Uma interessante co-produção Inglaterra/Estados Unidos. “Um Ato de Esperança” chama a atenção de cara pelo elenco: Emma Thompson e Stanley Tucci. Típico filme que você vai para ver os atores que gosta atuando. Mas a película não é somente isso. Temos aqui também uma boa história, daquelas que nos faz refletir sobre a condição humana e relacionamentos. Um filme que mostra que você às vezes aprende as lições da pior maneira possível. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.
Vamos ao plot. Fiona Maye (interpretada por Thompson) é uma juíza muito dedicada que decide casos extremamente delicados de forma muito fria e lógica. Casos de vida ou morte, quero dizer. Daqueles casos que qualquer que seja a decisão, sempre um trauma vai se instalar nas partes atingidas. Por ser muito comprometida com seu trabalho, ela se esquece do casamento e seu cônjuge, Jack Maye (interpretado por Tucci), abandona o relacionamento para ficar com a amante. Isso num momento onde Fiona pega um caso em que um rapaz que é Testemunha de Jeová e que tem leucemia recusa uma transfusão de sangue por motivos religiosos com sua vida estando em sério risco por isso. Nesse julgamento, Fiona não tem uma convicção do veredicto que vai dar, mesmo depois de escutar os argumentos dos advogados do hospital e da família e vai conversar com o rapaz, Adam (interpretado por Fionn Whitehead). Adam fica fascinado com a presença de Fiona no hospital e, depois de uma conversa, a juíza decide pela transfusão e pela vida do menino. Algum tempo se passa e Adam começa a tentar entrar em contato com Fiona, sendo que a juíza vê isso com muitas reservas e uma certa insensibilidade. A coisa chega ao nível da obsessão e Fiona corta com veemência qualquer tentativa de aproximação com Adam. Enquanto isso, Jack volta para casa, mas é tratado por Fiona de forma muito distante e até agressiva. Mas esse comportamento ríspido da juíza está com os dias contados, pois a leucemia de Adam retornará e, dessa vez, ele opta por não fazer a transfusão de sangue (já é maior de idade) e acaba morrendo. Tal situação deixa Fiona arrasada e, ao lado dela, está Jack.
É um plot muito simples, que não se complica e que dá uma lição muito boa para nós: como devemos tratar as pessoas que nos cercam. Ficou aqui a impressão de uma juíza que ficava muito mergulhada em seu trabalho, tomava decisões de forma muito lógica e agia com agressividade quando era contrariada. Ou seja, uma pessoa um tanto difícil de conviver. Pouquíssimo espaço para uma visão mais afetuosa, emotiva e tolerante das coisas.
E aí, vem a lição. A vida promissora de um jovem que ela salvou se torna totalmente sem sentido para ele quando não há interesse, por parte dela, de compartilhar com as descobertas do rapaz, que era muito sensível. Ou seja, se sua lógica fria num momento salva a vida de Adam, num outro momento sua falta de empatia e emoção destroem-na. E, nessa hora, a dor da culpa é insuportável. Mas ainda há Jack que, mesmo saindo do casamento, ainda a ama e retorna para ser seu apoio. Vemos isso na linda cena em que o marido pega a mão da esposa, ainda na cama de manhã, logo depois da morte de Adam.
Nem é preciso dizer que Thompson rouba a cena. Sua frieza incomodava a gente, mas seu ataque de choro e remorso mais ao final também foi muito convincente. Fionn Whitehead, o Adam, foi muito bem, ainda tendo que contracenar junto a um medalhão como Thompson. Despertamos uma empatia por ele no primeiro momento em que o vemos, pois ele fica deslumbrado de cara pelo interesse da juíza em seu caso. E depois ele coloca muito bem aquela paixão obsessiva adolescente pela qual todos nós passamos na vida. Ou seja, nos identificamos muito com seu personagem, pois ele representa uma época comum a todos nós de nosso passado. Já Tucci, uma espécie de eterno coadjuvante, fez uma interpretação muito sóbria de quem está realmente pisando em ovos, sendo o marido nem tão fiel, mas que quer estar ao lado da esposa para todas as situações.
Dessa forma, “Um Ato de Esperança” traz uma história escrita de forma simples, que traz uma grande lição e reflexão para o espectador, sem falar de que temos um elenco bem interessante e atuações convincentes e envolventes. Vale a pena dar uma conferida.