Batata Movies – O Gênio E O Louco. Qual É O Sentido Do Perdão?

Cartaz do Filme

Um filme muito tocante. “O Gênio e o Louco” é uma história sobre a construção de um dicionário. Mas, acima de tudo, é uma história sobre perdão. Até onde vai a sua coragem de perdoar o imperdoável? Como você pode se desvencilhar de mágoas profundas e reconstruir um futuro a partir de sua dor? Dá para perceber que este é um filme que suscita uma reflexão bem pertinente. E isso já é o indicativo de que o filme é bom. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.

Um médico perturbado por um trauma de guerra…

O plot é o seguinte. Doutor Minor (interpretado por Sean Penn) é um homem profundamente atormentado. Ele é um veterano da Guerra de Secessão e vive na Inglaterra de perto da virada do século. O doutor teve que, durante a guerra, marcar com ferro quente o rosto de um desertor. Mas nosso médico tem esquizofrenia e passou a ter visões do tal desertor o perseguindo. Por causa disso, ele mata um inocente, pai de seis filhos, e acaba internado num manicômio judiciário. Enquanto isso, o autodidata James Murray (interpretado por Mel Gibson) busca convencer o rígido meio acadêmico de Oxford a empreender a produção do mais ambicioso Dicionário da Língua Inglesa. Para isso, seria necessário fazer uma pesquisa minuciosa da produção literária do idioma em todo o mundo. Murray teve a ideia de pedir que as pessoas enviassem palavras e seus significados em determinadas obras literárias pelo correio. Esse apelo chega aos ouvidos de Minor no manicômio e ele começa a produzir freneticamente, ajudando em muito o trabalho de Murray e levando a uma grande amizade entre os dois. Por outro lado, Minor tenta se redimir do seu crime, ajudando financeiramente a viúva do homem que matou, o que leva a uma aproximação entre os dois que provocará fortes conflitos na mente perturbada do médico e será um empecilho na confecção do dicionário.

Um autodidata com uma missão quase impossível…

Como dito acima, é um filme sobre perdão. O Grande barato aqui é a difícil aproximação entre o doutor e a viúva, que despertou os momentos mais ternos e angustiantes do filme, provocando uma verdadeira montanha russa de emoções no espectador. A coisa foi tratada com uma delicadeza extrema e envolvia demais o público, o que fazia a gente se colocar no lugar do doutor e experimentar com muita intensidade todo o seu sofrimento e sentimento de culpa. Poucas vezes um filme contemporâneo se aproximou tanto dos paroxismos típicos do expressionismo. E, por se tratar de uma história real, o espaço para o happy and não existe aqui, dando um grande tom de legitimidade a todo o conjunto.

O que podemos falar dos atores? Esse é um filme de Sean Penn. Sua atuação foi tão maravilhosa que me arrisco a dizer que Mel Gibson chegou a ser um coadjuvante de luxo. Como ele nos envolvia com sua inigualável competência dramática! Definitivamente, Penn é um ator que precisa estar mais presente em nossas telonas. Já Gibson não comprometeu com um personagem que tinha um imenso obstáculo pela frente, que era o de fazer um trabalho altamente exaustivo (ao fim das contas ele durou décadas) perante um meio acadêmico extremamente arrogante. Ele executou com eficiência todas as nuances emocionais de otimismo e desânimo, também nos envolvendo. Não podemos deixar de dizer aqui que esse também é um filme de fortes personagens femininas. Natalie Dormer fez Eliza Merrett, a viúva, tendo uma enorme química com Penn. Sua personagem era muito forte, inicialmente não aceitando as tentativas de reparação de Minor, mas pouco a pouco se aproximando dele e aceitando seu perdão. Minor a ensina a ler e ela desbrava todo um mundo novo através das palavras cujo acesso é dado pelo algoz de seu marido. Nesse momento, nossa cabeça, tão acostumada a um mundo de ódio, fica a mil, despertando sentimentos muito conflitantes. A outra personagem feminina, Ada Murray (interpretada por Jennifer Ehle), a esposa de James Murray, fez uma mulher que apoiava integralmente o marido em suas ambições e desejos, a ponto de aceitar que ele abandonasse uma carreira segura para embarcar na arriscada jornada do dicionário. Ada ainda teve a coragem de interceder a favor do marido junto ao arrogante meio acadêmico de Oxford. Eliza e Ada se mostram verdadeiras mulheres à frente de seu tempo.

Uma amizade vinda de um dicionário…

Por fim, ainda podemos assinalar mais uma virtude do filme. Ele acaba concluindo que a confecção de um dicionário definitivo é impossível, já que a língua é viva e palavras são inventadas constantemente, como foi demonstrado na conversa entre crianças que aparece ao final do filme.

Qual é o verdadeiro sentido do perdão?

Dessa forma, “O Gênio e o Louco” é um programa obrigatório, pois nos mostra uma incrível história real que fala sobre temas humanos tão caros quanto o perdão, assim como tem uma interpretação memorável de Sean Penn, além de fortes personagens femininas, sem falar que lembra que o idioma é vivo e em constante mutação. Um filme que nos faz muito refletir, o que atesta a sua grande qualidade. Imperdível.

Batata Literária – Macropoesia

Estou nas estrelas

Gigante, plena

Perambulo pelas nebulosas

De nossa enorme galáxia

Explodindo em supernovas

Fluindo energia quase infinita

Até os confins do Universo

Sou comprimida violentamente

Nos núcleos de megamundos gasosos

Quase sumo nas densidades infinitas

De caroços de buracos negros

Estou em bolsões de pura energia

Das bolhas de multiversos

Giro mais rápido que os pulsares

De campos magnéticos estúpidos

Não há espaço para o cataclisma

Sou arquiteta da catástrofe

Me oriento pela disrupção total

Que semeia o Universo de partículas

E estimula novas probabilidades

Vou além do horizonte de eventos

Além das estrelas degeneradas

Além dos fluxos de matéria

Afunilados em campos magnéticos

Horrendos e impiedosos

Gero vida nos pequenos bebês

De protoestrelas jovens, mas débeis

Tiro da morte a chance da vida

Nutro estrelinhas no útero das nebulosas

E reorganizo a entropia cruel…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2 Episódio 14) Doce Tristeza Parte 2. O Negócio É Salvar O Canon.

Sob fogo cruzado

E finalmente chegamos ao último episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”. Alguns acharam “Doce Tristeza Parte 2” um desfecho magistral. Outros acharam que ficou a desejar. Confesso que a impressão que tive desse episódio foi a mesma dos episódios recentes de Discovery, ou seja, despertou sentimentos contraditórios e não foi um dos melhores da temporada (os melhores estavam lá mais para o início). Vamos tentar conversar um pouco sobre esse desfecho da temporada.

Retomando o plot do episódio anterior, a batalha entre Discovery e Enterprise com as trinta naves da Seção 31 está prestes a começar. Aí um detalhe já chama a atenção: a quantidade estúpida de naves auxiliares e caças (hein?) que saem de dentro das duas naves protagonistas. Não parece que elas possam comportar tantas naves assim. Da mesma forma que, quando vemos o elevador da Discovery circulando pela nave, ela parece ser muito maior que é. Essas inconsistências podem até não afetar muito o produto final mas incomodam. Enquanto isso, na Discovery, o traje é montado e a grande maioria dos tripulantes mostram a sua grosseria habitual que incomoda bastante. Nunca podemos nos esquecer que estamos num meio militar e há a necessidade de respeito a uma hierarquia, sem espaço para forinhas. É incrível como as pessoas se destratavam em pleno ambiente de batalha, mostrando que a tripulação não estava totalmente focada em seu trabalho. As duas naves poderiam, muito bem, ter explodido por causa disso. Alguns diriam que tal situação pode até ser compreendida, pois todos estavam sob um forte estresse, etc. Tudo bem. Ainda assim, é necessário um mínimo de autocontrole numa situação extrema dessas e os tripulantes pareciam mais preocupados em deflorar seus repertórios de mimimis.

Spock prestobarba…

As trinta naves da Seção 31 com o Leland borguificado (desculpem, mas não resisto à zoação) chegam e mostram que também têm um milhão de navezinhas para o combate. Algumas pessoas assinalaram, com muita propriedade, que essas navezinhas todas são inspiradas nas navezinhas que destruíram a Enterprise no filme três do Abramsverso. Parece ser por aí mesmo, até para deixar os efeitos especiais mais espetaculares, que realmente foram muito bons para uma batalha que durou praticamente o episódio inteiro.

Ao transferirem o traje do Anjo já pronto para a baia de lançamento, há uma explosão que fere Stamets seriamente. Vemos claramente que isso é para levar o personagem mais albino (natural) de Jornada nas Estrelas aos cuidados de Culber, que diz que quer reatar (que fofo, eu estava torcendo por isso!!! Tivemos um bom desfecho de temporada aqui). O curioso foi ver a falta de ação, num breve momento, tanto de Michael quanto de Tilly, ao ver Stamets seriamente ferido. Mais um indício de falta de preparo em situações extremas. As duas passando pelo teste do Kobayashi Maru seria um desastre total.

Finalmente L’Rell falou um klingon razoavelmente decente…

Finalmente o traje chega a baia de lançamento. Spock vai acompanhar Burnham numa nave auxiliar, orientando seu voo para uma área mais segura, distante da batalha. Enquanto isso, Leland invade a ponte da Discovery e começa a atirar, como acontecido na visão de Michael. Mas agora a tripulação consegue se esquivar, com alguns tripulantes só ficando feridos e não morrendo ninguém. Leland se tranca em outro compartimento para procurar os dados da esfera. Spock e Michael pousam numa carcaça de nave destruída. Mas Michael não consegue programar o Anjo para ir para o futuro. Já a Enterprise sofre, como na visão de Michael, um ataque de um torpedo fotônico, que fica preso no casco do disco sem explodir, embora a explosão em quinze minutos seja inevitável, o que provocaria a destruição total da nave. Nessa hora, Pike manda para a parte de fora do disco uns robozinhos para fazer reparos (seriam astromecs de Guerra nas Estrelas?).

Roteiristas sacanearam Burnham…

Um detalhe interessante aqui é que, na hora em que parecia que a Enterprise e a Discovery seriam derrotadas, caças ba’uls apareceram sob o comando de Siranna, irmã de Saru (será que os malignos kelpianos dominaram os inocentes ba’uls? Tome violação da Primeira Diretriz!) assim como os klingons mandaram reforços, com direito a dois D7s produzidos em tempo recorde (os klingons devem ter aprendido a produzir armamentos assim tão rápido com os russos da Segunda Guerra Mundial, onde uma fábrica de tanques na Sibéria produzia dois mil tanques por mês). É aí podemos ver Tyler e L’Rell falando finalmente um bom idioma klingon, numa prova de que há fonoaudiólogos no Império (qa’plá!), embora L’Rell ainda pareça estar com um chumaço de algodão na boca (ela, como chanceler, deve ser uma pessoa muito ocupada e deve ter faltado a algumas sessões de fonoaudiologia).

… e Tilly

Spock, ao ver os reforços, pensa um pouquinho com seus botões e conclui que os cinco sinais apareceram para que tudo fosse encaminhado para aquele momento da batalha. Ou seja, Michael não conseguia ir para o futuro, pois eles estavam presos num loop temporal. Então Michael deveria ir para o passado, em cada evento dos cinco sinais, para voltar ao momento da presente batalha e “destravar” a viagem para o futuro. Ou seja, uma lógica um pouco sem conexão, mas que justificaria as aparições do Anjo no passado. E aqui, podemos ver que Discovery caiu novamente no que já pahrecia óbvio: Michael é o Anjo, assim como Tyler era klingon na primeira temporada e todo mundo já sabia. A coisa da mãe como Anjo acabou mesmo sendo algo para despistar.

Georgiou e a oficial de segurança Nham (pois é, esse é o nome dela na versão legendada, ela até faz uma piada com isso) conseguem alcançar Leland e partem para uma porradaria geral com direito a dois red shirts (não tão reds assim) que aparecem do nada e morrem numa despressurização (eu juro que voltei a cena várias vezes e até agora não vi de onde eles apareceram para morrer; se alguém aí souber, me avise por favor). Leland é atraído para a Câmara de esporos (os dados estariam escondidos na Seção do motor de esporos) e é trancado lá. Georgiou magnetiza a Câmara e as nanossondas saem de Leland, matando-o, sob o olhar sádico de Georgiou.

Enquanto isso, a Almirante Cornwell tenta desarmar o torpedo incrustado na Enterprise, sem sucesso. Ela vê dentro da sala onde está o torpedo um mecanismo para fechar uma porta de segurança e isolar o torpedo do resto da nave, mas que pode somente ser fechado por dentro. Cornwell então decide se sacrificar e sela a porta, explodindo com torpedo e tudo. Agora, só me explica uma coisa. O torpedo tinha força para destruir quatro deques. E aí uma portinha segura uma explosão desse naipe, a ponto de Pike assistir Cornwell ser incinerada pelo vidro e do outro lado da porta? E ainda: numa moderna nave estelar, a capitânia da Frota, a mais importante, não há um mecanismo computadorizado que tranque a porta por fora? São em detalhes como esse que Discovery peca, e muito.

Saru para capitão!!!

Michael viaja para o passado, indo ao local dos cinco sinais. De volta ao campo de batalha, Michael diz ao capitão Saru que enviará um sexto sinal para orientar a Discovery na viagem para o futuro. Spock não consegue fazer sua nave auxiliar decolar (ela ficou danificada com um tiro) e ele não vai poder acompanhar Michael. Começa então todo um dramalhão onde Spock diz que foi salvo pela Michael (como era de se esperar numa série dessas), etc., etc., além de receber um conselho da Michael de interagir com a pessoa que mais fosse diferente dele (é o Kirk, não é?). Ele termina dizendo “eu te amo” para a irmã. Ou seja, Discovery sendo Discovery como novela mexicana. Spock diz ainda que queria ter certeza da segurança de Michael e ela retruca que ele terá certeza disso, pois ela lhe enviará um sétimo sinal. Spock é teletransportado para a Enterprise. Aí fica a pergunta: a nave abaixou os escudos sob fogo cerrado, ou a batalha já acabava depois da morte do Leland? E outra pergunta ainda mais perturbadora: se Leland está morto e o Controle derrotado, por que cargas d’água a Discovery ainda precisa ir para o futuro com a Michael, até porque a nave só está com parte dos dados da esfera e o Controle, mesmo que volte, não terá acesso integral aos dados? E mais, como um controle quer ser sensciente com os dados da esfera se ele já está atrás dos dados? O fato dele já estar atrás dos dados não seria a comprovação de que ele já é sensciente? Loops de furos de roteiro aqui. De qualquer forma, a protagonista voa em direção ao futuro e com  Discovery a reboque. Todos desaparecem, ficando só a Enterprise, os caças ba’uls e as naves klingons, juntamente com um monte de escombros.

Há um interrogatório sobre o que aconteceu. O interrogador, onde vemos somente algumas partes do rosto (ficou um gosto de mistério aqui) faz as perguntas, não sem receber algumas respostas muito malcriadas que bem poderiam render uma corte marcial. Mas o que ficou marcante nessa sequência foi que se atestou a necessidade de uma reformulação completa da Seção 31, precisando ficar mais transparente, com essa tarefa de reformulação sendo atribuída a Tyler. Foi dito também que o Controle foi totalmente eliminado. Mas o que mais chamou a atenção é o que foi mais intrigante foi a recomendação de Spock (prontamente atendida pelo Comando da Frota) de tornar a Discovery, sua tripulação e o motor de esporos um assunto altamente confidencial, com a sua divulgação sob pena de traição. Além disso, viagens no tempo não devem ser feitas. Peraí, deixa ver se eu entendi direito: a série Discovery renega a própria Discovery para salvar um Canon que a série insistia em desrespeitar e encaixar coisas que não encaixavam? Confesso que fiquei um pouco pasmo com isso. É como se fosse um atestado de incompetência assinado pelos próprios roteiristas: “pois é, tentamos fazer uma série que se encaixasse com o Canon mas não conseguimos. Assim, jogamos a Discovery para bem longe no futuro e começamos tudo de novo”. Esse foi mesmo o fim SENSACIONAL que alardeiam por aí? E, para botar a pá de cal em tudo, temos ao final derradeiro a Enterprise de Pike, o Spock de uniforme e barbeado, com a tripulação da Enterprise começando uma nova missão, a despeito do sétimo sinal enviado por Michael para o irmão que somente irá analisá-lo. Todos sabemos que muita gente quer uma série Pike-Spock na Enterprise. Não sei se isso irá acontecer. Mas o que perturba aqui foi como a Discovery foi tão colocada de lado no final. Eu diria desprezada, até, como se fosse um empecilho. E isso em sua própria série. Muito doido isso. Uma prova de que os roteiristas e os vários showrunners (um péssimo sinal essa quantidade enorme de showrunners, diga- se de passagem) não sabem muito bem o que estão fazendo. Cá para nós: não é fácil escrever Jornada nas Estrelas. Cinquenta anos de série e um Canon muito grande, cheio de furos inclusive, são um obstáculo para uma coerência com o que já se viu. Talvez os fãs mais novos nem se importem tanto com o Canon assim e vejam somente a série como um produto de entretenimento, tudo bem. Mas há fãs que se divertem com as referências colocadas de modo inteligente e sutil, não tão jogadas na cara. E tais referências se encaixando direitinho com o já visto no passado. E isso requer um estudo meticuloso da franquia antes que se escreva qualquer coisa. Parece que em Discovery ficou provado que esse dever de casa não foi feito além do agravante de não haver um consultor científico, com tecnobabbles muito forçadas e confusas, sendo explicadas com comparações muito simplórias e pífias.

Uns talosianos com cara de que gostam de uma Caninha da Roça…

Outro problema foi a forma forçada e desajeitada de inserir temas de ordem mais política e de inclusão social. Jornada nas Estrelas sempre fez isso com sutileza e maestria, o que não aconteceu aqui. O empoderamento feminino foi colocado de forma tão forçada que datou muito a série (lembrem -se que estamos no século 23 e não há mais espaço para machos alfa, essas questões já deveriam ter sido resolvidas, mesmo que tenhamos um Kirk todo serelepe em sua macheza). Mais ainda, bife vegano numa época de sintetizador de alimentos??? Ou uma pessoa andando de cadeira de rodas num século onde ela já poderia estar andando pelo menos num exoesqueleto? Muito complicada essa forma atabalhoada de se mostrar inclusão e respeito à diferença  na série. Forma essa que atingiu também a personagem principal, Michael Burnham. Uma excelente ideia a princípio que foi mal desenvolvida (esse é o problema crônico de Discovery a meu ver, boas ideias mal desenvolvidas). O protagonismo excessivo dado a personagem a torna antipática ao invés de atraente. Ela é tão perfeita e fodona que não há uma chance dela interagir com os demais personagens de igual para igual, desenvolvendo uma relação humana e de companheirismo mais aprofundada, uma coisa que a gente gosta tanto de ver em Jornada nas Estrelas. E, quando essa relação finalmente acontecia, era acompanhada de um melodrama que beirava o insuportável. Sacanagem com Sonequa Martin Green e com Michael Burnham. Sacanagem também com Mary Wiseman e Tilly, outra boa ideia de personagem, que recebeu o presente de grego dos roteiristas de falas completamente imbecis e sem sentido. Era constrangedor e emputecedor ver Wiseman e Tilly falando todas aquelas asneiras. Onde esses roteiristas estavam com a cabeça? Constrangedor também foi ver a falta de respeito com a hierarquia militar. Não que eu seja um militarista, muito longe disso, até. Mas Jornada nas Estrelas sempre primou por uma hierarquia militar respeitosa, onde até o superior respeitava o oficial inferior (“Senhor Sulu, Senhor Chekov”, lembram?) e agora vemos um monte de oficiais seniores se tratando como alunos mal educados em uma sala de aula. Jornada Nas Estrelas passa longe disso.

Pelo menos a segunda temporada foi melhor que a primeira. Os episódios de Terralísio e de Kaminar foram muito bons, bem ao estilo de Jornada nas Estrelas. As referências a Talos IV e à tragédia pessoal de Pike também foram muito bem vindas.

Todo mundo quer essa série… e Discovery???

Resta agora especular o que vem por aí. Série do Pike? Gostaria muito, mas não há nada certo. Série da Seção 31? Pelo amor de Deus não. E a terceira temporada de Discovery, a única coisa certa aqui? Bom, Michael enviou o sinal para Spock, a Discovery provavelmente está em Terralísio (51 mil anos-luz no quadrante beta, era onde o sinal estava ao fim do episódio) e tripulação da nave deve estar a procura da mãe de Michael. No mais, eles tentariam voltar para o século 23, mesmo descumprindo o sigilo total? E a Discovery abandonada no futuro que vimos no Short Trek? Como ela se encaixa com tudo isso? Como se pode ver, há pano para a manga para se desenvolver. O medo é o que esses roteiristas toscos e descuidados de Discovery irão fazer. Mais uma vez boas ideias. Continuarão elas sendo mal desenvolvidas? Respostas na terceira temporada, no ano que vem.

https://www.youtube.com/watch?v=BVmr03eI9o4

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 13) Doce Tristeza, Parte 1. Vamos Para O Futuro?

Burnham e Spock, empenhados em levar os dados da esfera para o futuro…

O décimo terceiro episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Doce Tristeza”, é a primeira parte do episódio final e já prepara o público para um desfecho. Como a maioria dos episódios mais recentes da série, ele desperta sentimentos contraditórios, com algumas ideias um tanto boas, mas com coisas ainda muito esquisitas.

Vamos ao plot. A tripulação da Discovery começa a evacuar a nave para o processo de autodestruição. O Controle se infiltrou nas comunicações da nave e eles não conseguem contatar a Federação. Assim, só conseguem se comunicar com a Enterprise. Tubos de transporte ligam as duas naves. Aí fica a pergunta: não se poderia evacuar todos pelo teletransporte? Não haveria tempo hábil? Não há salas de teletransporte suficientes nas duas naves? Ou apenas foram usados os efeitos especiais para impressionar? Burnham, por sua vez, se questiona se a nave precisa ser mesmo destruída e, quando ela pega o cristal, tem uma visão do futuro, onde as duas naves estão numa batalha cerrada contra a Seção 31. Ao fazerem a contagem regressiva para a autodestruição, a Discovery não se destrói, pois os dados da esfera ainda se protegem das tentativas de destruição empreendidas contra ele. Surge outra visão de futuro para Michael. Agora ela vê Leland atacando a ponte da Discovery e matando todo mundo. Enquanto isso, Pike é alertado que a Seção 31 está chegando em uma hora e ele prepara a tripulação para o ataque. Michael diz que nada daquilo vai adiantar e que a Discovery deve ser lançada ao futuro, para tirar os dados da esfera do alcance do Controle. Para isso, um novo traje de anjo deverá ser confeccionado e o cristal precisa ser ativado. A Discovery seguirá o traje do Anjo no piloto automático.

Michael não irá para o futuro sozinha…

Surge o quinto sinal, no planeta Xahea, lar da rainha Po (vide o primeiro Short Trek). Tilly diz que a rainha sabe recristalizar dilítio e ela pode tentar reativar o cristal do tempo. A inteligente e serelepe rainha de 17 anos e que adora sorvete (confesso que eu também gosto muito) vai poder ajudar nisso, depois de vomitar muitas tecnobabbles com direito a energias de supernova mais uma vez (aff). Só que há duas ressalvas: o motor de esporos não funcionará mais e o cristal estará inutilizado ao fim da viagem. Assim Michael vai, mas não volta. Isso será o suficiente para uma série de despedidas chorosas de Michael com meio mundo. Até Sarek e Amanda apareceram de surpresa para se despedir, numa forçada de Barra retumbante (eles souberam por seus catras, disseram os pais). Foi até uma cena boa, essa da despedida, com um Sarek mais meloso pedindo desculpas por não ser um bom pai e marido, além de prometer que ficaria de olho em Spock mesmo que a distância. Mas essa aparição de surpresa do casal num momento de isolamento de comunicação apenas nave a nave pegou muito mal para a coerência da história. Apesar de toda essa choradeira, Michael não vai sozinha, pois parte da tripulação da Discovery decide ir com a moça para o futuro. Tyler, por sua vez, ainda prefere ficar na Seção 31 para combater o controle nas sombras, como se a Seção 31 de Discovery fosse a coisa mais escondida do mundo. Pelo menos, a despedida de Pike da tripulação da Discovery foi algo bem respeitoso e solene, algo indispensável numa série com tantas violações de hierarquia militar. Saru assume o posto de capitão (êêêêê!!!) mas diz em seguida que isso deve ser decidido com mais calma depois, com um olhar complacente na direção de Michael. Ainda acho que Saru tem que ser o capitão da nave, em virtude de sua elegância e serenidade infinitas. O episódio termina com a frota da Seção 31 chegando, e a Discovery, juntamente com a Enterprise, preparadas para a batalha.

Tripulação trabalhando para ir com a Michael para o Futuro…

Bom, como eu disse, é um episódio de sentimentos contraditórios. Quais são os problemas? As tecnobabbles irritantes continuam, sem a regulação de um consultor científico, o que deixa a coisa forçada e exagerada. Sei que já bati nessa tecla aqui várias vezes, mas usar quantidades incríveis de energia do porte de uma supernova é algo muito complicado e o fã da franquia quer um ficção científica mais atraente, que dê para acompanhar e entender, sem qualquer exagero retórico. O clima de fim de festa e de despedida também ficou um pouco maçante, embora eu tenha gostado aqui da despedida da família Burnham-Sarek-Amanda, apesar daquela chegada para lá de implausível dos pais adotivos.

Mais cenas melosas…

Agora, com relação ao ponto positivo da história, podemos dizer que a viagem da Discovery para o futuro foi uma ideia interessante para se arrumar um desfecho digno para a temporada. O problema, como em muitas coisas em Discovery, é se esse final será bem escrito e alcançará uma forma satisfatória de fechar a série. Fica aqui um baita mistério e um receio muito grande.

Assim, Doce Tristeza, Parte 1, pode ser considerado mais um episódio mediano de Discovery. Só é meio complicado que isso continue acontecendo praticamente no apagar das luzes. De qualquer forma, se vislumbra uma luz no fim do túnel, embora haja ainda dois sinais. Fica tudo para o final do final do final…

https://www.youtube.com/watch?v=6qb2hSrh3Q8

Batata News – Palhaços. Rindo Da Acidez Da Vida.

Cartaz da Peça

Dedé Santana fez muito sucesso como trapalhão e não sai de nossos corações. Agora, do alto de seus 83 anos, tivemos a grande oportunidade de vê-lo no teatro na peça “Palhaços”. E podemos dizer que esse foi um grande presente que só serviu para ratificar a sua já consagrada carreira, pois vemos aqui o humorista desempenhando um papel bem mais complexo que o visto ao lado dos Trapalhões.

Dedé Santana de volta em grande estilo…

Lá a gente testemunhava um espetáculo circense de palhaços que não pintavam o rosto (essa é uma definição muito antiga que foi dada aos Trapalhões) onde Dedé tinha a tarefa específica e difícil de ser a eterna escada do Didi. Em “Palhaços”, além de Dedé ser o protagonista e ter a sua própria escada, o ator Fioravante Almeida, ele tem a tarefa mais complexa de interpretar um personagem que tem o seu grau de humor, mas também com um conteúdo dramático bem intenso, onde podemos tanto nos compadecer com seu personagem como também sentir uma certa aversão por ele, talvez até raiva, em virtude de sua dureza com relação a sua escada.

Grande dobradinha com Fioravante Almeida…

O plot da peça é bem simples. O palhaço Careta (interpretado por Dedé) descansa entre um número e outro e encontra um rapaz escondido no seu “camarim” (interpretado por Almeida) chamado Benvindo, um vendedor de sapatos. O rapaz fala de toda a sua fascinação pela carreira de artista e Careta começa a perguntar sobre a vida de Benvindo, que é muito simplória e trivial. A peça então toma um rumo um tanto ácido, humorado e existencial, onde os dois personagens avaliam suas vidas. Careta é cruel com as questões existenciais de Benvindo, onde uma relação de amor e ódio acaba se estabelecendo entre os dois.

O diretor foi Alexandre Borges

O que podemos falar de Dedé? Sua interpretação como ator dramático só não é surpreendente pois já sabemos como ele é um excelente ator. Mas ainda assim, vê-lo fazendo um papel dramático chama demais a atenção. Dedé é cativante, envolvente, prende totalmente nossa atenção, despertando em nós sentimentos muito contraditórios pelo grau de afeto e dureza de seu personagem.

Ensaio com o diretor em ação…

Outro elemento que chamou muito a atenção e tornou esse espetáculo todo especial é que o querido trapalhão improvisou, e muito, despertando risadas espontâneas do próprio Dedé e ainda uma pequena observação durante o transcorrer da própria peça: “Hoje, o diretor me mata!”, o que despertou risos gerais da plateia. Ou seja, o homem foi um show total. Já Fioravante Almeida se mostrou um grande talento fazendo o ingênuo Benvindo, além de ser a escada perfeita para Dedé. Seu personagem também tinha uma gama extensa de sentimentos, que iam da esperança, alegria, medo, desesperança, raiva. E Careta tripudiando impiedosamente dos sentimentos de Benvindo, levando a coisa à beira do tragicômico.

Dedé com o vasinho de flores que eu dei para ele. Fioravante Almeida também ganhou o seu

Assim, “Palhaços” foi um grande espetáculo que passou pelo Teatro Clara Nunes. Tivemos a oportunidade de ver o querido trapalhão num papel mais dramático que humorístico, mostrando todo o talento desse ícone de nossa cultura. Um ícone nascido num circo bem pobre, como o próprio Dedé fez questão de enfatizar ao final do espetáculo. E este escriba se deu ao direito da tietagem explícita e sentou na primeira fila somente para presentear Dedé com um vasinho de flores, assim como Fioravante Almeida, que muito se emocionou com o pequeno mimo e ainda falou em pleno palco que é hábito da plateia russa dar plantas para os atores. Só é pena que a peça já tenha saído de cartaz. Mas fica aqui o registro.

Este humilde escriba esteve na peça…

Batata Literária – Minipoesia

Sou pequenininha

Miudinha

Delicadinha

Caibo no buraquinho

Do seu dentinho

Sou levada pelo ar

Um grão de areia no mar

Um átomo numa estrela

Uma partícula na poeira

Um cisco no olho

Uma gota de suor

A umidade da caixa d’água

A sujeirinha no canto da sala

O sussurro que se cala

O grão de arroz na mala

A última gota de tinta

Da canetinha exaurida

O último suspiro