Batata Movies – Os Incríveis 2. Sociedade Tradicional?

Cartaz do Filme

A Disney volta a atacar e trouxe, nesse meio de ano, a continuação de “Os Incríveis”. Antes de mais nada, devo confessar que não vi o primeiro filme, mas pretendo preencher essa lacuna em breve, principalmente depois de ter visto o segundo. Em segundo lugar, quero dizer que esta animação segue o alto padrão das animações da Disney, que conseguem ser muito engraçadas e cativantes. E o mais curioso é que ela realmente tem uma pegada de filmes de super-heróis que estamos tão acostumados a ver por aí, constituindo-se numa espécie de sátira a esse novo gênero de ação, o que faz o grande público se identificar mais ainda com a película. Façamos agora uma análise da animação, lembrando sempre que os spoilers serão necessários aqui.

Tentando resgatar a honra dos super-heróis…

O filme já começa com uma questão: os super-heróis são proibidos de trabalhar em virtude de provocarem um estrago quando lutam com seus arqui-inimigos (já vi isso em algum lugar). Mas um grande empresário quer voltar a tornar os heróis populares e, para isso, ele vai pedir a ajuda da mulher-elástica (a mãezona da família Incrível) para levar a cabo tal tarefa. Como os heróis estão proibidos de trabalhar e estão em grave situação financeira, o senhor Incrível (o maridão) apoia a esposa nessa iniciativa, que fica relutante em deixar tudo em casa para o pai tomar conta (afinal de contas, cuidar de três filhos – uma criança pequena, uma adolescente problemática e um moleque totalmente espoleta – não deve ser fácil).

A mamãe vai trabalhar…

Mas, como a necessidade faz o monge, a Senhora Incrível vai ao trabalho e se torna uma celebridade, enquanto o paizão passa poucas e boas com seus filhos, principalmente o menorzinho, que passa a ter 17 (!) superpoderes. Ainda, surge um inimigo muito poderoso, que consegue hipnotizar as pessoas para fazer coisas bem do mal, com o intuito de sabotar o programa de revalorização dos heróis.

… e o papai fica em casa…

O desenho traz umas questões interessantes. Essa coisa dos heróis proibirem de trabalhar para não colocar em risco a vida das pessoas a gente viu no “Batman Vs. Superman” e até nas histórias dos X-Men, onde há a perseguição aos mutantes. Aqui, o desenho faz uma troça com isso, pois se o super-herói não pode trabalhar e fica desempregado, como ele vai pagar as contas da casa, já que os heróis aqui são de uma família média americana? Ou seja, o desenho pega uma coisa que a gente vê na ficção altamente fantasiosa de filmes da DC e da Marvel e a trata,digamos, com uma pitada de choque de realidade, o que torna a coisa engraçada. Mas esse choque de realidade vai mais além, pois esse é um filme sobre família? Mas qual família? Uma mais moderna? Ou uma mais tradicional? A grande piada do filme é o paizão ficar em casa cuidando dos filhos e a mamãe sair para trabalhar. O senhor Incrível, ao ficar em casa, cuidando dos filhos, e tendo uma imensa dificuldade em fazer isso, indica que o “seu lugar” é trabalhar fora, e a senhora Incrível, acostumada à dupla jornada de trabalho, é a mais apta a ficar em casa, sendo esse o “seu lugar”?

E despertam os poderes do Zezé!!!

Ainda, fica muito clara numa parte do filme que o sucesso da Mulher Elástica incomoda o maridão que está dentro de casa. É claro que o filme faz piada e troça com tudo isso, que são traços de uma sociedade tradicional. Se a gente leva por esse lado, o filme tem um quê progressista. Mas incomoda um pouco essa visão de que o pai não consegue levar a cabo as tarefas domésticas, como se isso fosse “coisa de mulher”. Ou seja, atribuir a eficiência de determinadas tarefas a um gênero ou outro é uma coisa que incomoda e que o filme, de uma certa forma, não questiona tanto, exceto pelo sucesso da Senhora Incrível em seu ambiente profissional. De toda a forma, quem consegue salvar o dia são justamente as crianças, também consideradas “incapazes” de fazerem tarefas adultas, outro estereótipo de uma sociedade mais tradicional que, aí sim, será questionado aqui em toda a sua plenitude. E, também pudera, quem tem o Zezé com 17 superpoderes, não precisa de mais nada.

Crianças salvam o dia…

Assim, “Os Incríveis 2” é mais uma baita animação da Disney que só aumentou a minha curiosidade com relação a “Os Incríveis”, além de fazer troça com as histórias de super-heróis que povoam o cinema e nosso imaginário, fazendo um divertido diálogo entre a fantasia e a realidade. No mais, o desenho também serve para levantarmos questões sobre parâmetros sociais mais tradicionais e de como eles estão sendo revistos. Tal levantamento de questões só espelha a qualidade dessa ótima animação. Vale a pena dar uma conferida.