Batata Movies – Um Segredo Em Paris. Um Estranho Casal.

Cartaz do Filme

Um filme que bota você perplexo. “Um Segredo em Paris” é curtinho (tem apenas cerca de 70 minutos), é existencial toda a vida e não se explica muito. Ou seja, parece uma película insuficiente em si mesma. Infelizmente, a gente precisa lançar mão dos spoilers para entender um pouco mais esse filme.

Macie, uma mulher existencial


O plot é muito simples. Uma moça de fora de Paris, Mavie (interpretada por Lolita Chammah) divide um apartamento com uma amiga que, digamos, é muito apaixonada pelo namorado. No Café que frequenta, ela vê um anúncio que propõe um emprego cujo pagamento é a moradia num apartamento. Para fugir do constrangimento na casa da amiga, Mavie procura o emprego, que é numa livraria. O dono da livraria, Georges (interpretado por Jean Sorel), é um velho rabugento e de passado obscuro. A livraria é uma bagunça só e ele nunca vende um livro sequer, colocando ainda mais mistério em sua vida pregressa, que nunca fica clara. Mavie fica fascinada pelo ancião e se apaixona por ele que, volta e meia, desaparece. O relacionamento entre os dois nunca fica muito claro, até porque Mavie gosta de escrever e a moça imagina diálogos de amor entre os dois, confundindo totalmente o espectador sobre o que é imaginação ou realidade.

Ela encontrará o misterioso Georges, dono de uma livraria…


Se a gente pudesse dar algum apelido à diretora Élise Girard (que também assina o roteiro, em conjunto com Anne-Louise Trividic) esse poderia ser o de “Chacrinha”, em virtude de sua épica frase “Eu vim aqui para confundir e não para explicar, meu filho”. A história faz um verdadeiro jogo de gato e rato com o espectador, usando Mavie como mote principal. A personagem é aquela existencial clássica, que povoou enormemente a Nouvelle Vague. Dores de cabeça e depressões fazem parte da ordem do dia de Mavie. E aí, para se aliviar de toda essa pressão, a moça lê e escreve. Quando Georges entra em sua vida, sendo um elemento inteiramente novo, a moça ganha um combustível inovador para a sua escrita e imaginação. E aí, não sabemos mais o que é realidade ou fantasia no filme. Georges e Mavie iniciam um relacionamento um tanto platônico. Mas isso seria apenas fruto da imaginação de Mavie? O filme deixa indicado que sim. Mas outros momentos do filme, como a vinda de criminosos à livraria que, inclusive, são mortos, fazem parte da realidade ou da ficção de Mavie? Essa coisa que fica em aberto acaba sendo uma espécie de atração principal do roteiro, que pode ser apreciável, se encaramos a película de um ponto de vista mais lúdico, mas que pode ser um tanto perturbador, se encararmos o filme dentro da perspectiva de uma narrativa mais tradicional. O filme é, acima de tudo, um diálogo entre o objetivo e o subjetivo, com uma provável voz maior para o último.

…e a livraria é uma zona só…


Pelo menos, ao desfecho, a coisa tende mais para o objetivo, onde sentimos um pouco o gosto triste da amargura de Georges, que se retira de cena da história de uma forma um tanto melancólica, enquanto que a vida de Mavie passa a ter um pouco mais de graça ao encontrar um novo amor. É nesse momento que a moça abandona a escrita, o que dá um pouco mais de objetividade ao filme.

As imagens do filme são carregadas de uma certa melancolia…


Dessa forma, “Um Segredo em Paris” é um filme que, por não fazer muita questão de se explicar, e fazer muita questão de confundir, acaba dando um certo trabalho ao espectador, que precisa se amalgamar com o objetivo e o subjetivo, tendo Mavie como uma espécie de norte, uma espécie de luz (?) no fim do túnel. Vale a pena pela curiosidade e pela experiência, embora a gente nunca possa se esquecer de que os filmes que abordam temas mais existenciais têm, em sua maioria, um ritmo excessivamente lento, o que é exatamente o caso aqui.