Batata Movies – Minha Obra Prima. As Ironias Da Arte Como Estratégia De Sobrevivência.

Cartaz do Filme

Um bom filme argentino em co-produção com a Espanha. “Minha Obra Prima” traz um bom dueto de atores: Guillermo Francella e Luis Brandoni. Pode-se dizer que o filme tem uma comédia um tanto ácida, embora ele possa se aproximar também de momentos de drama mais profundo. Vamos lançar mão de spoilers aqui.

Um galerista com um problema…

A trama se passa em Buenos Aires, onde o galerista Arturo Silva (interpretado por Francella) tem uma relação muito conturbada com o artista plástico Renzo Nervi (interpretado por Brandoni). Na década de 80, a sociedade entre os dois era muito próspera, com Nervi vendendo como nunca. Mas nos dias atuais ninguém mais compra suas obras e Nervi, com sua natureza excêntrica, acaba melando todas as tentativas de Silva de reerguer a carreira do artista, o que leva a muitos momentos engraçados do filme.

Ele tem um amigo artista…

Só que chega uma hora em que Silva não aguenta mais as sucessões de bolas fora do amigo e finalmente o abandona. Nervi será atropelado na rua e perderá a memória, o que fará com que Silva se reaproxime para tentar restaurar as lembranças do amigo. Apesar dos dois se aproximarem novamente, os problemas financeiros continuam e é aí que Silva tem uma ideia. Ele vai tirar Nervi do hospital, dá-lo como morto, o que vai alavancar o valor das obras deste no mercado e seu acervo de duzentas obras, mais o que Nervi produzirá escondido começará finalmente a ser vendido por um grande valor. Só que a mutreta dos dois estará ameaçada. Paremos com os spoilers por aqui.

… que não bate muito bem…

É um filme de atores, sobretudo. Francella sempre foi muito talentoso e mais uma vez prova isso aqui. Foi muito engraçado ver seu personagem pisando em ovos, indo desde uma educação e refinamento com seus clientes passando ao outro extremo de uma relação mais rude e mal-educada com seu amigo pintor de longa data. Mas esse é, definitivamente, um filme de Luis Brondoni. A forma como ele trabalhou seu personagem Renzo Nervi foi simplesmente estupenda, sendo o artista excêntrico, egocêntrico e altamente mal-humorado cujas atitudes extremas conseguiam despertar boas risadas.

Eles têm um plano…

E, depois do acidente, temos um Nervi bem mais calmo (me perdoem o trocadilho infame) e doce, tornando-se a amizade ideal de Silva, tal como se o acidente fosse um prêmio para o galerista que recebe um amigo mais afetuoso depois de anos aturando um mala sem alça. Agora, cá para nós, Silva e Nervi atuaram como dois bons trambiqueiros  e isso os colocaram numa tremenda saia justa que poderia melar de vez a simpatia dos dois por parte do público. Só que o par de amigos foi salvo pelo gongo da Lei de Murphy, onde tudo tem tendência de dar errado ao quadrado. A verdade é uma só: por mais falta de caratismo do par de protagonistas, é impossível não torcer por eles dada a natureza cativante da dupla, que teve uma química perfeita.

… para levar a vida numa boa. Mas…

Assim, “Minha Obra Prima” é um filme que traz de volta o melhor do cinema argentino (confesso que tenho visto as produções portenhas como mais medianas ultimamente), usando sempre o talento de atores para lá de consagrados como Francella e Brandoni (isso mesmo, o cinema argentino não é só sua figura máxima Ricardo Darín). É o típico filme que vale pagar o ingresso para se deleitar com o talento dos atores. Vale muito a pena dar uma conferida.