Outro filme concorrente ao Oscar. “Poderia Me Perdoar” disputa três estatuetas (Melhor Atriz para Melissa McCarthy, Melhor Ator Coadjuvante para Richard Grant e Melhor Roteiro Adaptado) e conta, com um humor bem ácido, a difícil vida da escritora Lee Israel, que conseguiu emplacar uma obra sua nas listas de mais vendidos para nunca mais. Figura completamente simpática a gatos e totalmente avessa a humanos, Israel tinha um comportamento extremamente difícil, ficando numa tremenda penúria financeira por causa disso. Até que ela teve uma ideia: começou a falsificar cartas de escritores famosos e vendê-las a donos de sebo, que em Nova York são muito mais sofisticados que os daqui. O problema é que Israel vai ser descoberta e sua vida, que já era difícil, vai ficar ainda mais complicada.
O trabalho de Melissa McCarthy nesse filme foi muito bom, fazendo jus à indicação para Melhor Atriz. Ela conseguiu fazer uma mulher muito mais velha (à despeito de sua boa caracterização com maquiagem) e rabugenta, chegando às beiras do insuportável. Ela é a protagonista com mais cara de antagonista que surgiu no cinema nos últimos tempos. O problema para ela ganhar o prêmio (e vou repetir isso quantas vezes for necessário) é a atuação magnífica de Glenn Close em “A Esposa”, considerada imbatível por este humilde escriba. Vai ser muito difícil para McCarthy bater essa atuação de Close na noite da premiação, se os critérios de talento contarem, já que sempre devemos lembrar que são geralmente os interesses da indústria que norteiam essa premiação.
A atuação de Richard Grant também foi excelente ao interpretar Jack Hock, o amigo de Israel, que sequer tem onde cair morto. Ele era um cara também cheio de defeitos como Israel, mas era o tipo do cafajeste simpático, ao contrário da escritora. Seu trabalho foi digno da indicação para melhor ator, mas aqui o páreo está duríssimo também, senão vejamos: Sam Rockwell fazendo Bush em “Vice” e Mahershala Ali em “Green Book”. Aqui, qualquer um que vença será uma premiação justa. Confesso que nem sei para quem torcer.
E a história do filme? Tentou-se fazer uma comédia aqui em alguns momentos, só que o filme é carregado de cargas negativas quase o tempo todo. O relacionamento ríspido de Israel com os demais personagens (inclusive com seu amigo próximo Hock) é o carro-chefe da película, sendo o típico caso da pessoa que vive dando tiros no próprio pé e fechando portas para si, já que faz uma questão extrema de que o mundo funcione de acordo com seus desejos e parâmetros e não o contrário. É claro que isso vai provocar uma série de situações muito desagradáveis para nossa protagonista, que tem uma vida complicada e sofrida. Pelo menos, ela aliviava um pouco suas mágoas fazendo trotes que podiam ser ofensivos ou brincadeiras vingativas de péssimo gosto. Ou seja, o filme tem quase o tempo todo uma carga negativa muito grande, sendo um violento choque de realidade.
Dessa forma, “Poderia me Perdoar?” consegue não ser uma comédia dramática, mas uma ácida comédia melancólica, onde a protagonista não é o melhor exemplo de virtude, muito pelo contrário até. A boa maquiagem aplicada em Melissa McCarthy de nada adiantaria se não fosse a ótima atuação da atriz, que lhe exigiu muito mais do dramático do que da comédia, e sabemos que a atriz é mais especializada nesse último gênero. Assim, esse trabalho foi um desafio e tanto para ela, que correspondeu muito bem e mereceu a indicação. A atuação de Richard Grant também foi fenomenal, também sendo digna da indicação que recebeu. Mesmo que a película tenha um clima bem pesado, ela é altamente recomendável em virtude do trabalho dos atores. Vale a pena dar uma conferida.