Mais um filme esperado. “Assunto de Família”, de Hirokazu Koreda, foi o grande vencedor do Festival de Cannes no ano passado e traz uma história muito tocante. Uma história que nos faz pensar onde estão os verdadeiros valores que nos tornam humanos.
O plot é muito simples. Temos um grupo de pessoas consideradas “à margem da lei” que decidiram viver juntas e constituir uma espécie de família, família essa que consegue funcionar com muito mais harmonia e ternura do que as famílias constituídas pelas pessoas ditas “de bem”, sem folha corrida na polícia ou com um histórico de crimes. Por piores que sejam as condições de vida dessa insólita família, eles vivem de forma muito unida. E as dificuldades não impedem que eles vivam de forma bem feliz. Mas, infelizmente essa família, que funciona de forma tão perfeita e harmoniosa, não durará para sempre e será desmantelada pelo sistema de justiça, em virtude de seu passado de malfeitos.
A primeira pergunta que vem à nossa cabeça quando assistimos a essa película é a seguinte: o que é ser uma pessoa de bem? O que é ser um bom ser humano? O grande paradoxo aqui é justamente o fato de que há famílias com conforto material que são cheias de problemas pessoais e de relacionamento e possuem pessoas sem antecedentes criminais, ao passo de que um grupo de pessoas que são consideradas delinquentes pela justiça simplesmente se agregaram nas piores condições possíveis, mas viviam com extrema harmonia, compreensão e preocupação pelo bem estar um do outro, criando um paradigma perfeito de célula familiar. O diretor Hirokazu Koreda foi perfeito ao buscar esse paradoxo, ainda mais num país que prima tanto pela disciplina e pela honra como o Japão.
Uma coisa que chama muito a atenção é perceber como a película tem a coragem de mostrar como o Japão atual, um país que, dentro de nosso senso comum, parece ser muito rico e desenvolvido, também tem seus bolsões de miséria e pobreza, provando que não há paraísos utópicos por aí. Essa componente de denúncia social talvez tenha chamado a atenção daqueles que premiam os filmes em Cannes para esse filme, fora outras virtudes, como a forma singela e delicada com que os personagens da casa se tratavam, sendo um verdadeiro exemplo de como as famílias, principalmente as que estão em conflito, devem se relacionar.
Assim, “Assunto de Família” é um filme que merece toda a atenção do espectador, pois foi digno da Palma de Ouro que recebeu, já que ele consegue ser simples, delicado, terno e, principalmente, enfrenta alguns estereótipos que povoam nossas mentes quando falamos de pessoas à margem da sociedade. Definitivamente, quem vê cara não vê coração, a grande lição dessa película. Não deixem de assistir.