência e agressividade que permeiam a história, algo nunca exposto de forma tão crua no Universo dos personagens de Maurício de Sousa. Daí a importância do nobre leitor dar atenção ao número 16 da segunda temporada da Turma da Mônica Jovem.